A Força De Uma Paixão. escrita por Kah


Capítulo 27
Antes da escuridão




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Parecia que tudo a minha volta girava, era estranho estar frente a frente com uma pessoa idêntica a você, mesmo quando se sabe que essa pessoa existe.

 

Meu coração pulsava freneticamente, e eu tinha consciência apenas dos braços firmes de Carlos Daniel em volta de minha cintura me dando apoio, sustentação.

 

— TIA PAOLA... - Lizete foi a responsável por quebrar o silencio que reinava na sala, ela correu para os braços de Paola, Paola me olhava quase que com a minha mesma reação, e seu olhar se desviou de meu rosto para Lizete, que agora estava em seus braços.

 

— Lizete, - ela a abraçou - como você cresceu!

 

— Eu estava com muita saudade tia, você demorou muito dessa vez? - Lizete disse emburrada.

 

— Eu também estava Lizete, - ela sorriu colocando Lizete no chão - trouxe muitos presentes para você.

 

— Oba tia... - Lizete pulou de alegria - onde estão?

 

— Calma Lizete, daqui a pouco eu te entrego.

 

Todos pareciam surpresos e estranhamente nervosos com a chegada de Paola, principalmente Carlos Daniel que apertava as mãos em minha cintura com tanta força que cheguei a deixar escapar um gemido.

 

— Desculpa meu amor. - ele disse baixinho com a voz tensa diminuindo a pressão em minha cintura.

 

Paula foi a próxima a se aproximar de Paola, ela abraçou a filha por um bom tempo, a saudade era visível em seus olhos.

 

— Paola, - Paula disse segurando sua mão e a levando ate mim, senti meu coração falhar uma batida quando pararam em minha frente - sua irmã Paulina.

 

Paola parecia me avaliar, seu olhar percorreu todo o meu corpo, e notei quando fixou os olhos nas mãos de Carlos Daniel em volta de minha cintura, ela lançou um olhar indecifrável para Carlos Daniel e finalmente voltou a atenção para mim.

 

— Lina, - ela disse com uma certa emoção que não soube compreender - finalmente voltou minha irmãzinha querida.

 

Ela me abraçou, Carlos Daniel soltou as mãos de minha cintura e se afastou, eu retribui o abraço, meus olhos lacrimejaram e deixei ser levada pela emoção.

 

— Paola... - consegui dizer depois de algum tempo com a voz tremula.

 

— Eu estava ansiosa para te ver, - ela disse se afastando e segurando minhas mãos - não sabe como fiquei contente quando soube que havia voltado.

 

— Eu também Paola. - disse com sinceridade.

 

— Finalmente tenho minhas duas filhas juntas. - Paula disse se aproximando e nos abraçando - Minhas filhinhas que tanto amo.

 

Aquele momento de confraternização entre mãe e filhas não durou muito, logo Paola se afastou, pude perceber uma fina lagrima escorrendo por seu rosto que ela logo tratou de limpar.

 

— E como estão os Bracho? - ela perguntou voltando a sorrir olhando atentamente cada um deles na sala.

 

— Estamos muito bem Paola, - vovó Piedade respondeu por todos - e você? Se divertiu em suas viagens?

 

— Muito dona Piedade. - seu riso ecoou pela casa - Carlos Daniel, não vai me cumprimentar? - perguntou olhando diretamente para ele.

 

— Como vai Paola? - ele perguntou com um certo esforço.

 

— Muito bem queridinho. - ela sorriu mais uma vez.

 

Notei um certo incomodo em Carlos Daniel, e seus olhos tinham algo diferente, algo que eu nunca havia visto, parecia ser raiva... ódio.

 

Minha mente não processava muito coisa, eu só pensava que estava ali com minha irmã, e as reações dos Bracho com a chegada de Paola e principalmente de Carlos Daniel não ganharam muito espaço no turbilhão de emoções que me atacavam, pelo menos não naquele momento.

