Sonhos E Delírios De Uma Mente Insana escrita por Capitã Sparrow


Capítulo 5
Um traidor qualquer


Notas iniciais do capítulo

Perdoem qualquer erro dessa pobre mortal.

Boa diversão



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– Esperando alguém querida?

– Victor! – Tamily estava surpresa e assustada – Achei que só chegaria semana que vem!

– Estava com saudade da minha bambina. – disse Victor carinhoso. Ele era alto e robusto, e tinha olhos rubros como os de Tamily, porém mais escuros como um mar de sangue. Seu cabelo loiro estava curto dessa vez. A aparência de Victor já havia passado por diversas transições, dependendo da época e do lugar. Mesmo tendo uma fisionomia cruel, Victor era um dos vampiros mais bonitos que Tamily já conhecera.

– Eu não estava preparada...

– Não tem problema. Caterina vai arrumar tudo. Estamos te atrapalhando? Pretendia sair?

– Não. – Tamily tentava não demonstrar seu nervosismo – eu só iria... Comer. – completou depois de um pequena pausa.

Victor gargalhou.

– Ouvi dizer de alguns assassinatos misteriosos, e suspeitei que tivesse sido você! – Victor sorria orgulhoso, mas Tamily sabia que não tinha sido ela. Ela não matava suas presas. Não mais. – Sinto que o motivo que me trás aqui não é muito agradável – disse ficando sério de repente. - Onde está o traidor?

– Nas masmorras.

– Vá busca-lo Caterina.

– Por que eu? – reclamou franzindo o cenho – Mande ela. – disse apontando para Tamily.

– Se eu disse pra você ir, vá! – os olhos de Victor faiscaram ameaçadores.

Caterina abaixou a cabeça e seguiu em direção à porta. Xingava Tamily em pensamentos.

As masmorras eram subterrâneas, ela teve que dar a volta na casa, até a parte de trás onde tinha uma porta de madeira podre coberta de insetos. Caterina odiava aquele lugar, era fétido e húmido. Depois de um longo suspiro, abriu a porta e entrou. Estava muito escuro, conseguia enxergar um pouco graças a lua que brilhava intensamente naquela noite. Olhou para os lados e localizou a tocha cheia de teias de aranha. Definitivamente odiava aquele lugar. Conseguiu acende-la e tentou não se distrair com os ratos passando por cima de seus pés. Se demorasse Victor iria insultá-la novamente. Tentou afastar os ratos e as baratas iluminando o chão com a tocha, mas só piorou a situação. Não pode conter o grito abafado ao ver a quantidade de baratas sobre seus pés. Sem pensar saiu correndo de olhos fechados e quase bateu a cabeça na porta que dava acesso às celas. Ela encostou-se a porta e respirou um pouco. Mudando a expressão do rosto, de uma vampira amedrontada com ratos, para “eu não tenho medo de nada nem de ninguém”, empurrou a porta.

Como a ótima atriz que tinha sido em sua vida passada, sua expressão tornou-se maligna. Aprendera com Victor. Ele era muito bom em impor medo e respeito apenas com um olhar. O admirava muito e o amava mais que tudo. Continuou andando até a cela que estava trancada.

A expressão de Caterina mudou quando ela viu o rosto sereno. Ele parecia ter em torno de 30 anos, mas não tinha como saber a idade dele, ele podia ter 30 ou 300 anos. Ela interrompeu seus pensamentos, um traidor é um traidor, não importa sua aparência. Ela bateu coma tocha na cela, causando um barulho irritante e quase se queimando com o fogo. Ele abriu os olhos e disse apenas:

– Ele chegou?

– Sim. Vamos logo antes que se irrite conosco.

– Comigo ele já esta irritado, querida.

– Cala a boca. – abriu a cela e puxou o homem pela corrente presa ao seu pescoço.

– A propósito, meu nome é Vincent.

Caterina não falou nada.

– É costume que quando alguém diz o nome, a outra pessoa diga também. – ele não queria atormentá-la, só parecia curioso. E estava estranhamente calmo para alguém que está andando rumo à morte certa.

– Eu não costumo falar com mortos. - disse esquecendo-se da própria natureza.

– Irônico ouvir isso de uma vampira. – ele riu divertido.

Caterina apenas o olhou furiosa, mais consigo mesma por tentar ser esperta e acabar sendo uma mula. Várias vezes tentara agradar Victor e acabou na mesma coisa, sempre o irritava, quando o que mais queria era ser a única a ganhar um olhar carinhoso. Mas era sempre Tamily, a queridinha dele, que ganhava os sorrisos e carinhos. Odiava Tamily mais que todos que já tinham cruzado o caminho dela. Ela queria vê-la sofrer.

