Trovão Do Leste escrita por T I Wright


Capítulo 13
Du Gala eom Adurna


Notas iniciais do capítulo

Oi! [corre e se esconde atrás da estante de livros]

Há quanto tempo, não? Sim, eu demorei. Não, não tenho um bom motivo para toda minha demora. Sim, eu mereço apedrejamento pelas semanas de desaparecimento, porém... Voltei. Com um cap beeem menor do que vocês mereciam depois de tanto tempo :P

Ok, agora a hora de a Defesa falar: não, a internet não foi a principal culpada pelo atraso. Como eu acho que mencionei anteriormente, estava em época de provas na ultima semana de nov. Depois disso foi, sim, pura enrolação. Passei uma quinzena com um bloqueio criativo do tamanho de Du Fell Arget e nada do que eu escrevia parecia bom o suficiente. Finalmente, quando eu decido recomeçar a escrever, o mundo decide jogar uma vingança pelo atraso e sumir com a internet da minha casa. Só conseguia entrar no Nyah pelo celular e não dá pra postar nada por ele. Então foi basicamente isso que aconteceu durante esses meses. Minhas sinceras desculpas pela demora, eu nem espero que me perdoem por essas férias que eu tirei sem avisar : /

É, eu estou postando o cap à quatro da manhã. Porque eu já fiz vocês esperarem demais e seria injusto ter o cap pronto e esperar mais vinte dias pra postar (vou viajar hoje mesmo e não tem internet por lá :P)

Ah, sim. Quase que eu esqueço: Feliz Natal!! Espero que tenham tido ótimas festas e uma boa passagem de ano :)

Enfim, espero que gostem do cap e boa leitura!



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Como na maioria das tardes na floresta, o sol escorregava pelo céu com uma preguiça de meio de verão comparável a seu calor. Mas este não era tão opressor sob o teto abobadado da floreta sem fim que era Du Weldenvarden. Sob estas, escondia-se habilmente entre troncos e dentro de troncos a cidade-elfa de Osilon.

E como a maioria das cidades élficas, esta era literalmente esculpida na floresta, com o diferencial de estar levemente inclinada para cima devido à sua proximidade do fim do vale que a cercava. Este era virado para o Oeste, o que fazia que a cidade perdesse as poucas horas de luz clementes da manhã e enfrentasse as outras sob o sol que descia pelo Oeste.

O dia fazia das sombras frescas abaixo dar árvores altas da floresta um abrigo convidativo para Celdin, que adorava se acomodar sob o conjunto de faias magras próximo do pequeno riacho que corria a um quilômetro de sua casa.

Como nas outras tardes, ele sentou-se sob os galhos mais baixos, encostou-se e no tronco daquela mais próxima do riacho e suspirou, relaxando ao observar a floresta fluir ao seu redor. Abriu sua mente completamente, simplesmente deixando que tudo o que estivesse ao alcance dela passasse por sua percepção, como água no leito do riacho.

Ainda nesse transe, retirou de sua caixa a lira de madeira que costumava tocar em tardes de sol e dedilhou algumas notas. Parecia que as notas viajavam pelo ar a encontro dos seres à sua volta, comovendo cada um a virar-se e ouvir sua música. Tocou pelo que lhe pareceu horas a fio, talvez até dias, mas quando a melodia repetia-se pela última vez, a floresta entendeu que a música chegara ao fim, então recolheu-se novamente para dentro das árvores.

Celdin fez o mesmo: ao tocar as últimas notas, recolheu sua mente devagar, e, quando a última corda vibrou, ele abriu os olhos e encontrou a leve luz do fim do dia brilhando no riacho corrente.

Olhando em volta, suspirou. Como a maioria das coisas no mundo de Du Weldenvarden, nada era o que parecia ser, nem mesmo o jovem elfo.

Levantando-se, Celdin foi até o riacho e agachou-se em sua margem. Estendeu uma mão sobre a água e sua mente para a tarefa e concentrou sua magia. Proferiu:

– Adurna reisa!

A superfície do córrego ondulou e algumas gotas pareceram desgrudar da água. Celdin quase abriu um sorriso, porém antes disso as gotas desfaleceram no riacho, se dissolvendo de volta no curso d'água.

Ele cerrou um punho da mão estendida e fez como quem daria um soco n'água. Em vez disso fechou os olhos e pressionou o punho contra a grama enlameada da margem.

