Um Outro Conto de Fadas escrita por Ryuuzaki


Capítulo 9
Olhares, Cacos, Tiros - parte 3




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Não foi difícil para o caçador se desviar do ataque da criatura. Muitas vezes antes tivera que fazê-lo para sobreviver. O golpe vinha extremamente rápido e caso o inimigo já estivesse em vôo quando o perigo fosse percebido, poucas pessoas teriam chances de sobreviver à investida sem levar nenhum dano. No entanto, havia alguns sinais - estes já conhecidos por Owen -, que tornavam aquela tentativa de assassinato simplória de se evitar. Por esse motivo, assim que o insano vingador percebeu que seu oponente baixou suas pequenas asas, grudando-as em suas costas, e esticou levemente os braços deformados para trás, soube que era o momento de mexer-se, dando dois pequenos passos para o lado e saindo da linha de fogo do ataque da fada, sabendo que ela não alteraria sua rota em pleno vôo. O caçador observou a criatura golpear o vento e esperou que ela o encontrasse. Em seu rosto não mais havia o sorriso jovial e brincalhão que mantinha no rosto desde que entrara em cena. Não, ele não parecia a pessoa um tanto quanto idiota que demonstrara segundos atrás. Seu olhar era o de um assassino.

 

A fada farejou o ar e rapidamente virou-se, ainda um pouco confusa. Deu de cara com seu inimigo jurado e sibilou em direção a ele, e, mesmo não conseguindo compreender expressões humanas, achando-os todas iguais, não deixou de hesitar por um segundo diante do olhar sombrio e do ar de seriedade e desprezo que envolvia aquele que caçava seu povo. Assim que pensou em realmente atacá-lo, tirar sangue do desgraçado e vingar a morte daqueles do seu povo que pereceram, já era tarde, pois a pesada bota de Owen havia acertado o seu tórax. A criatura foi projetada para trás, não conseguindo agüentar a força do chute e se chocou dolorosamente suas costas contra a porta do quarto.

 

Owen se adiantou, sem perder um milésimo sequer, e correu imponentemente, com suas botas pulverizando os cacos de vidros do chão e sua camisa de botão esvoaçando pelo caminho que fazia. Em instantes alcançou o monstro que, devido ao choque, ainda estava um pouco atordoado. A criatura tentou acertar o caçador com uma de suas garras, mas estava tonta e seu golpe foi ineficaz, sendo facilmente evitado pelo adversário. O louco estava empunhando sua “espada”, no entanto não fez uso dela, parecia divertir-se, mesmo que seu rosto mostrasse o contrário, sentia um prazer maligno em lutar contra aquele tipo de criatura e não pretendia matá-la naquele momento, por isso, limitou-se a aplicar uma joelhada onde deveria estar localizada a boca do estomago do monstro, golpe que fez dobra-se sobre a barriga.

 

O monstro sentia dor, disso Owen sabia. Mas também tinha o conhecimento de que ele era muito mais resistente que um ser humano e que não estava fazendo nada além de irritá-lo e admitia para si mesmo que só conseguia levar a luta daquela maneira porque havia surpreendido seu adversário.  Precisaria de mais do que socos e chutes para acabar com a vida de seu inimigo jurado e mesmo sua poderosa pistola precisaria de alguns tiros para acabar com a criatura. Ele estava brincando com o monstro. Descarregando uma raiva que já era parte de sua persona. Queria ver aquilo sofrer, queria fazê-lo sentir o máximo de dor que conseguisse infringir, para então mostrá-lo que morreria ali, naquele mundo que odiava e então trabalhar para que a criatura sentisse o pavor  daqueles que sabem que vão morrer. Por isso, chutou mais uma vez o ser na sua frente - desta vez com a ponta de sua bota - e de novo e de novo.

 

O quarto golpe daquela seqüência não foi tão bem sucedido quanto os outros. A surpresa passara e a fada já estava se situando naquele duelo, começando a resistir aos chutes de Owen, que mal lhe causavam dor, embora tivessem assustado no começo. O pequeno monstro não era um grande estrategista, era dotado apenas de uma inteligência pouco acima do puro instinto, no entanto isso foi o suficiente para perceber que não podia continuar acuado, portanto, assim que notou que mais um ataque vinha, estava preparado.  Não teve dificuldades em agarrar o pé do seu inimigo em meio ao chute devido a seus reflexos apurados, então, utilizando a força sobrenatural que sua magia lhe conferia, somando com a vontade de matar e a raiva por apanhar de um ser inferior, empurrou o humano para trás, querendo que ele caísse e lhe desse espaço para se movimentar. O plano funcionou e em instantes Owen se desequilibrava e caía para trás, sendo empurrado pela fada, que já se preparava para pular atravessá-lo com suas longas garras assim que ele tocasse o chão.

 

Já sabendo do perigo que corria o caçador não se deixou simplesmente cair, isso seria sua perdição. Assim que sentiu suas costas tocando o piso frio do quarto, pressionou seu queixo contra o peito - para proteger seu pescoço e cabeça - e trouxe os joelhos em direção à cabeça, utilizando o impulso da queda para projetar-se para trás em uma cambalhota.  O movimento fez com alguns pequenos cacos de vidro penetrasse nas costas de Owen, mas esse foi um preço pequeno, já que tal ato foi necessário para salvar sua vida, escapar do ataque da fada.Os dois combates fizeram suas peripécias simultaneamente e em velocidades quase idênticas, era como se estivessem numa coreografia, onde o golpe da fada foi acompanhando artisticamente a esquiva do caçador, errando por uma pequena disparidade em suas freqüências.

 

Quando o monstro aterrissou no chão foi acompanhado de um baque abafado, enterrando então suas afiadas garras – agora decoradas com um pano quadriculado - até a metade no piso, esperava encontrar a carne de seu inimigo, no entanto, em meio ao seu pulo, a única coisa que conseguiu fatiar foi um grande retalho das costas da camisa quadriculada de Owen, denotando que ele havia escapado por pouco e teria sido atingido na região da barriga caso não estivesse em meio à sua cambalhota.

 

A fada imediatamente percebeu que não havia tirado sangue do caçador e pretendia remediar este fato. Ela voltou sua cabeça para frente, direção a qual sabia que seu adversário havia escapulido e pensou em atacá-lo imediatamente caso ele ainda estivesse se levantando. No entanto, Owen já estava em pé, com sua Sword Cutlass apontada para o focinho do monstro e preparada para atirar. Não conhecendo o poder da arma e nem entendendo o que era aquilo nas mãos do humano, Ick-renor guinchou em direção ao objeto, querendo intimidar seu inimigo.

 

Owen ainda mantinha lançava seu olhar sombrio para a fada e seu semblante ainda era de escárnio, nojo e ódio, mas quando falou sua voz foi estranhamente apática e não raivosa como seu estado sugeria.

 

- Era minha camisa preferida.

***

 


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Notas finais do capítulo

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Esta história esta sem beta, se alguem se dispuser, fico agradecido :B