Um Outro Conto de Fadas escrita por Ryuuzaki


Capítulo 8
Olhares, Cacos, Tiros - parte 2




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/40957/chapter/8

...

Ick-renor.


Era como se chamava a criatura.


Não era uma nomenclatura para usa espécie, como um termo cientifico, mas sim seu nome próprio – ao menos pelos moldes de sua cultura.


 Ele – pois o monstro era do gênero masculino – fora incumbido pessoalmente pelo líder dos seus para pegar o dente da pequena garota. Havia conseguido, mas, por algum motivo que desconhecia, a garota havia escapado do sono provocado por sua presença. Seus semelhantes veriam isso como piada, sua fêmea o rejeitaria, mas ao menos havia ganhado o direito de ter um belo banquete. Não iria ter muito trabalho, bastava dilacerar, com suas garras, a pequena “irtinkwa” – modo como sua raça chamava os humanos desde tempos imemoráveis – e voltar para as “terras reais”, bastando atravessar a membrana que separava as duas realidades.


Mas as coisas não saíram muito bem como havia imaginado. Afinal, alguém simplesmente havia se jogado para dentro do quarto, pela – segundo a opinião do monstro - abertura inútil que os humanos chamavam de janela.


Ick-renor perdeu o ímpeto. A fome desaparecera, o instinto assassino cessara e até mesmo o conhecimento de que havia uma garota logo atrás dele, pronta para ser morta, fugira de sua mente. Alguns segundos se passaram, no qual o intruso, aquele que atrapalhara o seu jantar, simplesmente ficou parado, tirando os pequenos cacos de vidro do próprio corpo – rindo por vezes de alguns dos ferimentos -, mas a criatura do “outro lado” não conseguira entender a situação, seu cérebro semi-primitivo não era muito acostumado com eventos súbitos e inesperados como aquele.


Após algum tempo a mente pouco desenvolvida do ser – quem sabe menos eficiente apenas para os padrões terrestres – começou a fazer ligações e a se lembrar de uma história passada por muito a muito tempo pelos seus companheiros. Pedaços desconexos de uma antiga lenda invadiram seu centro nervoso, tudo confuso, partes separadas, aleatórias.


Um homem. Um garoto Irtinkwa. Ia atrás de alguém, corria. Chora e é fraco, como os outros de sua terra maculada. Adentra nas “terras reais”, sem saber como chegou. Foge com medo, tenta escapar de algum dos moradores de onde se encontra, não é bem vindo. Escapa para a terra maculada, outra terra. Ele quer algo, não se contenta com a vida que preserva, Irtinkwa são assim. Histórias são feitas, contos sussurrados, ele é conhecido... Uma lenda, um mito. Um perigo.


Só agora sabia, o intruso era perigoso. Ick-renor odiava estar longe de seus companheiros por esse motivo. Tudo ficava mais difícil de entender e memória era algo pouco eficiente. Isso não era problema na maioria das vezes, mas dessa vez fora interrompido em sua coleta. Queria seus amigos, precisava estar com seu bando mais uma vez. Mas, sabia que não poderia voltar. Não agora, não sem destruir aquele que já causara mal para o seu povo. Se voltasse de mãos vazias para sua terra o matariam, seria morto se deixasse o Irtinkwa viver, morreria se não começasse a se mexer.


Não tinha escolha.


O monstro conseguiu se restabelecer e preparou-se então para atacar seu inimigo, sabendo que mataria ou morreria. Aprumou-se para um novo pulo, como o que dera na tentativa de atingir a garota, só que desta vez iria com a intenção de matar e não de mutilar como outrora – o que dera chance da criança escapar -. Começou sua investida, crente de que atingiria o alvo, mas, suas garras encontraram apenas o vazio, nenhuma carne, nenhuma vitima, apenas o ar fétido daquele lugar amaldiçoado... Maculado. O intruso havia evitado o ataque, o golpe que o morador das “terras reais” julgara ser perfeito.

 

Á Ick-renor não havia escapatória.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

==============================================================
demorou por pura preguiça...
well, não gostei das ultimas passagens, mas achei interessante escrever essa parte.