Por um breve momento pensei, que tudo o que eu havia vivido me levou até aquele momento para simplismete salvá-lo.

O meu pedaço mais puro, mais belo. O ser mais importante para mim.

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Para um consultório médico, aquele espaço era colorido demais. Mas ao ler o pequeno cartão em minha mão aquelas cores todas se justificavam.

 “Laura C. Bettencourt – Oncologia Pediátrica”

Leu e releu o pequeno pedaço de papel infinitas vezes. Parou ao sentir o toque suave do marido em sua perna. Caminharam de mãos dadas até uma porta cujo os dizeres eram os mesmos que leu e releu na sala de espera.

- Boa tarde. Queiram sentar-se.

- Bem doutora, gostaria de saber como andam os exames.

- Trate-me por Laura. - pediu com um sorriso meigo – Os resultados dos exames não são muito animadores.

Esmagou os dedos do homem ao seu lado. O coração gelou, parou. O medo enfim se tornou maior que a esperança.

- Mas o Eduardo...

- Conversei muito com o Eduardo antes de aceitar o caso do Pedro.Isso é muito incomum e poderia até não ser o melhor para o pequeno. Inicialmente ele achou que se tratava de LLA comum. Eu refiz os exames e não era um LLA e sim um LLC, que evoluiu para a Síndrome de Richter.

- Então o menino não tem leucemia? - o pai perguntou esperançoso.

- A doença se tornou muito agreciva, se antes ele tinha 24 % de chance agora ele tem 7% ou menos.

When you try your best but you don't succeed

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- Eu não aquento mais te ver assim! - gritava para a mulher aos prantos – O Pedrinho pode não sobreviver mais você tem um marido que te ama e um filho que sente a sua falta.

- O Pedro precisa de mim! - as lágrimas corriam livres pelo rosto avermelhado, o cansaço e a raiva que sentia eram cuspidas ao vento em forma de palavras. - Você e o Paulo podem e devem me entender.

- Eu te apoio, pois sou seu marido e amo meus filhos! Mas o Paulo só tem cinco anos você não pode exigir nada dele.

- Ele entende o que está acontecendo. - disse já sem lágrimas no rosto e sem forças para continuar a discutir.

- Me diz o que você quer de mim... Eu não sei mais o que fazer!

- Quero que você vá embora dessa casa e aproveite para levar o seu filho com você.

Ricardo estava chocado, sua mulher amava os filhos acima de qualquer coisa. Contudo atendeu ao seu e a noite ele e o pequeno Paulo deixaram a casa.

When you get what you want but not what you need

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Quando chegou do hospital e viu-se sozinha em casa suspirou aliviada. A culpa foi maior que o alívio, com certeza.

Não podia culpar o marido pelo filho estar doente. Não podia culpar Paulo por estar saudável e seu irmão não.

Racionalmente não podia, mas como seu coração era um emaranhado de dor, mágoa, tristesa e cansaço não havia outra forma de se confortar.

Depois de um banho rápido, foi se deixar e apesar do sono, seus olhos não conseguiam fechar-se.

When you feel so tired but you can't sleep

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- Você precisa sair desse hospital! Até a Laura disse que ele vai passar a maior parte do tempo dormindo e que quando acordar, não demorará a dormir de novo. O Paulo sente a sua falta!

- Ricardo eu já te disse milhares de vezes que não vou abandonar meu filho.

- Você tem outro filho!

- Se você se importasse um pouco com o Pedro eu poderia me dedicar ao Paulo. Mas você nem vem ver seu filho!

- Quer saber...? Eu cansei... Cansei!

Saiu batendo a porta deixando uma mulher vazia para trás.

Stuck in reverse

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O Sol estava forte, o céu lindamente azul e as nuvens brancas de tão espessas pareciam ser feitas de algodão.

- O dia está lindo. - ela disse e Laura concordou. Logo depois abraçou-a.

Durante todo o sepultamento o silêncio era apenas cortado pelo som das respirações dos que ali estavam presentes.

Doeu muito ver o pequenino caixão branco ser coberto de terra aos poucos. A dor foi tanta que se agarrou ainda mais a Laura para chorar com o rosto contra o seu ombro, molhando suas roupas.

And the tears come streaming down your face

When you lose something you can't replace

When you love someone but it goes to waste

could it be worse?

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