A Vizinhança Morta escrita por Krieger


Capítulo 1
Bem-Vindo


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem~
Qualquer erro me avise.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/409761/chapter/1

Não é como se eu não quisesse me mudar, eu apenas estava acostumada com minha casa. A rua movimentada, as pessoas conversando na calçada, os cachorros latindo e os passos de gente caminhando, fazia parte da minha rotina. Eu não sei exatamente para onde estou indo, mas minha mãe achou melhor por causa do lugar ser muito mais calmo sem aquela barulheira toda (acho que não mencionei que ela era a que mais detestava), onde poderíamos ficar mais tranquilas e caminhar pela rua sem se preocupar com todo o movimento perigoso. Para falar a verdade, para mim tanto faz.

No momento em que o carro ia mais longe as ruas ficavam mais vazias sem a presença de ninguém pelas calçadas e nenhum carro. Estava já no final da tarde, os pássaros voavam no céu aberto para longe daquele lugar. Acho que era esse o nosso novo bairro.

Descemos do carro e paramos em frente de uma casa simples e bonita, com um portão e a entrada com as paredes enfeitadas de pedrinhas. Peguei apenas minhas coisas do carro e fui entrando.

– Já sabe, arrume bem o seu quarto. –minha mãe disse enquanto tirava as outras malas.

– Eu sei. Steven já está aqui?

– Sim, ele veio quando estávamos trazendo os móveis, não queria pelo de cachorro nos bancos do carro.

Sorri e fui direto para o meu quarto, jogando as malas em cima da cama e tentando arrumar as roupas no armário o mais rápido possível. Steven é meu cachorro, meu fiel cachorro. É um simples vira-lata pequeno, mas eu o amo!

Corri para o quintal e gritei seu nome. Ele saiu de dentro de uma casinha feita para cachorros e correu até mim, pulando no meu colo.

– Bom garoto! A casa nova, é um pouco maior, não? –acariciei sua cabeça, ele lambeu minha mão.

– Já está aí? –meu pai apareceu do meu lado.

– Queria vê-lo.

– É obvio que ele estaria bem. Já de uma olhada na vizinhança?

– Não. Pra que a pergunta?

– Então é uma boa chance, vá passear com seu cachorro. Não se preocupe, é calmo por aqui, sem perigo.

– Certeza? Sinto que estão me usando como cobaia.

– Como? Claro que não! –ele riu. – Estou falando sério mesmo.

– Tudo bem, eu vou então. Não se preocupe também, volto rapidinho.

– Certo.

Ele saiu de lá e eu fui logo em seguida, indo para a lavanderia para pegar a coleira do meu cachorro. Voltei para o quintal e prendi a correia nele, enquanto isso ele ficava parado e quieto me esperando.

Tinha percebido agora que não havia prestado atenção nos móveis da casa, talvez por ser o mesmo e não parecia muito diferente, a não ser o espaço maior. Fui para a calçada e olhei em volta, já estava escuro, isso significa que não deveria demorar tanto. Os postes de luzes estavam fracos e uma neblina tomava conta de todo o espaço. Que estranho, não me lembro de ninguém ter mencionado nenhuma neblina.

Ignorei, não estava forte e eu conseguia ver a rua. Comecei andando pela calçada do quarteirão da minha casa, ficando por perto. Eu ia para onde Steven quisesse ir. Porém, eu sentia uma sensação estranha, parecia que alguém me observava de longe.

Olhei para uma casa em frente de onde eu estava bem na sua janela. Nesse mesmo momento eu vi a janela se fechar rapidamente, mas não consegui ver nenhum rosto. Olhei para outra casa perto daquela e novamente olhei diretamente na janela, mas dessa vez eu consegui ver um rosto pálido que logo sumiu ao fechar a janela. Senti arrepios. Será mesmo uma boa ideia morar nessa rua vazia?

Steven puxava a coleira para frente, querendo virar na esquina. Suspirei e obedeci, talvez der apenas uma volta rápida lá em cima seja bom, o lugar onde estava me dava arrepios.

Ouvia passos lentos e pesados vindos de trás de mim, ou seria eu mesma? Resolvi parar de andar, os passos continuaram e quando eu os ouvi próximos de mim, eles pararam. Engoli um seco na garganta e olhei para trás, não havia ninguém, apenas a neblina que tinha aumentado.

O cachorro puxava com força a coleira para continuar andando para frente, por que estaria tão empolgado assim?

Andei mais um pouco, mas a neblina na minha frente começou a ficar estranhamente forte, eu não enxergava mais nada.

– Hmm... Fim da rua? Que estranho... –comentei em voz alta.

Sim, era o fim da rua, eu só não ia mais para frente até ver exatamente seu final por causa da forte neblina.

Steven começou a latir e rosnar, puxando ainda mais forte. O cão conseguiu fazer uma força maior até fazer-me soltar sua correia. Ele correu desesperadamente para dentro daquela forte neblina.

– Steven, volte aqui! Agora! –comecei a gritar.

Nada.

– Steven! Obedeça-me!

Nada.

Ele não estava me desobedecendo... Isso nunca aconteceu...

Quando fui dar alguns passos para frente para procura-lo, ouvi um grito fino e alto.

– Q-Quem está aí? –gaguejei.