 

O pouco tempo que passei com Paola naquela noite foi o suficiente para perceber que ela era apaixonada pela vida, e que era totalmente diferente de mim, ela exalava sensualidade, cada movimento, cada gesto que fazia mostrava isso, era uma mulher extremamente linda, cheguei a achar graça ao pensar em sua beleza, éramos gêmeas, a copia exata da outra, mas Paola tinha seu toque, sua própria beleza.

 

***

 

Eu não havia visto Carlos Daniel desde a noite do aniversario de Lizete, ele me acompanhou ate meu apartamento, estava sério, estranho. E na manha seguinte me ligou avisando que teria que viajar por alguns dias, havia acontecido algum problema com os fornecedores e ele precisava saber o que era. Embora cheguei a achar estranha essa viagem não o enchi de perguntas, sabia que Carlos Daniel não mentiria pra mim, e lembro de Rodrigo e Carlos Daniel terem comentado algo sobre talvez terem que viajar.

 

Paula, durante dois dias, insistiu para que eu ficasse em sua casa, ela queria ter as suas filhas juntas novamente debaixo do mesmo teto, e como Paola era imprevisível, ela poderia sair viajando pelo mundo de uma hora pra outra.

 

— Tudo bem Paula. - disse me rendendo aos seus pedidos - Eu vou passar alguns dias na sua casa, mas só alguns dias.

 

— Não sabe como fico feliz minha filha, - pude notar a felicidade em sua voz - vai ser ótimo para você e Paola se conhecerem melhor.

 

Era tudo o que eu mais queria, poder me dar bem com Paola, pouco tempo depois de aceitar o pedido, Paula chegou com Paola ate meu apartamento.

 

— Viemos especialmente para te buscar irmãzinha. - Paola disse me abraçando.

 

— Bom, eu estou terminando de arrumar minhas coisas. - sorri agradecida.

 

— Eu vou te ajudar Paulina, - Paola disse - assim podemos nos conhecer melhor.

 

— Claro Paola, - Paula sorriu - vá ajudar sua irmã enquanto eu converso com Filó, ela vai poder tirar alguns dias de folga.

 

Fomos em direção ao meu quarto, Paola observava tudo atenta, e não passou despercebido minha foto com Carlos Daniel sobre a mesa ao lado da cama.

 

— Estão juntos a muito tempo? - perguntou enquanto eu abria meu armário.

 

— Humm... há alguns meses. - disse enquanto escolhia minhas roupas.

 

— E se dão bem? - perguntou com certa curiosidade.

 

— Muito. - respondi sorrindo.

 

Ela ficou em silencio, se sentou na cama e me olhou terminar de arrumar minhas coisas, me observava atentamente, cada gesto meu.

 

— Somos tão parecidas, - disse calmamente - mas ao mesmo tempo, somos completamente diferentes. - seu riso ecoou pelo quarto.

 

— Acho que podemos descobrir muito coisa em comum. - disse olhando-a com carinho - Não sabe como fico feliz em ter uma irmã, sempre senti falta de um irmão, e agora tenho você, e ainda somos gêmeas.

 

Ela caminhou ate mim e me abraçou calorosamente.

 

— Também estou muito feliz queridinha, - sua voz saiu mais suave - e temos sim muito em comum, você nem faz ideia do quanto.

 

***

 

A falta que sentia de Carlos Daniel a cada dia aumentava, ainda que nos falássemos todos os dias, não ameniza em nada aquela saudade. Mas Paola me distraia, era impossível se sentir entediada ao seu lado, era alegre, espontânea e cheia de vida. Éramos mesmo muito diferentes, a cada dia isso se comprovava, tudo nela exalava sensualidade, sua voz, seu riso, sua maneira de andar, seus gestos. Imaginei que deveria existir muitos homens encantados com sua beleza. Paula, apesar de estar em uma felicidade radiante, as vezes se sentava próxima a nós e apenas nos observava, com o olhar distante e com um sorriso triste no rosto, por algumas vezes notava seus olhos úmidos, mas tinha absoluta certeza que era apenas por ter suas filhas novamente.

 

Eu continuava indo a fabrica, sem Carlos Daniel os serviços aumentaram, e por diversas vezes encontrei Rodrigo atolado de papeis, minha ajuda se tornou necessária, e isso me fazia me sentir mais útil e ocupava minha mente com o trabalho.

