Olhei para Grover que sorria.

– ACAMPAMENTO O QUÊ? - olhei para ele como se ele fosse louco.

– É um lugar para pessoas como você. Filhos de deuses gregos.

Deuses?

Ele é Maluco.

Olhei para o lado e vi uma criatura enorme presa a uma corrente.

– É Peleu, o dragão que cuida do Velocino de Ouro. Que é o que ajuda a manter a magia que protege este acampamento sempre viva.

Não consegui responder. Muita informação... Um dragão? Isso realmente existe? E é mantido como um cão de guarda como se fosse um pastor-alemão treinado?

– Não dá pra explicar tudo aqui. Venha comigo.

Sem dizer mais nada, descemos uma curta colina, e lá estava ele, o acampamento, cheio de pessoas, mais ou menos da minha idade, andando pra lá e pra cá. Conversando, sorrindo. Rindo. Respirei fundo e acho que um sorriso bobo apareceu em meus lábios. Todos aparentavam ter mais ou menos a minha idade e me parecia um lugar seguro. E aparentemente, nenhum responsável a vista, estou gostando do lugar.
Enquanto Grover me levava, não sei pra onde, eu olhava as outras pessoas. Uns atirando arco-e-flecha, outros lutando com espadas... Pera i ...Espadas?

– Você vai aprender a lutar e a se defender Sammy. Depois que conhecer Quíron, já vai poder se instalar em seu chalé.

– Lutar? Chalé? Do que você está falando? Que diabos de lugar é esse? – Perguntei quase gritando, ainda olhava boba para as pessoas que lutavam com as espadas.
Era estranho.

– Calma, vamos para Casa Grande, depois te explicaremos tudo por aqui. – Disse ele apontando para uma casa grande á nossa frente e muito bonita por sinal, que ficava mais afastada de onde as pessoas treinavam.

– Bonita – Comentei.

– É, espere um pouco. Vou chamar Quíron.

Balancei a cabeça positivamente e encostei-me a parede da casa vendo Grover entrar sem cerimônias. Fiquei mexendo em um cacho de cabelo meu que parecia mais interessante. “Como eu vim parar nesse lugar?”. Minha professora deve estar uma fera comigo. Ai adoro. Sorri. Mas meu sorriso logo desapareceu quando eu vi alguém chegando subindo as escadas da casa com a cabeça baixa. Não vi o seu rosto, pois o seu cabelo tampava. Voltei a mexer no meu cabelo, mas quando eu o olhei novamente, ele já estava me fitando também.

Ele era um pouco mais alto do que eu, pele branquissima, que parecia porcelana, cabelos pretos um pouco bagunçados. Seus olhos eram grandes e negros, dava pra se perder facilmente naquele olhar. Usava roupas totalmente pretas.
Ele ficou me encarando e eu não conseguia decifrar a expressão no rosto dele. Me irritei.

– Perdeu alguma coisa? – Perguntei quebrando o silêncio, e num tom mais frio que de costume.

– Não. – Disse ele com um tom mais frio que o meu. Ele era esquisito. – Mas, você é nova aqui, né?

– Isso te interessa? – perguntei estreitando os olhos.

– Bom, não, mas... Ok então hã... – ele me encarava seriamente - Bem vinda de qualquer modo.

– Obrigado E-M-O. – Disse pausadamente e também sem dar nenhum sorriso. Ele me olhou com uma cara que me deu medo. Ele ia falar alguma coisa, provavelmente me chingar quando a porta da Casa Grande se abriu.

De lá saiu Grover com um cara alto esquisito. Reparei direito nele enquanto vinha na minha direção, foi quando eu parei de olhar no rosto dele e olhei para seu corpo.

– Caramba! Você é metade homem, metade cavalo!

Sou muito discreta.

– Olá querida, eu sou Quiron, dirijo esse acampamento e bom, sou um centauro na verdade – Disse o homem num tom de voz calmo.

Balancei a cabeça e fiz uma careta.

– Minha nossa...

Grover me olhou de cara feia.

– Qual o seu nome criança?

– Samantha, Samantha Hunter.

– Ok, Samantha. Deixa eu lhe explicar direito. Você já deve ter percebido que aqui as coisas são um pouco diferentes não é? Este é um acampamento para meio-sangues. Meio humanos, meio deuses. Semideuses, como você.

– Semi... Semideuses? Quer dizer que eu sou filha de um deus? Essas coisas existem? Tipo... Zeus... Apolo? – Desencostei da parede e fitei Quíron e Grover. Eu estava pasma. De uma hora pra outra, minha vida não era mais a mesma. – Sei lá eu... Já estudei um pouco sobre isso.

