Na parte superior os "mais adultos" — uma forma gentil para ele não dizer "velhos" —, já na fila abaixo os adultos, depois os adolescentes e por fim as crianças, todos usavam becas azuis e cantavam em harmonia no coral da igreja. Naquele domingo havia completado uma semana desde que os Stark haviam se mudado para Luisiana, próximo a Mississípi. O senhor Howard Stark tinha ao seu lado a elegante Maria e a sua frente, ao qual estava com os braços ao redor, seu filho, Anthony, mas conhecido apenas como Tony, cujo não conseguia desviar seus olhos da garota loura que estava na fila inferior do coral, a linda e agradável Virgínia Potts, conhecida popularmente apenas como Pepper.

— Às vezes nosso conceito de perdão é distorcido e sentimentalista, contudo não é assim. Mesmo que não sinta vontade ainda é preciso perdoar para que o coração seja livre para aceitar o amor à pessoa que lhe ofendeu¹. — Dizia o pastor enquanto olhava atentamente para cada rosto que se encontrava naquele culto matinal.

A primeira impressão que os Stark tiveram das pessoas que moravam em Luisiana era de serem bastante hospitaleiras e essa impressão apenas se confirmou mais uma vez, pois ela já havia sido confirmada muitas outras vezes no decorrer daquela semana por causa das visitas constantes que eles tiveram dos vizinhos, quando as pessoas vieram até eles após o culto lhes saudando com "Bem-vindos", "Espero que estejam gostando", "Vejo vocês em breve, sim?" e "Foi realmente um prazer", mas com certeza, de todas os cumprimentos, o que o Tony mais gostou foi da família Potts, ela era constituída por Tess, mãe de Pepper e por seu pai Ian.

— Acho que falo por todos quando digo que estamos muito felizes pela chegada de vocês em nossa cidade. — Ian começou dizendo enquanto saudava a família Stark com um aperto de mãos.

— Obrigado. — Respondeu Howard pela vigésima vez, provavelmente, naquela manha.

— Essa é minha esposa Tess e essa baixinha aqui é a minha filha Pepper. — Ian as apresentou. — E eu sou o Ian Potts.

— Eu sou o Howard Stark, essa é minha esposa Maria e esse é meu filho Anthony.

— É realmente um prazer. — Tess afirmou sorrindo.

E pela primeira vez os olhos de Pepper caíram sobre Tony, que a olhava com cautela, mas assim que ela sorriu para ele, o mesmo relaxou e sorriu de volta.

— Você quer brincar? — Pepper perguntou animada, era costume ela brincar depois da igreja, pois era o tempo que seus pais levavam para fazer o almoço.

— Quero. — Tony respondeu de imediato e em seguida olhou para seus pais. — Eu posso?

— Hã, claro, mas não demore e tomem cuidado. — Howard disse meio vacilante.

— Não se preocupem, nada de ruim vai acontecer e eu o levo de volta para casa. — Ian assegurou.

— Obrigado, vocês moram onde? — O senhor Stark quis saber.

— Na verdade é do outro lado da rua. — Tess respondeu rindo discretamente.

— Bem, assim é melhor. — Maria assentiu aliviada.

Pepper segurou na mão de Tony, que ficou surpreso pela audácia da garota, e depois o puxou para irem até o quintal de sua casa.

— Ai, cuidado. — Tony repreendeu enquanto ela o puxava com rapidez por entre as pessoas que conversavam fora da igreja. Pepper apenas ria divertida.

— Medroso. — Ela parou de correr quando eles atravessaram a rua, ficando parada próxima dele na calçada, em frente a sua casa.

— Não sou medroso, você que é maluca. — Justificou semicerrando os olhos e cruzando os braços sobre o peito, Pepper apenas riu. — Qual é a graça?

— Aqui — ela levantou a mão e colocou o dedo indicador entre as sobrancelhas dele —, quando você faz essa careta de garoto birrento aqui fica marcado.

— Não faça careta e não sou birrento. — Ele tirou o dedo dela de sua própria testa. — E isso — apontou para onde antes ela havia colcoado o dedo — se chama franzir o cenho.

— Franzir o cenho? O que é isso? — Perguntou arqueando uma sobrancelha e fazendo pose.

— Meu pai que me falou. Eu não sei. — Tony jogou de ombros.

