In Silence It's Where I Can Hear You escrita por lovemyway


Capítulo 1
(In silence) It's where I can hear you


Notas iniciais do capítulo

Apenas um devaneio da madrugada. Deve tá bem louco, porque o nyah não tá me querendo deixar postar direito aspodksapodkosap. Enfim, espero que gostem! :D



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/410181/chapter/1


Ela sentava ali todos os dias, no mesmo horário, sem nunca se atrasar um segundo sequer. Estava sempre sozinha, embora trouxesse consigo, por vezes, um livro, o qual ela leria pelas próximas horas; ou, então, limitava-se a fitar as nuvens se movendo no céu, rezando silenciosamente, à espera do dia em que algo extraordinário aconteceria, e sua vida mudaria por completo.




Esperou por dias, sem nunca perder a fé, levantando a cabeça a qualquer barulho, acreditando se tratar do momento em que aconteceria; seria algo tão grande, tão belo e tão especial que, ao invés de ler livros, ela os escreveria um dia, tornando-se a personagem principal e narrando sobre sua própria história. As pessoas suspirariam ao lê-la e sorririam, para então sentarem-se em um banco qualquer de uma praça qualquer, esperando, também, que o mesmo momento extraordinário deles chegasse. Mas, com o passar do tempo, sua certeza começou a vacilar, e suas preces se tornaram mais fracas. Já não tinha tanta certeza que o seu momento chegaria. Já estava se sentindo exausta da expectativa ao começo de todas as tardes, e da frustração ao final de cada uma delas.





Certa vez, ela pensou "É isso, amanhã não volto, hoje é o último dia", e caminhou a passos lentos, aproveitando o passeio, permitindo-se apreciar pela última vez o caminho de sua casa até o pequeno parque, onde as crianças brincavam nos balanços ou corriam uma atrás das outras, gritando, felizes. Sentou-se no banco de costume, o que ficava debaixo de uma árvore, e passou a ler, por um tempo, até se cansar, guardar o livro na bolsa, e contemplar o céu.





Após vinte minutos, uma garota se sentou ao seu lado. Não disse uma palavra. Ela era linda –– alta, loira, olhos verdes avelã. Usava um vestidinho amarelo florido, e cruzou as mãos sobre o colo assim que se sentou. Olhou para o céu, também, observando as nuvens se moverem, um pequeno sorriso em seu rosto.





Por alguns instantes delirantes, quando a garota veio até ela, uma parte de sua mente imaginou que finalmente aconteceria, que aquele era o momento, mas se convenceu que estava errada. Desviou os olhos da garota. Sentiu-se desapontada, mais uma vez –– e pela última, lembrou a si mesma ––, e passou a olhar as crianças que brincavam. Lembrava-se da época de que era uma delas. Feliz. Livre. Jovial. Ainda era nova; mas, por algum motivo, não se sentia assim. O colegial era cansativo. Os dias eram sempre uns piores que os outros, não tinha amigos, era solitária, e seus tempos livres eram passados na biblioteca, procurando sempre por novas aventuras, sonhando com o dia em que poderia viver uma.





Ela sonhava bastante, é verdade. Sonhava alto; sonhava com o dia em que deixaria a cidade pequena onde nasceu, e poderia ir a qualquer lugar que sentisse vontade. Começaria por Nova York, onde sempre quis conhecer, e daí, quem sabe? Poderia ganhar o mundo. Poderia ser o mundo, viajando de um lugar para o outro, vendo todas as belezas que ele tinha a oferecer, sentindo-as, tornando-se uma delas. Trilhando caminhos que levariam a todos os lugares, e a lugar algum. Onde ela poderia ser ela mesma, sem barreiras, sem medo, sem o olhar julgador das pessoas ao seu redor. Ansiava por esse dia. Pelo dia em que poderia sorrir e gritar, ao topo do mundo, que era feliz. O dia em que poderia desafiar Deus para enviar-lhe os dias mais sombrios, porque ela os enfrentaria, e o faria com um sorriso no rosto. Porque ela estaria completa. Porque ela teria alguém que a completaria.





Mas eram apenas sonhos. Sonhos que, talvez, nunca se tornassem realidade. A realidade era o seu vazio. E aquele vazio em seu peito era tão grande que mal conseguia suportá-lo. Às vezes, encontrava-se chorando por qualquer motivo, ou até mesmo por nenhum, apenas para aliviar um pouco da dor que ela sentia. Não uma dor física. Algo em sua alma, ela pensava. Como se ela não estivesse inteira; como se estivesse de luto pela parte que lhe faltava. A parte que poderia nunca encontrar.