Não era a primeira vez que tentava aquele feitiço. Em muitas outras ocasiões ele tentara manipular elementos simples de seu cotidiano: abrir e fechar portas, mover objetos e controlar elementos simples, como água e vento. Contudo a maioria mal reagia a seus esforços mágicos. Por que?

Celdin nascera sem magia.

Quando ele tentara pela primeira vez manipular o ambiente com sua força, os elfos mais velhos perceberam algo de errado com ele. Enquanto seus colegas mostravam a proficiência correspondente a sua pouca idade que transbordava magia, Celdin demonstrava extrema dificuldade até mesmo com os mais simples feitiços. Após diversos exames, os elfos constataram a ausência de habilidade mágica nele. Não sabiam se era resultado da gravidez conturbada de sua mãe, ou se era algo relacionado com como a energia fluía ao redor dele, só sabiam que Celdin não possuía mais que algumas gotas de magia. Disseram que era um fenômeno extremamente raro um elfo nascer sem magia. Uma chance em um milhão. Bom, o ancião que o examinara havia dito, há sempre uma exceção.

Seus experimentos mais bem-sucedidos eram cantando para as plantas. Celdin desde pequeno mostrara uma aptidão acima do usual para música. Por atum motivo ele tinha facilidade para compreender o que cada nota significava individualmente e no contexto da música. Era como uma língua à parte da dos elfos, uma que apenas alguns seletos indivíduos poderiam compreender, e que Celdin, por sorte, conseguia. Algumas vezes imaginava se sua habilidade musical poderia ser um tipo de compensação por sua falta de potencial mágico. Poderia, pois nunca compensaria de verdade, mas ele era grato por tê-la.

Felizmente sua inabilidade mágica não o tornava inútil, e nesse caso sua música realmente compensava sua falha.

Sorriu ao lembrar-se do velho Erthig, por baixo do cabelo branco e olhos antigos, com a voz macia por causa da idade, dizendo a ele para parar de oscilar nas notas agudas em sua flauta, pois em pouco tempo sua apresentação chegaria. Quando chegasse, não seria para um punhado de elfos facilmente impressionáveis de Osilon. Seria para ninguém mais, ninguém menos que os próprios Embaixadores.

No dia seguinte eles estariam na cidade para a Seleção, e o governador de Osilon insistira que uma grande cerimônia fosse realizada em homenagem aos mensageiros do Leste. Mesmo que fosse um bom governante para Osilon, lorde Laughar era mais conhecido por sua extravagância em festividades do que por sua habilidade em administrar uma cidade.

Mais uma vez sentiu uma familiar pontada de irritação. Era já verão alto e os Embaixadores haviam adiado sua visita por três vezes. Primeiro para visitar a capital humana, e então para as vilas Urgals na Espinha. Parecia que os Cavaleiros estavam de propósito evitando as cidades em Du Weldenvarden.

Balançando a cabeça negativamente, Celdin se levantou e voltou até a árvore para guardar o instrumento. Em menos de uma hora ele tinha que comparecer ao ensaio geral. Celdin queria poupar seus ouvidos da ladainha que seguiria o olhar impaciente de Erthig se estivesse atrasado.

Mal tinha fechado o estojo da lira quando um som profundo silenciou a mata. Celdin aprumou-se para ouvir melhor, porém o som havia cessado. Por um segundo, ficou parado ouvindo.

Estava prestes a se mover novamente quando o som vibrou pelo ar mais uma vez. Ele franziu a testa em confusão. Aquilo era uma trompa?...

Houve mais uma pausa, e mais um toque, mas Celdin já estava correndo.

Não, não podia ser! Os Embaixadores só chegariam no dia seguinte. Celdin sentiu a ansiedade crescer no peito. Se eles já estavam lá, então não havia mais ensaio geral. Algo deu um nó no estômago do elfo; ele e os outros músicos teriam que apresentar naquela tarde.

Estava tão absorto em seus pensamentos e preocupações que mal prestava atenção no caminho que tomava de volta para a cidade. Mas para Celdin era quase mecânico; era instintivo desviar de folhas e passar por baixo dos galhos mais baixos. Não era uma das preocupações dele prestar atenção no caminho. Uma lembrança do velho Ethgri veio-lhe à mente. Uma de suas broncas: embora seja natural para um elfo fazer passeios e trilhas pelas florestas, não significava que ele não precise prestar...

Quando olhou para frente, foi tarde demais para evitar a colisão.

