Nothing Left To Say escrita por warriordemigod


Capítulo 6
Cap. 6 - Tunnel Vision


Notas iniciais do capítulo

Hey gente, como vocês estão? Eu nem sei o que falar aqui hoje. Música do cap Tunnel Vision do Justin Timberlake, escutem e vejam a tradução. Estava escutando JT enquanto tava escrevendo o capítulo, ah eu amo tanto o Justin, ele é tão bom em tudo o que faz. Ok, chega de momentos fangirl. Vamos ao capítulo.



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02:34 PM

Flashback On

Annabeth estava cantando alegremente uma música enquanto estava estudando quando as coisas mudaram. De repente, estava num rio de lava fervente, sem ter ideia de como havia chegado lá. A lava não a queimava, nem ao menos o pequeno bote em que se encontrava. Tentava nadar até a borda para se salvar, mas não conseguia.

O ar começou a ficar rarefeito. Quando deu por si, estava no topo da montanha mais alta que já tinha visto na vida (não que ela tivesse visto muitas). As coisas rodavam dentro de sua cabeça, ela queria respostas para o que estava acontecendo, porém sempre que chegava perto de alguém que conhecia, ela se transformava em neve, ou no Jedi.

A neve caía em seus ombros formando uma camada pesada sobre si. Mais uma vez, tudo agiu rapidamente e ela desabava montanha abaixo sem nenhum esqui ou snowboard. Tentou gritar, porém parecia que tinha perdido sua voz. Nem o desespero foi inovador: ela passava por aquilo tantas vezes que estava ficando chato.

E no meio de toda a brancura do desabamento, ela notou os olhos verdes que conhecia muito bem. Agora sem rosto, apenas os cabelos balançando contra a neve como se não houvesse nada além de uma pequena garoa. Sabia quem era, e toda vez que ele aparecia ficava se perguntando o que fazia ali, invadindo seus sonhos e pesadelos constantes.

...


— Ei — disse Thalia ao entrar no quarto, conturbada. — Nenhum sinal?

— Não — Percy respondeu num suspiro, aceitando o outro copo de café que a garota carregava. — Como isso foi acontecer?

Thalia preferiu não responder. Percy enterrou o rosto nas mãos, tentando controlar as lágrimas que sempre apareciam nos últimos dias. Ver Annabeth deitada naquela cama de hospital, carregada de aparelhos ao redor dela era torturante.

Na primeira semana após o acidente, achou que tudo daria certo. Que Annabeth acordaria numa das suas noites de acompanhante ali e perguntaria com sua expressão confusa se tinham prendido o pôster da campanha de Thalia corretamente. E ela sairia do hospital no dia seguinte.

Entretanto, em algum lugar da terceira semana, suas esperanças foram diminuindo. Os pais de Annabeth voltaram a seus trabalhos, mas Percy não conseguia se levantar da cadeira ao lado da maca de Annabeth. Não tinha forças para sair do lado dela, seguir uma vida normal e simplesmente não estar lá quando ela acordasse.

Agora, pouco mais de três meses depois do acidente, suas visitas à Annabeth eram restritas a apenas três por semana, durante pouco mais de uma hora. Sua mãe interferira para que voltasse ao colégio e os pais de Annabeth concordaram.

E, por um momento, achou que seria bom. Não por ela, jamais por ele. Annabeth não iria querer que seu melhor amigo perdesse boas oportunidades, matrículas em faculdades e outras amizades para que ficasse ao lado dela, se lamentando não ter falado que lhe amava antes.

— Essa coisa tá ficando maluca — comentou Thalia com olhos na televisão. — Digo, esses walkers.

Percy concordou, desviando sua atenção da pacífica expressão de Annabeth para o noticiário. Mais uma vez, comentavam sobre a grande infecção que atingira metade dos Estados Unidos e do planeta Terra. Havia duas ou três semanas que só se falava naquilo. Pessoas estavam começando a se esconder em porões, sótãos e qualquer coisa que as afastavam dos mortos-vivos.

