The Cassandra Curse [cancelada] escrita por Marie Caroline


Capítulo 1
– Prólogo –


Notas iniciais do capítulo

Heeeey I'm back girls!Então, eu disse outubro, mas como eu já tenho algumas coisinhas escritas resolvi postar logo o prólogo - que é bem grandinho, diga-se de passagem. Mas ainda tem taaaaanta coisa para estudar antes do ENEM, que por enquanto é só isso que eu vou conseguir postar, okays? Então, eu realmente espero que vocês gostem da minha nova fic - se é que alguém vai ler né rsrs.Beijocas :)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/410836/chapter/1

Algumas pessoas têm a péssima mania de querer ser especial. É só olhar a volta, olhar os programas patéticos de televisão... Todos obcecados em ter alguma característica singular que os destaquem. Ser diferente é ser melhor. Ser acima do comum nos torna algo que valha a pena ser conhecido. Mas o que é ser normal, afinal de contas? É sair de casa e fazer sempre a mesma coisa, ter uma rotina de anos que é simplesmente inalterável? Mas nenhuma rotina é a prova de mudança. Às vezes somos pegos de surpresa. Problemas repentinos, situações de emergência... Essas coisas que somos incapazes de prever.

Coisas que eu sou capaz de prever.

Olhei para o professor de matemática, o Sr. Harris, e escutei sair de sua boca as palavras que sabia que seriam proferidas por ele neste exato momento.

– Amanhã teremos teste sobre funções quadráticas.

A turma gemeu em contradição. Franzi o rosto, esperando que minha expressão de surpresa e revolta fosse convincente; já que, afinal, eu tivera um sonho sobre essa aula há dois dias, e já me adiantara nos estudos.

– Caramba, Cass. – meu colega Gabe virou a cabeça para mim. – Eu vou me dar muito mal nessa prova.

Eu digo colega, apesar de conhecê-lo há um bom tempo. Penso que um amigo não esconde segredos do outro, então não acho que eu seja lá material para um laço verdadeiro de amizade. Mesmo assim, sussurrei de volta:

– Não se preocupe. A gente estuda hoje à tarde.

O sinal tocou avisando que já era hora do almoço. Era incrível como o tempo passava rápido na escola.

Todos começaram a se encaminhar animadamente para o intervalo. Essa era a parte do dia que eu mais me esforçava para ser sociável. Eu geralmente converso com meus colegas sobre as matérias, provas e etc. Mas no intervalo ninguém queria falar sobre essas coisas, e aí eu fico sempre naquela situação onde as pessoas perguntam o que eu faço no dia-a-dia – o que é basicamente tentar fugir dos constantes sonhos que tenho desde os cinco anos. E como é que eu posso falar disso com outras pessoas?

Mas hoje eu não estava a fim de desprender esse esforço diário. Noite passada, fiquei acordada boa parte da madrugada e agora estava horrivelmente cansada.

– Gabe, pode ir à frente. – disse a ele, enquanto caminhávamos pelo corredor. – Tenho que ver algo na biblioteca.

–Ah, ok. – ele piscou os olhos verdes. Gabe era muito bonito. Quer dizer, não aquele tipo de bonito que fazia as garotas o perseguirem pela escola. Mas ele tinha o olhar sincero, o sorriso gentil. Talvez fosse por isso que as líderes de torcida o ignoravam: Gabe era simpático demais, e elas pareciam preferir os idiotas do time de futebol. Vai entender.

Caminhei contra a maré de estudantes até virar em um corredor à direita. Entrei na segunda porta, e logo o cheiro de livros invadiu meu nariz. A biblioteca era grande e tinha aqueles tons de marrom sóbrio que eu adorava. Passei pela mesa da Sra. Evans, a velha e gentil bibliotecária, e sorri para ela. Ela levantou os olhos por cima dos óculos bifocais.

–Olá, Cassandra.

Ajeitei-me na última mesa, a mais afastada, e deitei a cabeça nos braços. Tinha mais ou menos meia hora até o intervalo acabar, então programei meu celular para despertar. Era perigoso dormir aqui, mas como raramente sonhava durante o dia, decidi que valia o risco.

***

O Sr. e a Sr. Watson pegaram suas compras recém feitas e as colocaram no porta-malas do carro. Olhando para eles, era facilmente possível dizer que eram um casal normal de meia idade, que pagavam seus impostos, e eram tão felizes quanto qualquer família de classe média.