Eu via uma silhueta humana caminhando em minha direção naquela forte neblina. Forcei a vista para ver quem era, mas não consegui. De repente, uma mão pálida e com grandes unhas rachadas e estragadas saiu de lá, tentando agarrar e arranhar meu rosto. Gritei e dei um pulo para trás, caindo no chão.

Levantei-me rapidamente e comecei a correr sem olhar para trás em nenhum momento. A neblina começou a ficar muito forte, por sorte eu havia conseguido enxergar minha casa. Chegando à frente dela lá estavam meus pais.

– Mãe! Pai! –os abracei.

– O que houve? –eles me olharam preocupados.

– Viemos aqui fora quando ouvimos um grito, pensamos que era seu. –meu pai completou.

– Sim, sim! Alguém tentou me pegar! Conseguiu pegar o Steven! –comecei a chorar.

– O que?! Que loucura! Fique ai, vamos ver isso! –meu pai disse desesperado, correndo.

– Ei, espere! –minha mãe gritou. – Parece que seu pai ficou bravo... Como alguém pode roubar seu cachorro assim do nada? Fique ai amor, nós já voltamos. –minha mãe correu atrás do meu pai.

Eles começaram a correr pela calçada e desapareceram na neblina. Eu ia gritar para eles ficarem, mas não deu tempo. Suspirei e olhei em volta, a neblina estava mesmo terrível. O que foi tudo aquilo? Foi estranho... Nenhum vizinho veio para fora, apenas meus pais... Enfim, apenas irei esperar.



Já faz uma hora que eles foram e não voltaram... Estou começando a ficar preocupada. Eu deveria ficar aqui, mas preciso encontrar eles, não quero ficar mais nenhum segundo sozinha.

Respirei fundo e comecei a caminhar até chegar à esquina. Tive uma surpresa, era um grupo de três pessoas paradas logo na frente.

– Hmm... Com licença...

Os três viraram para mim no mesmo momento, com seus rostos pálidos e olhos fundos que chegavam a ser pretos. Eram olhos com uma olheira terrível, pareciam que não dormiam há anos. Seus olhos pretos pareciam que não havia nenhuma pupila. Olhos mortos, pele morta. Dei alguns passos para trás, isso me dava medo...

– Você... Você tem o que nós não temos... –a mulher disse com uma voz fria e rouca.

– Dei-nos! É injusto não termos! –a outra mulher abriu os braços e foi em minha direção.

Desviei deles e corri, passando na frente deles. Estava começando a ficar cansada, eu estava com medo... Onde estariam meus pais?

Vi duas pessoas paradas um pouco mais na frente, mas desta vez estava com medo de falar algo. Eles estavam bem onde eu havia perdido Steven.

Quando dei mais um passo na frente eles perceberam minha presença, virando-se para trás. Eram meus pais. Ou... Eram meus pais mesmos? Seus rostos estavam pálidos e os olhos pretos, iguais às três mulheres que acabara de ver. Olhos mortos, pele morta.

– Pai? Mãe?

– Você tem o que nós não temos... –minha mãe disse com a mesma voz da mulher.

– Dei-nos... Dei-nos... –meu pai começou a se aproximar de mim.

– Não! Fique longe!

Fui dando passos para trás até bater de costas em alguém. Meu corpo se paralisou e gelou, comecei a tremer e transpirar. Antes que pudesse gritar, uma mão pálida com unhas enormes cobriu meu rosto. Era a mesma de antes.

Ela era gelada, áspera... Suas unhas relavam em meu rosto ao ponto de furar e me arranhar. Eu estava ficando inconsciente...



Sai de casa e me espreguicei, era meu segundo dia na minha casa nova. Já estava anoitecendo então resolvi dar uma volta pela rua para conhecer a vizinhança, já que era tão calmo assim acho que não teria nenhum perigo. Comecei a caminhar, uma neblina começou a surgir, era fraca, não me impedia de ver nada, mas ninguém havia me dito isso.

Avistei uma casa simples com um portão e as paredes enfeitados de pedrinhas, em frente dela estava uma garota, parecia estar segurando uma coleira.

– Hmmm... Com licença, sou nova por aqui e...

Ela se virou com seu rosto pálido e seus olhos fundos e pretos, com um sorriso enorme e rasgado no rosto. Dos seus dentes só escorria sangue, seu rosto estava arranhado e com alguns furos que também sangravam. Um sorriso rasgado e olhos que me fitavam. Olhos mortos, pele morta.

– Você tem o que nós não temos... Dei-nos...



“Dizem que há um bairro calmo e relaxante por ali. Um bairro onde não há nenhum movimento, onde você não precisa se preocupar com os barulhos do dia a dia. Quer mesmo ir? Quer mesmo ir? Alguém havia lhe dito da neblina? Oh, não? Deixe-me falar então. Ela é tão branca que pinta toda a rua, que pinta toda sua visão. Se quiser conhecer a vizinhança, deixe que a neblina pinte tudo de branco. Mas, é melhor não ter o que todos não têm.”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Bem, é isso~~ Sei que é bem simples, e é mesmo, não quis fazer nada tão fora do normal. Ok, ok, da próxima eu faço algo mais pesado -q
Acho que não tem nada difícil de entender... Bem... Espero que entendam :3