No prédio havia um enorme saguão vazio, com apenas a porta de entrada do edifício, e as escadas no final do local. A atmosfera do local estava pesada, como se faltasse oxigênio.

Desci as escadas do prédio com Liz nas minhas costas, ela parecia ter chegado ao seu limite.

–Aguente mais um pouco, por sorte não tem ninguém nos seguindo. – Comentei tentando fazer com que ela dissesse algo, realmente estava preocupado com o fato de estar tão frágil. A garota que tinha uma personalidade forte, fazendo questão de proteger as pessoas, está com a testa na minha nuca, derrotada demais pra responder algo.

Quando cheguei ao saguão encontrei outros dois fregueses. Artie, um garoto de óculos com uma personalidade um tanto cômica que se irrita facilmente com Amy. Sei pouco sobre esses dois, mas, no encontro que tive com Liz consegui perceber que eles usavam o uniforme do mesmo colégio. Supus que são amigos inseparáveis por alguma razão, e não aguentam um ao outro.

A única vez que os vi no jogo eles estavam conseguindo bolinhos na loja de Cupcake, e quando Liz foi tentar conseguir também, a loja desapareceu. No dia eles estavam um tanto tranquilos, provavelmente não aconteceu nada de ruim com eles até lá, mas, no momento eles estavam parados no começo do saguão, olhando pra mim sem mover nem um único músculo.

Alguns segundos depois de vê-los, uma porta de ferro se materializou na entrada e se fechou com um estrondo, fazendo Amy ficar descabelada. A garota se virou para a porta e começou um escândalo, batendo seus punhos na porta e gritando desesperadamente pra que a deixasse sair.

–Não quero mais ficar aqui Artie! – Ela disse a ele desesperada. – Disse que era uma má ideia!

Artie me olhava tenso, até se virar pra ela.

–Pare com isso. – Ele disse simplesmente. – E você não disse...

–Artie. – Ela disse com os olhos lacrimejando.

Desci os últimos degraus da escada com calma e andei até eles. Prendi meu olhar em Artie, que parecia preparado pra sair correndo. Tenho certeza que o jeito em que eu o olhava era suficiente pra dizer que não queria lutar. Ele pareceu entender e então lançou um olhar reprendedor a Amy.

Ela pareceu ficar intimidada por ele, virando o rosto por alguns segundos. Depois olhou pra Liz enquanto eu a colocava no chão próximo a porta, Liz se encolheu e tampou o rosto com os braços. A garota se aproximou e mantive-me perto.

–Ela está ferida? – Ela perguntou pra mim.

Balancei a cabeça negativamente.

–O que aconteceu com vocês? – Perguntou Artie.

Contei a ele tudo o que aconteceu desde que cheguei ao prédio até esse ponto. Ele ouviu tudo com atenção, Amy se sentou ao lado de Liz. Os dois pareceram extremamente espantados no momento em que mencionei que os outros fregueses vivos estavam supostamente no último andar, e que eu não fazia ideia da razão de ninguém ter morrido no disparo em que a freguesa sete causou quando fugi pelas escadas de emergência.

–As escadas de emergência desapareceram do nada? – Repetiu Artie perplexo.

–Só os degraus que eu ainda ia descer. – Respondi. – Como vieram parar aqui?

Artie e Amy se entreolharam, pareciam estar pensando numa resposta.

–Agente só cochilou e do nada aparecemos aqui. – Amy disse cruzando os braços.

Encarei-a com desdém.

–Mentirosa.

–É melhor contar tudo logo, que saco Amy. – Concluiu Artie.

–Mas Artie... – Ela começou.

–Conta logo! – Cortou impaciente.

–--x---

Amy observava tudo da janela de um dos diversos edifícios. Reconheceu Liz correndo com um garoto de cabelos loiros claríssimos. Eles fugiam de uma garota de cabelos pretos que girava uma arma um tanto ameaçadora.

As garotas trocavam insultos altos o suficiente pra que todos ouvissem. Sam parou de correr e se encolheu no chão, então Liz parou junto ativando seu escudo prateado e apontando-o pra caçadora. Lola parou de se mover hesitante.

Nesse mesmo momento se materializou uma loja de Cupcakes igual a que Amy e Artie usaram pra conseguir Cupcakes.

Amy levou um susto quando percebeu que Artie estava atrás dela observando tudo junto com ela.

–Vá se... – Começou a garota colocando a mão no coração.

–Olhe só, aquela loira entrando na loja. – Ele disse.

Uma garota alta segurando um arco na mão direita entrando na loja.

–O que tem ela?

–Olhe mais um pouco. – Disse Artie cruzando os braços.

–Você é idiota? Ela já entrou. – Devolveu Amy.

–Aii, to falando que tem mais duas pessoas indo pra loja.

Amy olhou em direção a rua e viu uma dupla de gêmeos abrindo a porta e entrando.

–Eles nem viram a loirinha. – Disse uma voz desconhecida.

Amy e Artie deram um pulo para lado agarrando um no outro.

–Há quanto tempo você está ai? – Perguntou os dois em uníssono.

A garotinha levantou os ombros inocentemente e sorriu.

–Achei que estivesse dormindo Moly. – Disse Amy se aproximando dela.

A conversa foi interrompida pelo barulho de armas se chocando. Os três se aproximaram vacilantes da janela. Lola havia dado o primeiro golpe em Liz, que pareceu defender com firmeza. As duas começaram a lutar, mas nenhuma das duas se machucou até que um garoto começou a se aproximar delas.

Jake corria em direção a elas de forma inútil.

Depois disso foi tudo muito rápido, quando os três espectadores se deram conta Lola e Amber, a garota do arco e flecha estavam mortas.

Artie olhou para o lado e espantou-se, Moly estava com um rifle na mão com suas pupilas trêmulas.

–Mas o que... – Começou Artie desesperado.

–Moly?! – Amy chamou chocada.

A garota parecia uma boneca, apoiando a arma perigosa na janela. Sem hesitar ela disparou um tiro.

Amy se jogou em cima de Moly. Artie recuou alguns passos pra longe da janela.

–Por que fez isso? – Ela perguntou com calma.

–Ele mereceu. – A garotinha disse com lágrimas nos olhos.

Amy se viu diante de uma situação incontrolável.

–As crianças más merecem isso. – Ela disse com raiva. – Crianças más devem sofrer pra aprenderem!

A garotinha rastejou pra longe de Amy e correu pra fora do apartamento.

Depois de alguns instantes Artie resolveu quebrar o silêncio.

–Vamos segui-la.

–O que? – Perguntou Amy incrédula.

–Você ouviu bem, chega de, fugir de tudo isso. Chega de tratar isso tudo como se fosse acabar daqui a pouco, como se, nada fosse sério. – Disse Artie pausadamente quase pra si mesmo.

Amy demorou alguns instantes pensando, mas assentiu determinada. Assim começaram a correr na direção que a garotinha corria.

–---x----

Quando finalmente Amy a alcançou os três estavam ofegantes.

–Me deixem em paz!! – Implorou a garotinha se soltando da mão de Amy. – Só quero ficar sozinha, eu sou como eles. Eles nem são meus pais de verdade. Eu sei que só ficaram comigo por pena. – A garota começou a conversar consigo mesma distraída.

–Moly... – Começou Amy.

–Me deixe em paz! – Dessa vez Moly se soltou e gritou pra que não fosse seguida correndo e entrando num prédio na sua frente.

Artie se aproximou de Amy e sussurrou:

–Tem alguém chegando vamos nos esconder.

–Ok. – Respondeu a garota cansada demais pra contrariar.