Mantendo O Equilíbrio - Terceira Temporada escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 34
Capítulo 33


Notas iniciais do capítulo

Quase vinha antes do show do Nickelback no Rock in Rio, mas a ansiedade foi tanta que só cheguei agora pro combo :DD Murilo não exatamente cita a banda na história, mas sei que é uma de suas preferidas. Quem sabe não venha a mencionar? *Alexis tendo previsões?*

Bom, pra esse capítulo não tem nada metal alternativo/hard rock/pós-grunge como Nickelback *ainda estou sobre os feels do show*. Vamo dar vez aí pro Lucas que deu uma romantizada na pista, a versão de So Small - ItaloBrothers que dispõe no cap. é uma das mais lindas.
Enjoy.



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Preciso urgentemente arranjar um novo toque de celular a minha cara.

Não aguento mais alguém me ligar, aquele somzinho padrão tocar e eu demorar uns tempinhos para sacar que é meu celular que está chamando. Tenho que pensar numa que, assim como o ano que logo entrará, signifique uma renovação de mim também, que seja minha marca, minha cantoria, meu sorriso espontâneo. Sou exigente até para isso!

Quando entendi que era meu celular perdido em algum canto do meu quarto, pensei em não levantar e esperar que quem fosse do outro lado da linha desistisse de mim por uns minutinhos, horas, dias. Mas não parava de tocar, quando dava aquela pausa e eu suspirava me aconchegando ao travesseiro, o troço começava tudo de novo e de novo até que me fez levantar.

– Poxa, Flávia, isso são horas? Eu tô dormindo.

– Ainda? Já viu que horas são, mocinha?

– Não. Pra mim tá cedo, tu tá interrompendo meu sono de beleza.

– Nem Bela Adormecida queria dormir tanto... mas, bem, parece-me que a noite foi ótima, né? Pra ficar mal-humorada assim, é porque aí tem coisa e eu ORDENO que acorde e me conte tudo! Ai de ti se desligar esse celular, Milena Lins, ai de ti!

– Eu devia, Flá, eu devia desligar na tua cara... mas só digo se me contar primeiro o que rolou dentro daquele ônibus. Tem que ser por ordem cronológica, oras.

Ficar discutindo com ela quem contava o quê e por que acabou por me acordar de vez, ninguém contou nada, porque já era 11h45 da manhã e eu devia tá na rua voltando pra casa, não levantando de uma cama. Bem acanhada me apresentei para o café-da-manhã, sob o olhar de quase todos, que já tinham até voltado da loja.

Encaro isso como bom sinal. Digo, significa que eu dormi muito bem e em tempos eu não tinha um sono tão agradável assim, desses que a gente mal sente e acorda tarde. Dias melhores estão chegando, dias ruins estão se afastando... É meu pedido para o ano novo.

~;~

O tour continuou. Apesar de ser sábado, meus familiares estavam cuidando dos últimos retoques de seus trabalhos para enfim terem um descanso melhor no dia que chegaria trazendo o novo ano, pra começar logo com pé direito. Por isso o almoço foi meio corrido, e mamãe, que se oferecera para ajudar a mãe de Lucas no jantar especial de despedida do “ano velho”, carregou dona Tili para lá. Já eu não estava bem interessada nessa coisa de corre pra cá, corre pra lá, por mim eu sentava no sofá com umas besteiras e ficava mornando como no dia anterior quando assisti 11 Homens e um Segredo. Mas tratei de deixar a preguiça e levei Vini para outros pontos da cidade. Dessa vez, no entanto, quem estava no comando da chave do carro era o próprio dono dele, meu irmão.

Véspera de ano novo, poxa! Eu tinha que dar algum crédito pra ele.

Murilo tem se mostrado hesitante bem antes do jantar de apresentação de Vinícius, e cada vez mais isso tem se evidenciado. Mais que uma relação de “tapas e abraços”, ultimamente eu tinha dado umas boas patadas nele que qualquer aproximação minha, ainda que ele mesmo busque por isso, ele fica nessa todo incerto. Como nós três fomos os “reizinhos” que levantaram tarde demais, almoçamos todos juntos lá pelas 15h – porque foi essa hora que a fome mesmo foi nos pegar. Ainda na mesa, falei por alto se “alguém” não queria pegar o carro e dar umas voltas por aí. Murilo deu de ombros e disse um fraco “tá”.

