Horas haviam se passado desde que chegaram naquele hospital e nenhuma notícia tinha sido dada pelos médicos sobre o estado de Hinata.

Assim que chegaram lá com ela, logo a colocaram numa maca e entraram correndo em uma sala que o acesso era restrito a eles, o que deixou o casal ainda mais frustrado com a situação.

Para ajudar, o clima entre Ino e Sasuke não estava dos melhores. Não desde que ela havia começado com todo aquele papinho de ciúme para cima dele. Mas ela não conseguia aguentar aquele silêncio incomodo que estava entre eles na sala de espera e, antes mesmo que pudesse pensar, falou:

– Você e a Hinata estavam lindos dormindo juntos daquele jeito. – disse a loira de forma ríspida e enciumada. Prendeu a respiração assim que percebeu a besteira que havia dito, mas já era tarde demais.

– Meu Deus, Ino... Qual é o seu problema? Sua melhor amiga está hospitalizada, a beira da morte, e tudo que você pensa é nesse seu ciúme infantil. – respondeu abismado com aquele assunto.

Ino nada disse, desculpou-se com o olhar antes de abaixar a cabeça e deixar uma única lagrima rolar. E foi ai que Sasuke entendeu que o que estava acontecendo era o que ele imaginava. Tudo aquilo era demais para ela.

– Ino... – chamou-a de forma gentil, jogando seu braço por cima dos ombros dela – Uma hora ou outra você vai ter que lidar com o fato de que você vai perder sua melhor amiga e vai ter que parar de achar qualquer outro assunto ou motivo para fugir da realidade.

– C-Como você pode ficar tão calmo com tudo que está acontecendo? – questionou-o, chorosa – Eu... Eu não consigo colocar na minha cabeça que ela está morrendo, não consigo...

– Eu sei... Mas você precisa. – e dito isso ele a abraçou forte, depositando um beijo no topo da cabeça dela, que estava apoiada em seu peito.

Mas ela realmente não conseguia. Hinata e ela eram amigas há anos, uma amizade mais velha que a dela com Sasuke, e por isso era tão difícil admitir para si mesma que a qualquer momento perderia a pessoa com que mais se importava no mundo. Pedir para que ela agisse normal, como se nada estivesse acontecendo, era pedir demais para ela, mais do que ela conseguia lidar pelo menos.

– Com licença... – disse uma enfermeira de cabelos vermelhos, interrompendo o momento dos dois – Mas a senhorita Hyuuga está acordada.

No mesmo segundo, Ino levantou e foi em direção ao quarto. Sasuke acenou positivamente para ela e foi conversar com o médico que vinha pelo corredor. Entrou devagar no quarto e recebeu um discreto sorriso da morena, que estava deitada de barriga para cima, porém com o rosto virado para a porta. A Yamanaka andou até a cama e sentou-se na beirada, segurando com delicadeza a mão da amiga.

– Então, como está se sentindo? – perguntou Ino.

– Com essa agulha enfiada na minha veia? Ótima. – respondeu irônica.

Ino apenas deu uma leve risada. Sabia o quanto a amiga odiava agulhas.

– Mas afinal, o que aconteceu?

– Eu não sei, Ino... A última coisa que eu lembro é de conversar com Sasuke e ir dormir.

– Bom... Sasuke foi falar com o médico, então já já devemos saber o que aconteceu.

– Você não está brava com ele, né?

– Não... – disse a loira enquanto soltava o ar pesadamente – Era só uma forma de evitar pensar na possibilidade de te perder. Idiotice minha, para variar.

Naquele momento, as duas riram.

– Que saudades que eu estava de você... – comentou Hinata depois de alguns segundos de silêncio, erguendo o corpo para se sentar ao lado da amiga.

– Desculpe ter te evitado, mas eu não conseguia ver você definhando do jeito que você estava... Toda vez que eu te via, você estava cada vez pior, sem nenhum sinal de melhora, e isso é algo que nem a melhor amiga do mundo consegue aguentar. – disse e passou as costas da mão no rosto, para limpar as lágrimas que caiam – Mas eu estou aqui agora... E não vou a lugar nenhum.

