Fazendo Meu Filme 5 - O Casamento Da Fani escrita por Gabriela


Capítulo 18
Capítulo 17


Notas iniciais do capítulo

Oi!
Nem demorei tanto não é? Uma semana, mais ou menos.
Eu queria começar agradecendo à linda Maria Mellark Odair, que deixou uma recomendação para a minha fanfic. Muuuuito obrigada, Maria!
Espero que gostem!



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Ana Elisa

Bati na porta, sentindo a chuva fina e fria pinicar a minha pele. Chequei as horas. Quatro e trinta e cinco da madrugada, e cá estou eu, a três mil, oitocentos e quarenta quilômetros do que eu resolvi chamar de casa. Bem, do que eu costumava chamar de casa.

Vocês podem imaginar a surpresa da Tracy ao abrir a porta do apartamento que ela divide com o Christian, o meu rosto inchado, resultado de um choro incessante.

Vê-la ali me fez lembrar que eu deveria estar atrapalhando, afinal, eles haviam acabado de marcar a data do casamento, deveriam estar atolados de coisas para fazerem. Mas, naquele momento, me permiti ser um pouquinho egoísta e atirei-me em seus braços, chorando horrores.

– Ana? O que? – ela tentou formular uma frase, ainda desorientada por ter sido acordada no meio da noite. Tudo bem que na Califórnia são três horas a menos, mas ainda assim é madrugada.

– Por favor, só... me deixa ficar aqui essa noite. – supliquei.

Ao contrário do que pensei, ela não me fez nenhuma pergunta, apenas me sentou no sofá e me acalmou, ofereceu água – que um sonolento, mas prestativo Christian prontamente foi buscar – e me pôs para dormir no quarto de hóspedes.

Tive uma noite conturbada e cheia de pesadelos e em todos eles o Dan estava presente. Acordei às nove (que na verdade era meio dia, pois ainda estava no fuso da Filadélfia), sem a mínima vontade de permanecer acordada. Apenas levantei, escovei os dentes e me joguei de novo na cama. Mas, antes que eu pudesse voltar a dormir, a Tracy entrou.

– Aninha? – sussurrou – Está acordada?

– Sim – falei, me virando para a porta.

– Oi... – ela disse, sentando-se na beirada da cama e apontando uma bandeja – Trouxe seu café da manhã.

– Não precisava.

– Quer conversar sobre o que aconteceu? – perguntou, espalhando geleia numa torrada e dando uma mordida. Não resisti e peguei uma também, apoiando minhas costas na cabeceira da cama.

– Na verdade, não. Não vou te encher com os meus problemas, você já tem muito a resolver com o casamento e tudo o mais...

– Nada disso, Ana! Eu sou sua amiga. E o casamento é só em setembro! Temos tempo!

Suspirei, mas contei tudo que havia acontecido.

–X-

Flashback

“Cheguei em casa, encontrando tudo escuro. Estranho. O Dan normalmente já teria chegado a essa hora.

Fui surpreendida com sua imagem carregando dois pratos.

– Ah, você chegou. – ele disse, enquanto retirava os pratos da mesa. Acendeu, então, a luz – Surpresa. Ou seria uma, duas horas atrás.

Olhei para a sala, toda decorada romanticamente com velas e rosas. Estava lindo!

– Uau, isso tudo é para mim? – perguntei, boquiaberta.

– Era, mas o sushi estragou – ele falou, magoado.

– Me desculpa, é que hoje não foi um bom dia.

– Eu te pedi para chegar cedo, Ana! Poxa! - reclamou

– Desculpa, ok? Prometo que compenso para você depois! Hoje não é um bom dia.

– Ah, é? Posso saber o porquê ou só daqui a duas horas também?

Caramba, ele estava muito chateado.

– Hoje é o aniversário de morte do Felipe. – falei, sentindo os olhos marejarem.

O meu dia tinha sido um inferno na terra, a todo minuto o Fê me vinha à cabeça.

– Ah, o ex-namorado de novo! Eu deveria ter imaginado! – ele disse, com uma ironia que partiu meu coração.

Eu sei, já fazia muito tempo, mas o Fê foi uma parte importante da minha vida e eu ainda sentia a sua morte, não como namorado, mas como alguém querido.

– Não tem um dia que você não fale dele, pelo amor de Deus! Eu já entendi que ele foi uma grande parte da sua vida, mas precisa me lembrar disso a cada minuto? Caramba! – ele continuou, agora elevando o tom.

Surpresa, fiquei parada tentando absorver o que havia ouvido. O olhei, muito estupefata para falar qualquer coisa. O que?

– ‘Tá falando sério? – perguntei

– Claro! Você acha que eu gosto de ouvir todos os dias como ele era perfeito, como fazia de tudo por você, como morreu por você?

– Dan, eu...

– Não! Eu não consigo competir com um cara morto, Ana Elisa, não dá! Para mim já deu!