— Deveríamos nos armar — disse Percy seriamente. — Chamar a galera, nos organizar. Isso não vai melhorar tão cedo.

Lentamente, Thalia concordou. Tomou o último gole de seu café e levantou-se da outra poltrona, mais longe de Annabeth. Seu olhar caiu na mão de Percy, brincando gentilmente com os dedos imóveis da garota desacordada.

— Acho que está na hora de irmos — anunciou, sentindo-se como uma intrusa naquele momento terno de Percy. — Já é quase três horas.

Percy demorou a retirar sua mão de perto da de Annabeth. Ao sair, ele se aproximou da outra garota e se inclinou, próximo suficiente para lhe dar um beijo em sua testa. Era como um ritual para Percy fazer aquilo.

Antes de bater a porta do quarto, ouviu a mulher do noticiário em um tom de total desespero:

Estamos numa emergência mundial. Zumbis, walkers, errantes, seja lá qual for o nome para essas aberrações, estão nos dominando. Cuidem de seus parentes, amigos, leve-os para as cidades. É onde o governo admite estar fazendo alguma coisa. Uma proteção concreta. Espero estar viva amanhã para repassar as últimas notícias.

O silêncio caiu no quarto de Annabeth enquanto Percy levantava os olhos para Thalia, um plano inteiro armado em sua cabeça.

***

Flashback Off

01:06 PM

— E... Estamos no Tennessee! — exclamou Thalia, querendo buzinar para comemorar suas habilidades em geografia. — Cerca de duas horas para chegarmos ao Leo!

Nico lhe deu um beijo na bochecha em comemoração. Ele viu pelo retrovisor Percy se aproximar de Annabeth, indo de encontro a seus lábios, mas no último segundo percebeu o que faria e apenas a abraçou.

Thalia franziu a testa para o namorado, pedindo explicações. Percebia o jeito que Percy agia nas últimas horas perto de Annabeth, e a declaração de amor que o garoto tinha feito (não importava o quanto Annabeth dissera quando estavam sozinhas no vilarejo que não tinha sido e jamais seria uma declaração de amor) era uma das mais lindas que já ouvira.

Ela só não entendia por que os dois não conseguiam se arranjar logo. Quer dizer, eles pertenciam uma a outra, tal qual ela e Nico. Fazia dois dias que Percy havia tirado Annabeth em coma do hospital, além dos olhares e dos constantes segurar de mãos, alguma coisa a mais deveria ter acontecido. Thalia se recordava de não ter demorado menos de três dias — ou horas — para se apaixonar por Nico, mesmo não sabendo à época o que era amor.

— Eu te conto mais tarde — disse Nico num sussurro. Depois, girou o dedo ao lado da cabeça e apontou para Percy, e Thalia sorriu quando leu os lábios do garoto, que dizia maluco.

— Eu vi isso — comentou Percy em voz alta; Nico o encarou como se nada tivesse acontecido.

Nico virou-se para o banco de trás e levantou a mão para o amigo, mas ao ver Thalia lhe observando seriamente desistiu de seu gesto obsceno. Ela deu uma risadinha que fez Nico se enfiar mais no banco, emburrado.

Whipped — tossiu Percy. Annabeth, e até Thalia, riu.

— Jamais — retrucou Nico, voltando atrás e dando o dedo do meio para Percy. Thalia abriu a boca chocada, e se não fosse por um carro perdido no meio da estrada que precisava desviar, teria socado o namorado no ombro.

Ela sentiu algo estranho, algo que não sentia há muito tempo. Um sentimento curioso, que passava por suas veias e lhe dava uma energia única. Thalia sentiu as pontas dos dedos formigando, e um pouco de orgulho que ela não sabia de onde vinha. Ela só gostava. Lembrava-lhe do passado, de seus pais e de Almateia, sua cabra. (N/A: Quem leu Os Diários do Semideus sabe de que cabra eu tô falando)

Era bom, e ela sabia que demoraria a acontecer outra vez. Talvez seja por isso que ela memorizou o rosto dos outros três dentro do carro. Percy e seu olhar apaixonado para Annabeth, recostada no banco e dando um sorriso singelo a cada vez que a outra garota percebia que ela lhe encarava. Annabeth e seus murmúrios cantantes junto com o cassete dos Beatles, vendo a paisagem na janela e ocasionalmente lançando olhares culpados na direção de Percy.