Algo mais baixo e consideravelmente mais irritável que um galho entrara em seu caminho. Algo que, apesar de mais macio que uma árvore, não era nada confortável para se cair em cima.

– Celdin! – Alurissa grunhiu – Preste atenção por onde vai!

Celdin caíra sentado depois de colidir de lado com a elfa. Esta caiu de lado, sobre o braço, e agora estava sentada, franzindo a testa para ele enquanto apertava o ombro.

– Você não tem olhos? – ela exclamou – Onde estava? Metade de Osilon está te procurando!

– O que faz aqui há essa hora? – ele retrucou – você não ouviu a-

– Parece que não tem ouvidos também – ela resmungou – Onde você estava? Ethgri está louco atrás de você. Os Embaixadores já...

Antes que pudesse completar a frase, uma lufada de ar fez um rasante pela floresta, levantando folhas e agitando as copas das árvores, seguida por uma sombra rápida como o vento. A sombra seguia diretamente para a cidade. Nenhuma ave de Du Weldenvarden jamais poderia ter criado aquela sombra. Só podia ser uma coisa.

Os jovens elfos se entreolharam por um segundo antes de partirem em uma corrida pela mata.

***

A despeito da resistência e estamina do elfos, ambos chegaram ofegantes à cidade, tanto pela corrida quanto pela ansiedade por sua chegada. Encontraram-na incomumente movimentada.

Havia elfos apressando-se de um lado para o outro para pendurar lanternas sem chama nos galhos das árvores, enrolando fitas coloridas nos troncos e correndo para terminar o banquete que começara a ser preparado para a recepção dos Embaixadores.

– Bom – Celdin falou – pelo menos eles chegaram com antecedência dessa vez.

Alurissa não pareceu gostar do comentário, mas respondeu:

– Não acho normal eles chegarem mais cedo de repente – franziu a testa – E você viu o dragão chegando; algo ruim deve estar acontecendo. O Trovão do Leste não mandaria um Cavaleiro para cá sem real necessidade – disse, sem ter certeza do que falava.

– Não pode ser algo tão ruim assim – Celdin tentou apaziguá-la, embora algo começasse a se inquietar dentro dele – talvez Eragon-elda tenha percebido que a demora fazia mal para sua imagem como Líder dos Cavaleiros.

A elfa abria a boca para responder, mas nesse momento uma outra voz entrou em cena, tão inesperadamente que Celdin mal a reconheceu a princípio.

– Celdin!

Quando se virou para avistar seu dono, uma figura familiar aproximava-se a passos largos, o conhecido cenho carrancudo incomum a elfos ainda lá.

Por um momento pensou se em uma situação de desespero seu poderes finalmente brotariam e em um ato heroico ele se livraria da bronca que se seguiria a seu atraso. Murmurou qualquer coisa com uma dose de energia para que ele congelasse no lugar, mas, pelo passo determinado do velho, não seria naquele dia que teria seus poderes.

Ethgri parou em frente ao jovem elfo e por um momento sua expressão exasperada falou por ele. Celdin conhecia aquela expressão: Ethgri já tinha umas frases bem-ensaiadas sobre atrasos entre os dentes antes mesmo de abrir a boca. Ele tentou forjar um rosto arrependido, e a ruga entre as sobrancelhas de seu mestre lhe disse que havia falhado.

– Você é comparável a um snalglí – disse – lerdo como um caracol mas extremamente difícil de segurar em um só lugar – ele o repreendeu – Agora, gánga! – seu mestre exclamou, transformando a palavra em um feitiço que impulsionou o jovem a três metros mais perto da clareira onde se apresentaria - Já para a banda, seu finarel escorregadio – vociferou o mais ferozmente que sua voz élfica musical possibilitava.

Tropeçando para frente com o feitiço atordoante, ele seguiu para a árvore esculpida num extremo da clareia oval. Não era esculpida de verdade, mas seu crescimento gentilmente induzido pelas canções dos elfos formara uma espécie de escadaria de quatro degraus com as raízes da arvore, sob a sombra de sua copa que filtrava gentilmente a luz diurna. Ethgri, há mais anos do que podiam ser contados, apelidara o lugar de árvore-palco.

Como um dos elfos mais altos do grupo, procurou por seu lugar no segundo degrau de trás, na ponta de sua linha. Assim que se posicionou, lembrou que não havia pegado sua flauta em casa, e por um momento concordou com Ethgri sobre os snalglís. Assim que olhou para o lado, engolindo um xingamento, um formato familiar segurou sua atenção. Apoiado no tronco da arvore-palco estava o estojo de sua flauta. Celdin apanhou o objeto, confuso por sua aparição repentina.

