Impugna escrita por Juno Wolf


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Estou realmente animada com essa fanfic. Espero que gostem.se estiverem, dispostos a ler, me mandem reviews para eu saber que vocês estão gostando, para que eu consiga terminar essa historia.



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Vivemos a vida com a certeza de que um dia tudo acaba. A luz se apaga, o café esfria, o amor se esvai. É um fato, algo certo.

• Um anúncio lógico •

A morte chega para todos;

Mas de formas diferentes.

O barulho do andar de baixo está quase me deixando surda. Quase. Vidros se chocam contra a parede, e o palavreado de baixo calão, eu tenho certeza, pode ser facilmente ouvido do outro lado da rua.

Sei que deveria sentir alguma coisa, mas não sinto. Mentiria se dissesse o contrário. Não gosto de mentir. Não levo esse hábito comigo.

Eu viro a página de meu livro, e a gritaria prossegue.

Me levanto e checo se minha porta está bem trancada. Sei que logo alguém baterá. Também sei que não irei abri-la.

Olho pela fechadura e avisto a porta de meu irmão. Está trancada. Sei que provavelmente ele não está do outro lado da madeira. Sasori nunca está em casa.

Se eu pudesse, também não ficaria.

Coloco meus fones, pois não agüento mais os palavrões. Quando me deito novamente na cama, folheio meu livro fechado, voltando a página que lia antes, e quando menos espero, minha porta vibra.

A gritaria agora é na frente de meu quarto.

Olho a porta vibrando, e sei que ele quer entrar. Mas não irá.

Ouço um grito, e um baque demasiadamente forte em minha porta. Solto um gemido de ódio, e respiro fundo para controlar a raiva. Pergunto-me quando esse panaca irá desistir e deixar-me em paz.

A porta continua vibrando, e ele me xinga. Eu tiro meus fones, e no auge da raiva, com o cérebro martelando contra meu crânio, eu grito:

– Deixem-me em paz!

E meu padrasto responde:

– Sua vadiazinha! Abra a porta!

Ouço mamãe gritar para que ele me deixe em paz, e me pergunto o quanto ela está machucada. Sei que não é pouco, e por alguns segundos, acredito que ela mereça.

Ele chuta minha porta novamente, e eu jogo um vaso contra o outro lado da minha parede.

– Vá se ferrar!

Mamãe grita alguma outra coisa para ele, mas eu já não a ouço mais. Coloquei meus fones segundos depois de quebrar o vaso.

Só sei que, depois disso, ele para de tentar arrombar minha porta.

Mesmo com os fones, não consigo de deixar de ouvi-lo berrar:

– Você vai me pagar, garota. Escute o que estou dizendo.

Solto um suspiro cansado, tiro os fones, guardo meu livro, e me pergunto até quando terei de aguentar aquilo tudo.

Pego-me implorando para que não muito.

• O ocorrido em minha vida •

Mamãe se sentia sozinha após a morte de papai.

Danzou parecia ser uma boa pessoa.

E isso é tudo.

Olho para o lado e vejo algo comum em minha rotina. A mulher vestida de branco exalava uma forte luz amarela. Ela tem o olhar confuso, e sei bem que ela está perdida.

Em seu lugar, eu também estaria.

Não estou morta, como ela, mas gostaria muito de estar.

Eu olho a alma cheia de incógnitas, e quando tomo coragem para soltar a noticia de que ela está morta, ela começa a chorar. Típico.

Eu suspiro, e mostro para onde ela deve ir. Ela agradece, e segue seu caminho.

Eu sabia que ela iria para um lugar bom, afinal, era a áurea amarela que ela exalava. Era, provavelmente, uma pessoa boa, quando viva.

Suspiro, e quando me dou conta, ela já se fora. Nem precisei perguntar-lhe o nome, ou provar que ela estava realmente morta. Parecia conformada, como se já soubesse o que havia ocorrido consigo mesma.

Pego-me perguntando em que circunstâncias ela morreu, e sei que nunca irei saber.

O que me tranqüiliza é saber que ela está melhor agora, pois seu rosto cansado deixa marcado que ela sofreu para morrer. Uma doença grave, talvez.

Milhares de almas perdidas me encontram todos os dias. As conformadas, como essa mulher, seguem seu caminho sem muita relutância. Algumas estão condenadas a rondar por aí pela eternidade, e quanto a isso não há nada que eu possa fazer. Algumas outras – normalmente as que morrem de uma hora para outra, como em acidentes de carro – se recusam a acreditar que estão realmente mortas, e eu tenho que convencê-las de sua situação, e então mostro-lhes o caminho para onde devem seguir.

Nunca recebi uma alma com pendências, e, sinceramente, espero nunca receber. Primeiramente que elas provavelmente não se lembrarão de seu assunto mal-resolvido em vida, e segundo que eu não tenho paciência alguma para descobrir.