Enfezada, Caterina levou Vincent até a porta e parou para deixar a tocha no lugar. Aproveitando aquele momento, ele pegou a corrente e puxou com força, fazendo Caterina cair de cara no chão. Ela foi pega desprevenida, mas faria qualquer coisa para não decepcionar Victor. Enquanto ele corria em direção ao canal mais próximo, Caterina se recuperou e pegou a tocha novamente. Ela mirou e acertou bem entre as pernas dele, derrubando-o. Com um sorriso cruel no rosto sujo de terra, Caterina aproximou-se dele e pegou a tocha. Ele começou a falar alguma coisa, mas foi interrompido com três violentas pauladas na cara.

– Nunca tente enganar uma mulher, querido, ou vai acabar se machucando. – ela quase cuspiu as palavras no rosto dele, e ele limitou-se a sorrir de jeito malandro, sem se deixar abalar. Caterina voltou a puxa-lo pela corrente e, dessa vez, apenas jogou a tocha em direção à entrada da masmorra. Pode ouvir um guincho, e com satisfação, percebeu que matou um rato imundo.

Foi em direção à porta com aquele sorriso cruel de vingança e, antes de entrar, limpou o rosto sujo e olhou nos olhos de Vincent uma última vez. Agora ele parecia desesperado. Caterina ficou satisfeita.

O hall era imenso com cortinas de seda e tapetes egípcios. Os moveis eram de todas as partes do mundo, e a mesa central era de mármore branco e marfim, com detalhes de ouro. Lá estavam 35 vampiros, sem contar Tamily e Victor que estavam à frente deles. Caterina levou-o para o centro, quando dois vampiros moveram a mesa para o canto esquerdo do hall. Vicente notou um relógio pendurado na parede. Eram dez horas da noite, e Vincent já não sabia se viveria mais uma noite.

Quando ouviu aquele frágil grito dentro das masmorras, ele pensou que seria fácil escapar, mas estava enganado. Tinha gastado suas últimas forças na tentativa. Fazia tempo que não tomava uma gota sequer de sangue. Estava fraco e já não raciocinava direito. Ele iria morrer, tinha certeza disso. Precisava convencer Victor que tudo era um engano, precisava dar um jeito. Mas não tinha esperanças, Victor sempre fora impiedoso.

– Que surpresa você aqui Victor! Veio me visitar? – e falando foi em direção a ele, como quem vai abraçar um amigo. Mas antes que encostasse um dedo em Victor, Caterina puxou a corrente, fazendo com que um pouco de sangue escorresse pela ferida do seu pescoço, que estava em carne viva.

– Vincent... Deveria saber que ninguém pode me esfaquear pelas costas e sair vivo. – disse esboçando um sorriso cruel. Victor alisava uma estaca que possuía em sua mão. Seus olhos pareciam arder em brasa de puro ódio e maldade. Tinha necessidade de sangue aquela noite. Não para se alimentar. Mas para enfeitar o tapete da sala. Já fazia algum tempo que não havia um traidor entre eles. Queria faze-lo sofrer, dar exemplo para aqueles que sequer pensavam em trai-lo.

Existiam sete sangues-puro, todos transformados pelo primeiro vampiro. E a maioria era inimiga, lutando pelo poder. Alguns eram bondosos e sábios devidos aos muitos anos já vividos, porém vampiros como Victor eram cruéis e matavam todos que cruzassem seu caminho. Victor queria ser o rei de todos os vampiros. Mas ele não era o único, Israel também queria isso, e para conseguir mandava espiões ou fazia novos aliados. Israel além de ser um vampiro muito antigo, era um descendente do primeiro vampiro, o último da linhagem de Caim. Ele era muito perigoso.

Vincent sempre tinha sido um dos seus servos mais fiéis, mas o traiu. Ele tinha sido torturado por Israel e entregou informações valiosas. Victor nunca o perdoaria.

– Victor, eles me torturaram... Eu não consegui... Não foi culpa minha...

– Se não foi sua, foi de quem então? Do Oliver?

Ao ouvir Victor esbravejar seu nome, Oliver se encolheu assustado. Era um vampiro novo. Não fazia nem seis meses que tinha sido transformado. Temia Victor com todas as forças de seu ser.

– Victor eu... Q-qualquer um teria falado depois do que eles fizeram comigo!

– Mas não foi qualquer um, foi você. – aquela conversa estava deixando Victor entediado, queria acabar logo com isso. Não se importava com um verme qualquer, que poderia ser facilmente esmagado. Simplesmente ordenou:

– Tragam as estacas.

Imediatamente Oliver as buscou.

– Crave uma por uma, longe do coração. – Victor disse entregando a estaca que estava segurando para Oliver.

– M-mas... – Oliver não queria matar ninguém, sempre fora um tanto quanto pacifista. Não gostava da ideia de fazer pessoas sofrerem. Mesmo ele sendo um vampiro.

