Lucy abriu os olhos lentamente, em apenas uma semana sua vida havia sido colocada em cabeça pra baixo. Seu quarto havia se tornado um cubículo pequeno e cinza, com duas camas do lado esquerdo, e uma pequena mesa do lado direito, a porta só se abria quando Lucy e sua companheira tinham de treinar. O esconderijo não era lá tudo aquilo, mas mesmo assim, era o o seu lar, onde seus amigos estavam, onde sua nova família morava, e agora ali, estava tão solitária.

Seu dia estava marcada para dali dois meses, uma data pelo qual ela espera não estar viva. Sua companheira de quarto se chamava Melinda, uma adolescente de 16 anos do Texas. Melinda tinha olhos verdes e cabelos loiros, estava pálida e com uma expressão insana no rosto. Tinha a estranha mania de andar descalças, dizia que quando o gelo tocava seus delicados dedos, se sentia nas nuvens, Lucy tinha quase certeza que ela havia enlouquecido.

- Sabe que dia é hoje Lucy? Sabe qual é?- A voz de Melinda ressoava pelo o quarto como se tudo fosse uma maravilhosa novidade.

- Hoje é terça Melinda.

- Ah é sim, terça-feira- Melinda sorriu e se jogou na sua cama- Mas também é outro dia, um dia muito especial Lucy.

- E que dia é esse?

- É o dia de meu fim Lucy, é o dia de meu fim- O sorriso da Melinda sumiu, transformando sua face naquele vazio perturbador, mas logo o sorriso estranho voltou a seus lábios.

Sim, ela estava louca. Lucy sentou-se em sua cama e balançou de leve seus pés, era uma mania que agora tinha, apenas por que a lembrava de Amy. Seus olhos se fixaram na garota a sua frente, e sua mente flutuou para um futuro que ela temia. Melinda era um caso especial, dissera Zero, estava ali havia três meses, a garota mais fria e dura que a base pode conhecer, mas o tempo foi cruel com sua mente, foi cruel com seu coração. Lucy não queria isso, terminar como Melinda era algo que todos temiam, a loucura era tentadora, mas ela era forte o suficiente para evita-la.

A porta se abriu de supetão. Um movimento estranho, pois ainda era sete e meia da manhã, e seu treino começava as noves, indo até as dez da noite, com apenas uma parada para almoçar. O responsável por leva-las era um senhor de 60 anos, obrigado a servir o novo governo já que nada lhe sobrara, mas daquela vez um dos soldados estava parado a porta. Sua mascara branca fazia com que Lucy se sentia estranha, ela se encolheu na cama e o olhou confusa.

- Melinda Harvez?- Ele perguntou.

Melinda se pôs de pé, balançando-se como uma criança prestes a receber um chocolate, seu sorriso era gigante e extravagante, mas seus olhos cairão em uma tristeza quase depressiva. Talvez fosse mesmo bom para ela passar pela transformação, assim sua loucura ia de vez, e de algum modo ela voltaria a ser a mesma. Lucy pensou por um momento se esse não era o plano de Zero e seus capangas, enlouquecer adolescentes até que a única cura seja a transformação.

- Eu mesma, eu mesma- Melinda repetiu, como sempre.

- Está na hora.