Eu amo você. Soube no minuto em que te conheci. Me desculpe se demorei muito para perceber, nem prestei atenção nas próximas falas do filme, essa frase ficou estagnada em minha cabeça e tentei lembrar, por tudo nesse mundo, como foi que nos conhecemos. Mas, Alana, eu não lembro. Não faço ideia de como foi nosso primeiro ‘oi’, nossa primeira conversa. Por isso não posso dizer que te amei no minuto em que te conheci, mas sei que demorei muito para perceber.

Eu estava procurando outra pessoa com os olhos, quando todos os meus amigos sentaram ao seu lado e você estava chorando. Me aproximei e escutei sua voz rouca dizendo:

– Só to com dor de cabeça.

Era só dor de cabeça. Será que você não sabe que chorar piora? Mas você me contou alguns anos depois, Alana, que chorou no seu primeiro dia de aula porque não conhecia ninguém, e por mais que eu me lembre bem desse dia, eu não tenho certeza se esse foi nosso primeiro contato. Eu já tinha essa sensação de que nos conhecíamos, mas não sabia como me aproximar de você. Ah, você sabe, eu era anti-social, quase não falava com ninguém e andava sempre atrás do grupo, apenas ouvindo e concordando com um aham aqui, um sei ali.

E foi em um desses dias perdidos daquela época em que estávamos nos conhecendo, que eu tive certa tentativa falha de me aproximar de você.

Eu colecionava recortes de cantores famosos na época, comprava todas as revistas adolescentes que conhecia e procurava em cada página por entrevistas, fotos, qualquer coisa, sobre as músicas que eu gostava. As recortava, colava em papel sulfite e depois guardava dentro de um plástico, na minha pasta preta. Separava a ordem da pasta conforme o artista me agradava mais, então a primeira a aparecer era Britney Spears, seguida por Spice Girls, Fall Out Boys, Katy Perry e terminava com recortes super antigos dos BackStreet Boys. No meio da pasta sempre havia algumas folhas aleatórias com apenas fotos grandes ou letras de músicas... E uma dessas fotos era da Madonna.

A rainha do pop estava com as mãos na cintura tentando ser sexy. Eu não gostava muito dela, sempre preferi a princesa, mas por algum motivo aquela foto estava perdida no meio da minha pasta. Eu guardei, Alana, porque alguma coisa me disse que eu não devia jogá-la fora com o resto da revista recortada. Ela devia estar ali quando eu precisasse, e estava.

Você me disse que amava a Madonna. E a primeira coisa que eu pensei foi nessa foto, no meio da minha pasta. Não pensei duas vezes antes de tirar a foto do plástico e dobrá-la ao meio – como algo que não tem importância, mas tinha – e bagunçar toda a minha pasta, tendo que abri-la e remover o plástico que agora estava vago.

Coloquei a foto dentro da mochila para não esquecer e a primeira coisa que fiz ao chegar no colégio e te ver, foi te entregar. Acredite se quiser, Alana... Mas disso eu lembro e tenho quase certeza que foi ali naquele momento o nosso primeiro abraço.

É, eu lembro.

Você olhou para a foto e a sacudiu na sua mão, gritando porque estava feliz. E então, se jogou em cima de mim, com um braço no meu pescoço e o outro segurando a foto. Eu não sabia o que fazer, porque ninguém me abraçava, Alana. Ninguém me abraçava, ninguém encostava em mim. Ninguém me tocava, em sentido algum. E você estava ali, quebrando minhas barreiras desde sempre.

Sei que você guardou a foto por um tempo e me disse que a tinha colocado em cima da sua cama, para ficar olhando antes de dormir. Não tenho ideia que fim ela teve, se é que teve um fim, mas depois de tanto tempo é ingenuidade minha achar que você ainda guarda aquele pedaço de revista.

Você sabe que nos aproximamos de uma forma repentina e eu fiquei feliz por ter me tornado sua melhor amiga. Você foi minha primeira melhor amiga, Alana, e ainda é. Mas posso te contar um segredo que eu nunca contei? Eu sabia, Alana, sabia de tudo. Mas fingia não saber e esperava que fosse apenas minha imaginação, meu egocentrismo falando mais alto.

Alana, eu sabia que, em algum dos momentos que passamos juntas, você se apaixonara por mim. E foi por isso que eu me apaixonei por você.