Oito anos atrás...

Naruto corria o mais rápido que podia em direção ao portão da vila. Há pouco havia acabado de arrumar suas coisas pra sair da vila e cumprir aquilo que havia decidido. Porém ao chegar próximo ao portão reparou que o estavam seguindo. E que aqueles que o seguiam eram anbus do Hokage. Eles queriam impedir ele de ir? O Hokage, logo ele que sempre tinha sido gentil com ele, suspeitaria de suas intenções e queria obriga-lo a ser excluído e ser treinado pra ser... O que? Uma arma como aquelas que ele contara? A finalidade de um Jinchuuriki...

—Não... Eu não quero isso! –murmurou pra si mesmo sentindo um grande aperto no peito.

—Parado aí, Uzumaki Naruto! –gritou um dos anbus, que usava uma mascara de ave, quando ele estava bem próximo a saída.

O loiro apenas olhou rapidamente pra trás e deu língua pros seus perseguidores. Aumentando o passo, passando a correr de forma que não sabia que era possível para si. E para sua surpresa ao sair pelo portão sentiu algo que não imaginava que sentiria ao sair do lugar que ele sempre quis ser aceito pra poder chamar felizmente de lar. Sentiu como se algo se libertasse em seu interior. Ele não sabia o que era mas gostou daquilo. Se sentia mais leve, com uma sensação de bem estar que não sentia a tempos. Na verdade não se lembrava de algum dia ter se sentido tão bem.

Naruto parou um pouco atrás de uma árvore pra recuperar o ar. Ele sabia que independente do quão acostumado ele estava de fugir de alguém era pouco provável que conseguisse fazer isso com Anbus o perseguindo. Precisava achar uma maneira de conseguir. Então ele ouviu passos vindo na direção onde estava e prendeu a respiração, fazendo o mínimo de barulho possível.

—Sério, por que temos que correr? –reclama um anbu com mascara de urso.

—Porque o Hokage ordenou que pegássemos o Jinchuuriki e o levássemos de volta a vila. –responde a anbu com uma mascara de gato e cabelos roxos.

—Mas você sabe muito bem que ninguém quer que ele volte, a não ser pela parte de que ele é uma arma da vila. –retruca o outro.

—Urso! –repreendeu a primeira.

—Não o repreenda, gato. Você pode seguir cegamente tudo que o Hokage-sama diz mas se prestar atenção no que o povo diz iria reparar que estão descontentes com as medidas dele. Preferiam muito mais a proposta do conselho de treiná-lo desde o nascimento para suas obrigações com a vila, pelo menos assim ele não seria um estorvo. -falou o terceiro anbu com máscara de ave. -O Hokage só não concordou com isso por se sentir culpado em relação do garoto ser órfão, mas se sentisse mesmo mal com isso ele teria permitido que o adotassem, embora não saiba quem iria querer alguém como ele, a não ser que fosse pelo fato dele ser um dos últimos Uzumakis e o último de Konoha e seu potencial por isso.

O jovem menino segurou ainda mais o fôlego ao ouvir o que esses anbus falavam. O que eles queriam dizer com aquilo? Será que ele realmente sabia ainda menos sobre si mesmo do que imaginava? Será que realmente o que ele mais temia, desde que havia descoberto o que era, era verdade? Eles apenas o mantinham na vila pra ser usado como arma quando quisessem e achassem necessário? Se fosse mesmo verdade isso, pra que ele havia se empenhado tanto pra ser aceito? Porque ele deveria voltar para um lugar assim? Não ele não ia voltar. Não até ter as resposta pra essas perguntas, embora estivesse com medo destas.

Ele sacudiu a cabeça. Depois pensaria nisso. Agora apenas tinha que se focar em escapar. Olhou em volta, não tinha como sair de trás da árvore despercebido. A não ser que... É isso poderia dar certo. Por sorte as aulas sobre fuga eram as que ele mais prestava atenção.

Pegou uma bomba de fumaça e jogou no chão, foi tão de repente e inesperável que até os anbus tomaram um susto. Logo depois fez, algo que por muitos seria considerado loucura ou burrice, o selo do trigre logo surgiu uma centena de clones, estes, ao contrário dos normalmente feitos pelo Uzumaki, tinham mais chakra que o normal, pelo menos três vezes mais, o que os tornavam mais resistentes.

