– Conhece minha família? – Lyssa perguntou assustada. – Espera, quem é você?

– Ah, que indelicadeza a minha. Me desculpe, sou Valerie Waldorf – a garota sorriu. – E, na verdade, eu não conheço.

Valerie usava uma blusa bem decotada, com uma saia curta e sapatos de salto. Ela era uma típica popular, líder de torcida, daquelas que fazem de tudo para não saírem do topo. Mas ainda assim parecia ter alguma coisa estranha com ela.

Uma garota ao lado dela disfarçou uma risada, e então sussurrou algo para Valerie que não pude escutar. Valerie a respondeu e logo falou em voz alta novamente:

– Ah, não se preocupe Emily, vai ficar tudo bem.

A garota que se chamava Emily sorriu educadamente para Lyssa, levantou-se e foi andando para fora do refeitório, seguida por Valerie. Elas foram até a porta e lá ficaram um tempo conversando. O clima estava ficando um pouco tenso, e Lyssa decidiu sentar-se para não cansar as pernas. Só havia ficado ela, Josh, o amigo dele e a outra garota.

– Ei, Lyssa. – ela chamou seu nome. – Não liga pra elas. Elas estão bem, Emily só teve mais um de seus ataques.

– Ela tem algum problema de saúde? – perguntou, preocupada.

– Não. Mas ela surta com algumas coisas de vez em quando.

– Coisas tipo eu? – perguntei já imaginando a resposta.

– Digamos que sim, mas no geral. Ela surta quando vê a melhor amiga tentando fazer novas amizades. Isso se chama ataque de ciúmes. – ela rolou os olhos. Lyssa ficou imaginando se ela já não estaria cansada da maneira como suas amigas se portavam no colégio.

– Entendi.

– Prazer, sou Anna. – ela sorriu, tentando descontrair o clima. Lyssa sorriu de volta e então respondeu:

– O prazer é meu.

Josh e o outro garoto só estavam ouvindo tudo. Quando tudo ficou mais calmo, o rapaz falou, com um tom de brincadeira:

– Uuh, as coisas esquentaram por aqui – ele riu. – Me desculpe Lyssa, não pude perder a piada. Val e Em saíram, provavelmente porque se sentiram ameaçadas pelo fato de uma nova gata entrar no colégio. Elas só não querem perder o posto de rainha e princesa da escola. Então, ignora. A propósito, meu nome é Ben.

– Olha, eu posso parecer como elas, mas eu não quero nada disso. Não há com o quê se preocupar. Desculpe, eu vou indo.

Ela se levantou e estava indo procurar Blair, mas Josh puxou seu braço e a levou para um pouco longe da mesa onde estavam.

– Lyssa, desculpa. Realmente não queria te fazer sentir-se mal.

– Não, nada disso. Eu só não quero me envolver com gente popular, nunca tive bons momentos com pessoas assim. Não é o meu tipo. Você foi muito legal comigo, Josh, mas se for tentar me levar para esse lado, talvez não seja muito bom. Sinto muito se estraguei seus planos.

– Obrigado pela sinceridade – ele riu. – Essa nunca foi a minha intenção, eu só tentei te apresentar para meus amigos. Pode não ter sido uma boa ideia, eu sei, mas eu não quero te deixar sozinha aqui.

– Não estou sozinha – disse, apontando para uma mesa próxima onde Blair estava sentada.

– Quem é ela?

– Blair Melbourne, minha colega de Biologia.

– Certo. Só queria te dizer que pode confiar em mim, não sou como Val.

– Aprendi a não confiar tanto nas pessoas.

– Mas eu não sou assim! Você é muito legal, sério, e eu quero te conhecer melhor.

– Legal ou gata? Muita gente se aproxima de mim só por causa disso, e eu não gosto disso!

– Não é o que você está pensando! – ele gritou, mas no mesmo instante colocou a mão na testa, como quem mostra que cansou. – Desculpa se te fiz pensar de forma errada sobre mim, eu não queria gritar com você.

Lyssa não respondeu. Simplesmente se afastou e sentou-se à mesa com Blair.

– Ei, Lyssa. Está tudo bem?

– Sim. Eu não devia ter ido lá.

– Não se preocupe, logo você se acostuma. Aqui é assim mesmo. Josh Campbell é só um metido que tenta ser legal com as novatas, principalmente as que chamam atenção como você. Ele é um ridículo.

