POV SAMANTHA

Olhei o local canto a canto.

Poseidon

Afrodite

Atena

Zeus

Estavam Afrodite, Atena e Zeus sentados em um sofá grande no meio da sala. Reparei que Afrodite chorava e resmungava coisas sem sentido com um paninho rosa limpando suas lágrimas a todo tempo. Atena olhava para o nada, simplesmente ignorando Afrodite, aparentemente distraída. Talvez, muito provável, que esteja tramando algo.

Zeus, com uma cara de tédio. Mas eu me impressionei por ele estar ali, isso está na cara que deve ser muito raro ele ficar em “forma humana”. Ele parece ser muito convencido.

Todos com roupas normais. Roupas de humanos normais.

E meu pai... O único que estava de pé e andando de um lado para o outro da sala. Quando eu cruzei com aqueles olhos verdes azulados, idênticos aos meus, meu coração falhou por um instante. Ele sorriu e andou em minha direção. Foi quando os outros deuses repararam na nossa presença.

– Ah Samantha, minha filha... – Foi o que ele me disse antes de chegar até mim e me abraçar fortemente.

– Oi pai... – Respondi enquanto retribuía o abraço. Não tão forte.

Ele me soltou e reparei numa figura que apareceu atrás do meu pai.

– Como vão crianças? – Quíron perguntou. Não estava com sorriso, mas tentou ser o mais simpático possível. Parecia preocupado.

Assentimos eu e Nico. Poseidon encarou Nico com um olhar que eu achei que iria tritura-lo.

“Ai, qual Deus me ajudaria numa hora dessas?” Pensei não gostando nada da cena.

– Como vai? Nico di Ângelo não é? – Poseidon quebrou o silêncio e estendeu a mão para Nico. Meus olhos se arregalaram e meu corpo relaxou. Ele retribuiu o cumprimento.

– Isso mesmo senhor.

– Então era você que estava grávida garota? – Zeus disse chamando nossa atenção. Atena me encarava e seus olhos estavam escuros e nebulosos, iguaizinhos aos de Annabeth quando estava nervosa. Afrodite não prestava atenção na cena, apenas esfregava o nariz produzindo um som irritante.

– Sim, Samantha Hunter, de preferência – Respondi nada amigável.

– Está virando moda essas garotas engravidar com essa idade? – Ele disse levando um olhar mortal de Atena. Que eu confesso, é bem tenebroso – Ora... Foi apenas um comentário – Zeus tentou se defender.

– Comentário muito inconveniente da sua parte – Atena comentou ainda o encarando – E pare de chorar Afrodite... Já acabou... Sua maquiagem está toda borrada – Atena disse impacientemente para Afrodite.

Afrodite se exaltou e logo se esqueceu do choro e puxou uma bolsinha de maquiagem de não-sei-onde e começou a se embelezar.

Atena revirou os olhos.

– Doce na mão de criança – Ouvi Atena sussurrar.

Encarei meu pai e ele estava diferente, seu olhar estava frio e seu sorriso não reinara mais.

– Pai... O que...

– Nico – Meu pai me interrompeu – Obrigado por cuidar e proteger minha filha, isso mostra que você é totalmente diferente de seu pai – Nico assentiu um pouco orgulhoso.

– Por que vocês estão aqui e porque ela está chorando? – Me sobressaltei nas palavras chamando todas as atenções pra mim.

– Minha querida, convocamos vocês aqui, pois os Deuses tiveram ciência do que ouve, e vieram entrar num acordo, mas aqui junto a vocês – Quíron disse calmamente.

– Não respondeu toda minha pergunta... E tá, desde quando os Deuses se importam assim com a gente? – Perguntei.

– Está conseguindo me irritar com sua insanidade – Zeus disse a mim se esticando mais no sofá e me encarando com pouca vontade.

– Vai procurar outra Samantha que se importa com a sua opinião – Eu disse grossa.

Um raio cortara o céu, os olhos de Zeus se acenderam e ele ficou rígido no sofá espantado. Atena se sobressaltou.

– Zeus, acalme-se, ela não fez por mal...

