Mantendo O Equilíbrio - Terceira Temporada escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 13
Capítulo 12


Notas iniciais do capítulo

Um pouco de... sondagem? É isso, produção?



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Incrível que eu tinha falado sobre batidas de automóveis com Iara não fazia umas horas. Mais uma dessas nós encontramos no caminho de volta. Acabo com um pacote de biscoito que Vinícius me deu. Ele tinha esquecido – ainda bem, porque estávamos indo buscar nosso jantar e o engarrafamento, que completava seus 60 minutos pela minha contagem, estava me dando fome – um pacote de biscoito no dia anterior. Ele nem quis, tinha tomado uma vitamina antes de sair da casa do avô, eu que não estava muito a fim. Devia ter tomado naquela hora...

– Lembra que eu falei do Anderson uma vez? Foi naquele dia da “reuniãozinha” da minha casa, te disse que eu não tinha muito amigos. Anderson era o que eu ainda tinha mais ou menos uma relação na faculdade. Perdemos contato. Mas o reencontrei essa semana quando estava comprando teu presente. Falando em presente, cadê minha pulseira que não está no seu braço? Eu estou com minha correntinha.

O biscoito que estava me descendo enganava direitinho minha barriga. E esse de morango nunca foi tão gostoso como agora, na fome. Murilo ficou de deixar Djane e Iara em suas respectivas casas. Mandei-lhe uma mensagem avisando para evitar a avenida principal que leva para nossa casa, evitar que também pegue esse trânsito parado. O combinado era que ele as deixasse em casa enquanto eu e Vini íamos comprar o jantar, mas do jeito que está, meu irmão acabou se encarregando do nosso compromisso também. Já tínhamos feito o pedido da pizza por telefone antes de sair da casa de seu Júlio. Era pra ser rápido... era. Capaz de Murilo chegar em casa primeiro que nós, só por pegar os atalhos.

Penso eu no lado bom de ficar num engarrafamento com alguém, que é quando se pode conversar de boa. No carro então, pode aproveitar o banco macio, se remexer a vontade, sentir o ar-condicionado dando um toque no ambiente, ouvir uma música e até namorar. Por mais atento que Vini se mostra ao que estava na sua frente no trânsito, ele vira bastante para mim. Vez e outra até me rouba um beijo. Por uma dessas, ele já levou umas buzinadas do carro de trás por não andar com o seu quando a fila começava a se mexer.

– Culpa sua que me distraiu. Naquela hora que você chegou para me buscar e fui abrir a porta, eu ia no quarto pegar a pulseira. Aí já viu.

– Sei. Vou deixar essa passar. Já seu irmão estranhou bastante quando viu minha correntinha de pingente de menina. Perguntei se ele esperaria que eu usasse uma de menininho... então disse que era você comigo. E sim, ele me zoou, apesar de saber a história do vestido... Minha enfermeira.

– Eu devia processar vocês a cada vez que insistissem nessa de enfermeira. Isso porque faço Administração.

O descarado graceja, movendo o carro para frente. Só soubemos que era batida porque, sabe como é acidente e a população curiosa se aproxima. Um cara na bicicleta que nos informou, porque a coisa estava tão feia na fila de carros que nem dava para enxergar ainda o acidente.

– Mas é minha enfermeira. Só minha.

Presunçoso nada ele. Possessivo? Nadinha, né? Jogo-lhe um olhar meio desviado, que sabia que ele poderia bem ver, pois paramos perto do poste que ilumina bem a avenida. Começava a escurecer, é começo de noite.

– E ainda disse para as outras enfermeiras do hospital que eu era uma.

Resmungo, como quem não quer nada, só fazer um draminha básico.

– Eu?

– Sim. Djane quando foi me chamar para ir te ver no hospital depois daquele nosso primeiro “encontro”, disse-me que você chamava pela “enfermeira Milena”. Parece que vocês querem que eu largue a faculdade e me meta na área de saúde, porque olha, vocês têm uma determinação incrível. Daqui a pouco eu tenho uma crise profissional.

