Stardust - The Falling Star escrita por Tothless


Capítulo 2
Capítulo 1 - Esfera de Fogo e Luz.


Notas iniciais do capítulo

Olha só, finalmente o primeiro capítulo de Stardust sendo postado!

Pois é! Demorei para escrever porque queria algo grande e com detalhes, mas estava sem inspiração. D:

Ah! Nesse capítulo haverá alguns detalhes importantes, então prestem bastante atenção, ouviram? Espero que gostem! ♥



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Apesar da distancia do muro, as luzes de Berk já podiam ser vistas do lugar em que estava; no alto de uma colina vazia, abaixo do céu estrelado e aberto. O muro ficava a mais ou menos três quilômetros da cidade, a caminhada que Soluço estava tendo demoraria basicamente vinte minutos ou mais, já que as pernas finas e longas do garoto se arrastavam afastando pedras do caminho com os pés, totalmente desanimado.

Chutou uma pedra do meio do caminho para longe, vendo-a rolar um pouco e parar no lugar mais longe que alcançou. Já deveria passar da hora que seu pai marcou como “horário de recolher”, provavelmente estaria muito encrencado quando chegasse em casa, mas não era isso que incomodava Soluço naquele momento.

– Volte para casa e pense um pouco, ele diz. – Reclamou, imitando a voz de Bocão, enquanto voltava para a cidade pelos gramados que separavam o muro proibido de Berk. – Mas é exatamente isso que eu faço: Penso! Ninguém nunca cruzou o muro, nem se atreveu a imaginar isso, mas quando surge alguém corajoso pra fazer isso...

Não terminou a frase. Agarrou o ar e apertou-o como se fosse a cabeça de alguém - muito provavelmente Bocão - esperando que a raiva que sentia se acalma-se um pouco, porém só o fez ficar frustrado consigo mesmo e levantar a cabeça para o céu, respirando fundo.

– Ah! Ótimo, que desculpa darei dessa vez? - Falava para o vazio, já que não havia nada ali além de vacas pastando tranquilamente e grilos. – Pai, resolvi ir caçar grilos na colina no meio da noite, por quê? É refrescante, você deveria tentar! – Suspirou ao imaginar a cara que Stoick faria ao ouvir aquilo e provavelmente acreditando, já que a fama de seu filho não era uma das melhores de Berk.

Segundo os boatos que percorriam a cidade, Soluço era lunático e imaginava coisas que não existiam, tudo por causa de uma aventura que teve na infância quando tinha apenas seis anos de idade e brincava próximo ao muro no turno de vigilância de seu pai: O jovem Stoick, por ser viúvo e não ter familiares próximos para cuidarem de Soluço, precisou levar o garoto consigo para o trabalho de vigilância do muro. Era madrugada quando o garoto acordou com barulhos e atravessou a passagem do muro, indo para o bosque e ficando lá até o amanhecer.

Como sobreviveu Soluço não se lembrava, só tinha lembranças de entrar no meio das arvores e perseguir algo, para então acordar na manhã seguinte deitado no meio do bosque e sair correndo para o muro, seguindo a voz de seu pai que o chamava.

Graças à essa pequena aventura quando criança, todos os dias tinha uma pequena sensação de que havia algo importante para lembrar e ali, em Berk, além de não ter amigos e falar sozinho, simplesmente não conseguia. Era como um bloqueio, um muro igual ao do bosque, que barrava os seus pensamentos e aumentava o volume dos cochichos das pessoas sobre si quando o avistavam.

Talvez seu próprio pai tivesse aderido aos cochichos e concordado que seu único filho fosse um lunático por causa de seus hábitos estranhos, como passar o dia fora e voltar trazendo bugigangas que encontrava pelo caminho para guarda-las em um pequeno baú.

Então, o que seria uma desculpa esfarrapada quando ninguém o levava a sério? Nada.

Respirou fundo, já se sentindo calmo, e continuou andando em direção de Berk. Deslizava pela colina, arrancando pequenos tufos de grama com as botas e perdendo a cidade de vista por alguns segundos, até subir na próxima colina logo em sua frente e alcançar o topo.

