Laura sabia que a amiga não estava bem. Conheciam-se desde a faculdade e foram colegas de turma até Flávia mudar de curso.

Flávia... Sempre ela. Para a médica a bela mulher fazia justiça ao nome que carregava. Reluzia, resplandecia... Brilhava.

Ver a dona do seu coração perder a luz aos poucos lhe doeu muito. Nunca quis tanto salvar uma vida.

Perder o Pedro lhe fez pensar sofre sua carreira e também sobre sua vida. Não se sentia mais segura para cuidar de ninguém. Decidiu dar um tempo... Viajar um pouco e respirar novos ares.

Largou a vida no Rio como estava. Transferiu todos os pacientes para outros dois colegas da clínica, tirou licença do hospital, pediu um tempo para a namorada, trancou o apartamento e deixou as chaves do carro com o irmão.

Desembarcou no Dois de Julho¹ no início da tarde, um tio a levou de carro até Valença onde pegou uma barca até o Morro de São Paulo. Como sabia que a subida era dura levou o mínimo de bagagem possível – apenas uma mochila – Mesmo assim no meio das escadas se xingou várias vezes por não ter levado menos coisas.

Quando chegou a casa de sua mãe a noite já se fazia presente. Só deu para tirar o par de tênis e se jogar na cama... Estava exausta física, mental e emocionalmente.

~~~><~~~

Acordou com o Sol alto em seu rosto. Estava sozinha em casa, mas sabia que a mãe já havia passado por ali, pois estava apenas em seus trajes íntimos. Foi até a cozinha, tomou o café já lhe esperava. Junto dele havia um bilhete.

“Mamãe te ama”

Sorriu... Um riso meio besta... Riso de uma filha que tem orgulho da mãe que Deus lhe deu.

Foi pra a praia, caminhou um pouco, deu umas braçadas e voltou para casa, não era de ficar tostando no Sol, nem podia, sua pele – muito branca – era hiper sensível.

Já de noite decidiu ir ajudar a mãe no pequeno estabelecimento que tinha. Parou no bar para dar um abraço na irmã.

- Meu Deus! Como você está linda! - sorriu encantada enquanto abraçavam-se – Se você não fosse minha irmã... - brincou com um sorriso sacana.

- Sabe... Tecnicamente não somos irmãs. - sorriu abertamente – Então sinta-se a vontade.

- Deixa a mãe te ouvir falando que não somos irmãs. - sorriu para logo depois abraçar o corpo menor novamente.

Conversou um pouco mais com a irmã e correu para a cozinha. Quando viu a mãe de costas correu para abraça-la.

- Minha menina! - disse assim que encarou os olhos lacrimosos

- 'Bença' mãe.

- Meu pai que lhe abençoe.

- O que você fez que demorou tanto?

- Acordei tarde, fui dar um mergulho e passei o resto do dia lendo.

- Não era disso que eu estava falando.

- Estava trabalhando, 'mainha'.

- Hum... - resmungou antes de voltar a dar atenção as suas panelas.

- Mãe...? Vai ficar assim de bico? Olha que eu volto para o Rio. - falou brincando.

- Pois já passou da hora de voltar então. - disse estranhamente séria.

- 'Mainha'... Não fica assim comigo não.

- E como é que eu haveria de ficar!? Laura... Você sabe o que significa o seu nome?

“Árvore de Louros” - pensou

- Você é uma campeã... E sua mãe tem muito orgulho de você por isso. Mas você fugir na hora que ela mais precisa de você não vai ajudar.

- Mas mãe... Eu... - foi rapidamente cortada pela mulher que a criou.

- Olhe só... Eu estou lhe mandando pegar suas coisas e voltar.

- 'Mainha'... - Laura estava quase chorando.

- Você vai me desobedecer? - fez uma cara brava e riu ao ver a filha estremecer.

- Nunca mãe! - amava e respeitava demais aquela mulher para desobedecê-la.

- Então dê um beijo nessa velha aqui e vá ser feliz minha criança.

Lights will guide you home

And ignite your bones

And I will try to fix you

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¹ Aeroporto Internacional de Salvador