– O que? – exclamei, segurando seu braço ao vê-lo deixar a sala

– Sabe porque eu te pedi que chegasse mais cedo? – ele sorriu amargamente, colocando a mão no bolso e tirando de lá uma caixinha preta, depositando-a em minha mão – Eu ia te pedir em casamento, Ana. Eu demorei para criar coragem, você sempre pareceu tão livre que nunca achei que fosse gostar da ideia de se casar comigo. Bem, parece que no final eu estava certo, mesmo que o motivo seja outro.

– Para com isso, Dan, eu te amo! - supliquei

– Não dá mais, Ana.

Fui tomada por uma raiva súbita. Eu estava passando por várias mudanças drásticas de humor ultimamente, sem explicação.

– Então é assim? – gritei, quando ele já estava quase na porta, indo até o seu encontro – Vai desistir da gente?

– Eu já cansei de lutar por você e não ter reconhecimento! Será que eu tenho que morrer também para que você me note? – ele gritou, com raiva

Desferi um tapa em seu rosto. Eu estava cega de raiva a essa altura.

– Quer saber? – gritei, subindo as escadas – Você fica, quem está saindo agora sou eu! Não preciso aguentar suas teorias malucas de que eu ainda amo um cara que, e você fez muita questão de frisar isso, JÁ MORREU!

– Isso! Vai embora! – ele gritou de volta

À essa altura, eu já estava arrumando uma pequena mala e pondo alguns dos meus pertences dentro. Joguei coisas como escova de dentes e escova de cabelo dentro da minha bolsa e fechei a mala.

– Adeus. – falei, descendo as escadas e batendo a porta.

–X-

– Uau. – ela disse, quando terminei.

– Pois é.

– Eu nem sei o que dizer, amiga. – Tracy falou, enquanto me abraçava.

– Vamos só falar de outras coisas, ok? – pedi

– Tudo bem – ela concordou.

Terminamos o nosso café conversando amenidades.

– Cadê o Chris? – perguntei

– Ah, ele foi resolver umas coisinhas no set e disse que já estaria de volta.

– Desculpa por ter acordado vocês, mas eu não tinha mais para onde ir e ficar na Filadélfia não era uma opção. – me desculpei

– Não tem problema, Aninha.

– Vocês têm a chave do apartamento aqui? – perguntei, lembrando do nosso antigo lar.

– Sim. Você quer ir para lá?

– Eu prefiro, para não incomodar vocês. – falei

– Não é incômodo nenhum, juro!

– Mas eu acho que preciso passar um tempo sozinha, sabe? Tentar entender o que aconteceu exatamente...

– Tudo bem então, mas eu acho que ele está meio empoeirado, faz um tempo que não vamos lá!

– Melhor ainda – eu disse -, não há melhor terapia que faxina!

– Tudo bem então! – Tracy falou.

O resto do dia foi resumido em limpar as coisas no apartamento e comprar alguns suprimentos no supermercado, pois lá não tinha nada.

Fui deitar já eram mais de onze da noite (duas da manhã para mim), mas mesmo com o esforço do dia, não consegui dormir.

–X-

Olhei para o relógio no criado-mudo pela milésima vez essa noite. Quatro da manhã. E lá se vai mais uma noite sem dormir.

Olhei ao redor, estava no meu antigo quarto, na época em que a Fani e eu morávamos juntas. Não nos desfizemos do apartamento porque ele é muito bem localizado e ajuda na hora de hospedar alguma visita que porventura apareça.

Relembrei os ‘velhos tempos’, quando eu ainda não fazia a mínima ideia de quem era o Dan. Por consequência, não sabia o que era amor. A única exceção foi o Felipe, o meu ex-namorado que morreu em um acidente de carro. O Dan me mostrou que nem tudo vai terminar em tragédia, que sempre há uma segunda chance.

Bem, talvez não para nós.

A verdade é que começamos cedo demais. Nos conhecíamos a pouco tempo, mergulhamos de cabeça sem saber a profundidade. Não me arrependo, mas talvez o Dan sim.

Relembrei nossa última discussão, cada palavra, cada detalhe. Éramos duas pessoas gritando um com o outro. Eu falei sem pensar, ele também. Eu sei disso. Foi a pior noite da minha vida.

Depois da discussão não consegui continuar no mesmo ambiente que ele, mas não tinha nenhum lugar para ficar na Filadélfia. Peguei, então, um avião e vim para a Califórnia.

Tenho que confessar, no meio do caminho bateu uma vontade de voltar, mas não dá para dar meia volta num avião prestes a aterrissar.

Usei o tempo que tinha dentro da aeronave para pensar. Pensei em tudo que nos aconteceu, os desafios que enfrentamos, a recusa da minha mãe em aceitar o Dan. Tudo mesmo.

Não entendia como passamos por tantos desafios para desistirmos assim, a 200 metros da linha de chegada.

Já se passaram dois ou três dias desde a nossa briga. Nenhuma mensagem ou ligação. Nada.