"A última vez", ela repetiu a si mesma, quando as primeiras estrelas começaram a surgir, e as luzes dos postes eram as únicas que a afastavam da total escuridão. Quis se levantar. Ir embora. Nunca olhar para trás. Quis deixar de bobagem. Viver sua vida. Aceitar o que tinha; parar de querer coisas improváveis, provavelmente impossíveis, e colocar os pés no chão.





A garota ainda estava sentada ao seu lado quando ela abaixou a cabeça e soltou um longo suspiro. Não dissera uma palavra sequer durante todo aquele tempo. As mãos sobre o colo. O sorriso que não deixara seu rosto. Ela franziu o cenho, tentando lembrar se a vira antes, porque a garota parecia familiar. Havia algo sobre ela. O modo que ela olhava para o céu. O jeito que seus olhos brilhavam. A sua postura, meio rígida, como se ela também esperasse por alguém, ou alguma coisa, e já estivesse cansada.





Então, ela se sentiu curiosa. Sempre foi, na verdade, desde criança, e foi algo que só pareceu ter aumentado durante os anos. Resolveu ficar mais um pouco. Sabia que não encontraria mais o que procurava –– mas talvez a outra garota encontrasse. Talvez ela pudesse ver um final feliz acontecendo ao seu lado. Isso a deixaria feliz. Traria suas esperanças de volta. Quando se levantou, prometeu a si mesma que voltaria no dia seguinte, não mais por ela, mas pela desconhecida.





E assim ela fez. Voltou no dia seguinte, no horário de sempre, mas desta vez, não caminhou durante o percurso até o parque; ao invés, andou rápido, apressada, excitada com a perspectiva de ver alguém encontrando o que procurava. Ao chegar, ficou levemente surpreendida ao encontrar a outra já sentada no mesmo lugar do dia anterior, e ocupou o espaço vazio ao seu lado, sem dizer nada, pegando o livro que trouxera na bolsa e começando a ler na página em que parou no dia anterior.





Assim, elas permaneceram por minutos, que se transformaram em horas; estas se transformaram em dias, e dias viraram semanas, que se tornaram meses. Elas estavam sempre ali, uma ao lado da outra, no absoluto silêncio. Às vezes, as duas liam; ou, então, observavam juntas o céu, ou as crianças brincando, ou as babás correndo desesperadas com medo que os danadinhos se machucassem, ou os cachorros indo buscar gravetos, ou as estrelas, quando escurecia.





No terceiro mês, ela descobriu o nome da desconhecida. Estavam as duas sentadas, como sempre faziam, quando uma loira alta veio correndo em sua direção, trazendo consigo uma latina com cara de poucos amigos. Foi a primeira vez que ela viu a garota esboçar alguma reação, senão o sorriso que sempre trazia ao rosto. Foi um arquear de sobrancelha –– e era tão perfeito, que ela se pegou encarando, feito uma boba, perguntando-se como a garota poderia realizá-lo assim, com tanta simplicidade. Ela já tentara antes, e nunca deu certo. Conformara-se em saber que nunca seria capaz de arquear uma sobrancelha corretamente.





–– Quinn! –– a loira gritou, sorrindo e acenando com a mão livre, entusiasmada. –– Não disse que ela estaria aqui, San?





San, a latina, revirou os olhos, e abriu um sorrisinho malicioso ao encarar Quinn, a desconhecida. Então, seu olhar se voltou para ela, e o sorriso se tornou ainda maior.





–– Ora, o que temos aqui. Um hobbit em seu hábitat natural.





–– Meu nome é Rachel –– ela disse, na defensiva, sem ao menos saber porque se importava com o que a latina dizia. San riu, dando de ombros como não ligasse a mínima, e voltou sua atenção para Quinn.





–– Você quer ir ao cinema com a gente?





–– Não –– disse Quinn.





E foi isso. San, a latina, disse algo como "Vamos, Britt, deixa essa maluca aí", e fazendo beicinho, a loira seguiu a morena, e as duas foram embora juntas, de mãos dadas, sem se importar com os olhares atravessados que receberam ao longo do caminho.