Victor apena o olhou furioso e Oliver quase se cagou. Ele pegou uma estaca, com as mãos tremendo, e teve coragem de apenas olhar nos olhos de Vincent como que pedindo desculpas. Cravou a primeira estaca na barriga dele. Vincent urrou de dor. Oliver tentava crava-las rapidamente, para que Vincent sofresse menos. Mas era terrível. A única dor que supera as estacas é a prata e o próprio sol.

Victor até pensara em deixa-lo morrer queimado pelo sol, mas não gostava do fato da última coisa que ele veria ser o sol. Era muito poético.

Queria que Vincent morresse vendo-o.

Oliver enfiou as oito estacas pelo corpo inteiro de Vincent. Uma do lado direito do peito, longe do coração, três na barriga, duas na perna esquerda, uma na perna direita, e uma no braço esquerdo. Vicente sangrava muito, mas a dor mantinha-o acordado. Ele não conseguia mais raciocinar, arfava pesadamente.

Restava apenas uma estaca e quando Oliver foi pega-la, Victor fez um sinal de basta pra ele. Oliver se sentia horrível. Afastou-se dali e tentou não olhar mais para Vincent. Oliver tremia ainda e sentia vontade de chorar. Que criatura seria capaz de tal maldade? Victor. E por isso Oliver fazia o possível para não aborrecê-lo.

Victor fez Oliver cravar as estacas em Vincent por que ele deveria aprender o que significa ser um vampiro. Tinha que conhecer sua natureza, a maldade, o desejo, a sede. Adorava a cara de medo e angustia que Oliver fazia. Divertira-se muito com aquela cena.

Chegou bem perto de Vincent e cravou ainda mais fundo a estaca fincada em seu peito. Vincent urrou de dor, desespero e agonia, fazendo Victor sorrir diabolicamente. Ele pegou a última estaca e enfiou bem perto do coração, para fazê-lo sofrer, mas não o queria morto. Ainda não.

– Mate-me, por favor... – Vincent não aguentava mais a dor. Queria que acabasse logo.

Victor deu um pouco de sangue humano para que Vincent não morresse ainda. Queria faze-lo sofrer mais. E dessa vez ordenou que outro vampiro, um que usava luvas grossas, pegasse a corrente de prata e chicoteá-lo. Vincent chorava lágrima de sangue de tanta dor. Gritava, mas ninguém teve misericórdia dele. Tamily não conseguia se concentrar na terrível cena que estava acontecendo ali, só pensava em Giovanni, preocupada. Tinha medo que ele sofresse o mesmo fim. Estava desesperada, com o coração aflito.

– Vejam meu servos. Vejam o futuro que os espera se tentarem trapacear. Que isso sirva de lição, a qualquer um que tente me enganar.

Vincent agonizava de dor, sua carne grudava na prata, fazendo com que tiras de pele fossem arrancadas a cada chicotada. Ele não conseguia pensar, apenas dois rostos apareciam em sua mente. Sua esposa e seu filhinho, que morreram em um incêndio na noite em que fora transformado, e agora finalmente se uniria a eles novamente. Quando as chicotadas finalmente pararam, ele apenas fechou os olhos aceitando seu destino e pensando no reencontro com sua família.

Todos os vampiros na sala olhavam aquela cena com satisfação, a maioria adorava uma carnificina, só uma que teimava em não olhar. Tamily.

– Nos encontramos no inferno! - e assim Victor arrancou a cabeça de Vincent, fazendo Tamily voltar à realidade. Sufocou um grito e se espantou com a quantidade de sangue no chão. Victor agora saciara sua sede de sangue e se sentia mais vivo. Queria sair e se alimentar de alguns humanos, sugando-os até a última gota de sangue.

– Agora, - disse enquanto limpava o sangue das mãos com o pano que um dos vampiros havia trazido. – o que vou fazer com você, Tamily? Sabe que gosto de você, mas deve ser punida.

– Eu aceito minha punição Victor. – disse ela com a cabeça baixa. Quanto mais cedo acabasse com isso, mais cedo Victor iria embora. Assim podendo alertar Giovanni a ficar longe.

– Mate-a! – disse Caterina provocando com um sorriso.

– Você está querendo dormir nas masmorras hoje, não é Caterina? – Victor estava cada vez mais impaciente com ela. – Tamily não fez nada para merecer uma punição tão severa, só precisa aprender a controlar seus subordinados.

Victor foi interrompido por batidas na porta. Tamily ficou apavorada, chegou a rezar para que não fosse Giovanni. Não podia ser ele. Eles iriam se encontrar na frente da Basilica di Santa Maria Gloriosa dei Frari. Ele devia esperar lá!

Oliver abriu a porta e Tamily sentiu seu coração se contorcer dentro dela e se quebrar em mil pedaços. Era Giovanni.


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Notas finais do capítulo

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