*Hinata*

Encarei os olhos azuis de Naruto. Eles pareciam transmitir uma ansiedade que crescia absurdamente a cada novo segundo passado no relógio. O silêncio ainda instaurado no ambiente apenas provocava uma expressão confusa no rosto do Uzumaki a minha frente. Eu ainda estava estarrecida com suas palavras, de modo que nem ao menos consegui expressar-me.

― Eu... ― sussurrei brevemente atraindo toda a atenção de seus olhos azuis. ― Eu... ― as palavras flutuavam em minha mente, mas formar as devidas frases ainda necessitava de um tempo. Ainda precisava assimilar tudo o que o loiro dissera. A expressão aflita de Naruto era, de fato, cômica, tanto que tive que esforçar-me para não rir. Um pequeno sorriso brotou de meus lábios, fazendo Naruto sorrir naturalmente. ― Vamos tentar.

O sorriso seguinte a minha afirmação foi contagiante. Naruto colocou o anel em meu dedo e rapidamente ergueu-se, puxando-me para um abraço amoroso. Sorri minimamente. Aceitaria seu conselho e tentaria. Aproveitaria cada minuto restante como se fosse o último de minha vida. Sorriria, choraria, me divertiria, gritaria, amaria. Nossos corpos se afastaram apenas o suficiente para que nos encarássemos. Os seus belos orbes azuladas contra meus branco-acinzentados. Um contraste deslumbrante de se admirar. Minhas pernas bambearam quando senti seus lábios serem unidos aos meus. Se eu pudesse comparar, me assemelharia a uma mera adolescente ao dar seu primeiro beijo. As borboletas no estômago, as mãos frias, as pernas trêmulas. Era assim que sempre ocorria com todos os beijos que eu trocara com Naruto desde o primeiro.

Separei nossos lábios colando uma de minhas mãos sobre seu peitoral. Minha respiração ainda estava agitada e eu tive que conter-me para não levar a mão aos lábios na inútil tentativa de limpar o gloss borrado. Suspirei mantendo meus olhos fechados por alguns segundos. Senti a mão de Naruto colocar uma mecha de meus cabelos atrás da orelha e encarei-o. Era, novamente, o sorriso mais lindo que eu já o vira dá.

― Vamos tentar... ― sussurrei novamente as mesmas palavras, tentando me convencer que faria o máximo possível. ― Mas explique-me uma coisa... ― murmurei encarando seus olhos ainda encabulada com um pequeno assunto, talvez não importante naquele momento. ― O que fizera Hidan ajuda-lo nesse seu plano?

Naruto arregalara minimamente os olhos tanto que imaginei ter sido algo fruto de minha imaginação. Ele sorriu minimamente e caminhou até sua cadeira, sentando-se em seguida. Seus dedos tamborilavam sobre a mesa de mármore negro enquanto seus olhos vagavam pela sala em busca de algo que não fosse os meus.

― Naruto. ― chamei-o. Não entendia o porquê desta enrolação. Qual o problema em contar-me a verdade? Afinal, seu pedido fora facilmente aceito, não era mais hora de mudar de ideia. ― Está bem... ― sussurrei aproximando-me da mesa e retirando o anel que ele me dera.

― O que está fazendo? ― perguntou ligeiramente confuso. ― Hinata...

― Se não confia em mim o suficiente para dizer-me que “acordo” fizera com o Hidan... ― murmurei colocando a aliança sobre a mesa. ― Então, acredito que não seja a hora certa para algo sério como casamento...

Virei-me e logo que dera dois passos, pude sentir a mão do loiro segurar meu braço. Encarei-o sem muito ânimo. Naruto parecia irritado com minha ação, e eu sabia perfeitamente que a confusão estampava seu rosto no momento em que o encarei. Por isso retirei o anel. O loiro soltou-me quando percebeu meu olhar sobre si. Caminhou até a cadeira remexendo lentamente nos cabelos, puxando-os para cima. O conhecia a tempo suficiente para saber o que aquele ato significava e sorri internamente. Essa era a vantagem de termos crescido juntos. Eu conhecia as fraquezas dele, sabia exatamente como deixa-lo irritado ao ponto de contar-me o que estava escondendo.

― Está bem... ― sussurrou o Uzumaki encarando-me e sentando na cadeira. Refiz o caminho até a mesa e sentei-me a sua frente. ― Foi um acordo simples, ok?