– Sim, aquelas histórias de deuses gregos são todas reais. De vez em quando, os deuses dão uma escapadinha do Olímpio e vem para o mundo dos mortais, onde acabam tendo filhos. Foi o que aconteceu com a sua mãe, mas os deuses são proibidos de ver seus filhos antes dos 12 anos. Depois disso, eles reclamam por seus filhos, mais cedo ou mais tarde para que venham até aqui ao acampamento saber de sua verdadeira identidade e treinar para o que lhes espera lá fora.

– Preparar para o mundo lá fora – Repeti para mim mesma. - Mostros? Tipo esses que há quinze minutos atrás nos atacou? – Quírion assentiu com a cabeça. - Que demais, então... De que “Deus grego” eu sou filha? – Pronunciei essas palavras ainda não acreditando. Nesse momento, um cara muito esquisito também saiu da Casa Grande. Ele veio na nossa direção e parou do lado de Quíron me olhando por inteira.

– Iremos descobrir – Disse Quíron e sorriu - Grover , será seu guardião daqui para frente.

– Claro. Há, e sou um Sátiro, só pra constatar. Sei que não dá pra perceber. – Ironizou Grover, então ele tirou a calça jeans, eu pensei em fechar os olhos mas então vi que ele tinha cascos e duas pernas peludas.

Mordi o lábio para não gargalhar.

– Então você é meu guardião ein? Que maravilha. Protege só a mim?

– Na verdade, tem mais uma pessoa. Depois eu te apresento a ele.

Assenti.

– Há sim, esse aqui... – Disse apontando para o cara estranho que ficou pequeno perto de Quíron. – É o Sr. Dionisio, diretor também do acampamento. Deus dos vinhos.

Ele não falou nada, continuou me olhando.

– Por que você fica me olhando com cara de idiota? – Perguntei.

– O quê disse pirralha? – Ele veio pra me segurar pelos cabelos, mas eu fui mais rápida, dei um passo pra trás e segurei o pulso dele com força.

– Ok, vamos parar. Chega. Vocês acabaram de se conhecer e já estão querendo se matar? Vamos todos com calma – Interrompeu Quíron.

– Sorte que eu não posso fazer nada contra você, Por enquanto ... - Disse Sr.D me encarando.

Fiz uma cara de deboche e soltei seu pulso.

– Vejo que conheceu Nico di Ângelo. Filho de Hades – Disse Quíron

Olhei para o garoto.

– Ah, esse esquisitão aqui? trocamos algumas palavras, nada demais - Dei de ombros.

Nico me olhou com uma cara de “Só não pulo em você porque tem testemunhas.”
Sorri.

– Bom, já que vocês não se conheceram direito, ta aí uma ótima oportunidade. Nico mostre o acampamento para Samantha, Sim?

Nico olhou Quíron pedindo socorro.

Quíron sorriu e virou as costas e simplesmente foi saindo dizendo:

– Foi um prazer Samantha, depois conversaremos melhor – Virou-se para Grover e disse - Você tem muitos afazeres, não fique ai de papo. Tudo bem?

Grover assentiu, acenou com a mão para mim.

– Boa Sorte e mantenha a calma – Piscou para mim e saiu correndo desaparecendo pelas trilhas.

Estávamos apenas eu e Nico na varanda daquela casa enorme, em silêncio, pois o “SR.D.” (que eu me simpatizei muito) havia saído antes mesmo deu perceber.

– Ótimo, agora eu tenho que mostrar o acampamento pra você sua linguaruda. Vem – Disse ele com uma cara de desprezo.

Céus, ele era muito irritante. E gostoso.

– Ué, não quer mostrar não mostre, cosplay de emo - Quando eu pronunciei a ultima palavra, ele parou e me encarou fixamente com um olhar mortal, parecia estar contando os segundos pra pular no meu pescoço.

– Primeiro garota, eu estou sendo forçado a fazer isso, então cala a boca e vem logo. Segundo, eu não sou emo – Respondeu ele friamente num fôlego só.
Não me intimidei.

– Eu me recuso a ir com você, posso ir sozinha.

– Não tem como recusar, ou vai por mal, ou por pior ainda.

– Não tem como recusar? Adivinha, estou recusando. Eu tenho pernas e senso de direção, não preciso de guia – Cheguei perto dele, com um sorriso maquiavélico no rosto – E-m-o.

Pensei que ele ia me estrangular mas ele só deu um sorriso de canto. Me puxou em seus braços com tanta facilidade que eu pensei que eu era uma pena. Soltei um fino grito de susto e ele me disse:

– Vai se arrepender.

Ele pulou escada abaixo, não encostando-se a nenhum degrau e começou a correr floresta adentro comigo em seus braços (eu parecia uma bela em apuros ¬¬) Eu dava leves gritinhos porque achava que ele ia cair e acabar derrubando os dois, mais ele não demonstrava nenhum esforço estar me carregando. Ele estava adorando.