– Opa, opa. Eu não chamei “enfermeira Milena”, eu disse àquelas que iam trocar meu soro que chamassem pela garota chamada Milena, que no dia tinha um vestido parecido com um de enfermeira. O estranho é que o seu era branco e a farda delas era rosa. Mas se elas não passaram a informação direito, já não é culpa minha. Como aquela velha história do telefone sem fio.

– Foi o que eu disse ao Jimmy.

Pensamento alto geralmente não é para sair alto, mas eles têm esse mal de deslizar fácil de nossas bocas, hein. Da minha então, acontece muito. E estando num carro fechado, impossível que ele não tenha ouvido. Até olho para a calçada ao meu lado da avenida, porque sabia que ele ia falar e eu tinha que pensar em algo rápido para dar de desculpa. No mesmo segundo que penso isso, penso que não, não precisava mentir.

– Quem é Jimmy?

Passivo. Sei.

– O policial Ramos, da delegacia. Ele parece com um paramédico chamado Jimmy, de uma série de Tv que eu assistia.

– E o que você falou pra ele?

– Murilo tinha dito à polícia que Filipe tinha invadido a casa e que estava me mantendo presa. Eu disse que não, eu que tinha arrastado ele para dentro e te deixado do lado de fora. Aí quando eu fui falar que ficar ouvindo de um e de outro, a história se compromete e devia ser difícil de a polícia ter que lidar, se são eles que fazem a investigação. O Jimmy, quer dizer, o policial Ramos, me cortou para que eu falasse sobre o que tinha acontecido naquele dia.

– Não acredito que você disse isso a ele.

Nega com a cabeça puxando a marcha. Não sabia dizer se ele estava com graça ou não, seu perfil e o escuro da avenida não me permitiam ver. Devagar a fileira começava a andar, a se arrastar como lesmas. Melhor do que ficar parados na avenida.

– Eu estava falando a verdade, oras. Mas aí o delegado...

– O que? Que tem ele?

– Deixa pra lá. Segredo de Estado. Mas me diz, restabeleceu contato com esse Anderson?

– Aham. Ele ficou fora também esse semestre, vai voltar em janeiro. As aulas começam na véspera do meu aniversário. Meu avô mal planejou o Natal e já está pensando nessa data...

Aleluia, passamos pelo acidente. Isso quer dizer pista liberada pela frente. Vini acelera para o contento da minha fome, que logo, logo daria alerta de novo.

– Claro, ele quer que seja perfeito. Agora sim vai ser uma “reuniãozinha” com as pessoas que se importam com você.

– Ah, não precisa. Por mim pode ser um encontro como aquele que fizemos na praia. Ou deixar que o destino nos dê um caminho.

– Acho que seu avô não ia curtir muito... ele parece meio metódico. Quem sabe o faria por você... Então quer dizer que você gostou mesmo daquela despedida? E do presente?

– Claro. Considero todos meus amigos já. Por isso realmente espero que eles aprendam mais sobre os ciúmes. Ou pelo menos a disfarçar.

Isso é ironia? Porque ele não a devia usar, se ele mesmo é outro ciumento. O sujo falando do mal lavado! Homens...

– Fala o sábio... Até daqueles dois você já sentiu ciúmes. Mas acho que o Bruno tá começando a cair na real. Bom seria se a Dani também percebesse.

– Antes fosse só esses dois. Daria menos trabalho...

Procuro minha chave de casa na bolsa e viro no mesmo instante que ele comenta, confusa. O que ele quer dizer com isso?

– Como assim, menos trabalho? São só esses dois.

– Negativo. Talvez você não tenha visto, mas era mais de dois ali.