Desviou das vacas que se amontoavam ali em cima, pronto para descer novamente uma colina quando algo lhe chamou a atenção; uma explosão iluminou todo o céu, fazendo uma luz branca e distante cruzar a noite naquela hora.

– Uma estrela cadente! – Comentou contente com a vaca ao seu lado que também olhava a estrela. Apontando para o pequeno fecho de luz que passaria por cima da cidade a qualquer momento, fechou os olhos para fazer um pedido, como seu pai havia lhe ensinado ainda criança.

Pediu concentrando todos os pensamentos positivos que tinha naquele momento e abriu os olhos para ver o vazio que estrelas cadentes deixam quando desaparecem, mas não foi exatamente isso que viu. Esfregou os olhos totalmente assustado.

– Poderoso Thor, o que é isso? – Perguntou com a voz baixa.

O chão tremia loucamente sobre seus pés, fazendo as vacas correrem para todos os lados assustadas. Arregalou os olhos vendo uma incrível bola de fogo e luz caindo do céu, passando por cima de sua cabeça e deixando um rastro brilhante.

– Ela vai cair na terra... – Disse, vendo a proximidade que a luz estava ganhando do chão. – Ela vai cair! - Gritou, correndo junto com as vacas em direção ao muro.

Acompanhando a bola de fogo e luz, Soluço se aproximou correndo o mais rápido que conseguia do muro e encontrou Bocão petrificado, olhando para a estrela de olhos e boca aberta. A estrela passou pelo muro, indo em direção do bosque e ele sabia que ela estava caindo de verdade; perdeu altitude quando cruzou por ali e não passava de 20 metros de distancia do chão.

Aquela era a chance perfeita para atravessar o muro.

Relutou, vendo Bocão paralisado no mesmo lugar e na mesma posição, sabendo que ele não teria condições de barra-lo naquele momento se atravessasse a abertura correndo. Mas aquilo daria certo? Poderia dar errado, assim como das outras vezes que tentou.

– Ok, Soluço, é uma estrela que irá alcançar o chão em menos de 2 minutos e você pode nunca mais ter uma chance dessas em toda a sua vida. – Comentou consigo mesmo, tomando coragem para atravessar o muro. – Deixe de ser covarde e vá atrás dela, agora! – Então ele correu. Correu o mais rápido que conseguiu.

Passou por Bocão e o ouviu gritar seu nome quando pulou o pequeno pedaço de muro que ainda restava na abertura e correu mais ainda quando alcançou o bosque, sumindo entre as árvores.

******

As ruas movimentadas do vilarejo nunca paravam. As lojas, pousadas e tabernas nunca fechavam nas noites ou madrugadas, enquanto carruagens enfeitiçadas ou não sempre chegavam e partiam a todo o momento. E apesar de todo o movimento de cavalos e rodas, as pessoas andavam entre elas sem preocupação alguma de serem atropelados.

Fadas, elfos, bruxas, duendes, ciganos e até mesmo humanos, andavam de um lado para o outro. Carruagens com itens mágicos ficavam paradas nas calçadas de pedra, enquanto uma bancada era deixada na frente e curiosos paravam para analisar as mercadorias. Era uma total confusão e, em alguns lugares, multidões se formavam impedindo a passagem por aquele lugar.

Mas ele nem se importava em desviar de pessoas, carruagens ou paredes, já que ninguém conseguia toca-lo. Jack apenas atravessava as pessoas que estavam em seu caminho, sem se importar se era incomodo ou se as assustava; ele era apenas um espírito vagando por ali enquanto reclamava da “vida”.

– Canguru idiota, como se eu gostasse de ficar naquela espelunca de quinta! – Atravessou o corpo de duas ciganas que andavam no meio da rua, deixando-a arrepiadas por causa do frio que ele transmitia ao tocar as pessoas. – Espero que os macacos gigantes interditem o banheiro daquele lugar! - Estava totalmente enfurecido! Não que não houvesse sido expulso de algum lugar antes, mas era uma questão complicada a relação que tinha com o dono d’O Príncipe Amaldiçoado.

