Acácia Amarela (final de tarde)

Giane está atrás do balcão compenetrada anotando informações de vendas. Bento adentra a loja e Giane levanta a cabeça.

Giane: Finalmente resolveu bater ponto no seu próprio empreendimento hoje, né?! Já estava achando que não aparecia mais hoje…

Bento: Não enche, Giane. Hoje passei o dia correndo atrás de uma coisa lá pra Toca do Saci. Eu, a Malu e as crianças plantamos um ipê amarelo; elas estavam tão felizes, você precisava ver! E depois de todos esses problemas com Amora, Simone e sapatos tá difícil de tocar um negócio. Ainda bem que eu tenho você. - diz colocando a mão no queixo dela.

Fabinho aparece vindo da porta dos fundos.

Fabinho: Giane, eu já levei as plantas que você pediu lá pra estufa. Você quer que eu … - ele pára quando vê que Bento está lá.

Bento: O que você está fazendo aqui, seu marginal? Já falei que não quero esse bandido aqui dentro, Giane! - diz apontando o dedo na direção de Fabinho.

Giane: Ah, é?! E quem vai me ajudar aqui enquanto você fica brincando de casinha com a Amora e de irmãozinho dedicado com a Malu? É dose tocar isso aqui sozinha, Bento, e o Fabinho está me dando uma mão. Fabinho, vai lá atrás e rega as plantas pra gente fechar a loja? - ela estende o braço em direção da estufa.

Fabinho se vira e caminha em direção a estufa, mas pára na porta dos fundos e tenta ouvir a conversa escondido.

Bento: Giane, esse cara não presta! Ele já entrou aqui e destruiu a estufa uma vez. A Malu abrigou ele na Toca e ele pagou a confiança tocando fogo em tudo. E comigo dentro! Como é que não entra na sua cabeça que o lugar desse cara é na cadeia?

Giane: Você sabe muito bem que eu não acredito que foi o Fabinho que incendiou a Toca. Ele já fez muita besteira, sim, mas agora eu sinto que ele está diferente.

Bento: Eu não entendo você, Giane! Vive dizendo pra eu abrir os olhos com a Amora, que ela não mudou nada... e você vai acreditar logo no Fabinho, um criminoso!

Giane perde a paciência, joga os braços pro alto e então os coloca na cintura.

Giane: Bento, se você acredita tanto no poder redentor da humanidade a ponto de se CASAR com a boa bisca da Amora, você não tem o direito de dizer um ai a respeito de quem me ajuda ou não aqui na Acácia. Eu sou sócia e contrato quem eu bem entender; pode deixar que eu me responsabilizo pelo Fraldinha.

Fabinho ri com o canto da boca em seu esconderijo.

Bento: Tá certo, Giane! Quer se ferrar com o Fabinho, pode ir em frente! Só não quero ele aqui enquanto eu estiver também. Se eu encontro com esse bandido é capaz de eu sair aos murros de novo.

Giane: Pode deixar que ele está aqui para ME ajudar. Vou manter vocês bem longe um do outro.

Bento se acalma um pouco.

Bento: Mas você, hein, Giane! Parece que só vive agora pra me atormentar as idéias. Pensa que eu não sei que foi você e a Malu que colocaram aquelas caixas de sapatos na minha casa?! Quando eu entrei em casa carregando a Amora no colo, tropecei em um deles e caí com tudo. Quase que quebro meu pescoço.

Giane não aguenta e solta uma gargalhada.

Giane: Pfffffffffffffffffftttt! Me desculpa, Bento, mas eu daria tudo pra ver essa cena; você e a fruta podre se esborrachando no chão. - diz tentando aliviar o clima. - Desculpa aí se você quase morreu, mas você tem que admitir que aqueles sapatos deram um efeito visual maravilhoso! Uma imagem valem mais do que mil palavras num é não?! - ela dá alguns tapinhas nas costas do amigo.

Bento tenta segurar o riso.

Bento: Ainda não sei se eu te perdoo pela forma como você me “contou”, mas obrigado por se preocupar comigo. Esse bazar falso da Amora ainda está entalado na minha garganta, ela não podia ter feito isso.

Giane: Bento, esse bazar falso foi um cisco perto de outras coisas que ela fez. - ela olha para os lados e se aproxima de Bento. - Não era pra eu te contar, mas eu acho que você tem que saber a mulher que você botou em casa. A dona Madá já sabia que esse bazar era falso desde o primeiro dia! Ela só não contou pra todo mundo porque a Amora a ameaçou.

Bento: Como é que é? - Ele se afasta surpreso.

Giane: É Bento, a Amora ameaçou a dona Madá pra ela não contar nada a você sobre o bazar falso. Eu não duvido nada que a pichação da Toca tenha sido um “recadinho” pra dona Madá continuar caladinha.

Bento: Não acho que a Amora chegaria a esse ponto, mas eu vou tirar essa história a limpo. Ah, mas é agora mesmo! - diz Bento saindo rapidamente da loja.

Fabinho reaparece atrás de Giane.

Fabinho: O paspalho já foi embora?

Giane se vira contrariada.

Giane: Ei, ele é MEU amigo! Só quem pode chamar ele de paspalho sou eu!

Fabinho dá de ombros.

Fabinho: Mas ele é um idiota mesmo! Tá cego pela cocotinha e ainda fica me xingando de marginal toda vez que me vê. Pensar em encontrar esse cara aqui me dá tanta raiva, que até a Crash Midia fica um pouquinho mais atraente.

Giane olha para ele confusa.

Giane: Que história é essa de Crash Midia?

Fabinho: A Sílvia me convidou outro dia para trabalhar com eles na Crash Midia. Disse que achava que eu tinha talento… Mas eu não aceitei, claro!

Giane: Como assim, Fabinho, você não pode recusar essa oferta!

Fabinho: Nem pensar, Giane! Naquele lugar ninguém gosta de mim, ninguém vai com a minha cara. Se for pra ficar me humilhando o tempo todo, eu prefiro não ir. Duvido que eles queiram me dar uma chance de verdade, só devem estar querendo tirar uma com a minha cara.

Giane: Fabinho, você tem que aceitar esse emprego! É a sua chance, cara, de começar de novo e recuperar a sua carreira. A Sílvia é uma pessoa séria, me ajudou muito no começo da minha carreira de modelo; se ela disse que você tem talento é porque ela acredita em você. Ela jamais faria isso só pra tirar com você. Confia em mim, cara! Promete que você vai aceitar esse emprego, promete? - diz segurando-o pelos ombros e olhando bem fundo nos seus olhos.

Os dois trocam olhares por alguns segundos antes de Fabinho se desvencilhar de Giane.

Fabinho: Tá certo, vou PENSAR.

Fabinho pega um vaso no chão e leva para a estufa deixando Giane com seus pensamentos.