*Naruto*

FLASHBACK ON

― Se isso a deixasse feliz. ― falou enquanto amassava a lata de cerveja e jogava-a dentro do cesto de lixo. ― Hinata já passou por muita coisa nesses últimos anos... Faria tudo para deixa-la feliz, até realizaria um pedido seu, se isso fosse por ela.

― Então...

― O que você tem em mente?

Encarei Hidan por alguns segundos. Apenas tempo o bastante para reorganizar as ideias que surgiam a toda em minha mente. Apalpei o bolso de minha calça e sem muita cerimônia retirei a caixinha preta. Hidan encarara-me completamente atônito. Pelo o visto, ele jamais pensaria em algo assim.

― É isso que tenho em mente... Por um lado. ― murmurei vendo-o erguer a sobrancelha. A pergunta estava tão nítida como um reflexo no espelho. ― Eu havia feito algumas pesquisas recentemente sobre o banco de medula do cordão umbilical. Conversei com uma amiga da família que é médica formada. Ela indicou-me um oncologista especialista nesse tipo de tratamento contra a leucemia. Ele mora em Berlim...

― E o que casamento tem a ver com isso? ― perguntou-me.

― Sempre fora meu sonho casar-me com Hinata. ― resmunguei e vi o olhar violeta entristecer-se por alguns segundos. ― Eu a levaria para Berlim na lua de mel e aproveitaria para conversar com o especialista.

― Hinata já visitou inúmeros especialistas no Canadá. ― balbuciou ― Como tem certeza que um desconhecido iria ajuda-la?

― Ele vem desenvolvendo um tratamento eficaz contra a leucemia. ― falei ― Se conseguir que Hinata esteja entre as primeiras pessoas no teste em humanos, ela poderia ter uma chance... ― Hidan encarou-me sem acreditar. Suspirei inevitavelmente. ― Hidan, me disse que faria qualquer coisa para o bem de Hinata. Estou tentando encontrar uma forma de salvar a vida dela, então... O que me diz?

― Farei isso, Uzumaki. ― retrucou erguendo-se do sofá. ― Mas com uma condição.

― Que condição?

― Que isso dê certo. ― murmurou o homem. ― Já presenciei inúmeras falhas nas tentativas de Hinata no Canadá. Estive com ela a cada novo exame feito. Vi como ela ficara desanimada depois de tudo e sei que foi por isso que ela não queria mais tentar nada. Se há uma chance dela não desistir novamente, então pode contar comigo.

― Pode deixar, Hidan. ― falei torcendo para que nada de ruim acontecesse. ― Eu tenho certeza que dará.

FLASHBACK OFF

Encarei a Hyuuga que ainda aguardava a resposta. Eu simplesmente não poderia dizer a verdade, caso o contrário, Hinata nunca aceitaria casar-se comigo, diga-se de passagem, ir a Berlim para encontrar um especialista em tratamento com as células-tronco de cordões umbilicais.

― Diga, Naruto. ― murmurou Hinata seriamente. ― O que foi esse acordo entre vocês dois?

― Ele faria isso se eu não a magoasse. ― falei rapidamente. Hinata encarou-me confusa. ― Aparentemente, seu amigo canadense nutre uma paixonite por você e como sabe que não conseguiria nada, fez um acordo comigo. Me ajudaria ao trazer você aqui, se você fosse feliz.

― Hm... ― murmurou a Hyuuga aparentemente não contente com minha resposta um pouco evasiva, mas não totalmente mentirosa. ― Está bem, então... ― disse recolando o anel em seu dedo. ― Acho que eu devo ir para casa...

― Eu a levo. ― sussurrei vendo-a confirmar com um breve aceno. Caminhamos até o carro e logo depois já cruzávamos as ruas. O silêncio havia se instaurado no carro até o momento que parei na frente de sua casa. A lua cheia iluminava a varanda com um brilho anormal. ― Entregue. ― sussurrei.

― Obrigada por tudo. ― murmurou a morena. Estávamos os dois em pé diante da porta. ― Eu... Eu estou feliz.

Sorri minimamente.

― Que bom. ― falei puxando-a para perto de mim. Os olhos da Hyuuga arregalaram-se quando seu corpo encontrou-se com o meu e eu sorri novamente. Havia algo diferente nela, talvez uma felicidade mais resplandecente. ― Eu te amo.

― Também te amo. ― respondeu antes que eu selasse nossos lábios novamente.