— Como você pode saber e depois não saber o que você sabe?

— É o que? — Ele perguntou confuso e Pepper apenas fez o que melhor sabia fazer: rir.

— Você é burrinho. — Dito isso ela deu um peteleco na testa dele.

— Au! — Ele colocou a mão na cabeça e Pepper correu em direção ao seu quintal, enquanto Tony corria atrás dela.

Sete anos depois...

A porta da cozinha foi aberta abruptamente por um Tony animado.

— Bom dia! — Ele cumprimentou Tess e Ian que estavam sentados no balcão, tomando o café da manha.

— Ela disse que não vai descer. — Informou Ian com a boca cheia pelo pedaço de torrado que ele mastigava.

— Por quê? — Quis saber enquanto pegava o copo de suco de laranja de Tess, essa última estava preste a lhe bater por isso, mas ele conseguiu se desviar e bebericar a bebida amarela.

— Por que será? — Tess foi sarcastica.

— Ah, fala sério, eu não enterrei esse ovo há quase um mês por nada. — Disse após deixar o suco de volta no balcão e tirando do bolso um ovo. — Ela quebrou ovo na minha cabeça no meu aniversário de dezessete anos, por qual motivo ela acha que eu não vou dá o troco?

— Deixa eu ver se eu entendi, ela quebrou ovo na sua cabeça no seu aniversário de onze anos e desde então vocês estão nessa richa, quando ela vai ter um fim? — Ian perguntou curioso, já com a boca vazia.

— Essa é a graça, não vai ter fim. Eu ainda não entendo por que ela tenta se esconder se eu sempre a encontro. — Tony falou enquanto ia em direção a escada que levava aos quarto, mais precisamente ao quarto de Pepper.

— Procura ela debaixo da cama. — Ian deu a dica e Tess lhe deu um tapa no ombro. — O que? Ah, como se ele não soubesse que ela está lá. — Defendeu-se rindo.

Tony adentrou ao quarto vagarosamente, ele sabia que Pepper havia visto os pés dele por debaixo da cama, por isso mesmo ele iria fingir que não sabia que ela se encontrava exatamente lá.

— Pep da minha vida, onde está você, princesa? Eu quero te dá meu presente de aniversário. — Ele foi até a porta do banheiro e a abriu, depois a fechou. — Pep? Vem que eu quero te dá meus parabéns e um abraço de urso. — Foi até o closet e nada, infelizmente o closet ficava do lado oposto a cama e Tony não havia escutado os passos de Pepper atrás dele e antes que ele se virasse a loura pulou nas costas dele.

— Sai daqui! Sai daqui! — Ela bradava enquanto lhe enforcava.

— Pep! Me solta! — Ele andou de costas e acabou caindo na cama, por cima da Pepper, mas ela conseguiu trocar suas posições e ficou por cima, batendo contra o tórax dele. — Ai, Pepper! Desde quando você começou a ficar tão bruta, ai! Para mulher! — Ele colocou a mão no bolso e rapidamente jogou o ovo contra a cabeça dela, mas acabou que no mesmo estante ela empurrou o braço dele com a mão e o ovo esbarrou nela de uma forma que a clara e gema lambuzou os dois.

— Argh! Que nojo, Tony! — Pepper saiu de cima dele irritada e Tony permaneceu na cama, na gargalhada. — Você me paga!

— Espera! — Ele chamou a atenção dela, antes que ela entrasse no banheiro.

— O que? — Gritou indignada.

— Feliz aniversário, princesa. — Mandou um beijo para ela e em seguida pulou da cama, correndo para fora do quarto, mas ela logo pulou nas costas dele novamente.

— TONY!

— Ai! Tio Ian! Tia Tess! Socorro! Tem uma doida tentando me matar!

— A gente ajuda? — Tess perguntou.

— Não, a gente ajudou ano passado, vamos ver como ele se sai esse ano. — Ian respondeu.

— É, você tem razão, pode ficar interessante. — Dito isso eles ouviram um vaso caindo no chão.

— Eu pago! — Gritou Tony e no mesmo estante o quadro pendurado na parede do corredor caiu ao chão também.

— Eu aposto na Pepper. — Ian disse esticando o braço para que Tess apertasse sua mão.

— Essa eu passo. — Tess respondeu e os dois riram após verem no topo da escada Pepper puxandos os fios de cabelo de Tony.