Antes de se tornar um espírito, ou melhor, antes de morrer, ele já conhecia aquele coelho rabugento na forma humana que ele tinha antes de ser amaldiçoado e tomar a forma do animal que era agora: era um príncipe jovem que havia fugido de seu reino para se aventurar em terrar desconhecidas. E assim surgira o nome da taberna mais frequentada do vilarejo.

Se conhecerem enquanto Jack corria de duendes e o príncipe caminhava olhando para cima. Esbarraram-se em uma pequena estrada que dava ao lago congelado das fadas do inverno, perto do vilarejo em que o garoto mais novo morava e, por algumas moedas de ouro, Jack o levou para a gruta amaldiçoada que havia nas redondezas.

Como no pior dos casos, não voltaram nunca mais.

Isso fora a mais de 300 anos atrás e desde então, como se fosse um carma, o espírito do garoto visitava o coelho todas as noites e ambos trocavam informações sobre a maldição que prendia o príncipe num animal. Todas as noites, até aquela:

– Quer saber? Cansei desse lugar maldito! – Praguejou alto, sendo ignorado por todas as pessoas em sua volta. – Vou deixar o vento me levar pra outro lugar e, quem sabe, nunca mais voltar! – Atravessando uma pequena multidão em frente a uma pousada qualquer, Jack sabia que já havia visitado muitos lugares em 300 anos e que não tinha muitas opções para sair voando sem destino.

Passava em uma das raras ruas vazias e cheias de becos da cidade, reclamando o quando o maldito coelho era rude e sem coração, quando sentiu algo se prendendo em si; um olhar. Suspirou, pronto para congelar qualquer criatura que estivesse lhe incomodando, mas algo pesou em seus ombros: Espíritos, apesar de não terem forma corpórea, tem instintos muito aguçados e quase sempre corretos. E aquele instinto que estava tendo tinha cheiro de encrenca. Justamente o que ele estava precisando!

Sorriu, parando de andar logo em frente ao beco, apoiando o cajado no ombro, apenas esperando o que estava por vir.

– Então você quer sair daqui, jovem? – Uma voz rouca e desafinada surgiu de dentro de um beco escuro, onde uma carroça amarela estava parada com uma velha sentada em seu acento. – Eu tenho uma coisa bacana pra você aqui. – Como sempre, ele estava certo.

Os olhos azuis de Jack se voltaram para ela, medindo cada centímetro que estava escondido na escuridão. Era pequena e tinha uma manta marrom cobrindo-lhe os ombros, com cabelos brancos presos em um coque estanho, e queixo muito avantajado como qualquer idoso com poucos dentes teria.

Bruxa, com certeza.

– Uma coisa bacana?

– É, uma coisa bacana. – Respondeu a velha, lhe sorrindo com o único dente que tinha na parte de baixo. – Tenho que me livrar disso logo, pessoas como eu não podem usa-la. – A velha saiu da carroça num pulo, sem usar as escadas e com o vento abafando sua queda no chão. – Pessoas como eu já tem coisas melhores, preciso dar para alguém antes que outras pessoas como eu descubram que a tenho.

– Pessoas como você? Bruxas, quer dizer? – A encarou, vendo-a gargalhar e segurar a própria barriga, depois recebendo um elogio como “garoto esperto” vindo da velha bruxa. – Ok, eu quero ver a tal “coisa bacana”.

– Aqui. – A mão calejada da bruxa estendeu em direção do garoto uma única chave dourada, trabalha em curvas e mais curvas no próprio metal. Um pequeno símbolo pintado em vermelho se escondia entre os dedos da bruxa sorridente que, vendo o olhar crítico de Jack, apenas disse. – É uma chave de invocação.

– Bacana. – Respondeu, analisando a chave de perto.

– Não é? – A velha bruxa riu de novo, já o incomodando com aquela felicidade toda. – Não posso tê-la, nem vendê-la, são as regras. Então, você aceita? - Se fosse vivo, provavelmente ele não aceitaria alguma coisa de desconhecidos, principalmente de bruxas. Mas ele não era, então o que teria a perder?