– Sei lá, ele foi tão legal comigo na saída da primeira aula que eu nem percebi isso. Só preciso esquecer.

Elas almoçaram caladas. Quando bateu o sinal para as aulas da tarde começarem, Lyssa e Blair já estavam na sala de aula.

Os outros alunos começaram a chegar, ocupando seus lugares. Chris, o colega que conhecera na primeira aula, sentou-se ao lado de Lyssa e tentou puxar assunto.

– Lyssa, você está bem?

– Oi, Chris – ela sorriu, - estou sim, obrigada.

– Você parece assustada. Aconteceu alguma coisa?

– Não, está tudo bem mesmo. – ela disse, enquanto observava Valerie e sua turma entrando na sala acompanhada dos assobios dos colegas. Ela sorriu e mandou beijo para eles, como se fosse uma estrela.

– Ah, entendi. Valerie Waldorf, rainha do colégio, dona de todos os garotos que vão atrás dela, destruidora de corações e a primeira a tentar se livrar de qualquer garota que pode ser uma ameaça para a sua popularidade. Qualquer um que está na lista dela se ferra pra caramba.

– Nossa, valeu por me lembrar como eu estou ferrada – disse, irônica. Chris riu.

– Bom, se você for a próxima que vai tentar destroná-la, eu torço pra que ela perca.

– Por que todos acham que eu quero isso? Eu não quero nem me envolver com ela.

– Então, sinto muito querida. Você já está no jogo.

No mesmo instante, a professora, que já estava na sala há muito tempo, levantou-se e começar a falar sem parar sobre como seria aquela aula. De repente, ela se virou na direção de Lyssa e comentou:

– Ora, vejam só, temos uma aluna nova. Como eu pude não perceber? Venha aqui, garota, se apresente para a turma.

– Ir aí na frente? – Lyssa perguntou, sem ter vontade nem de levantar da classe.

– Claro, não há motivos para não querer que as pessoas te conheçam. Venha.

Lyssa pegou o papel que a diretora havia lhe entregado e foi até onde a professora estava. Pediu-lhe para assinar e então, ficou de frente para a turma e quando ia começar a falar, alguns garotos assobiaram, gritaram e isso só a fez sentir-se mal. Ela olhou para o fundo, de onde Josh, Val, Emily, Anna e Ben estavam a encarando e se apressou em dizer:

– Oi. Sou Lyssa Courtney, tenho 16 anos e estou chegando hoje. É isso. – ela voltou para o seu lugar, querendo se esconder embaixo da mesa, mas não aguentou muito tempo e teve que pedir à professora para ir ao banheiro. Não estava se sentindo bem, o enjoo já havia tomado conta dela.

Ela saiu correndo à procura do banheiro mais próximo e não demorou em achar. Dez minutos se passaram e ela não voltava. A srta. Turner estranhou e pediu para que alguém fosse atrás dela. Blair já estava se levantando para ir, mas Valerie a cortou e disse que ela iria ver se a amiga estava bem. A professora ficou feliz com a atitude dela, mas Blair percebeu que aquilo não ia dar muito certo e pediu para ir também, decisão que não foi aceita. Valerie olhou de lado para a garota e sussurrou que ela não era tão importante e aquilo era coisa para ela mesma fazer. Sem dizer mais nada, saiu da sala e dirigiu-se ao banheiro, onde encontrou Lyssa sentada no chão com a cabeça abaixada entre as pernas.

– Está tudo bem? Você precisa de ajuda?

Lyssa levantou os olhos e viu a Srta. Rainha Popular de pé ao seu lado. Ela respondeu:

– Não preciso da sua ajuda, só estou enjoada.

– Ta grávida? – Valerie riu alto, mas a garota simplesmente revirou os olhos e ficou quieta. – To brincando. – Sentou-se ao lado de Lyssa e continuou. – Esquece hoje, ta? Eu também sei ser legal, você não é a única. Talvez possamos recomeçar. O que me diz?

O silêncio foi a resposta. Val não gostou da situação e disse, tentando fazê-la sentir-se melhor:

– Ah, vai. Não é tão ruim ser minha amiga. Você pode até ser a segunda princesa da minha equipe.

– E tirar o lugar da Anna? Não, obrigada. Essa não é a minha função.