Por fim, Nico. O seu Nico, que também observava a vista das montanhas quilômetros à frente do Tennessee. Seu semblante era maravilhado. Como, mesmo depois do inferno inteiro que haviam vivido ainda sobrasse tempo para ficar admirada com as belezas da natureza, a única coisa intacta naquele mundo por agora. A paz que seu rosto transpassava acalmava Thalia mais do que qualquer coisa. Por que, claro, algum dia os papéis tinham que se inverter.

Ela queria memorizar tudo àquilo por que foi o primeiro momento em que se sentia realmente feliz depois de muito tempo. Tanto que não conseguia tirar o sorriso bobo de seu rosto enquanto aumentava um pouco a velocidade do Cadillac.

Thalia só esperava que quando chegasse à fazenda de Leo, o companheirismo que tinham compartilhado nos últimos dias não fosse embora.

01:32 PM

Percy estava olhando para ela da mesma forma outra vez.

Na verdade, nunca tinha parado de olhar. Annabeth baixou a cabeça, sem acreditar. Como Percy Jackson mudara tanto para ela? Como o menina de dois anos atrás que desenhava desenhos pornográficos no banheiro havia se transformado naquele homem? Os meses de coma não lhe fazia muito bem se pensava no quanto tinha perdido por aí.

Ela queria retribuir o olhar de Percy, mas não dava conta. Ou sorria encarando a janela do Cadillac ou começava a achar os furos no estofado do banco mais interessantes que os hipnotizantes olhos verdes e profundos de Percy.

Desejava saber por que não conseguia. Porque era tão difícil olhar diretamente nos olhos da pessoa que havia lhe salvado da morte tantas vezes nos últimos dias? Era tão fácil com as outras pessoas antes desse inferno todo começar... Mas Percy... Ele era outro nível, um lugar onde Annabeth ainda não alcançara.

Ela só queria saber por que.

Annabeth se esqueceu dos olhares de Percy por um momento para ter sua atenção totalmente voltada à adaga que um dia pertencera à mãe de Percy. Desde a manhã, não tirava os olhos dela. A faca brilhava tanto que Annabeth pensava que ela tinha brilho próprio.

Não conseguira tirar da mente que Percy lhe ensinava latim. Não conseguia entender que razão a faria querer fazer algo dessa forma. Mas, apesar disso tudo, gostara. Sentia-se importante na vida de Percy. E, por algum motivo, aquilo era de suma importância para si.

— Está escrito... — começou Percy ao ver que Annabeth mexia na adaga pela milésima vez. Seu tom de voz era contido, envergonhado.

— “My Lady, My Beautiful” — completou a outra, ainda com os olhos cravados na faca. — Isso não presta.

— Desculpe? — indagou Percy, visivelmente ofendido.

— Não, não a adaga — retrucou Annabeth impaciente. — Eu. Eu não presto. Não deveria estar aqui, sou um grande saco de nada.

As lágrimas coçavam para que pudessem sair, porém Annabeth as conteve. Quem dera fazer os mesmos com as palavras, pensou irritada. Seu problema maior era que falava demais, mesmo o momento pedindo toda a descrição possível.

Além disso, precisava desabafar. Sentia-se mesmo inútil, qual era o problema? Ah claro, você não tinha tempo para sentir-se um lixo no meio de um apocalipse zumbi. Você não poderia sentir nada no meio de um apocalipse zumbi, e isso chateava muito Annabeth. Qual era a parte engraçada daquele inferno se não poderia expressar seus sentimentos ou ter um ataque de diva?

