Metamorfose escrita por Cacau54


Capítulo 9
Capítulo 8 – Nostalgia


Notas iniciais do capítulo

Olá galera. Muito obrigada pelos reviews do capítulo anterior, principalmente as leitoras que saíram do status fantasma para leitoras que comentam, isso foi de grande motivação pra mim. Muitíssimo obrigada pelos reviews, mesmo ♥ Eu iria postar esse capítulo apenas no próximo final de semana, porém como recebi uma mp da Kaarolziiinhaaa, perguntando sobre a fic e eu decidi postar mais cedo. enfim. Boa leitura ♥



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Nostalgia s.f. Tristeza causada pela saudade. Saudade do passado, de um lugar etc. Saudade de alguma coisa, de uma circunstância já passada ou de uma condição que deixou de possuir.

Continuei a encarar aquela imagem por incontáveis minutos, Esme e Isabella perceberam meu estado e acabaram ficando quietas apenas me observando, esperando alguma reação. Mas tudo o que consigo fazer é encarar os sorrisos inocentes de duas crianças que ainda acreditavam no melhor da vida.

E pensar que eu era otimista há dezoito anos, que era sempre eu a erguer o humor das pessoas ao meu redor e quase nunca me deixava abater por alguma coisa. Bons tempos.

– Edward... – minha mãe murmurou.

– Faz tempo – dou de ombros como se essa foto não tivesse nenhuma importância.

Meus pais sabem de toda a história por trás dessa foto, talvez todos que me conhecem desde a adolescência sabem da história por trás dessa imagem e todo o sentimento que ela possui.

Muitos dos meus amigos na época da escola usavam essa pequena e muito significativa imagem para brincar com a minha cara, falando que eu era um iludido. Eu apenas levava tudo na esportiva e cheguei a afirmar várias e várias vezes que eles iriam engolir aquelas palavras e que tudo o que eu contava iria mesmo acontecer.

No final, eles estavam certos. Eu era um iludido.

– O que tem essa foto? – Isabella perguntou de forma curiosa, mas de um jeito contido.

– Ela representa a minha infância – murmurei explicando – E o fim do meu otimismo.

Desviei meu olhar para a face confusa da Swan e suspirei. Talvez eu devesse lhe confidenciar mais essa história sobre o meu passado para ela.

– Alice deve ter lhe contado que fui adotado – falei e ela assentiu concordando – Eu vivia em um orfanato em Seattle, desde os meus três anos de idade quando o avião em que meus pais de sangue estavam caiu, não havia nenhum parente próximo a não ser minha avó materna que vivia em um sanatório. E ela, com toda a certeza, não tinha condições de cuidar de uma criança.

Fechei os olhos por um momento, faz tempo que não penso sobre a minha história de vida e reviver esses detalhes chega a ser mais doloroso do que ocultá-los até mesmo de mim. E respirei fundo, de alguma forma, sinto que preciso contar essa história pra Isabella, como se tudo dependesse disso. Como se minha vida, dependesse disso.

– Foi lá que conheci essa menina – virei à foto para ela ver – Não me lembro com clareza quantos anos eu tinha quando ela chegou, só sei que, alguns órfãos que viviam lá começaram a importuná-la e eu como um grande cavalheiro e garoto completamente fascinado pela menina bonita, resolvi defendê-la.

– Fascinado pela menina bonita? – apesar de o assunto ser sério, Isabella deu uma gargalhada e eu sorri pra ela.

– Sim, eu a achei bonita – dei de ombros – Bem, depois disso viramos amigos. Os anos foram passando e nós, obviamente, crescendo. Passamos a ser melhores amigos, confidentes um do outro. Nosso maior anseio era sair daquele lugar, ter uma família novamente, porém nosso maior medo era de nos perdermos um do outro.

Isabella franziu o cenho e encarou ainda mais a foto, como se estivesse tentando imaginar nossa infância em um orfanato, os garotos importunando a menina da foto e duas crianças tornando-se melhores amigas com o tempo.