Fora aquele nosso momentinho depois do pedido oficial de Vinícius aos meus pais para um namoro sério – que ainda morro só de pensar nessa audácia dele – não houve outro para que conversássemos civilizadamente. Até porque quando fomos pra Satellite, boate onde Luke trabalha de dj, não era bem o ambiente para isso. Mas nem no carro ele falou muito.

Quando chegamos na boate, bem apinhada de gente que foi difícil de entrar, minha atenção só se centrou em uma pessoa. Queria apagar de vez aquela confusão que tive com Vini no outro dia, por isso acabei o levando para a cabine do dj, sabendo que lá Lucas estaria trabalhando. Vini já havia entendido que nunca rolou algo entre nós dois e tinha pedido desculpas pelo seu comportamento tanto para mim quanto ao nosso amigo dj. O que eu disse que seria só um alô, era na realidade minha chance de apresentar oficialmente Vinícius como meu namorado para esse meu amigo que me ajudou na empreitada que me meti nos últimos dias.

– Opa, finalmente, hein, casal. Tenho uma especial para vocês aqui, vão pra pista, vão!

E fomos. Descemos até lá, acompanhando ainda o house music que tocava e badalava todo mundo. Do alto ao meio da música, o dj Luke – sério, eu ainda não me acostumei a chamá-lo assim, mesmo depois de muitas tentativas – disse umas palavras e logo os casais da festa foram restringindo seus espaços, suas bolhas. A minha em especial estava firme, eu por ter enlaçado Vini pelo pescoço, ele, por me manter presa com seus braços na minha cintura.

– Casais, essa aqui é pra vocês. Vamos romantizar um pouco essa pista!

Trilha citada/indicada: ItaloBrothers – So Small

http://www.youtube.com/watch?v=HFValbgNZR0

Um instrumental leve surgiu, para a surpresa de todos que olharam para o alto da cabine juntos, porque era um ritmo um tanto diferente do costume, apesar de que ter presenciado uns trance music relativamente calmos naquele ambiente. Logo a voz do artista tomou o espaço e eu de imediato reconheci a música – a mesma que ele tinha escrito na minha mão no dia da confusão, rindo lindamente sentindo todo aquele clima perfeito. Era uma versão bem diferente daquela que Lucas havia me mostrado, e amei mais ainda ela como estava tocando.

Havia batida forte, claro. Porém, mesclava-se com um lado leve que embalava a todos os casais e nos fazia vibrar ao mesmo tempo. Eu só sabia um trecho da letra e foi esse mesmo que eu cantei para Vini em seu ouvido, que o deixou todo arrepiado para meu contento pessoal. It sure makes everything else... seem so small.

Trilha citada/indicada: ItaloBrothers – Love Is On Fire (The Beatcaster Bootlge Mix)

http://www.youtube.com/watch?v=i1FUIkCxLs0

Dali logo veio outra do que acredito ter sido do mesmo artista, por causa da voz e do pouco que reconheci da batida, mas quem disse que eu estava prestando muita atenção mesmo? Eu sentia toda a movimentação do meu lado, óbvio, contudo minha única concentração estava no beijo que tinha incitado. Estar perdida no meio daquela multidão o tornara mais... meu.

Sem muita sede ao pote, eu me alertei. Não quis me exceder – apesar de hora e outra ser Vinícius que me trazia de volta a realidade. Aparentemente, tinha gente olhando. Muita gente, na verdade. E eu não quis saber, era minha noite, oras. Que assistem à minha felicidade, eu não estava escondendo de ninguém.