Mais de dois? Dani flertava com Gui, provocando Bruno. Será que é ao Gui que ele se refere? Porque a Flávia não é. Minha amiga tá a fim de um cara, e não é ninguém daquela mesa, tenho certeza. Só sobra o Gui.

Ainda assim não faz sentido.

Queria perguntar mais, só que então chegamos em casa e logo que entro na sala, cheiro de pizza me domina e eu esqueço do que estava falando. Essa é a fome, sempre bloqueando nossos pensamentos.


~;~


– Seu irmão não está demorando um pouco?

– Não sabia que você estava tão ligado assim a ele. Aproveitemos um pouco dessa privacidade... Ele não está aqui para nos lembrar das regras, está?

Mordo o lábio ansiando por mais dele.

Ou Vinícius respeita muito os Lins Albuquerque – meu sobrenome – ou ele teme perder uns créditos com meu irmão se este nos pegar numa situação bem constrangedora no sofá. No final das contas, esse sofá não capturou apenas dramas e conflitos, estava sendo palco para uns minutos de romance. Bom, eu estava tentando, ele, hesitando.

– Não é melhor ir ver lá fora? Ele pode aparecer a qualquer minuto por aquela porta e eu posso não me segurar bem...

– Quem disse que quero se segure? Se quisesse, não estaria te puxando.

Puxo mesmo, e pela camisa. Depois que Murilo disse que ia na vizinha deixar umas correspondências que o carteiro tinha trocado de novo – quando ele não deixa coisas nossas lá, as delas caem aqui – e ele tinha esquecido de devolver, eu e Vini aproveitamos para ficar no sofá, vendo qualquer coisa na Tv. Ok, sendo programação de domingo à noite terrível, Murilo disse que ia colocar Piratas do Caribe 1 e rodou no dvd player.

Eu já tinha assistido a esse filme tantas vezes que nem saberia ditar quantas foram. Eles me ajudaram na louça da pizza que foi nosso jantar e fomos para a sala assistir. Foi então que Murilo viu os envelopes na mesinha do centro e disse que ia lá devolver. Estava pensando em verificar o horário que o carteiro passa para poder conversar com ele sobre isso.

Eu não estava conferindo os minutos de saída de Murilo, só sei que estava naquela parte do filme em que a mocinha Elizabeth estava sendo levada pelos piratas após uma invasão na cidade. Eu estava deitada no sofá com as pernas sobre as de Vini, sentando no meio. Mal me importando com o filme, levantei parte do corpo, apoiando-o com os braços esticados segurando-me no sofá e aproximei-me de meu namorado, ele incerto de fazer qualquer coisa além da conta por ali.

Estava até engraçado ele preocupado com a iminência da chegada do outro. Eu nem tanto... já que mal estivemos sozinhos desde aquela nossa noite (ou tarde). Estava precisando de uma dose dele, não precisava ser a garrafa toda... nem de chegar aos “finalmente”.

– Brincando com o perigo, namorada?

– Grande amigo meu, o perig...

Até que cortar minha sentença ao avançar em mim dessa vez não foi tão má ideia, se era bem isso que eu queria. A energia que aplica segue um ritmo acelerado, ainda meio brincalhão, até que vai amenizando e sendo cuidadoso, deitando-me de volta à maciez do sofá, a ponto de intensificar mais as sensações e a necessidade de tê-lo ali. Ele sabia bem como cumprir seu papel. Assim como sua consciência, que começou a entrar em crise já com ele por cima de mim. Ele que foi caindo em atividade, mesmo comigo puxando-o mais. Eu não estava dando muita margem.

– Mi... aqui... melhor não.

Ele tenta respirar melhor, falar melhor. Ainda assim, não quero saber de espaços.

– Só mais um pouc...

E uma zoada de porta se abrindo em brusquidão domina a sala. Vini se levanta de supetão, eu paraliso e tento ver se era meu irmão chegando. Já estava maquinando a desculpa mais fuleira que poderia inventar naquele momento com meu coração acelerado quando percebemos que...