– E em um belo dia – me forcei a continuar narrando à história – Um casal conseguiu adotar a menina, essa foto foi tirada um mês antes e é a única coisa que tenho de recordação dela.

– E depois? – Isabella voltou a me encarar, querendo saber o resto da história.

– Depois, nada – murmurei e dei de ombros.

Esme ficou me encarando por muito tempo com uma expressão sofrida no rosto, mordiscou o lábio como se estivesse se segurando pra não falar alguma coisa. Ela viu tudo o que passei. Todos os anos que carreguei essa foto pra cima e pra baixo, anunciando para todo mundo que iria reencontrar aquela menina.

Carlisle manteve-se imóvel, porém o olhar dele denuncia a agonia que sente a me ver relembrar desse fato. Normal de pais, afinal.

– Como nada? – a voz insistente de Isabella me fez voltar a encará-la – Você acabou de dizer que tinham medo de perderem um ao outro, ela simplesmente foi embora?

– Não. Quer dizer, tivemos que fazer uma chantagem emocional com a mulher da ação social que vivia no orfanato pra ela revelar essa foto e fazer duas cópias – soltei uma risadinha ao recordar disso – E então, ela escreveu isso ai atrás pra mim e eu escrevi algo pra ela.

– O que você escreveu? – definitivamente a curiosidade da Swan chega a ser abusiva às vezes, bufei.

– Não me lembro – murmurei dando de ombros.

– E foi só isso? – os olhos dela sobre mim, investigativos, sabem que existe mais e ela quer ouvir.

Droga. Engoli em seco e mudei o peso de perna, prefiro continuar em pé, caso eu sente minhas pernas vão começar a balançar em um típico sinal de ansiedade. Passei tanto tempo soterrando essa história, demorei anos pra erguer um muro ao redor dessas lembranças e agora do nada eu simplesmente desenterro tudo de uma vez.

Eu nem ao menos me lembrava da fisionomia da garota, apenas lembrava-me da perda, da dor e a sensação de abandono. Traição. Senti-me traído e esse sempre foram os sentimentos carregados e associados à lembrança dela, mas agora, vendo a foto consigo relembrar de nossas travessuras e promessas. Nosso ar infantil, nossas crenças de pré-adolescentes.

Tudo virando uma grande nostalgia. Estou estranhamente me sentindo culpado por ter esquecido a aparência dela, por não lembrar seu nome e por ter soterrado todos os sentimentos bons que eu tinha por ela.

– Prometemos que quando ela completasse dezoito anos, iriamos nos encontrar – forcei minha voz a sair, engoli em seco – Ela tinha dez anos quando foi embora, então prometemos um ao outro que quando ela completasse os dezoito iriamos nos encontrar na frente do orfanato. Trocamos as fotos com as mensagens e com um ultimo abraço nos despedimos e algum tempo depois Carlisle e Esme conseguiram me adotar e eu sai de lá também.

“Claro que apesar de ter medo de nunca mais vê-la, eu estava feliz por nós dois termos encontrado famílias novas. E agarrei-me fielmente aquela promessa, carreguei essa foto para todos os lados junto comigo e sempre quando tentavam zombar de mim, eu apenas retrucava falando que iriam engolir aquelas palavras quando eu apresentasse a menina pessoalmente para eles, algum dia. Passei os oito anos acreditando em uma promessa de duas crianças, na inocência de duas crianças”.

– E então? – Isabella está ansiosa pela continuação, para saber o que aconteceu no final, provavelmente por curiosidade para saber se a menina da foto era Tania.

– Então, quando chegou o dia, quase não cabia em mim de tanta ansiedade. Como tínhamos esquecido o grande detalhe de combinar um horário, fiquei desde antes de o sol nascer em frente ao nosso antigo orfanato, esperando – suspirei e baguncei ainda mais o cabelo – E ela não apareceu, fiquei o dia todo plantado lá, igual a um idiota. Mas no inicio me neguei a acreditar que ela não iria, então fiquei até acabar o dia, quando já era madrugada eu percebi que ela realmente não iria aparecer. Então, eu simplesmente deixei de acreditar naquela promessa, talvez ela tivesse esquecido, talvez tivesse encontrado alguém e deixado pra lá um garotinho que conheceu no orfanato.

