“Se eu deitasse aqui,

se eu apenas deitasse aqui

Você deitaria comigo

E esqueceria do mundo?”

Sara

Eu estava chocada com o que havia acontecido com a Rosane. Tá certo que ela era metida, mas ninguém merece passar por isso. Meu ódio por Daniel aumentou mais ainda. Eu me senti culpada pelo que havia acontecido. Se eu não tivesse enfrentado-o, ele não teria ameaçado Ângela, eu não teria me disposto a defendê-la e Pedro não precisaria bolar aquele plano estúpido com Emerson que se descontrolou e bateu no Daniel. Rosane pagou pelo meu erro e eu me sentia péssima porque era eu quem merecia estar no lugar dela.

– É minha culpa, minha culpa! – eu não parava de dizer, estava sentada no chão, encostada na parede ao lado da porta do quarto onde estavam Rosane e Mandy.

– Pare de se culpar! – dizia Jacson – Ninguém tem culpa de nada, todos aqui são vítimas dessa violência.

Mas eu não me convencia disso, nada acabaria com a minha culpa.

Mandy saiu do quarto.

– Ela dormiu, dei alguns calmantes para ela.

– Pobre Rose – disse Ângela – Como ela está?

– Está bastante machucada e muito arrasada! Estou preocupada com os meninos, ainda não tivemos notícias deles e temo a reação do Emerson quando souber o que houve.

Os garotos estavam virando o corredor quando Mandy tinha acabado de fechar a boca.

– O que está acontecendo? – perguntou Pedro – Está um clima estranho pela escola, pior do que já estava...

– Onde está a Rose? – perguntou Emerson, estava olhando para os lados procurando-a.

– Ela está dormindo. – Mandy disse rápido antes que outro dissesse alguma coisa.

– Dormindo? Essa hora?

– Sim, ela estava indisposta então deitou um pouco para descansar.

– Precisamos descer, é hora do almoço e da contagem. – interrompeu Jacson.

– A gente precisa acordar a Rose então. – Emerson disse e foi abrir a porta do quarto.

– Não – Mandy pegou sua mão e a tirou da maçaneta – deixe-a descansar, diremos ao Daniel onde ela está.

– Ok, vamos descer então.

Vi Mandy e Jacson trocarem um olhar de alívio. Jacson foi na frente, tentando distrair Emerson e pedindo para ele contar como foi a briga com Daniel, Pedro ficou para trás comigo e Mandy.

– O que vocês estão escondendo do Emerson? – perguntou em voz baixa.

– Conte a ele Sara. – pediu Mandy e foi para junto de Jacson.

Por que eu tinha que jogar a bomba? Por que não podia ser outra pessoa? Tudo bem, a culpa é minha eu mereço!

– Foi hoje de manhã... - diminuímos o passo e contei a ele só o básico. Ele ficou chocado também e com muita raiva.

– Aquele desgraçado!

– Fala baixo ou o Emerson vai ouvir. É melhor esperar pra contar depois, se a gente contar agora é capaz dele tentar fazer alguma besteira e piorar a situação.

– Tem razão, é melhor esperar.

Quando chegamos, entramos na fila junto com os outros.

– É melhor torcermos pro Daniel não largar nenhuma charadinha pro Emerson ou nosso plano irá por água abaixo. – comentou Pedro.

– Vai ser difícil! – comentou Miguel – Além do mais, está todo mundo comentando, foi um milagre ele não ter ouvido nada ainda...

Daniel entrou no refeitório, percebi que Pedro ficou rígido ao meu lado e cerrou os punhos.

Eu segurei sua mão e a acariciei. Ele olhou para mim surpreso.

– Relaxa – disse com medo que ele fizesse alguma besteira e se desse mal de novo por minha causa.

– Eu não devia ter colocado o Emerson nessa, devia ter agido sozinho...

– Você não tem culpa, eu...

Percebi que Daniel estava se aproximando e me calei. Ele parou a contagem em mim que era a última e antes que pudesse perguntar eu já respondi.

– Rosane está dormindo. – tentei parecer o mais natural possível para que Emerson não desconfiasse de nada e rezando para que Daniel não tocasse no assunto. Foi em vão...