– Por que não? – A mão pálida de Jack se estendeu e a chave foi depositada cuidadosamente ali pela velha em sua frente, que suspirou aliviada quando se livrou do objeto. – Bem, então... Obrigado?

– De nada jovem, aproveite-a. – Com uma lufada de ar, ela estava novamente em cima da carroça com as rédeas do cavalo em mãos. – E eu também agradeço. – Sumiu de vista, junto com um vento forte que surgiu do nada, como se tivesse sido carregada por ele.

Estranho, muito estranho mesmo, mas já era tarde para voltar atrás.

Deu de ombros, jogando a chave na bolsa que carregava embutida no cinto de couro e retomando seu caminho sem rumo. Atravessando pessoas, vendo brigas no meio da rua e voltando para a movimentação da cidade, que era muito mais acolhedora do que o vazio dos becos. Decidiu dormir em cima da torre da pequena igreja de sacerdotes da cidade, junto com o sino, o que lhe ajudaria a pensar melhor sobre o destino que tomaria em sua nova viagem.

Acomodou-se entre os tijolos de pedra da torre, escorando-se à parede e deixando o cajado sobre as pernas. O vento batia levemente contra o sino e fazia-o balançar, mas não produzir nenhum som. Aquele lugar era, de algum modo, reconfortante para um espírito que não descansava realmente por 300 anos.

Além de que conseguia observar a cidade do lugar mais alto que havia por lá.

– Talvez eu deva ir para o reino dos MacGuffin passar um tempo lá, depois uma volta no povoado dos DingWall... – Comentou pensativo, relembrando poucos momentos em que esteve nos lugares que estava pensando. – É, nada mal. - Suspirou, pegando a chave de invocação do bolso e colocando-a em frente ao rosto para olha-la melhor já que não tinha nada mais para fazer.

Estava difícil olhar os detalhes gravados na chave com a pouca luz que fazia naquela noite, então Jack entortou a cabeça conforme girava o objeto entre as mãos, bem próximo ao rosto. Havia escrituras e palavras em uma linguagem desconhecida, talvez fosse o código para destrancar algo ou algo do gênero.

– O que eu não daria para ter uma vela agora? – Reclamou da escuridão, ficando cansado de olhar a chave na sombra do sino. Ainda estava com os olhos presos nela quando, de algum modo, uma claridade branca o ajudou a enxergar, se tornando cada vez mais forte e brilhante. – Ah, é élfico! – Comentou, descobrindo a linguagem das gravuras e erguendo os olhos para cima. – Mas o que...

Não houve tempo de raciocinar ou terminar a frase: Uma esfera gigantesca de luz branca passou quase ao seu lado, deixando um rastro de fogo cintilante quando voou em direção à floresta após o povoado. Se levantou para avistar o destino daquele cometa, ou seja lá o que fosse, e se segurou à viga mais próxima quando tudo tremeu numa explosão branca à alguns quilômetros de distancia.

O sino, até então silencioso, começou a tocar alto graças ao vento que a explosão causou. Um pouco incomodado, mas chocado com o que havia visto, Jack saltou da torre como um suicida e, no ultimo momento, saiu voando com o vento em direção ao lugar onde aquela esfera pousou.

O que quer que fosse aquilo, ele seria o primeiro a descobrir.

******

O corpo falecido de seu pai estava ainda no quarto, no meio de uma cerimonia de purificação espiritual que a sacerdotisa da família real estava realizando naquele exato momento. A lembrança das mãos fortes de Fergus caindo sobre o colchão, já sem vida, fora o ponto de partida para Merida, que correu para fora do quarto chorando e olhando para o céu através das janelas em busca do medalhão.

Correu pelos corredores sem tirar os olhos das janelas. O vestido verde que usava só atrapalhava seus passos, então resolveu ergue-lo acima dos joelhos para deixar suas pernas livres para a corrida. Trombando com algumas empregadas que corriam ao auxilio de sua mãe chorando no quarto, Merida finalmente viu o fim do corredor se aproximando e dando inicio à escada circular que dava entrada aos empregados do rei.