Nada. Era do filme. Era uma porta do navio. Que belo susto.

– Ok, depois dessa, melhor eu dar uma checada lá fora.

Vinícius puxa minhas pernas de cima dele, deixa-me um selo e caminha até a porta. Esse pequeno suspense e momento de tensão foi só para nos assustar mesmo. Do jeito que o outro sumiu, capaz de ele não voltar tão cedo...

– Acredite, se ele foi capturado pelos alienígenas, eles devolvem.

Resmunga algo como “é admirável seu amor por ele” antes de deixar a sala. Levanto-me e vou à cozinha tomar um pouco de água, enquanto espero que volte. Não passa dois minutos e Vini reaparece, me encontrando ainda com o copo de água na mão.

– Você não vai acreditar nessa...

– O Clark Kent veio dessa vez!

Levo a mão ao rosto numa falsa boa surpresa, com a boca num “O” enfático. Vinícius revira os olhos e balança a cabeça. Anda pelo espaço até se encostar na pia, perto de onde eu estava antes de fechar a porta da geladeira.

– Não, sem alienígenas.

– Valeu a tentativa. Então o quê?

– Ele está de papo... com a Aline. Sentados no muro da vizinha.

– Não...

Me escapa um sorrisinho desacreditado. Vinícius mantém a informação, afirmando com a cabeça.

– Sim.

– Mentira.

– Verdade.

– Eu preciso da minha câmera agora.

Sabia onde a bendita estava, descobri nos confins do meu guarda-roupa. Já ia fazer caminho para meu quarto quando Vinícius inventa de me impedir, segurando-me pela mão. Estava com cara de cúmplice. Ele era um.

– Acho melhor você dar um tempinho a eles, não? Esquece a câmera.

– Querendo dizer... que também temos um tempinho?

Ele morde o lábio, ansioso tanto quanto eu, eu percebia, mas também mantém sua postura de “não aqui”. Nem quando me envolvo nele e o puxo novamente pela camisa a mim. Sabe como é, quando a dose é boa, a gente nunca sabe quando parar. Ele retribui, ora se entrega, ora hesita. Me satisfaço até com essa sua oscilação e assim dou-lhe um tempo.

Voltamos ao sofá, como se fôssemos realmente assistir ao filme. Só que dessa vez ele faz questão de deitar-se sobre um travesseiro nas minhas pernas, invertendo a posição que estávamos, minutos atrás. Apoio meus pés na mesinha de centro perto do sofá e acarinho seus fios de cabelo que por sempre me chamaram. Era relaxante para ambos.

– Quer dizer se os aliens realmente pegassem seu irmão, você nem se preocuparia?

Ele, pelo jeito, queria era conversar. Estamos trocando de papéis ou é impressão minha? E de tantos assuntos bons ele queria falar da peste do meu irmão? Eu ainda queria saber a quem ele tinha se referido quando comentou sobre o ciúme solto na mesa da praia do outro dia. Não sei por que ainda a TV tá ligada... só pra fazer a média mesmo, não nos deixar no silêncio, porque nem virado pra ela Vini está. Ele me olha diretamente, naquele seu bom humor.

– Não se soubesse que logo o devolveriam.

– Como poderia ter tanta certeza?

Acho lindo quando ele fica confuso a ponto de levantar uma sobrancelha e faz essa carinha engraçada de quem não tem uma sanidade sou eu. Ele também não contribui nesse ponto, se boa parte da minha “normalidade psíquica” tem estado a mercê dele. Isso que dá dar muita entrada pra homem na vida, eles já “chegam chegando” e dominam toda a área. Coração discutindo com cérebro é uma luta dura.

– É só ele abrir a boca.

– Amor incondicional, né? Tô vendo.

