Tudo foi tão rápido, a irmã da Katniss estava caminhando para o palco. Pobre Prim, sempre a vi como uma garota doce, ela se parece muito com sua mãe que é loira, e tem aquela beleza característica, ela não merece ir para os Jogos, tem apenas doze anos.

Procuro Katniss em meio a multidão e a vejo correr até sua irmã. Antes que Prim pudesse subir o primeiro degrau, Katniss num ato de pura coragem e heroísmo grita para Effie Trinket:

- Eu me ofereço como tributo!

Todos estão surpresos, mas pelo jeito que a vejo sempre cuidando e protegendo sua família, já era de se esperar. Mas não me lembro de alguém do nosso distrito se oferecer, isso seria morte certa. Mas isso não se aplica a ela.

O distrito fica no mais completo silêncio, em sinal de respeito. Aos poucos, cada pessoa toca os três dedos médios de suas mãos esquerda em seus lábios e os mantém lá, faço o mesmo. Ela foi capaz de fazer nosso distrito realizar o mais ousado protesto que conseguimos, o silêncio e esse gesto antigo usado muito em funerais, como se disséssemos adeus a quem amamos.

Depois Haymitch, o único vencedor vivo do distrito, entra bêbado, como sempre está, gritando para a multidão:

- Olha só! Olha só para essa aqui! Muita... Coragem. Gosto dela – Logo ele desaba no palco e fica inconsciente. Levam-no em uma maca e Effie Trinket dá continuação ao evento.  

Agora é a vez do tributo masculino ser escolhido. Effie grita seu nome para a multidão:

- Peeta Mellark!

Será que estou ouvindo direito? Penso. Ela acaba de anunciar meu nome. Todos a minha volta abrem espaço para que me dirija ao palco. Não acredito no azar que tenho, estou chocado. Por que eu? Justamente com ela, a última pessoa que quero ferir nesse mundo.

Enquanto subo os degraus olho para ela, e por um instante consigo perceber algo em seu rosto. Será que é Tristeza? Surpresa? Ou... será que ela se lembra do que ocorreu anos atrás?

Eu lembro. Logo depois que seu pai morreu nas minas, ela e sua família passavam por dificuldades, num dia eu à vi remexendo na lata de lixo da padaria. Minha mãe, grosseira como sempre gritou dizendo que chamaria os pacificadores para prendê-la. Ela ia embora, mas começou a cair, estava fraca demais e a chuva só atrapalhava a situação. Peguei alguns pães queimados para entregar a ela quando minha mãe me bateu, bem no rosto, brava. Disse para eu entregar os pães aos porcos, foi isso que fiz, em partes. Joguei algumas migalhas para os porcos e sem olhar a garota, joguei alguns pãezinhos em sua direção e corri para casa. Nunca me esqueci daquele dia.

O prefeito termina o discurso e faz com que apertemos as mãos. Pela primeira vez a olho nos olhos com uma confiança que nem sabia que existia numa situação dessas. Nesse momento sei que faria de tudo para ajuda-lá.

Nós viramos para a multidão e o hino de Panem toca.