Percy poderia ter provado que ele estava errada algumas horas antes, enquanto admitia seus sentimentos secretos por Annabeth, mas ela não queria se apegar àquilo.

Não que não deixasse de acreditar no quanto Percy sofria ao vê-la machucada. Ela via a dor nos olhos do garoto toda vez que possuía coragem suficiente para encará-lo. E o momento dos dois na estrada cheia de carros também demonstrava o contrário — embora ela tivesse pulado fora no último segundo. Era só... Sinceramente, não sabia o que era. Com o mundo daquela forma, qualquer mudança brusca de emoções era totalmente natural. Annabeth só não queria se enganar.

— Não diga isso, você é de grande ajuda — falou Percy tentando animá-la, dando-lhe um soco amigável no ombro. — Quando chegarmos à fazenda de Leo, eu prometo lhe ensinar a usar uma arma.

Nico, no banco da frente fingindo não prestar atenção na conversa enquanto deitava-se no colo de Thalia, riu.

— Fique quieto, Nico — repreendeu Percy.

— Às vezes eu me sinto como a Lúcia — desabafou Annabeth, cruzando os braços num gesto aborrecido.

Percy franziu a testa. Annabeth o olhou, incrédula.

— As Crônicas de Nárnia, Percy — disse a garota revirando os olhos. Nico soltou outra gargalhada escandalosa; Thalia pediu a ele para que parasse de interromper a conversa e ele assim o fez. — A mais nova, Lúcia. Todo mundo sem cérebro que assiste ao filme ou lê o livro da primeira vez acha que ela não serve para nada. (N/A: Sim, eu sou Narniana o/)

— Todo mundo tem cérebro aqui, sabia? Ninguém ainda virou comida de zumbi.

O sorriso surpreso de Percy pareceu dar uma nova energia a Annabeth. Ela sorriu de volta, criando coragem e encarando outra vez o mar verde que era os olhos de Percy, se arrependendo quase no mesmo instante.

Depois de pouco mais de quatro horas, se esquecera como eram os olhos dele. De como a luz do Sol o deixava tão claro quanto à água do mar. De como eles tinham tantas dores por trás, mas brilhavam somente para as felicidades. O amor que transbordava a cada vez que Percy piscava em sua direção a deixava cada vez mais hipnotizada.

Ali, teve certeza de que os sentimentos de Percy não mudariam. Que, na verdade, jamais tinham mudado. Que Percy Jackson a amara desde a primeira vez em que se viram e que todo o seu jeito abobado era apenas uma forma estranha de chamar sua atenção.

Mas Percy lhe dissera que eram amigos antes de seu coma. “Do tipo, melhores”, em suas palavras. Talvez Percy tivesse finalmente tomado coragem para contar-lhe tudo o que sentia, pensou com uma chama quente de esperança em seu peito.

Annabeth xingou-se mentalmente por não conseguir se lembrar de nada. A memória de antes deveria voltar, não? Ela se recordava de ter lido algo sobre perda de memória recente após um acidente grave e como ela voltava depois de um tempo. Havia se passado apenas dois dias de que acordara do coma, quando tempo demoraria a ter suas lembranças com Percy de volta?

— Valeu — ela agradeceu com a cabeça, desviando seu olhar do de Percy novamente.

— Afinal, ela é bem útil depois, não é? — disse Percy distraído. — Tipo, acordando o Aslam e tudo mais.

Annabeth rolou os olhos, soltando uma gargalhada. Impressionou-se ao perceber que era a primeira risada verdadeira que dera nos dois dias de viagem. Acreditava que o motivo que não rir tanto quanto Percy ou mesmo Nico era que estava preocupada demais com o que acontecia do lado de fora do Cadillac para curtir pelo menos um minuto que ela passava lá dentro.

— Você nunca viu o filme não? — ela indagou sincera após parar de rir.

Percy negou com a cabeça, sorrindo como se pedisse desculpas. Annabeth fez uma expressão de desapontamento, se perguntando como Percy, um apaixonado por filmes de fantasia, não poderia ter assistido As Crônicas de Nárnia.