É um amor lindo o fraternal. Até se morar com ele, aí a coisa estraga. E se ama, briga, chuta o pau da barraca, ri, desanda, levanta e começa um novo dia. Ter um irmão também é responsabilidade. Se ele der margem para Iara quem sabe ele não consiga entender como é? Fiquei na vontade de empurrar esses dois, quem sabe aproveitar essa data do Natal, Ano Novo.

– Ah, você ainda não viu nada...

– Isso significa algo bom ou ruim?

Segura minha mão livre, levando-a a descansar ao seu peito, onde eu sentia as batidas do seu coração ainda um pouco agitadas. Fecha os olhos enquanto ainda massageio seus fios entre meus dedos, espetados por ele ter recentemente o cortado. Não queria que ele tivesse feito isso, apesar desses espetados também ser um charme. Era bom que não dormisse, senão eu saberia ser bem malvada para acordá-lo. Piedade demais nos deixa muito molengas.

– Talvez os dois. Você já viu como ele é, nem sempre são flores nosso relacionamento. Houve uma época, na verdade, que não éramos nada próximo do que somos hoje. Não foi uma época muito boa.

Vejo quando ele meio que abre os olhos, incerto. Não me lembro de ter falado sobre isso alguma vez com ele. Na realidade, não sou de comentar isso. Motivos?

Só uns mil.

– Por quê? Vocês brigavam muito?

– Também. Mas isso já faz um tempo. Aos poucos fomos nos restabelecendo. O que ficou pra trás, lá ficou.

Suspiro, calma, mostrar que isso não me afetava mais. Porque não afetava, né? Era passado-mais-que-imperfeito, mas passado. Estamos numa diferente Era. Sinto que Vini me observa, que seus olhos traçam os detalhes do meu rosto captando meu momento pensativo. Ele não iria captar mais que expressões sem sentido, da mesma forma que deviam assim ser para Murilo, quem nunca soube, nem saberá – o que eu tentei, devo acrescentar, fazer com que soubesse – o que houve de fato nesse rolo.

É estranho ter tantas respostas para tantas perguntas que ele não cogita. Mas se assim aconteceu, me contento por ter tentado. Eu não escondi, na verdade, fui obrigada a omitir.

– Uma vez acho que... ele comentou sobre isso. Disse-me também que houve um cara que te machucou. Ele descreveu que dali surgiu uma barreira entre vocês... Coisa que nem consigo imaginar, vendo-os tão bem hoje.

– A barreira foi ele mesmo que construiu, se assim posso dizer. Ele acreditava no que queria acreditar, não no que... no que era realmente verdade. Mas é como eu disse, foi faz tempo, anos. Já crescemos muito de lá pra cá.

– Ele me disse quem foi esse que te machucou.

Olha para um ponto acima de mim, desviando seu foco. Sua voz foi amena dessa vez, como que comentando por alto sem saber se eu lhe responderia. Ele tem noção que caminho perigoso é falar sobre isso, aposto. Então eles já conversaram sobre isso? O que mais poderiam ter discutido? São amigos mesmo, pois nem com meu irmão não toco mais nesse assunto. Cadê uma mosquinha para me soltar tudo?

Também desvio meu olhar. Recai em nossas mãos unidas junta de seu peito, que subia e descia pelo movimento respiratório calmo, relaxado e regular. Era bom estar nesse clima se fosse para falar mesmo desse assunto.

– Eric? Não, não foi ele. Talvez meu próprio irmão fora esse quem me machucara. O que é algo que acho que ele nunca vá aceitar dizer, só culpar aos outros. Não foi uma boa época para nenhum dos dois, você vê. De qualquer forma, eu o perdoei. Por isso e muitas coisas mais. Isso que importa. Você disse a ele que viu o Eric?

– Por quê? Era para dizer?