Voltou à sua fileira e preparou o instrumento para a apresentação, checando se estava afinado ao soltar algumas notas discretas. Satisfeito com o resultado, baixou a flauta, embora ainda intrigado. Foi quando um de seus colegas chamou-lhe a atenção.

– Alguém mais esperto que você trouxe sua flauta – ele murmurou para Celdin.

Ele franziu a testa, secretamente questionando-se se Ethgri se daria ao trabalho de buscar seu instrumento. Olhou ao redor ao acaso, buscando a cabeça prateada do velho, mas em vez disso encontrou o negro meia-noite de Alurissa. Ela estava na orla do círculo de expectadores que começava a se espessar ao redor da praça. Encontrando o olhar dele, ela o segurou e deu um meio sorriso, que ele retribuiu automaticamente, antes que seu cérebro mandasse puxar seus lábios para cima.

O contato foi quebrado por uma rajada de vento poderosa, que varreu as folhas da clareira e soprou-as na direção dos elfos que esperavam o evento começar. As copas das árvores em volta foram achatadas par trás e cada elfo na clareira teve seus belos cabelos bagunçados pela ventania. Só então o dragão se fez ver.

Era muito maior do que os que Celdin vira antes, mais majestoso e certamente mais impressionante. Era de um azul escuro, como se suas escamas fossem feitas do espaço que há entre as estrelas na hora mais profunda da noite. Havia em seus olhos um brilho implacável, como se acreditasse que podia mover montanhas somente com sua vontade. Ele estendeu suas asas fazendo uma sombra longa e escura nos elfos logo abaixo e suavemente pousou no meio da clareira. Sua Cavaleira mal esperou suas asas se recolherem antes de saltar da sela.

A elfa montada em sua sela era ainda mais impressionante. Não por sua beleza, mas por sua imponência; somente sua presença parecia que enchia toda a clareira. Era algo na postura da elfa, no seu modo de andar que a fazia parecer quase da realeza. Os elfos que assistiam a cena pareciam ansiosos, assim como os colegas de banda de Celdin. Finalmente a convidada especial havia chegado.

Ethgri ergueu os braços para começar a reger a canção de boas-vindas, mas antes que Celdin e os outros músicos pudessem soltar uma nota sequer, lorde Laughar apressou-se para o lado do velho regente e disse-lhe algo em tom baixo. A carranca de Ethgri tronou-se estranhamente sombria, mais profunda, e ele executou rapidamente o comando para silenciar o conjunto.

Havia uma inquietação nos expectadores. Foi-lhes dito que um grupo de Embaixadores chegaria para apresentar os quatro ovos de dragões que viajaram pela Alagaësia durante o último ano. E lá estavam os ovos, cuidadosamente colocados e lacrados dentro de dois pequenos baús a cada lado da sela do enorme dragão. Celdin franziu a testa.

Dois, não quatro.

Certo, algo muito ruim devia ter acontecido para que uma Cavaleira e seu dragão fossem mandados no lugar dos Embaixadores.

E havia mais: embora os ovos houvessem chegado, não havia Embaixador algum num raio de milhares de quilômetros da cidade, somente o dragão e a elfa e metade dos ovos prometidos.

Algo quente pareceu acumular-se no peito de Celdin. As únicas explicações - eram que ou os ovos haviam sido roubados durante a viagem ou já haviam chocado para outros Cavaleiros. Com o nível de segurança que cada ovo era guardado, Celdin achava difícil a possibilidade de um furto ser real (se bem que explicaria o porquê da presença de dragão e Cavaleira). Então só havia uma resposta: dois ovos escolheram seus Cavaleiros entre os humanos, anões ou Urgals.

Só com o pensamento sentiu um arrepio subir-lhe a espinha. Ele não conseguia imaginar como seres tão poderosos e superiores como os dragões poderiam unir-se com criaturas como os Urgals. O calor em seu peito, que crescia ininterruptamente, ele se deu conta, era raiva. Os elfos foram e sempre seriam

os únicos legítimos Cavaleiros, os primeiros a se unirem com os dragões no Agaetí Blödhren original. Por que o feitiço tinha que ser alterado para acomodar raças tão primitivas, autodestrutivas e violentas?