— Chega de falar disso, por favor — reclamou Nico, saindo do colo de Thalia e interrompendo a contato visual restabelecido por um segundo entre Percy e Annabeth. — Alguém aí quer Coca-Cola?

Thalia e Percy deram um suspiro aborrecido.

— Você não era para tomar todas as Cocas hoje, Nico — disse Thalia, ralhando com o namorado. — Você bebeu quantas?

— Duas latinhas, e pedindo por uma terceira — entregou Percy com um sorriso zombeteiro.

Nico começou a soltar palavrões em italiano na direção de Percy, que ria agora sem constrangimento. Thalia decidiu em não intervir mais na briga; apenas prestava atenção na estrada silenciosa na sua frente.

Percy e Nico eram tão potencialmente explosivos que tudo era uma razão para brigarem. E mesmo assim, um jamais deixaria o outro sozinho. Era estranho pensar dessa forma, mas Annabeth percebeu logo no primeiro minuto em que ela entrou no Cadillac que os dois eram unha e carne, que eles se completavam.

Sentia um pouco de inveja de Nico. Ele e Percy eram quase como irmãos, tinham uma conexão que ultrapassava qualquer uma que já tinha tido com seus antigos amigos.

Annabeth podia sentir sua conexão com Percy, é claro — parecia que seus corações, suas emoções e pensamentos eram um só; tremores passavam dentro dela quando Percy estava com raiva, seu estômago lhe dava borboletas ao ver Percy sorrindo e etc. —, mas ainda ficava tímida perto dele. Não conseguia exprimir uma palavra sem evitar seus belos olhos esverdeados.

Por fim, a compreensão lhe atingiu. A ligação que tinha com o garoto ao seu lado superava qualquer uma existente. Por que os dois não tinham nascido para serem amigos.

— Puta merda — ela murmurou para si, petrificada.

Annabeth Chase amava Percy Jackson. E não era de uma forma fraternal.

01:50 PM

Em algum lugar da fazenda de Leo.

— Leo! — chamou Connor entrando na sala de estar, ofegando. — Tem um carro chegando...

Leo franziu a testa, mas logo compreendeu o que o garoto havia falado. Ele sentou-se no sofá enquanto Leo corria para a janela. Espiou para fora dela, confirmando o que Connor tinha acabado de dizer. Um Impala ’69 virava a esquina e entrava em seu gramado.

— Percy? — indagou o garoto esperançoso após ter recuperado o fôlego.

— Não — respondeu Leo, sacudindo a cabeça. Connor tinha uma admiração enorme por Percy desde que ele o salvara de ser mordido por alguns zumbis, ainda em sua antiga cidade e quando livrou ele e seu irmão da cadeia, por ter "pego emprestado" alguns celulares em uma loja. (N/A: Filhos de Hermes sendo filhos de Hermes hahahaha).

Leo estreitou os olhos, pois não reconhecia aquele carro. Quando o garoto que o dirigia abriu a porta, ele viu o cabelo despenteado e um sorriso iluminou seu rosto.

Grover.

Ele correu pela porta de entrada, tropeçando ocasionalmente em alguns cascos de areia, mas feliz por finalmente ver um de seus amigos mais queridos ali, no lugar perfeito que achara, são e salvo.

Grover deu um sorriso triste ao ver Leo e o abraçou com firmeza. Leo olhou por cima do ombro de Grover e viu Chris e Clarisse dormindo no banco de trás do Impala. Ele esperou ver Tyson ao lado de Grover, ou até mesmo tirando as poucas bagagens do porta-malas, mas não havia sinal nenhum dele em nenhum lugar.

— Cara... — disse Grover ao dar uma olhada para a casa a poucos metros de distância, onde Zoë, Reyna, Connor e Travis esperavam — isso com certeza não é o tipo de fazenda que existia na minha época.

Leo deu de ombros, continuando a procurar por Tyson em todos os lugares, começando a ficar preocupado.

— Onde está Tyson? — perguntou por fim, sem se conter.