Rachel sentiu sua boca cair um pouco em surpresa, e seus olhos se arregalarem ligeiramente. Ficou chocada com a demonstração de coragem das duas garotas; na pequena cidade de Lima, Ohio, todos que se mostravam diferentes eram excluídos. Rachel descobriu isso desde cedo –– tinha dois pais gays, dos quais ela se orgulhava muito, obrigada.





Voltou-se, então, para Quinn, a garota desconhecida que sentara ao seu lado há meses, e a observou. Não arqueava mais a sobrancelha –– mas também não sorria. Rachel lamentou. Em algum lugar nas últimas semanas, pegou-se gostando de ver aquele sorriso. Era calmo, seguro, e bonito. Só não tanto quanto sua dona. Deve ter passado algum tempo encarando, porque Quinn se virou para olhá-la, e seus olhos se encontraram, e ela não soube dizer por quanto tempo permaneceram assim, encarando-se, ainda sem dizer uma palavra. E até o momento em que as primeiras estrelas surgiram no céu, e Quinn se levantou para ir embora, elas não desviaram o olhar nem por um segundo.





No dia seguinte, Quinn a esperava com um sorriso no rosto e um arquear de sobrancelha. Pusera um livro no banco, no lado em que Rachel sempre sentava, e fez uma pequena indicação com a cabeça, dizendo-lhe para pegá-lo. Rachel assim o fez. Sorriu ao ver o título. "O pequeno príncipe". Virou-se para Quinn, pronta para agradecer, mas as palavras se perderam em sua garganta. Ela não sabia o porquê aquela garota a deixava sem fala. Para ser honesta, ela sequer lembrava o motivo de ir todos os dias àquele parque. Nos últimos tempos, chegou a pensar que não esperava mais ver o final feliz da desconhecida –– na verdade, chegou a pensar, delirante, que ela gostaria de ser seu final feliz...





A loira a observava com atenção. Rachel acenou com a cabeça, o único gesto que conseguiu fazer, e Quinn sorriu ainda mais. Começou, então, a ler o livro que a desconhecida lhe trouxera, e quando se levantou para ir embora aquela noite, estendeu-lhe a mão para devolvê-lo. Mas a garota negou com a cabeça, e indicou o livro novamente, tomando-o gentilmente das mãos de Rachel e abrindo na primeira página. Devolveu-lhe o livro e foi embora, deixando Rachel lendo o pequeno bilhete na contracapa:





Achei que poderia fazer bom uso dele.

É o meu favorito.

–– Quinn.


Rachel sorriu, e segurou o livro junto ao peito, sentindo uma sensação estranha de alegria. Voltou para casa, o sorriso ainda no rosto, e trancou-se no quarto, onde leu até o dia amanhecer. Amou o livro. Fez anotações em um pedaço de papel em branco, o qual ela entregaria a Quinn, dizendo-lhe o que achara da história.



Mas, quando voltou ao lugar de sempre, Quinn não estava lá. O que era estranho, porque a loira era a primeira a chegar. "Devo estar adiantada", Rachel pensou, e esperou. Esperou tempo demais, e ficou decepcionada ao perceber que Quinn não apareceria. Perguntou-se, com tristeza, se aquele era um presente de despedida. Será que Quinn encontrara seu final feliz em algum lugar? Será que sentar ao seu lado por todos aqueles meses tinha sido em vão? Será que ela nunca poderia ver algo bonito acontecer diante de seus olhos, ou viver algo bonito, para variar? Nem ao menos percebeu que as lágrimas lhe escapavam pelo rosto. Chorando por tudo de novo. E por nada. Nem mais sabia o verdadeiro motivo por trás de sua tristeza. Foi tudo o que ela sempre conheceu. "Até Quinn", disse uma voz em sua mente, o que era ridículo, porque ela sequer conhecia a garota, e porque nunca haviam trocado uma palavra sequer. Apenas se sentaram em silêncio, por meses, observando as mesmas coisas.




Foi então que a realização a atingiu. Talvez Quinn não estivesse ali pelo mesmo motivo que ela. Talvez estivesse enganada. Talvez Quinn fosse feliz –– tinha amigos, ao menos, coisa que Rachel não poderia dizer o mesmo ––, e, pensando bem, uma garota tão bonita não poderia ser infeliz, ou poderia?