– Isso era tudo que eu precisava saber. – respondeu sorrindo e empurrando o corpo da amiga de leve com o próprio ombro.

– Sabe... Eu imaginei a gente se separando por “n” motivos e todas às vezes era por minha culpa. Ou eu estragava tudo por ciúme ou eu estragava tudo com as minhas idiotices que você já está acostumada. – comentou e deu risada, seguida da amiga – Mas nunca, nunca eu imaginei que fosse ser por algo tão trágico.

– Se é pra ser sincera, eu sempre imaginei que você seria quem estragaria tudo. – e as duas riram novamente – Mas tente olhar isso pelo lado positivo...

– Que lado positivo?

– Pelo menos não foi por sua causa...

Ino deu uma risada sem graça e empurrou a amiga com o próprio corpo.

– Eu preferia que fosse por minha causa. – a loira disse com a voz chorosa e Hinata entrelaçou seus dedos com os de Ino, deitando a cabeça no ombro dela. – O que a gente vai fazer?

– Eu vou morrer... – disse como se fosse a coisa mais normal do mundo – E você, Ino?

– Pare de falar assim! – disse brava – Mas se isso realmente acontecer, eu não sei. – respondeu chorando – Eu realmente não sei... Com quem eu vou morar, dividir meus segredos, minhas alegrias e minhas angústias? Quem vai andar comigo, embaixo de neve forte, só para comprar meu café favorito? Quem vai ser capaz de aturar minhas besteiras e fazer minhas maluquices, se não você? Até o Sasuke se cansa delas. – riu em meio às lágrimas, causando a mesma reação na amiga – E quem vai me dar conselhos sobre como lidar com o Uchiha quando eu o irritar? Quer dizer, eu só... Eu não sei nem como viver sem você por uma semana, Hinata, quem dirá para sempre? Eu não... Eu não sei o que fazer... O que eu devo fazer sem a minha melhor amiga, hein? Se você souber, por favor, me diga, porque eu não faço a mínima ideia. Então, pelo amor de Deus, seja forte e melhore, ok? Por favor...

E diante daquelas palavras, Hinata não teve como não se emocionar. Respirou fundo e encheu seu pulmão de ar para evitar chorar. Tinha que ser forte apesar de tudo.

– Eu espero que você seja muito feliz, de verdade, e você vai ser, estando eu aqui ou não. Eu prometo que vou fazer de tudo para melhorar, ok? Mas, caso isso não aconteça... eu amo você... Obrigada por tudo. – e agora Hinata também chorava, pouco, mas chorava.

Ino apenas apertou a mão da amiga e a acariciou com o polegar, concordando de leve com a cabeça.

– Eu também, Hina... – sussurrou.

– -

– E ai, como ela está? – perguntou Sasuke assim que Ino saiu do quarto.

– Bem, eu acho. Quer dizer, ela está certa de que vai morrer, mas tirando isso... – disse visivelmente chateada e deu de ombros.

– Hm... – resmungou e recebeu um olhar questionador da namorada.

– Você conversou com o médico dela?

– Sim... – demorou a responder.

– E... – a loira disse gesticulando com a mão para que ele continuasse.

Sasuke bufou e balançou a cabeça negativamente. Passou as mãos no rosto, nervoso, e viu Ino ter um ataque de nervos mudo.

– O motivo do desmaio dela foi a falta de líquidos no corpo junto com a medicação que ela deixou de tomar. O doutor disse que se não tivéssemos trazido ela tão rápido pro hospital ela provavelmente teria... Enfim, num quadro mais geral: o médico não tem ideia de como ela ainda está consciente... – sussurrava para que ninguém mais o escutasse – Disse que o tumor está grande demais e que não sabe de onde ela ta tirando forças para aguentar tudo o que está aguentando.