Arrependeu-se no mesmo instante. A expressão de Grover, pouco feliz, havia se transformado para nada feliz. Ele soltou um suspiro longo, Leo notando que o garoto queria chorar, mas não queria demonstrar fraqueza. Leo pôs a mão no ombro de Grover, numa forma de apoio que sempre achou meio fraca.

— Uma manada veio atrás da gente, cara — disse Grover com a voz embargada. — Tipo, milhões de walkers. Eu não sei de onde eles tinham vindo, mas eles nos cercaram. Peguei meu facão, corri até Chris e Clarisse. Tyson estava atrás de mim e estávamos indo bem, tínhamos um lugar perfeito para nos esconder perto da gente até aqueles merdas passarem quando...

Grover parou de falar, abraçando Leo novamente.

Mas — Leo tinha que se lembrar todos os dias — eles estavam no meio de algo ali, acontecendo a todo o momento. Não podiam entrar em luto toda vez que alguém morria. A melhor forma de honrar o que mais amava era lutar e sobreviver. Assim a alma dele descansaria em paz.

— Vai para dentro, eu acordo os dois preguiçosos — chamou Leo depois de alguns minutos. — Zoë vai lhe fazer um café.

Grover concordou, soltando-se de Leo. Sobrando a Leo a tarefa de pôr os pertences deles em casa e acordar Chris e Clarisse.

02:41 PM

De volta a Percy e seu bando.

— Nico falando, seus vadios — disse o garoto no comunicador com um sorriso idiota no rosto.

Era melhor quando o Percy respondia — falou Leo do outro lado da linha emburrado, e Percy teve certeza de que ele também rolara os olhos. — Onde vocês estão?

— Perto de um parque florestal — respondeu Nico, alheia.

Percy, ao contrário dele, lembrou do dia anterior e da angústia que sentira ao ver Annabeth desmaiar de dor em seus braços, da dor que vinha toda hora deitada em estado vegetativo na cama perto dela no outro parque que tinham encontrado em Ohio. Ele esperava passar por este logo, pois árvores juntas demais e prenúncios de ursos não era uma coisa boa para eles.

Beleza, vocês estão perto — disse Leo. — Grover chegou aqui agora a pouco.

— Fala para a Clarisse se ela quiser lutar eu estarei pronto. — disse Nico desafiadoramente e sorrindo maleficamente.

— Estamos no Dickson Chapel — falou Percy, ignorando o amigo. — Quanto tempo demora a chegarmos aí?

Meia hora no máximo — respondeu Leo. — Vocês precisam pegar a Gillmore Hill Road e depois descer na Hunters Point Pike.

Percy acenou afirmativamente, porém todas as garotas no carro estavam com a mesma expressão confusa que ele. Annabeth estava muito quieta, o que a fez sentir-se meio culpada.

— Sobre isso... — começou Thalia acanhada, o aparelho GPS em suas mãos piscando loucamente — eu não encontro nada aqui, você terá que nos guiar.

Mas como? Vocês vieram de Ohio até aqui e se perdem no final do caminho? E como o GPS de vocês ainda funciona?

Percy se fez a mesma pergunta. Como, depois de o governo ter cortado todas as redes de comunicações, e isso incluía internet, televisão e rádio, eles continuavam a usar o GPS como se nada tivesse acontecido?

— Eu o configurei — respondeu Thalia simplesmente, dando de ombros. Annabeth esqueceu-se de sua tarefa de ignorar Percy e encarou o motorista impressionada. — Os satélites ainda funcionam, eles não foram desligados totalmente, então o que fiz foi usar o computador da escola e deixar o GPS ligado para, tipo, sempre.

Annabeth estava boquiaberta; Nico tinha um sorriso orgulhoso no rosto enquanto Percy observava as expressões de Annabeth com um olhar apaixonado. Pela primeira vez, ele pensou que não estava sendo discreta o bastante. Afinal, depois de seu pequeno surto no vilarejo, não tinha como manter seus sentimentos escondidos.