O silêncio que caiu sobre a sala foi gigantesco, todos absorvendo as informações e o ressentimento transmitido em minha voz ao narrar o final. Esme desviou os olhos para o chão, provavelmente lembrando-se de como fiquei depois de tudo aquilo, Carlisle olhou para algum ponto ao longe pensativo.

Já Isabella, ao contrário de meus pais, ergueu a cabeça e encarou o teto. Meus pais voltaram à atenção pra ela, confusos e eu sorri minimamente, provavelmente minha expressão era a mesma quando não entendia o que ela estava fazendo. Talvez agora toda a informação esteja ainda mais confusa em sua cabeça, porque essa é a constatação de que aquela menina na foto não é Tania Denali, minha falecida esposa.

– Dois anos e meio depois, mais ou menos – voltei a falar e Isabella desviou o olhar pra mim, novamente – Conheci Tania, começamos a namorar e um ano depois eu a pedi em casamento. Bem... O resto você já sabe.

– Sei – ela murmurou assentindo.

Estranhamente Isabella Swan está sem falar nada, pensei que depois da minha incrível e ressentida revelação ela iria me encher com possibilidades positivas do porque a garota não ter aparecido e talvez me incentivar a procura-la. Mas não... Nada. Ela apenas continuou a encarar o teto, pensativa.

Acho que a vizinha maluca percebeu que nesse caso não tem muito que fazer, talvez ela não queria que eu enfrente outra decepção ou apenas porque acha que se eu encontrasse a garota ela seria passada pra trás, eu iria me esquecer dela. Não sei o que deve estar passando pela cabeça dessa mulher, na verdade, eu nunca sei o que se passa na cabeça dela.

E então lentamente ela desviou os olhos e me encarou, avaliativa. E aqui estamos nós de novo, ela me examinando minuciosamente tentando encontrar alguma coisa em meu ser, sempre encarando meus olhos. Com um suspiro resignado ela sorriu, fracamente.

– E qual era o nome dessa menina? – a pergunta saiu do nada, e ao vê-la arregalar os olhos consigo perceber que ela não queria perguntar aquilo em voz alta.

– Não lembro.

Abri os olhos lentamente por causa do sol que insiste em atravessar a fresta aberta da cortina e atingir-me em cheio o rosto. Para meu completo desgosto a primeira coisa que enxergo é a foto, a maldita foto, que trouxe comigo para o quarto e a coloquei em pé, fazendo meu antigo despertador um apoio para que ela não caia. Não sei ao certo porque fiz isso, apenas fiz e estou me arrependendo.

Bufei e sentei-me na cama, esfreguei o rosto com lentidão. Talvez um bom café da manhã me anime mais rápido, afinal hoje mesmo iremos voltar para Portland porque Isabella precisa trabalhar amanhã e eu não vou a deixar ir sozinha.

Depois de fazer minha higiene matinal, desci para a cozinha, porém Esme está fechando uma mochila e Carlisle levando algumas caixas de papelão para a garagem.

– O que estão fazendo? – perguntei e Esme soltou um gritinho colocando a mão no coração.

– Não chegue de mansinho assim Edward, vai me matar do coração! – ela ralhou comigo, me fazendo soltar uma risadinha – Desculpe querido, mas tínhamos prometido para o pessoal da igreja que ajudaríamos no trabalho comunitário de hoje. Pegue Isabella e a leve para tomar café da manhã em algum lugar, distraiam-se, voltamos antes do almoço, prometo!

Ela ficou nas pontas dos pés e com mais algum esforço – e uma pequena inclinada da minha parte – ela conseguiu depositar um beijo em minha testa. Meus pais saíram acenando e gritando um “voltamos logo”. Suspirei.