Trilha indicada: Rihanna – Where Have You Been (Hardwell Radio Edit)

http://www.youtube.com/watch?v=_dgGSHKnUa0

Dado um tempo, bebemos um pouco. Nada, era só pra hidratar mesmo. Pelo menos pra mim, que fiquei no coquetel de frutas pra adocicar a língua e Vini que optou por umas Ice’s. Ele não iria dirigir mesmo. Quando uma em especial tocou, ah, eu ri. Essa eu tive que puxar Vini de volta à pista. Sabia que não era pra mim, mas fiz dela um ponto alto daquela reconciliação. Da outra vez também tinha participado entre aspas da confusão daquele dia que estava sendo esquecido, então que a “Rihanna” – que não era Rihanna – presenciasse um lado nosso mais apaixonado que briguento. Eu já estava beeeeem mais solta... sem precisar de algo adicional na bebida. A vibração da galera que nos rodeava era parte de toda a animação, mas a principal era a companhia mesmo.

Não sei que horas fomos embora. Nem sei como achamos Murilo, no final das contas. Menos ainda como tive forças para trocar de roupa, tirar a maquiagem e tomar banho antes de dormir, só sei que fiz e isso explica bem a hora que acordei. Uma verdade apenas eu posso afirmar: como era bom dormir com os lábios vermelhos e acordar com um sorriso com os mesmos. Mesmo que tenha sido Flávia a empata do meu sono, logo estava lá meu músculo facial distendendo no rosto um traço adorável e bobo em reflexo do dia anterior.

Acabamos por parar no shopping, vagando os três sem muita vontade. E quem encontramos por lá?

– Hey, casal, pelas caras a festa foi boa, hein? De nada.

– Eita presunçoso, nem agradeci ainda.

Debochei com graça.

Vini e Murilo apertaram a mão de Lucas num ligeiro cumprimento.

– Eu sei que sou o cara, tá? Domino aquele lugar.

Cutuquei:

– É por essas e por outras que você perde no Uno.

– Isso é uma crítica às minhas estratégias? Da próxima eu te derrubo, garota.

– Não se eu tiver por perto.

Vini me abraça de lado e garante minha proteção contra Lucas. Não que eu precisasse... mas também não estava negando.

– Nem que seja a mesa toda contra mim, bora ver.

– Isso é um desafio, Lucas?

– Acho que sim. E vocês, vadiando porque dona Helena se enfiou na minha cozinha?

Murilo dessa vez falou, parecia mais relaxado. Talvez por não segurar mais vela.

– Por aí. Tua mãe te expulsou de casa que nem mamãe fez no Natal com a gente?

– Também. Vim passar numa loja pra pegar uma camisa... Ontem a Megan deu uma super trombada em mim que as bebidas que ela tinha em mãos – três – foram todas pra minha camisa. Como ela trabalha numa loja de roupas, disse para que passasse aqui, mesmo eu dizendo que não era necessário. Se ela insistiu, por que não, né? É aquela loja bem ali, se vocês quiserem me acompanhar...

– Tá. Tamo fazendo nada mesmo.

Ok, não era pra eu ter aceitado... afinal, devia ser um momento só de Lucas e Megan e eu torcia para que dali saísse algo, mesmo não sabendo qual era seu histórico. Se ele assistiu a quase todos os ensaios dela, era porque devia ser importante para ele. Mas eu aceitei por dois motivos. Um, porque queria ser uma mosquinha para ver os dois juntos e, dois, porque queria mostrar aos dois que me acompanhavam que Lucas tinha uma orientação diferente da que eles apontaram. Deixei que ele fosse na frente e, antes de entrar na loja, falei os dois que entrariam também:

– Te disse que ele não era gay.

Murilo nessa hora fechou o cenho por não ter entendido minha abordagem. Como Vini lhe deu um toque no ombro e disse o mesmo, a ficha deve ter caído.

– Isso não prova nada. E eu te disse para não contar pra ela!

– Errr... deixa pra lá.

Vini respondeu sem-graça. E entramos na loja.