Pouco depois todos os Narutos se espalharam obrigando os anbus se espalharem e os seguirem. O verdadeiro ainda estava, agora, apoiado na arvore devido a ter se deixado propositalmente com muito pouco chakra, assim seria mais facil passar despercebido caso um dos anbus fosse um sensor.

—C-consegui. –falou pra si mesmo com a voz entrecortada pelo cansaço. –Tenho que sair daqui antes que percebam que foi um truque… -saiu andando sem rumo pela floresta, um tempo depois sentiu o primeiro clone ser destruido e distraido com isso não reparou que estava indo em direção a um barranco até que caiu e, por já estar fraco, perdeu a consciência. E provavelmente foi por isso que mesmo após destruirem os clones não conseguiram encontrar o garoto.

Algum tempo depois o jovem Uzumaki acordou desnorteado, ouvia vozes que pareciam estar próximas dele, haviam pego ele? Assustado com a possibilidade ele abriu os olhos e se sentou rapidamente, soltando um gemido de dor, tanto pela dor de cabeça que ficou por fazer o gesto tão rapidamente quanto pelo fato de seu corpo estar todo dolorido e machucado pela queda.

—Jiji! Ele acordou! –gritou uma voz infantil. –Ei! Não tente se levanter você está todo machucado. –fala a menina chegando perto junto com 4 outras crianças.

—Até que enfim você acordou, já estavamos ficando preocupados, garoto. –fala um senhor chegando perto deles. Mas como o garoto não parecia que ia falar nada e o olhava desconfiado ele continuou. –Você é mudo garoto?

—Não. –respondeu em baixo tom. –Quem são vocês? Aonde estamos? A quanto tempo estou aqui? –questionou desconfiado, será que eram anbus disfarçados que vieram pegar ele?

—Ei, ei, calma. Algumas das crianças estavam perto quando você caiu daquele barranco e como estava inconsciente elas me chamaram pra ir te ajudar. Você estava bem machucado ontem, não consigo acreditar que já esta praticamente curado hoje. –respondeu o senhor.

—Qual seu nome, oni-chan? –perguntou uma das meninas mais novas, devendo ter uns 4, 5 anos.

—Eu que deveria perguntar isso pra vocês! –retrucou o Uzumaki em postura defensiva, por que eles haviam desviado da sua primeira pergunta?

—Calminha aí, garoto! Por que está tão nervoso? –falou o senhor estranhando a atitude do jovem. –Por acaso… Você está fugindo de alguém…?

—... -Naruto se levantou em postura defensiva e começou a olhar em volta pensando uma forma de fugir.

—Você não acha que seus pais devem estar preocupados com você? -perguntou o mais velho, sem querer tocando numa ferida antiga do menino.

—Eu não tenho pais. -retrucou Naruto imediatamente e de forma fria, se esquecendo até que buscava uma forma de fugir deles também.

—Nós também não! -falaram as crianças repentinamente animadas e ele as olhou surpreso.

—Jiji, ele pode ficar com a gente? Afinal ele é sozinho também! -pediu uma dupla de crianças aparentemente com a mesma idade dele.

 -Ei! Quem disse que eu quero ficar? Quem vocês pensam que são pra decidirem isso sozinhos?! -rosnou o loiro.

—Orfãos iguais a você oras! -respondeu um garoto baixinho com cabelo castanho liso sorrindo no final.

—Vocês… Querem mesmo que eu fique…? -pergunta Naruto incrédulo.

—Claro! Nós órfãos temos que nos unir né? -fala a garota, que deveria ser irmã do que falou anteriormente.

—P-posso mesmo…? Vocês não tem medo de mim…?

—Por que teríamos? -falam confusos com o que o loiro disse.

—Claro que não! Afinal você parece um anjo, oni-san. -fala uma garotinha de cabelos pretos encaracolados.

—… -Naruto ficou comovido, foi só sair da vila que encontrou pessoas que foram legais com ele e crianças que queriam ser seus amigos, não tinha como ficar mais feliz. Então todos olharam pro único adulto presente com expectativa.

—Bem já que esse é o caso, ele é bem vindo no nosso grupo. -falou o senhor sorrindo. -Qual seu nome?

—Eu sou Uzumaki Naruto! -responde o loiro sorrindo.

—Uzumaki?! -exclamou o homem.

—É. U-zu-ma-ki. -falou o garoto lentamente, ainda animado. -Por que a surpresa?

—Não é nada, apenas é um sobrenome que não escuto a muito tempo. -respondeu e as crianças o encararam confusas e curiosas. -Você não sabe? Uzumaki era o nome de um clã poderoso que sumiu a algumas décadas atrás.

