(continua)

"Será que conto que nunca mais posso voltar?"

Stefan me olhava preocupado. Foi só ai que percebi que estava chorando.

–Ei, ei! Eu não quis dar a impressão errada! Não é que eu queira que você vá embora... É que seus pais devem estar sentindo a sua falta.

–Eles não estão... - sussurrei

–O quê?

–Eles morreram. -Voltei a olhá-lo.

Stefan engoliu em seco. Ficou quieto, sério.

Respirei fundo.

Se eu quisesse continuar ali, com ele... Eu tinha de contar.

Fomos para seu quarto e nos sentamos no chão, um de frente para o outro.

Então eu contei.

Contei tudo.

Contei sobre meus pais, que morreram para me salvar.

Contei de todos que me odiavam.

Contei que não cai do céu, fui jogada na verdade.

Ele escutou minha história em silêncio.

Contei sobre as raças que viviam em guerra. Eu não sabia muito sobre os Bloom, ou sobre os Clound... Mas contei-lhe tudo que sabia.

No final da história, por incrível que pareça, eu me sentia bem.

Me sentia leve.

–Confia em mim? -Por fim perguntei.

–Olha... Estou tentando digerir tudo o que me disse. Peço que tenha paciência comigo. Sou um mero mortal... -Ele sorriu, mas logo o sorriso sumiu de seu rosto. -Por que você nunca sorri, Ivy? Não sabe sorrir?

Olhei para baixo. Não é que eu não soubesse... eu só havia me esquecido.

Eu lembro que havia sido muito feliz quando pequena. Pelo menos até os oito anos de idade sim... Mas depois da morte de meus pais... Bom, eu fui presa por Benito. Torturada por todos os anjos puros.. Humilhada... Não saber não era o caso. Eu apenas não tinha motivos para tal ato.

–Desculpe-me. Eu apenas não lembro como sorrir.

Ele assentiu.

–Tudo bem. Não precisa sorrir se não estiver pronta... Eu espero.

Então ele voltou a sorrir.

Seu sorriso me deu vontade de sorrir, embora não conseguisse.

Ele iria esperar. E isso para mim já era suficiente.

Stefan deitou-se no chão e fechou os olhos.

Ali, eu o olhei como mulher.

Será que era errado desejá-lo ao meu lado? Querê-lo somente para mim? Isso era egoísta?

Bom... não sei ao certo.

Mas eu não queria sair do seu lado.

Pelo menos, não antes de sorrir para ele e saber que ele estará sorrindo para mim também.