Como da vez que acompanhei um palestrante num evento que teve na faculdade numa ida ao shopping, ajudei Lucas a escolher uma camisa. Dessa vez foi bem mais interessante. Não que o convidado do evento acadêmico era chato, mas no dia eu estava bem cansada e o Bruno, meu amigo, que também estava responsável por cuidar do palestrante, estava meio zangado. Não foi um dia bom para aquele shampoo ou sei lá que produto ter aberto dentro da mala do sujeito e ter-nos feito ir ao shopping prestar auxílio ao homem.

Contei isso enquanto esperava pelas trocas de roupas e logo Murilo estava me pedindo opinião também. Eu lá tinha cara de perita em camisa de homem? Bom, se meu Vini também tivesse resolvido tirar a sua, eu não estaria me opondo contanto que eu tivesse acesso a sua cabine, pensei sem dizer isso alto, apenas sorrindo matreiramente.

Para o último dia do ano, até que a loja estava meio cheia, só não tanto na ala masculina. Uns clientes iam e vinham, mas funcionário mesmo aparecia só do outro lado, na ala dos provadores das mulheres. Sempre tem umas desesperadas que esperam pra comprar tudo no último dia... E com os precinhos ótimos, então, aí que avançam mesmo. Eu tinha preparado tudo desde antes a viagem pra não ficar nesse estresse todo. Dá até pena desses atendentes indo de um lado para o outro... só que eles ganham comissão e eu não. Não que eu estava pedindo, não não, só considerando mesmo...

Quando Lucas saiu da cabine, deixei que ele fosse tratar a sós com Megan no caixa, fiquei de butuca só de longe. Murilo trocava de roupa e eu esperava. Ainda estávamos naquele estágio de poucas palavras, sendo as monossilábicas as que faziam “sucesso” porque eram as mais usadas. Sentada num banquinho de espera eu tinha um lugar com bom acesso visual... bom até demais quando vi Vinícius voltando com o shake que tinha ido buscar. Uma das atendentes lhe abordou fazendo tudo, menos propaganda de roupa masculina. Eu não gostei nadinha.

Ah, ela não está com a mão no ombro dele. Ah, ela não o tocou no braço. Nem o sorriso é afetado. Só que era. Ela estava sendo descarada, dando em cima dele. E eu conseguia ver tudo!

Viro a cara. Ele sabe bem o que faz.

Por que tô pilhada com isso mesmo? Eu confio nele.

Roo a unha batendo o calcanhar no chão, olhava para qualquer lado pra não dizer que eu estava espiando. Tento cantarolar a música pop que tocava naquela seção dos trocadores sem nem mesmo saber o que estava cantando, era só pra dissipar esse feeling que me acometeu de surpresa. Confio nele, confio nele, eu passei a repetir dentro da cabeça. Respira, Milena, não é nada... Aí que espio novamente.

Ah, que merda, eu não confiava na descarada, pronto, falei. Ela está se oferecendo toda. Cadê o resto da saia dela? Era parte de seu uniforme de trabalho, dava para ver ao observar os outros atendentes, mas porque só a dela era curta daquele jeito? Cadê que ela costura o descaramento dela? Eu podia colocar isso na caixa de sugestões da loja se fosse o caso.

Viro-me novamente para a posição anterior. O banquinho onde estava sentada me apresentava um corredor cheio de portas das cabines de troca de roupa. Era até onde os funcionários me permitiram entrar para dar meus “palpites”. Murilo estava demorando... eu poderia ir até onde Vini e acabar com a pequena palhaçada que a descarada estava fazendo. Fácil.

Fácil nada! Aí Vinícius ia me ver me remoendo de ciúmes. Nunca!

Esse é um gostinho que não quero lhe dar... Mas me sinto tão tentada de ir lá e separá-los. Pelo menos o bastante para que ela entenda que ele já tem companhia. Esse tempo parece que num passa. Ele lá, ela lá... O que será que tanto conversam? Deve ser propaganda enganosa a que ela faz. Ok, eu vô lá. Agora.

Levanto.

– Er... com licença?