Ao ouvir isso, Ino apertou os lábios e cobriu a boca com uma das mãos, não conseguindo evitar as lágrimas de descerem por seu rosto. O Uchiha, que estava sendo forte até o momento, continuou forte para que sua namorada pudesse colocar tudo para fora. Apenas a abraçou e fez com que ela apoiasse a cabeça em seu peito, não sem antes depositar um beijo na testa dela.

Ficaram naquela posição por alguns minutos, até que Ino se afastou dele lentamente e passou as mãos nos olhos afim de limpa-los. Respirou fundo e engoliu o choro para que pudesse se pronunciar.

– Você sabe qual a razão dela estar sendo tão forte, não sabe? – perguntou com a voz rouca e falhada devido ao recente choro.

Ele apenas acenou com a cabeça.

– Você liga ou quer que eu faça?

– Ele é meu melhor amigo... Acho que depois de tanto tempo escondendo isso dele, nada mais justo do que eu ligar para lhe dar a noticia.

– Ótimo... Porque eu não teria condições de fazer uma coisa dessas.

– Não se preocupe com isso. – disse Sasuke e se aproximou dela, dando lhe um selinho e indo para um lugar mais tranqüilo para realizar a ligação.

– -

Era quase seis da manhã e Ino andava desesperadamente de um lado para o outro no corredor do hospital.

– Ino! – advertiu Sasuke em baixo tom – Será que dá pra ficar quieta?

– Cadê ele? – perguntou ignorando o pedido do namorado – Já era para ele ter chegado...

– Eu liguei para ele as seis da tarde e o voo dura entre sete e oito horas. Ele já deve estar chegando. – respondeu impaciente recostando no encosto da cadeira.

– Seis... Sete, oito, nove... – e foi contando as horas enquanto apontava os dedos – ... Seis da manhã! Já se passaram mais de dez horas, Sasuke.

– Eu sei, eu sei... Mas não era só ir para o aeroporto e vir para cá. Já tivemos sorte dele ter achado um voo tão rápido para Nova Iorque, então, por favor, senta e sossega que você já ta me deixando irritado. – disse de maneira doce e a loira apenas bufou, cedendo ao namorado e sentando-se ao seu lado.

Esperaram por mais tempo e, em algum momento, acabaram dormindo. Quando Ino acordou com o barulho que os enfermeiros faziam no corredor, ela pegou o celular no bolso da calça e viu o horário: sete e meia da manhã. Seu resmungo foi tão alto que fez Sasuke despertar.

– O que foi agora? – perguntou resmungando enquanto mantinha os olhos cerrados para se acostumar a luz em seus olhos.

– São sete e meia e ele ainda não chegou. – respondeu batendo um dos pés no chão, impaciente – Vou ligar para ele.

O Uchiha apenas deu de ombros. Tinha acabado de acordar e o amigo estava realmente demorando para alguém que tinha conseguido um vôo as nove da noite.

– Ele não atende. – disse ela tirando o namorado de seus pensamentos – Toca, toca e nada.

– Às vezes ele está pegando a mala ou saindo do voo. – comentou na tentativa de acalma-la.

No mesmo instante, ouviram alguma confusão no corredor que precedia a sala de espera que estavam. Os enfermeiros gritavam que era proibido correr por ali, mas, a julgar pelos passos pesados e rápidos que eram ouvidos, a pessoa para qual a palavra era dirigida parecia apenas não ligar.

Os dois, que agora estavam de pé, olharam para onde vinha o barulho e puderam ver uma cabeleira loira vindo daquela direção. Porém, ele estava tão rápido que eles não puderam perceber o movimento que veio a seguir e, quando perceberam, Sasuke já estava caído no chão.

Naruto havia acertado um soco tão forte no lado esquerdo do rosto do amigo que fizera com que ele caísse no chão, desconsertado. O loiro estava com o peito estufado, a respiração pesada e os olhos nublados num misto de raiva e tristeza.

– Filho da puta! – esbravejou encarando Sasuke por cima.

E pela primeira vez, o Uchiha conseguiu reparar no rosto de Naruto. Seus olhos estavam inchados e ele tinha leves olheiras embaixo dos mesmos. Seus fios loiros estavam mais rebeldes que o usual e seus punhos estavam fechados com evidente ódio.

