Mind's Control escrita por Liesel Odair


Capítulo 6
CHOROS


Notas iniciais do capítulo

Nem demorei, não é? Acho que não sçldksakd. Mentira, demorei sim. Desculpem, mais uma vez. Eu tinha escrito um outro início para esse capítulo mas ficou horrível, então eu tive que alterar tudo!



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Depois de passarem por várias ruas – Grace já estava com os olhos quase se fechando – eles chegaram à casa de Dylan que ficava atrás de uma loja de instrumentos musicais que pertenciam à família do garoto. Dylan mostrou o sofá onde Grace iria passar a noite e foi à cozinha preparar a comida.

Depois de achar uma posição razoavelmente boa, Grace dormiu e nem percebeu que Dylan havia colocado um cobertor sobre ela.

Grace acordou cedo e saiu, deixando apenas um bilhete avisando ao Dylan que o encontraria no Centro de Treinamento. Caminhando pelas ruas desconhecidas e um céu não totalmente claro, ela chegou ao que parecia uma rua principal. Era rodeada por lojas, a maioria fechada. Grace se lembrou de quando andava saltitante pelas ruas de Londres quando a mãe a mandava ao mercado.

Despercebidamente, ela trombou em uma pessoa. Quer dizer, o que ela julgava ser uma pessoa era na verdade um poste de luz. Duas meninas se juntaram ao redor dela para ajudá-la, e ela as dispensou alegando que não havia se machucado. Grace havia escutado uma risada. Uma risada que já ouvira uma vez.

A menina olhou ao redor e captou o olhar dele do outro lado da rua. Sentado em uma mesa do lado de fora de uma cafeteria, estava Noah. Ele mandou adeusinho para Grace. Ela atravessou a rua correndo.

– Oi. – Ele falou, fazendo um gesto para ela sentar-se à mesa.

– O que você está fazendo aqui? – Grace perguntou.

– Hm... Sentado?

Grace bateu impacientemente os pés no chão e soltou um grunhido. Noah sorriu irritantemente.

– Esperando as White, que coincidentemente já estão aqui.

– O que quer di...?

Mal ela completou a frase, Mary e Mayra já haviam chegado e sentado cada uma em um lado de Grace.

– Olá, Grace Walker. – Cumprimentou Mary.

– Oi! – Mayra falou sorrindo. – Tudo bem, Grace?

Grace concordou com a cabeça e as irmãs começaram a conversar, Noah fazendo apenas alguns comentários, mas nunca totalmente atento à conversa. Ele parecia estar em um mundo secreto dentro dele, a qual Grace não ficou nem um pouco curiosa de conhecer.

Depois de alguns minutos de conversa – falando sobre o treinamento, a extinção dos Controladores e coisas do tipo – Mayra se despediu.

– Vou encontrar Charles no Smith antes de ir pro Centro, ele quer ajuda para escolher um novo jogo e disse que se eu fosse ele pagaria um sorvete para mim. Tudo por um sorvete.

Assim ela saiu, e Grace, que desde o dia anterior se intrigava, decidiu fazer uma pergunta para Mary, que roia as unhas.

– Como Liesel ficou muda?

Mary olhou-a e pareceu estar considerando muito responder a pergunta, mas decidiu fazê-lo.

– Quando ela tinha nove anos, o pai dela a levou em um hospital e detectaram um nódulo nas cordas vocais. Disseram que já estava em um estágio avançado e precisava de uma cirurgia. O pai, que não tinha dinheiro suficiente, se mudou para a China, onde tinha parentes que o permitiram trabalhar alguns meses, e o salário era suficiente para pagar a cirurgia de Liesel. Ela ficou sozinha com a tia – sua mãe havia falecido em um acidente de carro quando ela tinha quatro anos – e aconteceu algo desesperador. A tia dela foi Controlada. Depois do Controle, o corpo dela nunca mais foi visto e a pequena Liesel teve de ir para um orfanato, pois seu pai não havia retornado. O caso na garganta ficava cada vez mais grave. Cinco meses depois, o pai voltou e não encontrou nenhuma das duas.

“Desesperado, ele procurou-as em todos os cantos de Londres e encontrou Liesel no orfanato. Ele conseguiu a guarda da menina e assim que a recuperou, mandou-a para o hospital fazer a cirurgia. Enquanto ela estava internada, o pai procurava vestígios da tia, até que Ben o encontrou, explicou tudo o que havia acontecido com Elizabeth – a tia – e disse que Liesel, se assim quisesse, poderia se tornar uma Hillander após a cirurgia. O pai, chocado, não disse nada. Quando retornou ao hospital, descobriu que a cirurgia havia falhado. Um erro médico havia tornado sua filha muda. O homem desolado, chorava, dizendo que havia perdido tudo o que tinha. Liesel não reagiu de tal forma. Ela não teve nenhuma reação negativa. Levou tudo numa boa. Assim que chegou ela em casa, o pai contou à filha que poderia se tornar um Hillander e ela se animou. No mesmo dia Liesel se matriculou.”