—Eu sou de um clã…? -fala Naruto abismado, se lembrando que tinha escutado os anbus falarem dos Uzumakis e que ele era um dos últimos.

—Sim, um clã shinobi. -diz o senhor ficando com um tom de voz repentinamente pouco acolhedor. As crianças olharam pro loiro assustadas e ele gelou, tinha feito ou falado algo errado? -Você não sabe nada sobre isso? Você não se lembra nada dos seus pais ou de qual herdou esse sobrenome?

—Não… Eu nunca cheguei a conhece-los, nem ao menos sei o nome deles e quem eles eram… -se lamenta o loiro triste.

—Entendo… Eu sinto muito por isso, deve ter sido difícil pra você… -o senhor falou voltando ao tom amigável e fez carinho na cabeça do jovem. -Olha Naruto, o mundo não é gentil com as pessoas desse clã então você deve manter o fato que é um Uzumaki em segredo entendeu? -recomendou se abaixando e olhando nos olhos do jovem, que assentiu. -Bem é isso, seja bem vindo a nossa família!

—Seja bem vindo! -exclamaram as crianças animadas. Essa recepção calorosa deles comoveu Naruto, tanto que ele chegou a chorar de felicidade.

Conforme os dias foram se passando ele descobriu o porque de terem ficado tão alarmados quando escutaram a palavra “shinobi”, isso se devia ao fato de que a vila onde eles moravam ter sido destruída por ninjas e grande parte deles haviam ficado orfãos por causa destes, o que o obrigou a manter em segredo o fato de que “era” um ninja e vinha de uma das grandes vilas. No inicio havia ficado apreensivo, com medo de que os Anbus o achassem, mas isso não aconteceu.

Pela primeira vez na vida era feliz. Tinha amigos e pessoas que se importavam e cuidavam dele. Estranhamente a partir daí suas habilidades, como mira por exemplo, começaram a melhorar. Talvez fosse porque desta vez haviam um motivo verdadeiro pra ele se esforçar. Todos os dias ele treinava um pouco sozinho e sua capacidade de acertar um alvo estava praticamente perfeita, devido a ele sempre se emprenhar em pegar peixes, frutos e caçar para ajudar sua nova família.

Porém no meio da segunda semana em que ele estava com eles algo ruim aconteceu. Estavam todos espalhados pela area em volta do acampamento deles, cada um realizando sua tarefa pra ajudar no almoço. Naruto correu pra ser o primeiro a voltar, afinal o senhor Kazuo tinha dito que lhe contaria um pouco sobre os Uzumakis quando as outras crianças, cinco no total, não estivessem presentes. Mas quando chegou no acampamento viu Kazuo sendo atacado por três homens estranhos sendo que logo dois sairam aparentemente procurando algo. Ignorando o fato de querer se manter em segredo ele tirou umas shurikens da bolsa que carregava e atirou no homem que sobrara.

—Maldito! –voriferou o homem, quando uma das shurikens atingiu sua perna.

—Kazuo-san! –chamou Naruto preocupado, pois o senhor se encontrava no chão ferido. –Você está bem?!

—Como eu suspeitava… Você é um ninja… -comentou Kazuo suspirando. –Bem que eu achei que você veio da direção de Konoha…

—M-me desculpe… E-eu… -Naruto babulciou nervoso.

—Tudo bem… Só lhe peço duas coisas… Não deixe os outros saberem, ia ser uma decepção pra eles… E, por favor, proteja-os, cuide deles… De sua família… -disse Kazuo com a voz entrecortada.

—E-eu não estou entendendo… O que você quer dizer com isso? –perguntou o loiro, mas o senhor já estava perdendo a consciência. –Ei! Acorde! Me responda…

—Já era moleque. Esse velho aí já morreu. –falou o homem que ele havia ferido que estava bem de pé e agarrou a camisa do loiro. –E o que ele queria dizer é que somos bandidos e que agora você e seus amiguinhos ali, …-indicou os parceiros dele chegando com as crianças. -…pertencem a nós agora. E se não quiser que todos sejam machucados, vai ter que cooperar com a gente, projeto de ninja. Afinal não quer que eles descubram o que você é não é…? –falou de forma que somente Naruto pudesse escutar, fazendo com que este engolisse em seco, com medo.

E foi assim que seus dias como refém de um grupo de ladrões e vendedores de escravos começou...