Se pendurou em uma das ultimas janelas aberta para o céu noturno e arregalou os olhos quando avistou seu alvo. O medalhão não era mais apenas uma joia, já estava caindo em direção do chão como se fosse um cometa!

Sentiu o vento quente bater contra seu rosto quando viu a esfera gigantesca de luz e de fogo passando por cima das árvores em frente ao castelo, indo em direção oeste e colidindo contra o chão em uma explosão branca.

– Sul. – Cochichou para si mesma, vendo luzes brancas continuarem a brilhar ao longe. Virou-se e correu novamente pelo corredor, dessa vez indo para o lado contrário. – Se pegar Angus ainda essa noite, posso encontra-lo ainda amanhã!

– Encontra-lo? – Sentiu um calafrio percorrendo sua espinha enquanto se virava para encarar os olhos dourados de seu meio tio, Breu. – Olá, Merida. - Praguejou mentalmente mil xingamentos, percebendo o quão estupida fora por falar em voz alta algo tão importante.

– Tio Breu. – Abaixou o vestido, se curvando em uma reverencia respeitosa para a figura sombria que saia de um dos quartos naquele corredor. Se concentrando para não pegar fogo ali mesmo, por causa do ódio que sentia, Merida colocou as mãos para trás e começou a estralar os dedos. – Estava falando daquele maldito guaxinim que rouba comida do castelo, acabei de vê-lo correndo pelo telhado e então alguma coisa caiu, iluminando o céu todo.

– Então minha querida sobrinha viu a estrela caindo? – A figura de Breu deslizava para perto de Merida, com um sorriso torto no rosto cinza. Era um maldito aproveitador, sempre espreitando os outros como uma cobra pronta para dar o bote. – Pela manhã vou sair para procura-la. – Comentou, vendo os criados saindo e entrando do quarto do rei. - Você deve saber o que estrelas podem fazer, certo?

– Não senhor. – Sentiu as costas batendo contra a parede gelada, enquanto Breu se aproximava perigosamente de si com os olhos dourados brilhando perigosamente.

– Estrelas brilham, Merida, e o brilho de uma estrela pode curar qualquer coisa. – Olhando no fundo dos olhos azuis da garota encolhida em sua frente, sentiu que a mesma entraria em chamas a qualquer momento. Estava rindo mentalmente daquela garota estupida. – Até mesmo a morte. - Merida sentiu os olhos arderem quando ouviu-o falar, relembrando sua atual condição de órfã por parte de pai. Relembrando que, apenas algumas portas de distancia, estava o corpo de Fergus. – E quem come o coração brilhante de uma, tem a vida eterna.

Silêncio.

– Com licença.

Mil coisas se passaram na cabeça de Merida naquele instante, percebendo o erro que cometeu ao chamar o medalhão de cometa. Sentindo que entraria em chamas a qualquer momento, fez uma reverencia nervosa para o tio em sua frente e correu para seu próprio quarto no final do corredor.

Trancou a porta de seu quarto com uma viga de madeira pesada e escutou o choro alto de sua mãe ecoando pelos corredores de pedra. Tirando o vestido verde de qualquer jeito para, enfim, pegar fogo, a ruiva se olhou no espelho pendurado em sua parede e admirou-se por ter uma oportunidade incrível de mudar o destino da família real.

– Eu posso revivê-lo e ainda governar. – Tirou o espartilho e permaneceu com as leves roupas brancas que usava por baixo dos vestidos. – Não posso demorar mais nenhum minuto, sairei o mais rápido que conseguir. - Abriu o baú onde escondia suas roupas de batalha e armas, sentindo pequenas lagrimas escorrerem pelo rosto e evaporarem por ainda estar em chamas.

Arrancou as roupas que usava, pegando um conjunto de roupas de batalha que usava ao fugir para o bosque nos dias em que Elinor e Fergus saiam do castelo para ir visitar duques. Uma calça marrom, uma blusa verde, botas de couro já gastas e um capuz preto eram seu uniforme de fuga, completos com a aljava presa à cintura por um cinto e o arco nas costas.