E quase como um fantasma, Isabella surge ao meu lado. Arregalei os olhos e ela soltou uma gargalhada contagiante, que quase, quase mesmo, me fez gargalhar junto. Mas contentei-me em apenas sorrir.

– Vamos tomar café em algum lugar – falei a puxando pelo braço.

Fico impressionado com a capacidade de Forks ficar 24h por dia com o tempo nublado, mas impressionado ainda por “Callas Coffee” continuar sendo o único local descente para tomar um café da manhã nessa cidade, depois de tantos anos, ninguém decidiu abrir outro? Talvez seja perda de tempo, afinal em uma cidade pequena não iria dar muito lucro, ainda mais porque o Callas já tem uma clientela fixa.

Sem mais opções decidimos por adentrar nele mesmo, assim que passamos pela porta um ridículo sino tocou avisando que mais pessoas haviam entrado e nos encaminhamos para uma mesa mais afastada.

– O que vão querer? – a garçonete perguntou sem muito animo.

– Dois cafés pretos e alguns pães de queijo – falei rapidamente e olhei pra Isabella – Quer mais alguma coisa?

– Não, está bom pra mim – ela sorriu, docemente.

A garçonete anotou em seu caderninho e saiu, voltei minha atenção para Isabella que não para de digitar alguma coisa no celular. Pra ser bem sincero, ela não largou esse celular desde que entrou no carro. Antigo carro de Emmett, pra falar a verdade faz mais barulho do que realmente anda. Aquela tranqueira.

Percebendo meu olhar sobre ela, ergueu a cabeça e com um sorrisinho sem graça murmurou um “é do hospital” e assenti como se não ligasse pra isso. Na verdade, não ligo. Apenas o fato de poder encará-la já é o suficiente.

Assim que nosso pedido chegou, ela finalmente guardou o aparelho e começou uma conversa amistosa comigo e em meio a risos dela, um vulto se projeta ao lado da mesa e quando ergo o olhar, um homem está parado olhando fixamente Isabella.

– Swan! – ele exclamou com o semblante fechado – Não pensei que iria te ver tão cedo por aqui!

– Olá Newton – ela murmurou sem muito animo, o encarando seriamente também.

E então, do nada, os dois soltam gargalhadas e ela levantou-se para abraça-lo. Ficaram longos cinco minutos em um abraço apertando e com risadinhas idiotas um para o outro. Não estou gostando disso. Quer dizer, não estou com ciúmes, só acho que ela não deveria ficar abraçando outro cara por tanto tempo assim!

Ok. Acho que isso é ciúmes, faz algum tempo que não lido com esse tipo de sentimento e ser pego sentindo-os novamente é estranho e confuso... Ainda mais porque estou sentindo ciúmes de uma mulher que conheço há duas semanas e meia, não sei quase nada de sua vida e apenas sei que ela é incrivelmente sincera e otimista.

– Você já voltou? – ele perguntou confuso assim que, enfim, se soltaram – Você não ia ficar dois meses estagiando naquele hospital gigante de Portland? Pelo o que me lembro, não passou dois meses ainda, você tem mais uma semana e meia, pra ficar por lá.

A boca de Isabella abriu e nada saiu dela, pela primeira vez. E provavelmente isso se deve ao fato de que eu sequer sabia que ela iria passar apenas dois meses em Portland. Claro, como vou saber isso? Ela não me conta nada! Se ela for uma psicopata louca, eu não vou saber, porque ela não deixa escapar nada de sua vida.

Dois meses. Eu passei um mês inteirinho apenas a odiando, quando por obra do destino, nos conhecemos, começamos nos aproximar aos poucos e faz apenas uma semana que estamos “juntos”. E ela tem apenas, mais uma semana e meia pra continuar estagiando no hospital e então... Voltará para Forks.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? As coisas estão começando a esquentar, pelo que podem ver, porém, infelizmente, já estamos chegando na reta final. Apenas mais dois capítulos + epílogo para finalizar a fanfic. Mas espero sinceramente que vocês tenham gostado. Beijos e até o próximo capítulo!!



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