Ben sentou-se ao volante ao mesmo tempo em que Laura acomodava-se no banco do carona. Eles seguiram para fora do estacionamento do supermercado, e pegaram a estrada de volta para casa. Falavam sobre as férias que planejavam há algum tempo. Uma viagem ao caribe.

– Vai ser muito bom para a Cassandra. – disse Laura, que sabia que a filha andava no limite há muito. – Ela precisa respirar novos ares.

O marido concordava com ela.

– Cass vai entrar no ensino médio no ano que vem, ela precisa agir mais como os outros adolescentes. Ela mal sai de casa.

– Ela não é como os outros adolescentes, você sabe – disse Laura, triste.

Ben não teve resposta para isso. Ele queria que a filha fosse normal, mas sabia que seria quase impossível se ela continuasse a prever tantas coisas estavam fora de seu alcance.

Eles pararam ao sinal vermelho, perto de um cruzamento. Ben batucava os dedos no volante de forma distraída. Laura ainda pensava na filha.

Então o sinal abriu. Ben avançou.

Uma buzina, uma freada brusca. O inconfundível som de um grito rasgado de uma mulher. O carro de pequeno porte dos Watson foi atingido pelo lado esquerdo por um caminhão que corria desgovernado. O veículo derrapou e foi levado adiante até bater em outros carros estacionados e finalmente explodir.

***

O fogo do acidente parecia queimar meu próprio corpo quando levantei minha cabeça gritando a plenos pulmões. Uma única lágrima caía por meu rosto, enquanto todos na sala de aula inclusive o professor Harris me encaravam bestificados. Meu rosto estava entorpecido, paralisado de choque. As cenas passavam como relâmpagos em minha cabeça. Tentei compreender exatamente o quê elas poderiam significar, mas a única explicação era algo que eu simplesmente não podia aceitar. Uma voz ao lado chega aos meus ouvidos, causando uma onda de tremor ao meu corpo.

– Você está bem, Cass? – Gabe perguntou, completamente apavorado. Tentei responder, mas, além de não saber o que dizer, minha boca estava seca como o mais quente dos desertos.

– Srta. Watson? – o professor me encarava, assim como todos.

Levantei-me, tremendo dos pés à cabeça, sabendo que não podia mais ficar aqui. A possibilidade do que estava para acontecer ainda me era dolorosa demais para acreditar, entretanto, uma urgência já conhecida se apoderava de mim. Nas raras vezes em que havia a possibilidade de impedir a realização de alguma visão que oferecesse perigo, eu tentava fazer isso. É claro que a maioria ainda era de acontecimentos que estavam fora do meu alcance. A sala de aula girava, as cores pareciam fortes demais aos meus olhos.

– Eu tenho que sair daqui... – sem pensar no que estava fazendo, saí da sala e comecei a correr pelo corredor, meus passos ecoando no ambiente vazio de uma maneira quase fantasmagórica. Pensei ouvir alguém gritando para que me parassem, mas não diminuí a corrida até o portão que dava para a rua. O guarda da escola tentou me parar.

– Ei, ei. Calma, mocinha. – ele me pegou pelos ombros.

– Não! – gritei desesperada, tentando me desvencilhar de seus braços. – Eu tenho que sair daqui!

– Espere um pouco, vamos chamar a diretora e tudo vai ficar...

– Não, eu tenho que sair daqui! Você não entende, eu tenho que falar com meus pais... – tentei chutá-lo para longe de mim. – Não!

A essa altura todos saíram das salas para ver quem era a garota histérica que estava berrando no meio do corredor. Só o que eu conseguia pensar era no carro sendo arremessado para longe... não, os meus pais não podiam morrer... Eu tinha que impedir... essa não podia se realizar...

A diretora se aproximou de mim e do guarda que ainda tentava me conter.

– Solte, solte-a! – disse a diretora. Ela me pegou pelos ombros. – Se acalma. O que está acontecendo?

– Eu tenho que falar com os meus pais! – gritei. – Uma coisa terrível vai acontecer se eu não falar com eles agora! Por favor...

Ela franziu o cenho e me olhou preocupadamente.

– Por que não vamos para a minha sala, e você me conta o que está acontecendo?

Minha garganta fechou.

