- Certo, eu irei contar tudo.

Charles arqueou a sobrancelha em quanto lançava um olhar para mim. Norman parecia nervoso, como se estivesse guardando um segredo que pudesse destruir sua vida em apenas um segundo, talvez fosse isso. Em minha cabeça milhares de situações se passaram, nenhuma delas apontava Norman como um inocente, ambas pediam para que eu cortasse sua cabeça.

- Vamos, fale- Becky parecia já ter esquecido do corte na perna.

- Meu pai é o braço direito daquele que controla- Norman continuou- Embora ele tenha um ótimo cargo dentro do novo governo, eu não sou tratado de um modo especial. Estou sendo caçado, assim como vocês, não vou me livrar desse futuro. Zero disse que meu destino é me tornar um ótimo inimigo em batalha, mesmo que minha mente não seja realmente minha.

- Zero?- Perguntei- Quem é Zero?

- O controlador- Sua resposta foi quase ríspida- Digamos que o novo rei do mundo. Não sei exatamente seus planos e nem o que pretende fazer com a mente de um bando de adolescentes. Tudo o que sei é o minimo do minimo, e mesmo que seja uma parte pequena, ainda me assusta.

- Você vai nos contar tudo- Charles chegou mais perto de Norman, como se a qualquer momento fosse bater nele. Eu podia sentir o sangue ferver no rosto de meu irmão, a raiva o dominada as vezes.

- Não querem saber.

- Sim, queremos- Sophie o cortou.

- Depois não diga que não avisei- Ele suspirou antes de começar- Zero possuí milhares de bases secretas pelo o mundo inteiro, eles levam os adolescentes e crianças para lá e então são foçadas a passar por uma transformação, não sei bem o que ela faz, mas sei que de fato muda o DNA humano. Os adultos são descartados, alguns são empregados nas bases, sendo forçados a servir de cobaias ou apenas como funcionários simples, faxineiros e assistentes.

O silencio dominou a sala a procura de respostas. Meu pensamento contra Norman ia muito além disso, mas jamais me passou pela cabeça que o mesmo possuía o mesmo sangue que um dos governadores. Me sentei em cima da pequena mesa que ficava ao lado do colchão onde Becky e Sophie estava sentadas, minhas pernas balançavam levemente, era um gesto que eu fazia toda vez que estava planejando algo.

- Vamos supor que está do nosso lado Norman- Eu disse.

- Mas estou- Ele retrucou.

- Que seja- Revirei os olhos- Lucy pode ter sido levada para uma dessas bases, tem alguma ideia de onde algumas delas se encontra?

- Tenho apenas de uma- Ele se encostou na parede- Mas mesmo assim, Lucy pode ter sido levada para qualquer uma delas, é quase impossível acha-la, e se conheço bem Zero, ele irá saber quando chegarem lá. Becky não está sendo controlada, aquilo foi um processo temporário, mas mesmo assim, há espiões em todos os lugares.

- Por exemplo, o nosso é você- Becky sorriu ironicamente.

- Já disse que estou do lado de vocês, não tenho culpa se meu pai está sendo manipulado por aquele idiota.

- Bem, e quem pode garantir que não está também?- Becky continuou a retrucar.

- Se estivesse, nunca teria contado.

- Chega- Gritei, mas logo voltei ao meu tom normal- A minha proposta é irmos buscar Lucy, mas sem Norman nunca chegaremos lá. Por mim, já teríamos o matado, mas a questões é que a vida de minha amiga e de todos está em jogo, se há alguém que pode nos ajudar a chegar até esse Zero, é Noman.

- Pretende se encontrar com Zero?- Norman arqueou uma sobrancelha.

- Mas é claro- Sorri- Assim que eu o ver, vamos ter uma conversa civilizada onde eu irei chuta-lo até a morte.

- Não brinque com ele Amy, Zero é tudo aquilo que tu nunca irá imaginar.

- Ei- Charles puxou Norman com tudo- Amy quer ir até Zero, leva ela até Zero, me entendeu?

Suspirei e desci da mesa, indo em direção a meu irmão. Separei os dois e dei um leve tapa no braço de Charles, um movimento frequente.

- Não seja grosso Charles- Voltei meus olhos para Norman- Nós vamos até Zero, não me importo como ou quem ele é, apenas quero terminar com isso logo.

- Tem certeza?- Ele perguntou.

- Sim, ela tem- Sophie se colocou de pé e caminhou em direção a Norman- Não sei o que passa em sua cabeça ou se está do nosso lado, mas fique sabendo que Lucy era nosso amiga, sua amiga, devíamos ir procura-la antes que se transforme em uma idiota sem mente.

- Nesse ponto o jogo, Lucy está longe de ser controlada pela a mente- Norman riu para si mesmo- Antes eles são treinados por dois meses, então uma cerimonia é marcada onde o hospedeiro escolhe o adolescente e então eles fazem a ligação.

- Que ligação?- Quis saber.

- Já sei informações demais, e isso é tudo o que sei, se querem ir até a base, precisam começar a se preparar agora- Algo em sua voz agora indicava superioridade, e eu não gostava disso.

- Preparem as coisas, iremos partir logo pela manhã- Disse em quanto passava entre a porta do comodo, batendo de leve no ombro de Norman com o meu. Se havia algo que ele deveria saber, é que ele estava longe de estar no comando ali.

Caminhei até a parte principal de nosso esconderijo, onde eu havia deixado a sacola de comida, ouvi alguns passos que me seguiam, mas não me importei. Meus dedos se locomoveram para as frutos, levando uma delas para meu nariz. Seu cheiro me perfurou por dentro da forma mais bonito que eu podia imaginar, me lembrando do antigo mundo onde uma fruta não tinha se quer importância, e naquele momento, era tudo o que eu mais desejava. Fixei meus olhos novamente na fruta e pensei que havia alguém que merecia muito mais do que eu, alguém que costumava a não comer frutas cítricas.

Voltei ao comodo que eu chamava de quarto improvisado. Becky estava sentada, olhando fixamente para a parede, como se estivesse perdida em uma lembrança. Seus óculos estavam rachados de um lado, mas eles já eram parte de si que ela nem teve o trabalho de tirar. Me sentei ao seu lado e estiquei a mão com a fruta em sua direção.

- Sei que não gosta- Sorri- Mas foi a única laranja que encontrei.

- Acha que realmente mereço?

- No momento, sim- Ri com minha própria resposta.

- Talvez eu devesse experimentar novos sabores, parar com esse gosto refinado.

- É, talvez devesse se livrar dessa luxuria e entender de vez que nasceu pra comer laranjas- Brinquei.

- Você se importa se eu dormir?- Ela realmente parecia cansada.

- Não, tudo bem- Sorri timidamente- Não quero que esteja cansada amanhã de manhã, sabe que terá de caminhar.

- Trocando o curativa de quatro em quatro horas eu consigo resistir sem problema algum- Dessa vez, ela que brincou, mas logo sua face demostrou preocupação- Confia em Norman?

- Não- Admiti- Mas no momento, ele é nossa única esperança.