Grace estava espantada demais. Noah parecia estar prestes a dormir.

– Mas o que houve com o pai dela?

– Ainda está vivo. Ela mora com ele. – Mary deu de ombros. – Bom, foi o que eu ouvi.

– Nossa... Que triste, sinto muito.

– É.

– Desculpe perguntar, como você se tornou uma Hillander? – Grace considerou muito fazer tal pergunta, mas fez mesmo assim.

Mary fuzilou-a com um olhar. Ela levantou da cadeira e segurou a gola da camisa da outra.

– Nunca, nunca mesmo, repita essa pergunta novamente, entendeu? Principalmente na frente de Mayra, caso contrário nada ficará bem para o seu lado.

Grace concordou e Mary a soltou.

– Me desculpe...

Mary deu o assunto por encerrado quando bateu o punho da mão na mesa. Grace já estava acostumada com silêncios constrangedores. Noah havia mesmo dormido, estava com a boca escancarada sobre a mesa. Mary tinha entrado na cafeteria para fazer seu pedido.

Até que o inevitável aconteceu. Grace mergulhou em um sonho profundo, tão real quanto aquele outro. Dessa vez ela se encontrava em um quarto. A mobília do cômodo era antiga e ela – com o mesmo corpo grande e masculino do sonho anterior – estava sentada em uma cadeira com os cotovelos apoiados em uma mesa de madeira, escrevendo uma carta. A caligrafia com certeza era diferente da sua. Essa era fina e arrastada. Grace tentou ler o que estava escrito, mas não conseguia. Os olhos estavam embaçados de lágrimas.

Ela tentava gritar, mas nada saía de sua boca. Tentava mexer o braço para enxugar o rosto, mas o membro não atendia seus comandos. Desespero tomou conta de Grace. Grace chorava, mas não era um choro como outro, um choro o qual lágrimas escorrem dos olhos pela face. Era um choro interno, um choro que somente sua mente teria sequelas. Águas de sofrimentos que escorriam pelo rosto dos pensamentos. A dor psicológica é, aparentemente, mais letal do que a física.

Estou enlouquecendo, ela tentava gritar, isso não pode ser só um sonho. Maldito seja você, Controlador idiota! Pare de chorar. Eu é que estou sofrendo. Eu é que tenho que estar chorando.

Mas, assim como ela chorava internamente, o corpo continuava chorava exteriormente. As lágrimas agora molhavam o papel. As mãos se levantaram e levaram ao cabelo. Grace conseguiu sentir a oleosidade dos fios, e a maciez. Era curto, Grace conseguia perceber. Ela foi escorregando do assento e queria falar para quem quer que fosse o dono daquele corpo se endireitar. Mas, como ela não emitia sons, ficou calada, deixando-se cair pela cadeira. Ela caiu fortemente no chão, batendo a cabeça dolorosamente no chão de madeira. Uma dor lancinante penetrou em Grace.

GRACE ACORDOU GRITANDO. Seus gritos sufocados durante aquele sonho foram soltos todos de uma vez. Ela sentiu alivio, mas ao mesmo tempo sentiu dor. O som agudo tomou conta da audição de Grace, e ela já estava pensando que ficaria surda com o próprio grito.

– Se continuar gritando, vai chamar atenção dos policiais. – Noah alertou. Grace diminuiu o grito, agora era mais um sussurro. Ela abriu os olhos devagar. – Parece que está sendo torturada.

– Onde eu estou?

Noah, de frente para ela, deu um sorriso brilhante, como se esperasse ela fazer essa pergunta.

– Bem vinda à minha casa, Grace Walker.            

Mayra chegou ao Smith antes de Charlie. Ela sentou na cadeira da loja enquanto mascava um chiclete. Smith atendia os clientes, tagarelando sobre a modernidade dos novos aparelhos eletrônicos que haviam acabado de chegar e empurrando os produtos para os fregueses.

Mayra viu Charlie na calçada em frente à loja. Ele correu despreocupado e bateu o rosto no vidro da porta, fazendo uma careta. Mayra teve um ataque de risos enquanto o garoto virava a maçaneta para entrar.

– Você nunca vai lembrar que há uma porta de vidro e não uma entrada transparente, não é? – Mayra ainda estava rindo.

– Vi sua beleza do outro lado e não me lembrei da existência desse troço que atrapalha minha entrada no Smith.

Mayra revirou os olhos.

– Escolhe logo.

Ela ficou ao lado de Charlie enquanto olhava as prateleiras de diversos jogos de diferentes tipos. Ele percorria os dedos pelas caixinhas das fitas e murmurava os nomes.