 

Uma semana se passou, e Carlos Daniel ainda não havia regressado.

 

Paola teve a ideia de buscarmos Lizete para passar o final de semana conosco, e eu fiquei encarregada de pedir permissão a Carlos Daniel, ele de primeiro momento recusou, o que me deixou muito confusa e intrigada, eu tinha absoluta certeza que ele deixaria sem nenhum problema, mas aquele "NÃO" fez todo meu corpo gelar. Sua explicação para negar meu pedido foi que Lizete daria muito trabalho. Mas bastou insistir um pouco mais e ele acabou cedendo, mas antes me recomendou algo que me deixou surpresa.

 

— Por favor Paulina, não deixe Lizete sozinha com Paola.

 

— Mas porque Carlos Daniel? - perguntei confusa.

 

— Paola não tem muita paciência com crianças, - ele disse com a voz tensa - e sabe como Lizete é, não quero que ela a incomode.

 

— Que bobagem meu amor, - sorri - mas não precisa se preocupar, vou cuidar muito bem de Lizete, sabe que é como se ela fosse minha filha.

 

— Claro que sei vida minha, - sua voz soou terna - te amo muito.

 

— Também te amo amor meu. Estou morrendo de saudades

— Também estou Lina, - ele disse com um suspiro - estou terminado aqui e acho que consigo voltar na próxima semana.

— Estarei te esperando amor. - disse e nos despedimos com muita saudade. 

Paula e eu buscamos Lizete na mesma tarde, ela ficou tão contente em poder passar o final de semana conosco, era surpreendente o que aquela menina causava em mim, eu me sentia tão apegada a ela que as vezes eu mesma me esquecia de que ela não era minha filha, que não havia saído de mim. Mas no meu coração Lizete já havia ocupado todo aquele amor materno que me existia.

 

— Mãezinhaa, onde eu vou dormir? - ela me perguntou assim que deixamos suas coisas no quarto em que eu estava hospedada, Paola nos observava da porta, era a primeira vez que ouvia Lizete me chamar de mãe.

 

— Então já te chama de mamãe? - perguntou com um certo sarcasmo na voz - Não acha que isso é desnecessário?

 

— Não, não acho, - disse olhando-a seriamente - Lizete e eu temos uma ligação muito forte, e a amo como se fosse minha própria filha.

 

Paola se virou e saiu do quarto rapidamente, percebi que estava nervosa, só não entendia por que.

 

— E então mamãe? - Lizete chamou minha atenção de volta - Onde vou dormir?

 

Caminhei ate ela que estava desfazendo sua mala sobre a cama e a peguei nos braços.

 

— Vai dormir aqui comigo meu amor, - sorri - eu e você bem juntinhas.

 

— Oba mãezinha, - ela sorriu e me abraçou - vamos brincar muito e você vai poder me contar historias.

 

— Vamos sim Lizete, e vou te contar tantas historias que vai ate enjoar.

 

Aquele fim de semana com Lizete ao nosso lado não foi como imaginei, embora Lizete e eu nos divertíssemos bastante, eu sentia uma angustia crescer a cada dia mais em meu peito, um aperto que não sabia de onde vinha, e sempre que olhava Lizete sentia a necessidade de abraça-la e dizer o quanto a amava. Paula sempre estava ao nosso lado, sempre acompanhando nossas brincadeiras, mas Paola parecia mais distante, e em seus olhos era possível notar uma certa frieza, isso também me atormentava e angustiava.

 

Mas ainda assim tivemos momentos juntas, eu, Paola e Lizete passamos uma tarde inteirinha na piscina, nos divertindo, naquele momento toda má impressão que tinha de Paola desapareceu, ela brincava com Lizete na água, a abraçava e sorria seu riso marcante sempre que Lizete aprontava mais uma de suas travessuras.

 

Eu não sabia, mas aqueles dias felizes estavam chegando ao fim, uma tempestade de dor e sofrimento se aproximava, e disso não tinha como fugir.


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