Mas outra coisa nos chamou atenção, senti uma mão se envolver na minha, era Nico, como sempre prevendo o pior. E meu pai, caindo na gargalhada.

– Essa sim é minha garota – Poseidon disse entre risadas. O encarei e sorri. Cara, como isso me deixou feliz.

– Poseidon, pare com isso, agora – Atena tentou chamar sua atenção. Mais raios cortavam o céu. Zeus ainda me encarava.

– Por favor senhores, acalmem-se, não vieram aqui pra discutir mais do que já discutiram no Olimpo – Quíron se pôs a frente.

A risada de Poseidon foi se abaixando. Os raios cessando.

– Você não cansa de fazer inimigos? Principalmente deuses? – Atena perguntou.

– É... Ela não consegue se controlar... Não é? – Nico disse entre os dentes.

– E num piscar de olhos, tem um exército querendo me matar, isso já virou rotina – Eu disse indiferente dando de ombros fazendo Poseidon querer rir mais. Mas com o olhar que recebeu de Atena, preferiu se calar.

(Viu alguma semelhança entre Percy e Annabeth nesse meio? Mera coincidência).

– Enfim, vocês não falaram o que vieram fazer aqui.

– Filha, o... – Poseidon gaguejou – O ódio que eu estou sentindo de Hades agora, não tem tamanho. Temos que puni-lo. Mas temos que entrar num acordo.

– Mas Zeus não quer colaborar – Atena disse entediada.

– Não é óbvio? Mate-o - Disse simplesmente.

– Não se mata um Deus Samantha, você sabe... - Nico disse ao meu lado.

– Ele quis mexer com a gente, quis nos ferir, causando essas tragédias. E ele conseguiu - Completou meu pai.

Foi quando eu olhei para Afrodite.

– Natália... Onde ela está?

– Está morta – Zeus me interrompeu.

Eu e Nico nos enrijecemos.

A notícia que ela falou que iria chegar. Era a da sua morte.

– Ela sabia... – Nico disse atrás de mim.

– Como assim, filho? – Quíron perguntou.

– No mesmo dia que a Sammy foi atacada – Nico começou a explicar – Na verdade, antes do ataque, ela tinha nos contado que foi ela que atacara Annabeth aqui no acampamento, e que estava sendo pressionada por Hades para fazer o que não queria contra nós...

– E nós não acreditamos. Pensamos que ela estava fazendo por vontade própria. Achamos que ela estava ali vivendo conosco, só esperando a ordem de Hades para fazer a próxima vítima. Eu. Ou melhor, meu filho – Eu completei.

– Então a garota atacou para matar outro semideus. Sua morte foi por justa causa – Zeus disse reencostando no sofá.

– A menina foi forçada a fazer – Disse Atena revirando os olhos - Por favor, continue...

– Então achamos melhor tira-la de casa. Ela não era mais confiável – Nico começou a contar...

“... - Eu não tenho pra onde ir, não posso ir para o acampamento com eles sabendo que eu ataquei Annie – Lágrimas começaram a escapar de seus olhos.

– Ah, por favor, não derrame essas lágrimas de crocodilo. Primeiro tentou tirar o meu namorado de mim, a Annie, e vai tentar tirar meu filho também – Samantha continuava cuspindo as palavras.

Natália balançava a cabeça em negativa. Mas parou de chorar.

– Tudo bem, esperem a notícia chegar, mais cedo ou mais tarde – Ela disse virando as costas.

– Que notícia? – Eu e Samantha perguntamos.

– Vocês vão saber... - E saiu porta do quarto a fora...”

– Foi isso... – Nico terminara de contar a cena.

– Hum... Ela já sabia o que ia acontecer se ela saísse dali. Isso explica tudo. O estado em que a garota foi encontrada – Atena disse ainda pensativa.

– O que? Como ela foi encontrada? – Perguntei.

– Você quer saber como minha filha foi encontrada? – Afrodite levantara do sofá num solavanco. Sua voz tinha raiva e ela não chorava mais. Na verdade, por causa da maquiagem, nem parecia que ela tinha chorado – Por causa de vocês, minha filha foi encontrada pelas caçadoras na beira da mata, machucada, arranhada, mordida, praticamente massacrada por aquele sem coração... E já sem vida.