– Ok, cadê os de extraterrestres? – Charlie perguntou enquanto examinava.

– Você e essa obsessão por jogos alienígenas. – Mayra observou.

– Quando eles dominarem o planeta, eles terão piedade de mim.

– Só porque você jogava jogos deles?

Charlie abriu a boca e fechou-as segundos depois. Levou a mão no queixo e semicerrou os olhos

– Ai meu Deus, você tem razão! Não devemos nos aliar aos alienígenas, eles devem ser aniquilados. Smith! – Charlie gritou. – Quero uma droga de jogo onde eu possa matar alienígenas.

Mayra suspirou.

– Charles me surpreende cada vez mais. – ela disse, para ninguém em especial.

Smith apareceu com um jogo chamado Humans VS Aliens, e explicou todo ele para Charlie, enquanto o garoto gesticulava animadamente sobre como iria derrotar os extraterrestres.

Mayra sentiu uma tontura. Ela voltou à recepção da loja e sentou novamente, respirando fundo, como o pai havia ensinado. Agora a sua visão estava turva, as imagens girando como se estivesse em um barco. De novo não, ela pensava implorando, por favor.

Pontos brancos apareceram no canto dos seus olhos, ela já estava começando a tremer. Respirando como se cada ar inalado fossem as únicas coisas que a manteria viva, talvez fosse verdade.

Ela já não estava aguentando mais quando uma mão a puxou e pegou pelos ombros.

– Mayra! – Charlie sacudia a menina. – Mayra, me responde.

Mayra continuava respirando profundamente, esperando que adiantasse.

– Eu estou bem, Charles. – A voz dela saiu falhada.

– Tenho que levá-la ao Ben, imediatamente.

Noah apresentou sua casa – que era um minúsculo apartamento só com dois cômodos – e ofereceu comida à Grace, que recusou.

– Então, ansiosa para começar o treinamento? – Noah perguntou enquanto almoçava.

– Não.

– Bem direta. – Ele observou-a – Levando em conta sua pouca capacidade mental, provavelmente seu treinamento, provavelmente, será físico.

– Como sabe da minha capacidade mental? – Grace perguntou irritada.

– Venho estudado você.

Grace começou a morder o dedo indicador, como fazia sempre que estava nervosa. Noah terminou de comer e colocou o prato em uma pilha de louça suja.

– Não seria uma boa hora para você, uma dama, mostrar seus talentos como dona de casa? Sabe, arrumar as coisas, limpar, lavar e passar minhas roupas...

– Eu sou uma mulher, e não a Branca de Neve. Não devo nada a você. – Grace retrucou.

– Mas se você fosse a Branca de Neve – Noah falou, pelo que pareceu a primeira vez dando um sorriso sincero. –, eu seria o Zangado, não acha?

– Não, você seria o Dunga.

– Ah, não. Acho que seria Liesel.

A piadinha não era exatamente uma coisa com que se brincasse, mas Grace não conseguiu conter a risada. Ela olhou para o relógio, preocupada. Já eram onze e meia; o treinamento começava meio-dia.

– Estamos atrasados, Noah. Não vamos chegar a tempo.

– Quem disse que iremos à pé?

– Benjamin! Ben! – Charlie desceu pelo telhado - meio carregando Mayra, meio arrastando -, enquanto chamava o diretor. Ele entrou na primeira porta preta que ele viu e parou no Centro, que conhecia tão bem. Quatro anos ali foram mais do que suficiente para ele considerar todos sua família.

Ben estava sentado em uma das máquinas e virou ao ouvir os gritos de Charlie.

– Mas o que diabos está acontecendo? – Ben viu, segundos depois, que o menino carregava Mayra nos braços. – Gretel, venha aqui me ajudar.

Ben pegou Mayra por um lado e Gretel por outro, e eles a levaram para a enfermaria.

– Cuidaremos dela agora, Charles. Pode ir.

Charlie foi embora e deixou Mayra sob os cuidados dos dois. Ben analisou a menina desacordada e abriu seus olhos. Estavam completamente brancos. Ele colocou o dedo no pulso do pescoço da garota e viu que ela ainda estava viva, e isso o aliviou.

– Foi só mais uma crise, Gretel. Também está dispensada.

Ben sentou na cama e esperou a ajudante se retirar. Colocou a mão na testa de Mayra e sentiu queimar. Ele suspirou.

– É, minha jovem guerreira, fiz de tudo para você voltar ao mais normal que é possível. Mas sua hora está chegando.


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Notas finais do capítulo

Espero, realmente, que tenham gostado.
Me divirto escrevendo as partes do Charlie, então acho que vou focar nele, também.
Não deixem de dar a opinião de vocês, dicas e coisas do gênero.
Até breve.



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