Ele não teve tempo de verbalizar sua opinião para ninguém, pois a atenção de todos estava focada na elfa. Ela havia descido do dragão e estava falando com lorde Laughar. Ele acenou com a cabeça respeitosamente e se afastara para liberar o caminho da elfa até os pequenos pedestais no outro extremo da clareira, embora também parecesse ansioso para sair de perto do enorme dragão azul. O lorde aproximou-se do círculo de elfos irrequietos e ergueu a voz:

– Povo de Osilon! Por muito tempo nós nos preparamos e aguardamos ansiosamente pela chegada dos Embaixadores do Trovão do Leste. Este ilustre grupo que aguardávamos traçou seu caminho pelas cordilheiras do sul, subiu a Espinha e cruzou as planícies em sua busca por novos Cavaleiros carregando, como sabem, quatro ovos de dragão. Para a alegria da nobre raça dos dragões, dois deles nasceram. Um deles em Illiera, e o último em uma tribo Urgal na Espinha. Porém, devido às frágeis condições do último filhote, eles não puderam continuar sua jornada até Du Weldenvarden. Por isso, Eragon Matador de Espectros, líder da ordem do Trovão do Leste, destacou nossos convidados de hoje para escoltar os ovos remanescentes até nossa floresta. Estes são Maye, de Sílthrim, e seu parceiro, Iumer – aqui ele acenou de leve com a cabeça para o dragão, e a enorme fera respondeu com um aceno fraco e uma nuvem de fumaça – que foram escolhidos para a tarefa...

Enquanto lorde Laughar falava, Maye, a elfa, havia movido os baús com magia para perto dos pedestais, estes posicionados aos pés de um enorme carvalho, que fora trabalhado da mesma forma que a árvore-palco, só que com menos degraus. Celdin notou, apesar de vagamente atento ao discurso do eloqüente lorde, que, a despeito da fechadura ornamentada, não havia chave nas mãos da elfa enquanto ela se curvava concentrada em seu trabalho. No entanto, ele pode notar a tampa de um dos baús levantar-se num pulo discreto quando este se abriu. Magia, é claro, censurou-se. Se ela usou palavras em seu feitiço, ele não podia saber, pois seus lábios mal se mexeram durante o procedimento. Por volta do meio do discurso, ambos os baús estavam abertos e dois ovos azuis foram expostos aos expectadores. Ela retirou os ovos dos baús e pousou-os delicadamente em dois dos quatro pedestais presentes. O veludo vermelho dos pedestais acolchoados contrastava vivamente com o delicado azul turquesa do ovo da esquerda, assim como o sólido azul claro do segundo.

Pelo que lhe pareceu um segundo apenas, ele observou as cascas refletindo a luz filtrada do sol abaixo do carvalho. No segundo seguinte, a voz de lorde Laughar elevou-se:

– Agora, o tão esperado momento: que comece a Seleção!

Num tumulto ordenado, todos os elfos presentes lentamente formaram uma fila de uma ponta à outra da clareira. Celdin apressou-se em guardar sua flauta e correu para juntar-se à multidão crescente entre ele e sua vez de tocar nos ovos.

A fila parecia zunir de tensão. Todos estavam inquietos com a presença do dragão e com as notícias que chegaram com ele. Fazia mais de um ano a cidade não era visitada pelos Embaixado-res, e quando finalmente eles tinham a chance de serem visitados pelos ovos de dragão, somente dois deles eram apresentados. Não era certo que o Trovão do Leste negligenciasse os elfos em favor dos humanos e Urgals. Ele olhou para o palco, onde ninguém se dera ao trabalho de retirar os dois pedestais que sobraram, quase como se estivessem deixando-os de propósito lá para ter certeza que a ‘Embaixadora’ não esqueceria o que eles significavam.

Em algum tempo, mais do que Celdin conseguiu contar, ele estava a apenas três elfos de distancia dos pedestais. Ele respirou fundo. Já fora rejeitado por outros dragões em outras Seleções. Não faria mal se não fosse escolhido dessa vez. O elfo no palco tocou os ovos e saiu, cabisbaixo.

Só mais dois.

Seu coração acelerou. Não que não quisesse ser um Cavaleiro, muito pelo contrario; todo jovem elfo desejaria ser um. Principalmente por ser uma das únicas formas de Celdin finalmente conseguir a magia que por tanto tempo lhe foi negada. A elfa que subiu no palco tocou cada uma das cascas azuis, mas nada aconteceu.