Enxugou, então, as lágrimas, e foi embora. Àquela noite, pensou bastante se deveria ou não voltar. Talvez fosse hora de seguir em frente. Quinn foi a desculpa que ela achou para continuar visitando o parque, para continuar mantendo a esperança ardendo em seu peito, mesmo que ela fingisse o contrário, mesmo que dissesse a si mesma que não era por ela que ia... Mas, no fundo, ela sabia melhor. Nunca esteve lá por outra pessoa senão si mesma. Porque ela gostava de estar lá, sozinha, à princípio; e, então, porque ela gostava demais da companhia calada de Quinn. Resolveu, portanto, que era hora de seguir em frente. Voltaria algum dia para ver se a loira ainda estaria lá, esperando para receber o livro de volta (embora Rachel duvidasse), mas decidiu que aguardaria pela hora certa. A hora em que se sentisse  realmente pronta.





No dia seguinte, ela não voltou.




Quinn, por sua vez, estava lá. Mas não sozinha. A loira e a latina a acompanhavam, e no lugar de se sentar no banco de sempre, estava num canto mais distante, de onde poderia observá-lo. Seu peito doeu ao não ver Rachel. San, a latina, soltou um suspiro.



–– Você observa essa garota há meses, Quinn –– disse ela. –– Você a observava todos os dias, mesmo quando ela não sabia que você estava aqui. E, então, você passou semanas sentada ao lado dela, em silêncio, sem dizer uma palavra. Não te entendo... Por que não falar com ela? Por que não se apresentar? Convidá-la para sair, como uma pessoa normal?




A loira deu de ombros, abrindo um pequeno sorriso.





–– Eu a chamei para sair, San. Acho que a resposta foi não. E nós conversamos. Só nunca dissemos nada em voz alta, mas conversamos. E pode até ter sido um desperdício de tempo. Talvez eu nem a encontre novamente. Mas não me arrependo. Valeu a pena.





–– Como você a chamou para sair se nunca disseram nada uma a outra? –– perguntou Britt, encarando a amiga confusa.





Quinn não respondeu; apenas sorriu.





Rachel correu. Correu o mais rápido que podia. Correu contra o tempo, contra o Sol, que ameaçava desaparecer no horizonte, e contra seu próprio corpo, que tentava forçá-la a parar, a desistir –– mas Rachel nunca desistia. Ela só não se lembrara disso até então. Segurava o exemplar de "O Pequeno Príncipe" em mãos, e quando chegou ao parque, ofegava. Forçou-se a caminhar até o banco de sempre, e a decepção a atingiu profundamente quando percebeu que Quinn não estava lá. Sentou-se, procurando recuperar o fôlego, e respirou fundo algumas vezes. "Cheguei tarde demais", ela pensou, triste.





Ela abriu o livro no verso da última página, que outrora estivera em branco, e a observou por alguns instantes. Sequer percebeu que alguém havia parado a sua frente. Ergueu a cabeça, embora, quando sentiu que a luz do Sol não batia mais em seu rosto, momentaneamente confusa, perguntando-se se já era noite –– mas seu coração pulou no peito ao vê-la ali, o sorriso no rosto, a mão estendida.





–– Você demorou –– disse Quinn. –– Pensei que você não viria.





–– Não ia vir, mesmo –– disse Rachel, aceitando a mão e levantando-se. –– Não até ler o que foi escrito na última página.





–– Gostou do livro? –– perguntou Quinn.





–– Adorei –– respondeu Rachel, com simplicidade. –– Você o quer de volta?





–– É seu –– negou a loira. –– Um presente. O primeiro de muitos, espero.





Rachel riu. Virou-se, então, para o banco, onde a última página ainda estava aberta, e a caligrafia de Quinn se destacava aos seus olhos, bonita; talvez a mais linda que tinha visto. E ali estava escrito, com uma caneta de tinta azul, o seu momento extraordinário. Ele dizia:





Bela Rachel, você aceita sair comigo?

Se a resposta for sim, encontre-me daqui a dois dias no mesmo lugar de sempre, na mesma hora. Se for não, então respeitarei sua decisão e não a incomodarei.

Até logo, ou assim espero.

–– Quinn.


E, em silêncio, Rachel disse sim.



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então, louco demais, ou ficou legalzinho? Podem dizer, não mordo, sério :p



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "In Silence It's Where I Can Hear You" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.