– Seu desgraçado! – gritou – Como pôde esconder algo assim de mim?!

– Naruto... – Ino sussurrou, mas em vão.

Por estar tão perto dele, pôde reparar em seu rosto com mais atenção. Apenas tinha visto aquela expressão uma vez na sua vida inteira e o resultado dela não tinha sido nada bom. Era uma mistura de ódio com tristeza, ambas as emoções lutando para dominar os azuis dos olhos do loiro e tomar o mínimo de razão que ainda lhe restava. Esperava, do fundo de seu coração e mente sã, que Naruto se acalmasse antes que causasse um estrago ainda maior.

– Me responde, seu maldito! Por que fez isso comigo?

Sasuke continuou no chão enquanto passava a mão de leve pelo lado do rosto que havia recebido o soco. Mas nada respondeu. Não tinha o que responder. Pelo menos, não algo que o amigo aceitasse como desculpa.

– Vocês não mereciam esse tempo com ela... – disse agora num tom mais baixo e grave.

O Uzumaki ia partir para cima do amigo, quando foi impedido por Ino.

– Ela pediu para que não te contássemos nada! – disse em um tom mais elevado, com os olhos já marejados. – Disse que se falássemos algo ela iria embora e a gente nunca mais ouviria falar dela.

Ino, que o empurrava pelo peito para trás, parou de sentir o peso do corpo dele sobre o seu, vendo-o abaixar a cabeça.

– Desculpa... – disse o moreno, já em pé atrás da namorada.

– Eu nunca os perdoarei por isso... – respondeu após algum tempo, com um tom triste e saindo de perto dos amigos.

– -

– Ela já está pronta para receber visitas. – disse a enfermeira de cabelos ruivos a Naruto.

O Uzumaki observava a namorada deitada na cama, com alguns fios ligados as costas das mãos e um outro indo em direção a sua veia, pela janela que tinha na sala de espera. Ela parecia estar dormindo... Pelo menos estava com os olhos fechados. Tinha na cabeça uma delicada touca lilás escondendo lhe os cabelos.

Ele respirou pesadamente ao observar aquela cena. Estava com saudade dela, demais, mas não conseguia aceitar o fato dela ter escondido tudo aquilo dele. Era inaceitável, ou pelo menos ele pensava que era. Foi tirado de seus devaneios quando ouviu passos atrás de si. Virou-se e deu de cara com Sasuke, que o oferecia uma xícara de café com um sorriso amigável no rosto.

– Não consigo entrar. – disse o loiro olhando para dentro do quarto, fazendo com que o amigo fizesse o mesmo. Suspirou pesadamente e voltou a encara-lo – Eu só... Só preciso de mais tempo.

– Não há mais tempo, Naruto. – o Uchiha respondeu triste.

– Eu estou tão furioso com ela. – disse entre dentes – Ela não deveria ter escondido isso de mim...

– Ela está morrendo, Dobe... Não desperdice seu tempo brigando com ela.

E ao ouvir aquelas palavras, Naruto desabou em lágrimas pela primeira vez desde que havia chegado a Nova Iorque. Sasuke não pôde fazer nada a não ser abraça-lo, e bem forte, para que ele soubesse que não estava sozinho naquilo. Os olhos negros se encheram de lágrimas, mas o Uchiha conseguiu segura-las. Seu momento de ser fraco já havia passado.

– Eu sei... – o loiro sussurrou com a voz falhada quando se soltou do amigo após algum tempo.

– Seja forte. – disse com uma das mãos em cima do ombro do loiro – Você precisa ser forte por ela, assim como ela foi por você.

Naruto escutou àquelas palavras atentamente e percebeu o quão certo estava seu amigo. Estabilizou a respiração ofegante depois de um longo suspiro e acenou com a cabeça, recebendo um aceno positivo do amigo como resposta.

Logo após agradece-lo com o olhar, o Uzumaki foi em direção a porta do quarto, fazendo com que Hinata despertasse com o barulho da mesma se fechando.