Seus olhos voltam a se prender em mim, receosos. Eu, no entanto, foco em qualquer coisa menos ele. Nem tinha me tocado bem sobre isso de encontrar Eric novamente. Eu não comentei com Murilo, porque não haveria de mencionar, porém me esqueci de considerar que Vinícius também esteve conosco e que foi bem na época que esses dois estavam em cima de mim, preocupados com o caso de Filipe me perseguindo. Sinceramente, eu tinha tanta coisa mais imediata na cabeça que isso nem levei em conta. Espero que Vini não tenha mencionado pelo menos o nome.

– Não, não era. Eles não se dão bem. No dia da formatura do Ensino Médio Murilo até quis brigar com ele. Eu quase o expulsei da festa por isso. Eu não via Eric desde essa festa. Porque logo que me formei, tivemos que ficar um semestre fora, para ajudar nossa família quanto ao tratamento do coração da minha avó. Tendo boas pessoas ao nosso lado fomos percebendo o quanto era besteira ficar nesse clima. Não demorou muito e o perdoei.

– Ele não me disse muita coisa, apenas deu a entender que não é bem assim que ele vê as coisas.

– Como sempre. Viu como ele gosta de contrariar?

Ele aperta minha mão, para chamar-me a atenção presumo. Que lhe olhasse. Por instinto, observo-o também. O que ele estaria pensando? Imaginando-me como seria a minha versão total desequilibrada? Que traços meus ele esperava?

– E se você estiver errada?

– E se ELE estiver errado?

– Como pode ter tanta certeza?

Se eu pudesse respondê-lo com simples palavras, quem sabe eu o faria. Mas nesse caso não é assim que eu iria me expor. Eu preferiria falar até de minha fobia, que é uma das coisas que mais odeio, se pudesse evitar expor esse outro lado. Tá enterrado, Milena! Lembre-se disso!

– Tendo. Lembra-se que uma vez te disse que as coisas às vezes simplesmente aparecem para mim? Acabo sabendo mais do que devia.

Isso é fato. Mais que fato, tenho provas.

– O que você quer dizer com isso? O que apareceu para você?

O que digo? Pisco rapidamente sentindo aquela coisa ruim subindo por dentro. Eu não vou chorar! Engulo em seco, desgostosa por não saber bem o que lhe responder. Ele não sabe de nada e uma informação dessas não faria diferença, ainda assim não contaria. Por que ele tinha que falar disso agora?

Isso, é isso que devo responder.

– Por que quer saber?

– Porque tudo sobre você me interessa, você sabe. Porque ficamos impotentes quando você insiste em guardar as coisas para si. Confio em você, e quero que saiba que pode confiar em mim, para qualquer coisa.

– Mesmo se não concordar comigo?

– Mesmo se for, sei lá, pra... enfim, num sei. Confie em mim.

Pedindo desse jeito, tão determinado... Olha que eu confio. Passo a mão por seu rosto e dou um fim a esse papo. Tinha coisas melhores para se falar.

– Então não comenta isso com meu irmão. Isso que conversamos. O que passou, passou. Temos é que falar de sua passagem. Se for querer comprar de última hora, é capaz de não ter mais vagas. E aí, como você vai me visitar?

– Vou ver logo amanhã de manhã cedo. Não aceito ficar longe de você mais que o necessário.

– Bom saber.

Puxa-me para si segurando meu rosto. Eu também queria mais uma dose dessa garrafa, valia a pena se embebedar desse conteúdo. Já tem outras pessoas que não concordam bem com isso. Murilo é de quem eu falo, pois logo ele entra na sala e dá seus alerta para nos separar:

– EPA! Que negócio é esse no meu sofá?

No sofá dele? Que ele fique então, eu tinha pelo menos duas camas se fosse o caso de me tomar o sofá. Eu queria tanto poder lhe responder isso, mas tinha que me dar o respeito também. Além do mais, nada melhor que sair de um flagra comentando sobre o do seu “flagrador”:

– E que negócio era esse no muro da vizinha? Te conheci assim não, viu!


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Notas finais do capítulo

Pode aporrinhar o Murilo que eu deixo!



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