– Não, não dá para esperar! Eu só preciso sair daqui!

A diretora fechou os dedos em meu braço e tentou me levar de volta pelo corredor. Por alguns segundos deixei que ela fizesse isso; estava concentrada em lembrar que rua era a que meus pais estariam... Com um sobressalto, percebi que eles estariam a apenas algumas quadras daqui. Com uma força meio descomunal, puxei meu braço do aperto da diretora e dei meia volta. Corri até a porta, e o guarda não conseguiu me parar a tempo.

Tropecei pelos degraus na pressa de chegar até a rua. Olhei para os lados para atravessar e segui correndo pela avenida principal, tirando o celular do bolso. Procurei na agenda pelo número de minha mãe.

– Droga! – xinguei quando caiu na caixa de mensagens. – Mãe, me escuta: aconteça o que acontecer, não saia de casa! Nem o papai. Eu preciso que vocês confiem em mim e não cheguem perto do carro, entendeu? Fiquem em casa e me esperem!

Desliguei e continuei correndo. Não podia ter certeza de que eles já não estariam na rua quando ouvissem a mensagem, então continuei a me dirigir para a travessa onde o caminhão ia sair do controle. Com falta de ar e câimbra nas pernas, avistei ao longe o local que vira. Parei e sorri momentaneamente: não havia nada de errado ali. Eles estavam a salvo.

Mas então ouvi uma buzina atrás de mim. Quase que em câmera lenta, o caminhão vermelho passou diante de meus olhos. No extremo da encruzilhada, estava o carro pequeno e prateado de meus pais, freando ao sinal vermelho. Minhas pernas pareciam travadas, meu cérebro parara de trabalhar e todo o sangue congelou em minhas veias. Engoli em seco, tentei respirar para pode gritar um alerta. Com o que parecia o maior esforço da minha vida, forcei as pernas a trabalharem. O tempo deixou de ter significado. A velocidade que eu queria imprimir nos pés parecia impossível de ser alcançada. Os sons do mundo foram perdendo volume até emudecer por completo. Meu próprio grito de alerta parecia se perder no ar. Senti a terrível sensação de que o som nunca chegaria a tempo aos meus pais.

– Saiam do carro! Pai, mãe, saia do carro!

Eles não me ouviram, exatamente como eu temia; entretanto, algumas pessoas na rua pararam para me observar com curiosidade. O caminhão ganhou velocidade e agora buzinava.

– Ele vai causar um acidente! – berrei. – O caminhão vai bater!

Exatamente como as visões me davam o poder de saber o que acontecia no futuro próximo, às vezes, eu não precisava nem mesmo fechar os olhos e sonhar. Às vezes, meus palpites eram certos demais. “Papai, eu acho melhor você ficar longe da rua atrás do mercado.” Uma semana depois, no noticiário, descobrimos que um homem fora esfaqueado naquela mesma rua. E agora, exatamente agora, eu percebia a verdade: a rua era comprida demais. Eu não poderia avisá-los, nem fazer nada para impedir o continuo avanço do caminhão. Era tarde demais. E isso era algo que eu já sabia desde o momento em que berrei no meio da aula de matemática, mas que eu escolhera ignorar. Por que não podia simplesmente deixar isso acontecer. Carregava o fardo de saber antes de acontecer, e tentava ignorar isso e continuar a vida normalmente. Mas isso eu não podia ignorar. Eram os meus pais; os únicos que me entendiam, os únicos que eu tinha absoluta certeza de que amava. Sem eles, nada fazia muito sentido.

O contato dos pneus no asfalto provocou um barulho de congelar a alma quando o motorista do caminhão tentou frear o veículo. E eu estava perto o suficiente agora para poder ver e ouvir tudo com precisão. Mamãe gritou ao mesmo tempo em que um grito também saía de minha própria garganta.

O caminhão bateu no carro deles, que por sua vez bateu em outros, explodindo com violência. Senti o calor emanar do acidente e atingir meu rosto. A força do impacto me jogou para trás e caí de costas no asfalto. A fumaça me sufocava, meus olhos ardiam devido à fuligem que esvoaçava no ar acima de mim. Ergui o corpo e fui arrebatada pela visão do que sobrara dos veículos queimando. A visão de meus pais queimando.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Feedback é sempre mais que bem-vindo! ♥