Cheguei a pensar que talvez esse seja mesmo o fim, mas me recuso a aceitar. Preciso lutar pelo nosso amor! A única coisa que me preocupa é se o Danilo também está disposto a lutar, ou se acha que não vale a pena.

Alguém tocou a campainha, me fazendo perceber que talvez já fosse dia aqui na Califórnia. Não me culpem, ainda estou fatigada pelo jet lag¹ e pelas noites mal dormidas, não me ajustei ao fuso californiano. Ouvi o barulho da campainha de novo, mas não me preocupei em levantar. Quem quer que estivesse na porta perceberia que eu não estava afim de abrir a porta e iria embora.

Devo ter pegado no sono de novo, pois acordei com alguém me sacudindo de uma maneira nada legal.

– Aninha! – abri os olhos, sonolenta, para dar de cara com a Fani. Oi?

– Fani? – perguntei, me sentando na cama, enquanto ela abria as cortinas e deixava a (não bem vinda) luz do sol adentrar o quarto.

– Oi! Você acredita que eu tive que voltar em casa para pegar as chaves porque você não abria a porcaria da porta? – ela disse, enquanto arrumava a bagunça do quarto.

Eu, ainda zonza de sono, tentava processar o que estava acontecendo. Cansada e confusa, só a observava ir de um lado para outro, transformando o que antes parecia o caos em um quarto de revista de móveis. Ela passou então, para a cama, começando a arrumá-la. Só tinha um probleminha: eu ainda estava nela.

– Será que dá para você levantar e ir tomar um banho enquanto eu termino de arrumar aqui? – ela perguntou (leia-se ordenou), com as mãos na cintura e uma pose que me lembrava a minha mãe.

– ‘Tá – murmurei, seguindo para o banheiro.

No banho, sentindo a água gelada na minha pele, tirei o shampoo, enquanto pensava. Era só o que eu fazia ultimamente, pensar. Pensar no não deveria ter dito, não deveria ter feito. Mas, principalmente, no que deveria ter dito, mas não disse. Não tinha mais forças nem para chorar, acho que sequei meu reservatório de lágrimas.

Terminei de lavar o cabelo e vesti uma calça de moletom e uma antiga blusa do Dan, que eu trouxe por engano. Acho que esse é o uniforme de quem está na fossa, não é mesmo?

– Deus, Ana! Você está péssima! – ela disse, desviando os olhos do que quer que ela estivesse fazendo no fogão, para me encarar.

– Ah, muito obrigada pela consideração! – reclamei

– Cala a boca, senta e come. – ela mandou, servindo duas panquecas em um prato.

Olhei para ela, que sentou de frente para mim e perguntei:

– Não vai comer?

– Já comi, não se preocupe. – ela disse, me dando um leve sorriso.

Dei algumas garfadas e perguntei:

– Há quanto tempo está de volta?

– Cheguei ontem pela manhã. Só não vim antes porque estava uma bagunça lá em casa. - explicou

– Como foi a lua de mel?

– Eu sei o que você está fazendo, Aninha. Está me fazendo falar da minha lua de mel para que eu me esqueça de você. Bem, não vai acontecer, então desembucha. – ela falou.

Sem me conter, despejei tudo.

– Oh, Ana! – ela suspirou, afagando minha mão que repousava em cima da mesa.

– É...

– Mas e aí, o que planeja fazer? – perguntou – Vocês precisam conversar e se entender e o Leo me disse que ele está péssimo. E você também está. – fiz uma careta e ela completou – Foi mal.

– Eu nem sei o que dizer caso encontrá-lo, ainda tento entender tudo que aconteceu.

– Podia perguntar o porquê dele se sentir assim, porque nunca falou disso antes, talvez. Mas tudo bem, depois falamos disso. Quer ir no shopping para distrair um pouquinho? - perguntou

– Shopping num sábado? Vai estar cheio de gente! Tudo que eu menos quero agora é ficar no meio de um bando de pessoas.

– Garota, você foi abduzida? Hoje é terça-feira!

– Terça, já? – exclamei, confusa – Ainda estou no fuso da Filadélfia.

– Parece mais com o do Japão. Vamos ou não?

– Vamos, só me deixa trocar de roupa! – falei, estava na hora de sair de casa.

–X-

1- alteração do ritmo biológico de 24 horas consecutivas, que ocorre após mudanças do fuso horário em longas viagens de avião


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Notas finais do capítulo

Vocês não sabem o quanto demorou fazer esse capítulo. Eu o comecei no mesmo dia que postei o último e devo ter terminado na quarta, mas ao longo da semana me surgiram ideias e eu fui fazendo as alterações. Eu queria falar tudo, mas ia ficar imenso, então aqui vai o ponto de vista da Ana sobre a briga e tudo o mais.
O próximo será do Danilo e depois voltamos ao normal com a Fani e o Leo, ok? Deixem seus comentários sobre o capítulo! Beijos de luz!