– Sei que podemos ter começado mal, mas isso não é motivo para você me odiar pelo resto da vida. Pelo menos tente. Aqui fica o meu pedido de desculpa. Você pode me perdoar e esquecemos isso ou você pode fingir que eu não vim aqui e continuamos nesse jogo.

– Essas são as opções? Não existe a opção “saia de perto de mim e esqueça que eu existo”?

– Não. É impossível esquecer você. Não viu como todos já estão na sua? Você arrasa, garota! Não pode se prender a ideia de que é só estudar, se dedicar e que a vida social não precisa de espaço. Vem comigo que eu te ajudo a equilibrar tudo isso. – ela se levantou e estendeu a mão para ajudar a companheira. – Vem, vou te levar na enfermaria. Lá eles vão te dar um remédio e você vai ficar boa.

– É muita gentileza a sua. Ta, pode ser. Eu nem sei onde fica a enfermaria. – Lyssa sorriu e aceitou a ajuda para se levantar.

As duas saíram juntas e Val levou-a para enfermaria e depois de volta para a sala. Antes de abrir a porta da sala de aula, Valerie disse:

– Não vamos competir pela coroa de miss popularidade, podemos dividir. O que acha? Eu não acabo com a sua vida e você não tenta acabar com a minha. Aí eu deixo você andar comigo e podemos ser amigas – ela sorriu, esperando a resposta, que logo surgiu.

– Trato feito. Mas você ainda vai ter que provar que merece – ela sorriu, feliz.

Entraram na sala, seguidas pelos olhares dos alunos, e a aula continuou. Mais uma aula se passou e chegou o tão esperado momento de voltar para casa. O sinal tocou e de repente os corredores ficaram novamente lotados. Lyssa foi andando normalmente para a saída, sozinha. E o que não esperava aconteceu.

Não havia nem chegado ao portão quando a chuva despencou do céu. Para alguém sem sombrinha, ir a pé para casa era pedir para ficar resfriada. Olhou para cima e as gotas caíram no seu rosto. “Merda. São esses momentos que fazem pensar que seria melhor ter carteira de motorista”, pensou. Mas então criou coragem e foi para a calçada da frente da Academia, caminhando rápido para chegar logo. Não havia passado nem dois minutos e ela já estava encharcada. Pensar que ainda faltavam umas dez quadras a fazia se arrepender de não ter ouvido a mãe quando esta lhe disse para entrar na autoescola.

Andou duas quadras e ouviu um carro buzinar. Ela olhou para o lado e no mesmo instante um carro parou bem ali. O motorista abriu o vidro e Lyssa percebeu que era seu colega, Chris.

– Entra aqui Lyssa! Eu te dou uma carona!

Ela não pensou duas vezes e entrou, sentando-se no banco ao lado do motorista, onde já tinha um plástico para não molhar o carro por dentro.

– Obrigada, mesmo.

– Não precisa agradecer. Pode usar essa toalha para se secar e pega aqui o meu casaco, é bom se aquecer pra não ficar doente. Não quero te ver pior do que já estava hoje.

– Chris, você já está fazendo demais por mim! Calma, eu estou bem! – ela riu, mas aceitou. Enquanto usava a toalha azul clarinha que ele havia lhe emprestado, explicou onde morava e logo chegaram.

Pararam em frente a uma casa de dois andares de um verde claro com detalhes em um tom mais escuro, com um portão marrom na frente, que se ligava à casa através de um teto em forma de meia lua e um caminho feito de pedras. Dos dois lados desse caminho tinha um lindo jardim bem colorido com tantos tipos de flores que era impossível saber todos só olhando de longe. Chris estacionou o carro e Lyssa devolveu o casaco.

– Obrigada por tudo. Até amanhã! – ela sorriu para ele e se despediram.

Correu até onde começava a parte coberta, abriu o portão e entrou. Cumprimentou a mãe e o irmão, Lucas, e subiu para o quarto. Jogou a mochila em cima da cama, pegou a toalha que estava estendida e foi tomar um banho, lembrando-se de tudo o que havia acontecido no seu primeiro dia de aula na nova escola.

Já longe, Chris olhou para o banco ao seu lado e só então notou que a garota nova tinha deixado cair uma pulseira com “Lyssa” escrito nela. Segurou o acessório, notando como era lindo, e guardou em sua mochila para devolver no dia seguinte. Encostou-se no banco e sorriu, lembrando dela. É, aquele tinha sido um bom dia.