Tinha um cara no corredor das cabines, me chamava. Ao passo que andava ao longo do corredor para o ponto onde eu estava, ele ia ajeitando uma camisa ao corpo forte. O pano parecia meio paradoxo, pois ao mesmo tempo em que se mostrava de costura grossa para frio, aparentava fino pela forma que se colava ao corpo dele e apresentava toda uma musculatura desenvolvida. Mesmo nos braços cobertos pelas longas mangas que iam até o pulso. Já mencionei que ele era forte?

Era alto, talvez mais que Murilo, não sei dizer. Não pegava um solzinho faz um tempo, ficava bem na cara com a camisa escura que vestia. Tinha carisma ao rosto. Mas se ele me tirasse pra atendente, eu tiraria esse carisma da cara dele na mesma hora. Ainda tinha que tirar a descarada da saia pela metade de de cima do meu namorado.

– Sim?

– Desculpe incomodar, mas pode me dar sua opinião... como mulher?

Ele pediu desculpa, teve consideração. Posso abrir uma exceção pra ele. Quando assenti, ele explicou melhor:

– Vocês gostam mais quando concentramos a manga quase na altura dos ombros, do cotovelo ou só puxada aqui no antebraço?

Enquanto falava ele ia mostrando, tocava no pano apresentando cada opção... e eu ia olhando o “material” - desculpaí, mas tava checando, tá? Eu queria poder responder devidamente a pergunta dele, oras. Só isso.

– Acho que no antebraço. Mas não assim. Deixe-me mostrar.

Estava sendo prestativa. Só que Murilo resolveu sair essa hora da sua cabine com umas camisas e cabides em mãos e ficou daquele jeito que ele sempre fica quando estou perto demais de alguém que ele não confia. Reconheci seus olhos cerrados de longe andando até onde eu estava, quase na saída da ala dos trocadores. Engraçado que eu estava ali faz um bom tempo e nenhum funcionário passara para atender os clientes. Nem a vaca da descarada, porque ela estava secando meu namorado.

É, era só nisso que eu pensava enquanto ajudava o carinha com a manga da camisa, nem pra beleza dele eu tava olhando. Bonito ele era e não dava pra negar, mas se a mente é outra que fica dando trela para o coração, não adiantava ter um cara desses na minha frente se eu só pensava em outro. Que não se desfazia da descarada.

Ou se desfez – depois de muito tempo. Porque é Vini quem logo aparece quando termino de ajeitar a manga do cara. Ah, agora ele aparece, né? Muito bonito.

– Vocês se conhecem?

Antes de eu mesma responder, meu irmão sinaliza pra Vini que não e passa por nós. Reviro os olhos por isso antes de responder que não. Agora eles queriam cobrar, é?

– Ele só tinha uma dúvida.

– É. Valeu.

O cara voltou pra cabine indo pelo corredor e aqueles dois continuavam olhando a cena como se fosse uma pergunta silenciosa direcionada a mim sobre aquilo, sendo que eu já tinha respondido. Quem tinha que dar explicações era outro, não eu. Então, como quem não quer nada, joguei meu verde pra ver como ele reagiria. Na verdade, eu devia estar tan-tan da cabeça de achar que isso era verde. Era qualquer outra cor, menos verde.

– E aí, estava tirando o cartão da loja?

– Cartão da loja? Ah, não.

Vinícius era um cara esperto. Bem mais esperto que Murilo, devo dizer, porque ele entendeu o que eu quis dizer, mesmo eu não querendo ter dito, e meu irmão só passou por nós para ir ao caixa, nos deixando a sós. Vini tinha percebido que quem estava com ciúmes ali era eu. De primeira ele não sacou a minha pergunta, porém, tão logo senti o clic se fazer na cabeça dele quando vi um sorrisinho sacana habitar sua face e um brilho diferente me mostrar que estava derrotada no jogo de não mostrar-lhe uma ceninha de ciúme básico.

– É o que eu tô pensando?

– Não, não é o que você tá pensando.

– Tem certeza? Porque você tá mais linda com essa carinha emburrada.

– Eu num sei do que você tá falando, Vini.