Ele tinha que contar a Leo que estavam com Annabeth. Não via mais nenhuma razão para manter aquele segredo — que não tinha ideia por que queria manter a principio. Annabeth estava bem, não estava? Ela própria sentia isso. A garota não reclamava de dores desde a parte da manhã, o que era um bom sinal: Annabeth era intensa demais para fingir que algo não estava acontecendo.

O que fez Percy se perguntar por que Annabeth estava virada para a janela do carro sendo que meia hora antes conversavam normalmente. Ela teria percebido alguma coisa? Estava assustada com a magnitude de seus sentimentos para com ele? Bom, Percy não podia culpá-la por isso. Primeiro o coma e depois o fato de uma pessoa que costumava a ser estupidamente idiota agora estar loucamente apaixonado por você? Não era muito justo.

Uau — assoviou Leo, impressionado. — Thalia, você precisa ser nossa técnica quando chegar aqui. A energia tá falhando.

— Sem problemas — disse ela com um sorriso inocente no rosto. — Ok Leo, o GPS parece ter voltado ao normal, não precisamos mais de sua ajuda.

— Ainda bem, por que senão pararíamos em Nevada e ninguém notaria — Percy disse sarcasticamente, causando risadas em Nico e Thalia.

Leo riu secamente.

Muito hilário você, Percy — ele falou. — Mas o piadista do grupo sou eu. Já que não sou mais útil para vocês acho melhor desligar e...

— Não, espera!

Percy não tinha ideia de onde tirara forças para impedir Leo de desligar. Um impulso tomou conta de si, e então ele simplesmente gritara para o rádio-comunicador, atraindo os olhares curiosos de todos, inclusive de Annabeth.

A reação de surpresa dela fez Percy querer abrir a porta do carro e se jogar para os walkers no caminho. Seu rosto mostrava um sorriso mínimo — e Percy detectou um pouco de orgulho nele —, e ele sorriu de volta, dando-lhe uma piscadela.

— Annabeth está com a gente — falou num suspiro só.

Ah — fez Leo. O único som vindo do comunicador preocupou Percy. Leo muito bom em esconder emoções também. Ele parecia perturbado por um momento. — Que bom que você salvou ela. Mais uma pessoa para o nosso grupo, isso é sempre bom...

— Eu estou acordada, Elfo. — Annabeth interrompeu o garoto, que deu um suspiro aliviado. Percy entendeu a apreensão dele: uma pessoa desacordada para cuidar no meio de um apocalipse zumbi não era lá uma boa coisa. Se precisassem fugir numa última hora ou até mesmo parada, alguém em coma sempre significava despesas e lerdeza.

Ótimo! — exclamou Leo alegre. — Vejo vocês daqui a pouco. Câmbio e desligo.

O fim da viagem foi excepcionalmente silencioso. Nico ouvia no volume mínimo seus rocks clássicos, cantando-os de olhos fechados e balançando a cabeça no ritmo, o de sempre de acordo com Percy. Thalia ia dirigindo rapidamente, às vezes atropelando um errante ou outro apenas por diversão, rindo maldosamente em seguida. Percy não entendia como alguém que antes era apaixonada por uma cabra tinha se tornado tão maldosa.

E Annabeth... Annabeth estava distante, como sempre ficava dentro do Cadillac. Sequer lembrava à Percy a garota barulhenta e irritante de alguns meses antes. Não queria admitir, mas sentia falta dos gritos histéricos e de seus ataques. Sentia falta da Annabeth por qual se apaixonara, sentia falta de seus momentos brincalhões no quarto rosa da casa dela.

Sentia falta da normalidade. Não sabia o que era isso há mais de cinco meses. Percy acreditava que na fazenda de Leo pelo menos um por cento do que tinha antes poderia voltar a ele. E queria que voltasse, queria ter um pouco de felicidade por pelo menos um minuto ao lado de Annabeth antes que alguma coisa trágica acontecesse, por que era sempre assim na sua vida: um momento feliz em troca de dez cruéis. Não era justo, jamais fora, porém passar por esse sofrimento todo para ter um dia de glória ao lado de Annabeth valia a pena.