Só mais um...

Mas havia algo de muito intimidante nas chances remotas de isso lhe acontecer. Era uma chance em um milhão. Assim como as chances dele ser o único habitante sem magia de Osilon. Não importava o quão remotas fossem as chances, sempre havia uma exceção. Celdin tivera o azar de ser o ‘um’ no milhão. Talvez, só talvez ele pudesse...

– Psiu – algo sibilou atrás dele – Gánga, é a sua vez.

Era o elfo logo atrás dele. Celdin piscou. À sua frente encontravam-se os dois pedestais com os ovos, os dois vazios mais atrás e o olhar inquisitivo da elfa de Sílthrim. Engolindo em seco, ele se aprumou e aproximou-se do palco. Seus pés repentinamente pareceram perder a firmeza no solo, mas ele conseguiu chegar até o primeiro pedestal, aquele que continha o ovo azul-claro.

O mundo pareceu convergir para um ponto entre ele e o ovo. Sua mão se estendeu como se puxada por outra pessoa. Constatou, surpreso, dois fatores importantes na situação: um, a casca do ovo, do contrario do que esperava, era quente ao toque. Dois, sua mão não tremia ao tocar a casca do que poderia conter seu futuro.

Por instinto, ele estendeu sua mente em um foco estreito para o ovo, e lá sentiu a pequena criaturinha aninhada em seu casulo centenário. Surpreendeu-se ao sentir um forte sentimento de impaciência vindo dela. E sim, era uma ‘ela’. Uma pequena dragão com força de vontade para ambos.

Sem querer, ele sorriu.

Não percebeu estar de olhos fechados até sentir algo cedendo sob sua palma. Celdin, em alarme, abriu os olhos e deu um passo para trás. Sua garganta fechou em medo ao encontrar uma longa e fina rachadura que corria por todo o comprimento do ovo. E nada mais se moveu.

A clareira caiu em silêncio.

E em silêncio permaneceu.

Maye aproximou-se e tocou Celdin no ombro. Do que lhe pareceu uma grande distancia, ouviu a desconhecida voz da elfa dizer-lhe:

– Talvez ela precise de mais tempo – ele ouvia, mas não absorvia nada. Estava em modo automático. Mal percebeu quando ela lhe entregou uma sacola de seda e lhe disse algo sobre levá-la para casa por aquela tarde. Celdin não tocou no ovo ao embrulhá-lo e fechar a sacola, mas apertou o pacote contra o peito enquanto era gentilmente dispensado da cerimônia pelo resto do dia.

***

Ele a levou para o riacho.

Foi o lugar mais pacífico no qual conseguiu pensar para levar o ovo rachado. Celdin ajoelhou-se na grama e aninhou o pacote à sua frente, diante do riacho. Desfez o laço que prendia a sacola e a seda deslizou pela casca até revelar o ovo azul. Ele inspirou fundo e soltou o ar devagar.

Somente uma coisa lhe veio à mente: um milhão.

Uma vez, há muito tempo, ele precisava ser parte do resto. O destino falhara em lhe dar o que queria, e por muito tempo ele se ressentiu por ser único. Dessa vez ele precisava ser único, e mais uma vez o destino parecia ter esquecido dele.

Celdin estendeu as mãos para tocar o ovo, e desta vez elas tremiam. Manteve-as lá por alguns segundos, antes que a frustração as puxasse de volta. Irritado, levantou-se de supetão e encarou o ovo de cima para baixo. O ovo pareceu encarar de volta.

Exasperado, bufou e lançou os braços para cima, largando-os aos lados do corpo em seguida, começando uma caminhada implacável em círculos na grama macia. Após a sexta volta, largou-se sentado sob a mesma árvore que o abrigara mais cedo naquele dia.

Finalmente, sentiu-se calmo o suficiente para pensar.

Observando de longe o ovo, refletiu as possíveis causas de sua inatividade por mais de uma hora. Considerou desde uma doença misteriosa até a vontade do filhote de tirar uma soneca, mas nada, principalmente a soneca, lhe pareceu plausível.

Sacudindo a cabeça, alcançou o estojo de sua flauta, que recuperara mais cedo da árvore-palco, e soltou algumas notas suaves pela floresta.

Silêncio.