Meu nome é Haruno Sakura, tenho dezessete anos, péssimas notas no colégio e nenhuma perspectiva de futuro. Meu pai morreu quando eu tinha sete anos, e são poucas as memórias que tenho dele.

• Sobre papai •

Sasori ia se formar na quarta série, e estava chovendo.

Uma vaca no meio da pista, um pai protetor dos animais.

O barulho do freio, o carro capotando três vezes, e depois, nada.

Nunca mais vi papai depois disso.

Mamãe me disse, muitos anos depois – quando eu já entendesse algo sobre mortes – que ele havia batido a cabeça com força mortal no vidro.

Ele estava sem cinto.

Era um péssimo hábito de papai. Ele sempre esquecia do maldito cinto de segurança.

Só ele morreu naquele dia.

Mamãe saiu com um braço quebrado, Sasori com dez pontos na lateral da cabeça e eu com um corte horrendo no supercílio, que deixa uma cicatriz até hoje. E é por isso que eu uso o cabelo cobrindo a testa.

É incrível que, além de ela ser enorme, ainda existe essa cicatriz ridícula.

Não é como se alguém fosse reparar em mim, pois no instituto Saika, eu era invisível. A garota de cabelo rosa que senta no fundo da sala, e tira notas terríveis.

Talvez seja por isso que eu não tenho nenhum amigo.

A única pessoa com quem converso ás vezes – e talvez possa considerar um amigo – é, ironicamente, o maior gênio daquele lugar.

Nara Shikamaru não precisa se esforçar para tirar boas notas. Seu QI é fora do comum, e sua preguiça é tão alta quanto sua inteligência.

Apesar de preguiçoso e monossilábico, sua presença é agradável, e ele me tira algumas risadas, ás vezes.

Ele sabe o que eu vejo, e nunca mostrou repugnância alguma quanto a isso. Essa é uma das coisas que eu gosto nele. Ele sabe aceitar as diversidades com naturalidade, sem julgar, ou tratar mal, apenas aceita a pessoa pelo que ela é.

Sem te olhar torto. Sem te tratar diferente.

Eu comecei a ver coisas que não deveria três anos após o acidente. Vocês imaginam o quão assustador é para uma criança de onze anos ver almas penadas pairando por aí?

Sim, era assustador.

Contar á minha mãe foi a pior coisa que eu poderia ter feito. Foram dezenas de psiquiatras, terapias, mas as almas ainda me perseguiam.

• Instituto Saika •

Os alunos não se orgulham de estudar lá.

O Instituto Saika é conhecido internacionalmente pela

exatidão ao tratar doentes psicóticos.

Em outra palavra, é um manicômio.

Um internato de psicopatas.

Era natal, e como em todos os anos, eu fui passar o feriado em casa.

Embora eu odeie o Instituto com todo meu coração, preferia ter ficado lá.

Após a morte de papai, mamãe se sentia sozinha. Meu irmão passou a encontrar más influências na rua, fazendo assim minha mãe ir buscá-lo diversas vezes na polícia.

Com um filho marginal, e uma filha louca, ela estava prestes a desistir.

Danzou parecia uma boa pessoa. Um homem gentil e preocupado, que a amava.

A princípio, todos pensávamos assim. Ele realmente tinha uma boa aparência. Mas com o passar do tempo, ele tomou as rédeas de tudo. Bebe, batia em minha mãe, em meu irmão, e muitas vezes, em mim.

Quando Sasori chegou a maioridade, sumiu. Foi morar em uma república, e raramente aparece em casa. Parou com os furtos e as drogas, mas não com o gênio forte.

Sem o apoio de meu irmão, e minha mãe sucumbindo ás vontades daquele lunático, logo fui chutada para longe daquela casa, quando ele descobriu minha “particularidade”.

Após minha mãe implorar para ele não me jogar em um hospício, ele optou pelo instituto Saika. Lá eu continuaria com meus estudos, e teria chance de “ser recuperada”. Não é como se fosse melhor. Era apenas mais caro.

Apesar de desestruturada, nossa “família” tinha dinheiro. Danzou era dono de uma empresa aérea, e sendo assim, poderia bancar minha estadia “confortável” bem longe se sua preciosa casa.

Olho para o relógio e vejo que já se passam das seis da manhã.

Mais uma noite sem pregar os olhos.

Minhas malas estão prontas, e mesmo sabendo que irei voltar para o inferno que é o instituto, sei que nada pode ser pior que o pesadelo desta casa.

Olho o sol nadar na imensidão laranja do amanhecer, e então eu sei que nunca mais vou ter a paz que eu tinha antes de tudo acontecer.

Antes de meu pai morrer.

Antes de eu ver almas.

Antes de ser tachada de louca.

Antes de eu apanhar de meu padrasto, e ser enviada ao Instituto Saika.

Era um novo dia, mas meu pesadelo particular me perseguiria por onde quer que eu fosse.

Meu pesadelo era eu mesma.


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