– Eu dei um cansaço nela, não foi?

Daniel disse isso na maior cara de pau e bastou para Emerson perder o controle.

– O QUE VOCÊ FEZ COM ELA SEU ANIMAL? EU VOU...

Jacson o segurou, ele estava fora de si e Pedro o ajudou a prender o amigo, juntos tiraram ele de lá, mas ele continuava aos berros xingando Daniel e nunca pensei que o vocabulário de palavrões dele fosse tão extenso.

– Você é a próxima docinho! – ele falou lambendo os lábios e eu tive que me segurar pra não vomitar na cara dele. Tive que deixar passar essa pra ir atrás dos meninos.

Pedro e Jacson ainda seguravam Emerson quando os encontrei no pátio, os outros também estavam lá.

– Eu vou matar aquele desgraçado! – Emerson gritava a plenos pulmões - Juro que vou! Me solta!

– Só vamos soltá-lo quando você se acalmar. – respondeu Jacson.

Levou algum tempo até conseguirmos convencê-lo de que não havia nada a fazer. Por fim ele se acalmou e os garotos o soltaram.

Emerson insistiu em ver Rosane e Mandy consentiu em levá-lo. Pedro também quis ir.

– Você não vem? – ele me perguntou.

– Não, não acho que ela vai querer me ver... – respondi.

– Não seja boba! – ele disse e saiu me puxando pela mão e eu não tive escolha.

Quando chegamos no quarto, Mandy entrou com Emerson, eu ia entrar mas Pedro me puxou e lhe disse:

– Vamos esperar aqui Mandy, entramos depois!

– Tudo bem. – respondeu e fechou a porta.

Pedro abriu a porta ao lado que era do quarto dos meninos e me puxou pra dentro.

– O que está fazendo? – perguntei ao ver que ele estava fechando a porta.

– O que você está tentando provar desafiando o Daniel daquele jeito? – perguntou zangado.

– Eu fiz aquilo pra defender a Ângela!

– Você é louca? Não pode ficar se colocando no lugar de todo mundo que Daniel quer machucar...

– Se eu puder salvar meus amigos eu vou fazer isso quantas vezes for preciso.

– Eu não vou deixar você fazer isso!

– Você não pode me impedir. Também arrumou briga com Emerson pra me defender.

De repente me lembrei que ainda não havia agradecido pelo que ele fez.

– Obrigada pelo que fez por mim.

Ele relaxou um pouco e me abraçou.

– Por favor Sara, não faça mais aquilo, eu não me perdoarei se acontecer algo a você. Se realmente está agradecida, não faça tudo o que fiz ter sido em vão.

Era bom abraçá-lo, percebi que me sentia protegida ao lado dele, retribui o abraço com força.

Ele percebeu e me soltou.

– Sara, me prometa que não vai mais enfrentar o Daniel daquele jeito? – pediu segurando minhas mãos e olhando em meus olhos com intensidade.

Eu não podia prometer algo que eu sabia que mais tarde não poderia cumprir, mas seus olhos me imploravam que eu fizesse o que ele pedia.

– Eu prometo – disse sem pensar – que vou fazer o possível pra me segurar e não fazer besteira.

– Eu realmente me preocupo com você!

– Eu sei, depois do que fez, acredito que é verdade o que diz.

Ele me abraçou novamente e beijou o topo da minha cabeça. De repente me dei conta de que já estava gostando ele. Senti vontade de ficar ali com ele pra sempre e esquecer o resto do mundo.

Eu me afastei para olhar em seus olhos verdes que estavam úmidos novamente. Segurei seu rosto com minhas mãos e pela primeira vez o beijei por vontade própria. Ele correspondeu com vontade e quando percebi, estávamos sentados na cama. Ele me deitou com cuidado e ao notar o que estávamos fazendo, parei de beijá-lo.

– Acho que não é o momento certo pra isso...

– Eu não vou mais ficar longe de você Sara. Eu vou ficar ao seu lado e vou te proteger.

– Eu sei, mas a gente precisa ir e a escola toda precisa de proteção.

– Eu já pensei nisso.

– Em quê? Proteger a escola?

– Mais ou menos. Ainda estou amadurecendo a idéia...