De novo, tocou mais algumas notas, dessa vez mais agudas, para ver se o ovo reagia a algo mais estridente. Ainda nada. Por algum motivo, a combinação de notas soou a Celdin como uma melodia nova, e ao mesmo tempo familiar, e ele gostou. Puxando as notas da flauta – e esta as puxava não sei de onde – ele construiu uma corrente de sons que vibrou no ar sólida como as árvores da Floresta. Adicionou um floreio aqui e ali e, de repente, lá estava. Celdin compora uma música.

Toc.

O ovo remexeu-se no lugar, e parou de novo.

Animado, ele levantou-se em um impulso e tocou a musica do início. Ele não pensava em seus dedos movendo-se pela flauta, ou no ar de seus pulmões produzindo sons que nunca ouvira juntos, só tocava com os olhos semicerrados olhando sem ver a paisagem.

O refrão acabou, e ele pegava mais fôlego para recomeçar, quando de novo, toc.

Ele umedeceu os lábios e tocou de novo. Dessa vez, com olhos abertos, observando a rachadura que maculava a casca.

Enquanto tocava, a partir desta, muitas outras surgiram, até que a colcha de retalhos que o ovo se tornara chacoalhou e parou.

A melodia morreu da flauta como gelo na primavera, constante, mas lentamente. A última nota soou como o soprar do vento, pois Celdin não mais estava guiando-a. O ovo sugara toda sua atenção.

O centro das rachaduras implodiu, e a cabeça de um dragão surgiu do meio dos cacos. O dragão lutou para sair da casca que se desintegrava, e sacudiu-se finalmente livre sob a luz de fim de tarde, estendendo suavemente suas asas aveludadas.

As pálpebras do dragão se abriram, e um par de pedrinhas azuis piscou para ele, como se dissesse: Por que demorou tanto?

Ele congelou por um momento, hipnotizado pelo cintilar dos olhos dela. Quando se moveu, foi inconscientemente que seu braço estendeu-se até a pequenina dragão. Ao tocá-la, foi como uma explosão. Gelo e fogo subiram por seu braço, e a sensação foi mais intensa em sua palma. Sua visão ficou escura por um segundo, mas ele a recobrou em alguns segundos.

O que viu foi o azul do céu e do riacho e de seu dragão. Sua palma ardia. Sua mente ardia.

Um leve zunido preencheu o ar do fim do dia, e ele sentou-se de frente para o dragão.

Seu dragão.

Atordoado, olhou em sua palma, onde a marca prateada ardia com magia. Magia, que finalmente ele podia controlar.

No que lhe pareceu um ato desnecessário, ele ergueu a palma e apontou a mão para a água. Um nó que estivera em seu peito há muito tempo dissolveu-se ao sentir o fluxo constante de força fluindo no fundo da mente. Proferindo com voz trêmula, enviou seu poder para a água:

– Adurna, reisa!

A superfície do riacho ondulou e pequenas gotas d’água levitaram no ar, juntando-se e formando um orbe de liquido tremulante.

Celdin soltou uma risada, e o globo estourou, caindo de volta na corrente, mas ele não ligou. Ele conseguira. Graças à sua pequena dragão.

Ele voltou-se para ela novamente, e sorriu. O zunido aumentou de volume, e ela engatinhou para perto dele. Ele se sentiu bobo por falar em voz alta, mas disse mesmo assim:

– Você viu? Adurna...

O zunido virou um ronronar, e ela aconchegou-se mais em seu colo.

– Adurna? – ela olhou para cima, com seus olhinhos enormes e ele podia jurar que a viu sorrir.

– Você é Adurna?

Adurna soltou uma nuvem de fumaça no rosto dele, fazendo-o tossir, mas sem tirar de seu rosto o sorriso.


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Notas finais do capítulo

Hey!, de novo.

Bom, esse é Celdin, basicamente. E Adurna ainda vai se tornar uma criatura digna de nota, e ainda vai exigir mais atenção de você, leitor :D ...Só tome cuidado com ela, sim?

Prévia para o próximo cap: Para o sul, Embaixadores! E após isso... quem sabe não reveremos rostos conhecidos por aqui...

Eu tenho, como já devem ter percebido, uma certa deficiência na composição de diálogos. Realmente, não é o meu forte. Desculpem se os desse cap ficaram muito sem graça ou sem sentido (ou ambos).

Então... Adurna é exigente, mas gostaria de saber o que acharam do cap. Deixe um review para eu contar a ela ;)

Obrigada por ler – e por ser paciente - e até mais!

— T. I. Wright