— Cara, essas casas não parecem fazendas — comentou Annabeth, sua voz rouca assustando Percy, mas ao mesmo tempo lhe dando borboletas no estômago.

Ele olhou para fora da sua janela e ergueu a sobrancelha, também achando a observação de Annabeth estranha. Para seu desgosto, uma floresta cobria parte do outro lado da estrada e em um conjunto habitacional começava a crescer um matagal. Percy esperava que Leo tivesse feito uma busca no local para que não corressem perigo ali mais que o necessário.

O Cadillac foi se desacelerando enquanto passava por mais casas que não tinham nada de fazenda nelas, e Percy ficava cada vez mais desconfiado. Era o local certo? Leo nunca descrevera realmente Horn Springs, apenas dizia que deveriam ir para lá, que era um local seguro. Leo confiava no garoto demais para duvidar dele.

— Engraçado por que o GPS diz que esse é o lugar certo — disse Thalia confusa, sacudindo o aparelho, pensando se isso o faria dar a direção certa. — E onde nós estamos...

— Não parece uma fazenda — completou Nico, observando a floresta com os olhos opacos.

— Mas... Eu conheço aquele carro! — exclamou Annabeth apontando animada para a casa mais perto.

Percy franziu a testa e se aproximou da janela ao lado de Annabeth, seus rostos tão próximos que se tocaram por um momento. Ele tentou se concentrar com a respiração fraca de Annabeth tão perto da sua, e viu a mini-van de Leo estacionada no gramado ao lado de um carro preto que ele não conhecia.

— É o carro do Leo... — confirmou Percy, voltando ao seu lugar. — Thalia, entre. Se não for ele, a gente corre. Se for walkers, a gente mata. Simples.

Thalia acelerou para dentro da propriedade, parando de forma estratégica ao lado do carro preto. Percy conferiu suas armas no coldre, contando as balas rapidamente, e pegou o facão no carpete do Cadillac. Ele acenou para Nico, empurrando Annabeth para fora do carro. Ele saiu logo após, sua pistola pronta para o disparo na mão esquerda, e a mão direita segurando Annabeth atrás dele, usando si mesmo como um escudo protetor.

Antes que pudessem fazer alguma coisa, no entanto, Leo apareceu no portal da frente da casa, um sorriso amistoso no rosto.

Tinham se separado por menos de uma semana, mas Percy já sentia falta dele. Afinal, Leo era o único que ouvia seus prelúdios sobre como tinha saudades de Annabeth ou de como se sentia culpado por ela ter caído da maldita escada há tanto tempo atrás.

— Estava com saudades — murmurou Percy.

— Eu também — respondeu ele, dando um sono no ombro de Percy e abrindo outro sorriso. — Annabeth!

Annabeth gemeu um pouco quando Leo lhe abraçou. Percy achou o olhar que ela estava dando a Leo, chegava quase a ser... ciumento. Ele também agarrou Nico e Thalia num abraço de três, deixando os garotos sem ar.

— Puta merda Leo, você não poderia ter mentido — Annabeth — quando virou para ela. Em outro impulso desesperado, pegou a mão de Annabeth que voava para lá e cá, distraidamente.

Estava onde seus amigos estavam. Esperava estar à salvo por um tempo. Sua atenção agora ia ser unicamente para Annbaeth. Se ela não conseguia se lembrar do que acontecera antes de seu acidente, Percy sentia-se na responsabilidade de lembrar-lhe a ela.


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Notas finais do capítulo

A primeira parte foi tipo um sonho da Annabeth, eu obviamente não sei se os pacientes sonham enquanto estão em coma, mas vamos fingir que eles sonham. Desculpem por ter matado o Tyson, tô me sentindo o Tio Rick.
Eu tava vendo umas fotos da Bienal e fiquei com tanta inveja de quem foi. Quem ai foi na Bienal? Sinta-se invejado por mim.



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