Então ele parou, me jogou no chão com tudo. Ele se abaixou do meu lado, olhou nos meus olhos e disse:

– Olha, eu não to a fim de andar com uma garota estúpida e mimada como você, eu não tenho muita paciência, então eu espero que você seja educada comigo e eu serei com você.

Seu olhar parecia penetrar no meu. Não sabia como estava minha expressão ali, mais com certeza tava ridícula.

Calma ai, como ele ousa falar assim comigo? Eu sou Samantha Hunter! Eu coloco medo em todo mundo. Que ousadia!
Levantei –me e lhe dirigi um olhar de ódio gratuito.

– Melhor assim – Disse ele e começou a caminhar devagar. Eu o segui. A vontade que eu tinha era pegar a cabeça dele e esmurrar ela numa parede, sem dó.

Ele me mostrou quase o acampamento inteiro. Contava histórias de dificuldades e vitórias que o acampamento já tinha passado. Passava várias pessoas que cumprimentavam Nico por lá, que vinham me cumprimentar também. Cara, eu acho que eu disse meu nome umas 20 mil vezes só hoje. Conheci Chris e Clarisse, que são namorados. Conheci um pequenino chamado Harley. Nico disse que ele talvez seja o meio-sangue mais novo daqui. Conheci Pólux, Travis, Drew, Malcolm, Annabeth, eu realmente gostei dela, nós três conversamos bastante e demos bastante risada, ela me explicou bastante coisa sobre o acampamento e os costumes daqui. Nico aproveitou para dar uma escapada e nos deixar sozinhas ali. Annabeth era inteligente, claro, Filha de Atena, Deusa da sabedoria. Se despediu e avistei Nico voltando.

– Bom, voltando... Aqui é a arena. Lá, treina-se arco-e-flecha. Ali, espada. E ali, luta corporal – Disse ele apontando pra cada lugar que comentava.

– Aceita um desafio? – perguntei com um sorriso malicioso.

Ele me olhou confuso.

– Como?

– Lute comigo.

– Você é maluca em me desafiar. Mas eu aceito, hoje as 19:00 horas, aqui na arena – Ele olhou pra mim com um olhar de “Você vai apanhar garota”

– Tudo bem. Você vai perder - Antes que ele pudesse responder com sua ‘’ simpatia ‘’ foi interrompido.

– Já desafiando a menina nova Nico? – Ouvi alguém dizer bem distante de mim. Quando eu olhei, reparei no garoto que vinha em nossa direção.

Engasguei.

Ele era alto, seus olhos eram verdes – azuis iguais os meus e tinha um sorriso generoso no rosto. Usava uma camiseta laranja escrita ‘’ Acampamento meio sangue ‘’ como a maioria das pessoas ali, calça jeans e um all-star preto. Tinha cabelos castanhos escuros mais ou menos do mesmo comprimento que o de Nico.

Suspirei.

– Pois é. Estou mostrando o acampamento pra novata – Respondeu Nico.

– Seja bem vinda! Meu nome é Percy Jackson, filho de Poseidon – Disse ele estendendo a mão pra mim.

Nossa, aqui só tem garotos lindos assim?

– Ah, Oi – respondi, ignorando a mão estendida dele (odeio simpatia forçada) – Sou Samantha Hunter.

– Prazer e ... Nico é um cara legal.

– Faço o que eu posso – Respondeu Nico.

Revirei os olhos.

– Bom, estou indo... Tenho que ver uma certa pessoa antes que me mate, até mais! – Disse Percy virando as costas pra gente e acenando com a mão.

Ah, mais já? Observei ele se afastando com um brilho nos olhos.

– Só pra avisar. Esse daí tem namorada – Disse Nico e senti uma ponta de orgulho e deboche na voz dele.

De repente ouvimos um som ao longe, como uma corneta. Nico começou a andar rapidamente de volta ao centro do acampamento e eu o segui.
Quando chegamos vários campistas olhavam para frente, curiosos e eufóricos. Eu não estava entendo nada.

– O que está acontecendo? – perguntei para Nico que estava com a mesma expressão que eu.

– Eu não sei.

A multidão estava eufórica, realmente eram bastante campistas.

– POR FAVOR, POR FAVOR HÉROIS – todos se calaram – BOM, COMO SABEM TEREMOS O JOGO DE CAÇA A BANDEIRA HOJE. EU GOSTARIA DE LEMBRAR E AVISAR QUE NÓS NÃO TOLERAMOS ‘’ MORTES ‘’ VOCÊS CONHECEM AS REGRAS. POR FAVOR, VAMOS EVITAR QUE UNS MATEM OS OUTROS ENTÃO USEM A CRIATIVIDADE E IMAGINAÇÃO.
Quíron disse. Todos aplaudiram.
Eu olhei para Nico que sorria.

– O que é caça a bandeira?

Ele sorriu sinistramente.

– Você vai amar – respondeu.