Não muito tempo depois, uma corda feita de lençóis de seda foi jogada pela janela do quarto da princesa, quase alcançando o chão perto dos estábulos. Sentou-se na janela, olhando para baixo e avistando Angus logo ao lado de onde pousaria e sorriu, deslizando pelos lençóis em um pulo.

Correu por entre as sombras do castelo, entrando nos estábulos sem ser percebida pelos guardas que ficavam à porta central naquele horário. Aproximou-se de seu velho amigo e deslizou os dedos pela crina de Angus, acordando-o.

– Angus? Vamos lá rapaz, preciso de você agora! – Comentou, acordando o cavalo com alguns carinhos em sua face. O relincho de desaprovação foi o sinal que recebeu para subir no grande cavalo negro. – Você é o melhor, sabia? – Outro relincho, fazendo a princesa rir com a resposta do cavalo. – Vamos lá, atrás da estrela.

Com uma mochila cheia de mantimentos, remédios e comida escondida entre o feno, Merida montou em Angus e cavalgou para fora dos muros daquele castelo. Era uma princesa em fuga, em busca de uma estrela.

Uma princesa em fuga sendo observada por Breu.


******


Quando abriu os olhos já estava em movimento, mas apenas quando bateu pela primeira vez contra alguma coisa que teve noção do que estava lhe acontecendo: estava caindo. Ou melhor, sendo puxada para a terra.


Alguma coisa lhe puxava pelo pé, enlaçado em seu tornozelo e impedindo que se soltasse por causa da grande velocidade que estava. Tentava se agarrar em algo, mas tudo o que conseguia era arrancar pedaços ou queimar tudo que tocava, graças aos gases inflamáveis que a cercavam.

E o pior de tudo: estava ganhando forma humana.

Enquanto perdia altitude, sentia seu corpo contorcer-se dolorosamente e formar membros que não se lembrava de ter quando estava no céu. Curvas se formavam em si, fazendo-a se sentir fina e seu brilho não era mais espalhado por todos os lados, mas se concentrou apenas em algo que ficava preso em sua cabeça e voava com o vento.

Mas aquilo era o menor dos problemas no momento, o maior? O chão.

Percebendo o chão se aproximando rapidamente, soltou um grito de pânico o mais alto que pode, com medo do que viria a seguir; a coisa que estava lhe puxando se enterrou no solo, obrigando-a a colidir contra o chão dolorosamente. Bateu partes de si que não sabia que doíam tanto, arranhou a frágil pele que tinha e perdeu o folego com as dores fortes que vieram em seguida, deixando várias lágrimas rolarem pelo seu novo rosto.

Por alguns momentos ficou paralisada na mesma posição em que caiu, de olhos e braços abertos como se fosse uma boneca de cera olhando para o céu acima de si. Não sabia ao certo o que fazer ou como agir, muito menos para quem pedir ajudar. E ao ouvir os sons ao seu redor, sentir o corpo dolorido e o pânico tomando conta de si, só conseguiu fazer uma coisa.

Rolou de lado ainda chorando, encolheu-se em uma posição em que se sentiu confortável e segura e fechou os olhos. Quem chegasse naquele momento não veria nada mais, nada menos, do que uma garota nua, deitada em posição fetal no meio do nada com seus longos cabelos loiros ao redor de si.

Talvez a confundissem com uma ninfa dos bosques ou uma elfa, até mesmo uma fada, mas naquele momento era isso que ela era; uma garota. E também uma estrela caída; sem brilho e sem forças, que precisava ser encontrada.

Precisava de ajuda.


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Notas finais do capítulo

- Wow! Quase 4 mil palavras no primeiro capítulo, que orgulho! :D

— Perdoem os erros nos capítulo, estou sem beta reader! D:

— Então, meus queridos leitores, o que acharam do primeiro capítulo? Bom? Ruim? Estou aceitando opiniões sobre a história e sobre músicas também, ouviram?

— Estou tentando um estilo novo de escrita, não me matem se estiver ruim! D:

— Deixem comentários, por favor!