Saio andando dali para o espaço das araras da loja. Ele no meu encalço, todo todo por ter me pego num momento desses, jogou o copo de shake numa lixeira próxima. Bufo enquanto ele não me alcança. Como deixei passar assim... tão fácil? Eu que sempre tento esconder ao máximo essas coisas.

– Ah, minha linda confirmação. Ciúmes.

Quer saber? Chutei o pau da barraca.

Me virei pra ele toda indignada. Ele RIA.

– Claro. Eu estava quase pra perguntar se ela conhecia a costureira da loja, porque olha, aquilo não é uma saia não. Caramba, ela trabalha numa loja de roupas, que exemplo ela está dando.

Ele se apoiou na arara que eu avaliava. Eu nem sabia o que tava olhando, só sei que tava. E fazia um esforço para parar de ficar na cara. Era só engolir e fingir que não era comigo, certo? Ficava difícil com o olhar de “te peguei” que me perscrutava.

– E que show você faria pra mim. Sempre quis te ver nesse outro lado da situação. Apesar de não ter que se preocupar desse jeito sobre mim, não posso negar sobre o quanto adorável é te ver nesse estado.

– Um pio mais...

Ele veio me abraçar, mas quem disse que eu estava querendo saber de abraços? Tudo bem, eu queria. Veio com calma, testando território... logo ele encobriu minhas costas. Eu? Tentava não me deixar levar pelo perfume que estava sendo respirado ou por toda a proximidade dele... Eu ainda observava o recinto pra ver onde a descarada andava. Que era pra ficar bem longe do MEU Vini. Por ora, nem sinal dela. Para essa ala não tinha muita gente mesmo... Ok, eu ria a essa altura. Porque ele tava engraçadinho. Seus lábios gelados do shake roçavam com delicadeza no meu ombro, arrepiando-me mais. É, ele sabia o que fazia. E fazia de propósito.

Eu devia dar uma colher de chá pra ele, pois essa vai ser a única vez que ele vai me pegar desse jeito. ÚNICA!

– Vini...

– Eu não disse nada.

Vinícius ainda ria. Quer dizer, segurava o riso apertando os lábios todo mal intencionado. Vejo quando me viro para ele. Não deu mais um pio, verdade, no entanto, aquela sua expressão dizia tudo. Como eu já tinha dado na cara mais do que devia, tive que enrolar, tentar o velho golpe da inversão pra tirar o meu da reta.

– Ah, tá, se diverte aí que eu vou atrás do carinha ali, acho que ele tá me solicitando uma ajudinha particular na cabine.

Já estava tirando suas mãos de mim devagar, e ele foi mais rápido, conseguiu me manter presa em seus braços, me trouxe para si de forma que ficamos frente a frente. Meus truques com ele não funcionavam bem como com Murilo, eu já devia saber.

– Opa, opa. Negativo. Nem tenta Lena, essa cena você é o foco principal, não adianta você querer despertar meu lado ciumento. Além do mais, controle, né? Nós falamos sobre isso.

Ai, não. Ele está presunçoso.

Deus, ele tá se achando porque dessa vez ele tem a razão consigo. Cadê a minha mesmo? Estava comigo até uns tempinhos atrás. Não acredito que ainda considerei fazer com que ele ficasse com ciúme, só pra tirar a atenção de mim – isso porque eu não gosto quando ele fica dando uma de ciumento. Mas gostava menos ainda quando era comigo.

Fico desconcertada. Fico mais ainda quando Lucas cutuca nossa bolha:

– Ô casal, num é por nada não, mas vocês estão chamando atenção...

Só não foi um facepalm genuíno porque não levei a mão ao rosto, mas sim o rosto ao peito de Vinícius pra me esconder com um gemido.

– Ainda tem gente olhando?

– Tem.

Era mentira.

E Vini me deixou acreditar só pra me provocar mais. Deixar-me mais sem-graça.

Devia saber ele que tudo que vai... volta.


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Notas finais do capítulo

Mais que safados!
Se bem que... Vinícius tava doido pra ver essa cena ^^
Não ia tirar essa alegria dele, né? :)



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