Ficamos um minuto em silêncio. Não conseguíamos pronunciar nada. Como ela pode ter sido morta desse jeito? Chegou até a bater um sentimento de...

– NÃO! – Eu me sobressaltei – Não foi nossa culpa. Nós não sabíamos, estávamos pensando no melhor pro nosso filho – Minha voz falhara após falar essa frase. Ainda me machucava.

– Não sabíamos em quem confiar, todas as provas se viraram contra ela e era óbvio que teríamos que dar um basta – Nico segurou na minha mão fortemente. Aquilo também o machucava.

– Se ela ficasse desprotegida, Hades iria atrás dela e fazer ela pagar pelo o que fez... Ou melhor, não fez – Atena disse nos encarando.

– E por causa do seu castigo senhor Zeuzinho, estávamos vulneráveis, entendeu? NÃO TINHA COMO! – Me sobressaltei de novo.

Zeus levantou do sofá num solavanco. Então eu percebi, o cara era alto, muito alto, mesmo estando na sua forma humana, dava mais de dois metros. E ver aqueles olhos azuis faiscantes furiosos me encarando. Eu quase pulei fora. Mas não demonstrei. Raios cortavam o céu mais uma vez. E esse era o meu fim.

– Agora até eu cansei. Vamos parar com isso? Samantha, minha filha, por favor, por alguns minutos se comporte – Meu pai disse tomando a frente me encarando.

Ok, não foi legal tomar uma dura do meu pai.

– Eu disse que vir até aqui era burrice e não ia dar em nada – Atena disse ainda entediada.

– Detesto falar isso, mas eu concordo com Atena – Afrodite comentou fazendo Atena revirar os olhos (pela milésima vez).

– A conclusão que levamos de tudo isso – Quíron mais uma vez se interferiu para tentar acalmar os nervos. Zeus se manteve de pé. Agora Poseidon estava a meu lado. Percebi que ele reparava em algo em mim, não sei o que era – É que os dois jovens agiram por legítima defesa, para proteger o filho. Não poderiam confiar em Natália, porque ela ainda podia estar a comando de Hades. Mas Natália se redimiu, só que como já tinha feito a coisa errada, pagou sua punição, por mais dolorosa e revoltante que tenha sido. A culpa não é desses jovens e sim quem jogou todos contra todos aqui. Como já sabemos, Hades.

– Isso já sabemos, Zeus? – Afrodite chamou Zeus.

– Bom, confesso que, o que meu velho amigo disse, está correto – Sua voz estava calma - E que a morte da garota foi injusta causa, já que ela se redimiu, mas tarde de mais – Então ele respirou fundo - Vou punir Hades, jagando-o no Tártaro. Que a justiça seja feita.

– Como já era óbvio... - Atena disse mais uma vez entediada.

– Tá, tudo isso, pra isso? – Perguntei baixo.

– Já estou até acostumado. Grandes discussões para coisas banais. São as regras – Meu pai disse perto de meu ouvido. Assenti emburrada. Odeio regras.

– Mas a gente vai ter que ir para o mundo inferior? – Nico perguntou.

– De novo? – Eu disse nada animada.

Todos os Deuses de repente ficaram estranhos e se encarando sem dizer nada. Poseidon se afastou de mim. Olhei para Quíron que parecia mais tenso que todos. Atena estava com a cabeça baixa em sinal de negativa. Afrodite com um sorrisinho malandro no rosto.

– Agora a discussão vai ficar legal – Ela disse. Essa é das minhas.

– Você não estava triste até agora? – Perguntei.

– Ah querida, decepções acontecem. Não tenho um filho apenas – Ela me respondeu com desdém olhando para seu espelhinho de mão.

“Egoístas.” Pensei.

Zeus caminhou até a janela.

– Irmão... é... é... – Poseidon tentou dizer, olhando para Zeus.

– Não vamos precisar do trabalho de ir até o mundo inferior minha jovem insolente – Zeus disse. Percebi que Nico passara sua mão pela minha cintura me trazendo para mais perto dele. Sua respiração estava pesada.

– Hãm? – Perguntei sem entender.

– Ele veio até nós – Zeus completou.