O Lamento Da Lua escrita por J S Neto


Capítulo 5
Cinco - Negro, como o céu da noite sem estrelas




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O nome da atividade era Caça a Bandeira. Terão dois grupões, e cada um terá uma bandeira da cor do seu grupo para proteger. O objetivo é: roubar a bandeira do adversário. Quem conseguir a bandeira primeiro vence a atividade. Uma dinâmica simples, como uma brincadeira de criança, com exceção é claro que todos os participantes estarão armados para defesa no caminho (Repito. Para que monstros se nós mesmos nos matamos?).

Dividiram os chalés igualmente. No grupo vermelho estavam os filhos de: Ares, Apolo, Afrodite, Hermes, Hipnos, Hebe e Hecate; enquanto no azul: Demeter, Atena, Hefesto, Dioniso, Iris, Nemesis e Tique.

O chalé 17, dos filhos de Nice (ou Nike), a deusa da vitória, foi dividido entre os dois grupos, para que a chance de vencer “estivesse” entre os dois.

Os demais (Zeus, Hera, Poseidon, Ártemis e Hades) não se incluem por não possuírem filhos presentes no acampamento.

Bem, não nego que estava um pouco nervoso. Sou péssimo em coisas que se parecem com gincanas (e coisas que envolvem correr parecem com gincanas). Me entregaram um elmo com a crina vermelha e permitiram o uso do meu arco. Tenho medo da teoria do Bronze Celestial não ser realmente verdadeira em relação aos mortais e algo me diz que vou conferir isso em alguns minutos.

Com arco em mãos, esperei Alice sair do chalé para irmos de encontro ao nosso grupo, pois tínhamos ainda tempo para formular uma estratégia. Quando ela abriu a porta, algo muito significativo sobre seu lápis-da-sorte veio junto a ela. Em sua cintura havia um cinto, na qual possuía vários lápis iguais ao que ela carregava na escola. Em sua mão, ela fazia a ponta de um deles em um apontador (não sei como um apontador consegue afiar uma coisa feita de bronze), e na hora que ela colocou-o no cinto junto aos outros, a cena se tornou pateticamente parecida com filmes de faroeste. Alice era uma lançadora de lápis.

–O que? – perguntou ela olhando para mim – Você gosta de atirar flechas no seu arco. Eu prefiro trabalhar no modo mais primitivo.

–Atirando lápis... – conclui.

–Não me subestime. – disse ela descendo as escadas do chalé – Vamos adiantar. Nosso grupo tem muito que planejar ainda.

Seguimos para a área próxima à Arena, em frente à floresta onde, em algum lugar, as duas bandeiras estavam escondidas. Os semideuses que iam chegando já começavam a conversar com os aliados.

Matheus, quando nos avistou, veio em nossa direção.

–A gente vai precisar de muita sorte. – começou ele antes mesmo de nos alcançar - Os filhos de Hipnos mal chegaram e já estão dizendo que estão com sono. E, não sei se vocês sabem, mas existe uma rixazinha entre o pessoal de Hebe e Afrodite. Eles não param de discutir quem é mais bonito e jovem e blá blá blá.

–Hebe? – perguntei. Entre os deuses do Olimpo, muitos eu já havia escutado falar, mas os deuses menores eu nunca soube de nada.

–Deusa da juventude... – disse Alice com um pouco de desgosto na voz – Se acostume. São os chalés mais difíceis de ter pessoas agradáveis. Não é impossível, mas é pouco provável haver um filho dessas duas deusas que não se importem com futilidades e não sejam enjoativos.

–Ei! – disse Matheus olhando para a cintura de Alice – Você tem mais daqueles lápis? E o que você vai fazer com todos esses aí? Colorir nossos adversários?

A risada de Matheus... Algo me diz que Alice também acabou de adquirir certa raiva por ela.

–Alice é tipo uma atiradora de facas. Só que ao invés de facas... Como pode ver... – expliquei, tentando amenizar o clima de desejo assassino vindo de Alice depois da risada da criatura sem noção.

–Eu sou boa em atirar coisas. Filhos de Apolo não são necessariamente utilizadores de arco e flecha. – disse ela olhando para Matheus com a testa um pouco franzida – Sou como uma catapulta ambulante.

–Você cata o que?! – gritou Matheus chamando atenção de algumas pessoas ali perto.

–Eu não acredito que ele perguntou isso. – disse Alice dando as costas e indo se juntar ao grupo.

–Cara, tenta parar com isso. – sussurrei puxando ele pelo braço, indo em direção ao grupo.

–O que? Foi o que eu ouvi. O que posso fazer? – disse ele.

***

Nosso grupo tinha realmente fraquezas que poderiam refletir na nossa derrota. Alguns filhos de Hipnos já estavam caídos no chão, roncando e babando, filhos de Hebe e de Afrodite se fuzilavam com o olhar e procuravam não se misturar. Lena, como representante do chalé de Ares, teve a iniciativa.

–Olha rebanho! – disse ela em uma forma muito “meiga” para se referir ao grupo – Acho bom todos pararem de idiotice e focar no que a gente tem a fazer. Hebe e Afrodite, não queremos saber se vocês tem tititi para discutir entre vocês. Vão com suas frescuras dessa atividade para fora, aqui vai ser todo mundo junto e acabou!

Lena parecia perder um pouco o nível de calma e o controle de voz. Mas depois de um sermão no estilo-Lena, os meios de estratégia foram iniciados. Você pode estar pensando tipo “Ah, eles precisam ter uma estratégia de guerra infalível. Uma forma de ataque ofensivo, que leve a maioria dos adversários para a enfermaria”. Não foi bem assim. Foram as estratégias de guerra mais sem noção que vi na minha vida, mas era impressionante como os filhos de Ares conseguiam transformar nossas fraquezas em alguma coisa que nos ajudaria em campo de batalha.

–Eles têm os filhos de Atena e Tique. – disse um filho de Hermes – Estratégia e Sorte no mesmo grupo...

–Não podemos pensar assim. – disse um filho de Ares – Vamos aplicar o que planejamos, e desejar que dê certo. O resto é resto.

***

Quíron soprou a trompa de chifre de boi. Com o som pesado espalhado por todo acampamento, a caça foi iniciada. Eu, Alice, Matheus, Lena e Robin Maggio, um filho de Hecate; seguimos por fora do campo de batalha, sendo nós um dos grupos responsáveis pela procura da bandeira inimiga. Enquanto desviávamos do alvoroço que começava entre os dois grupos, pude ver que o nosso plano (a coisa mais imprevisível de acontecer em uma guerra) já começava a dar certo. Os filhos de Hipnos deixavam-se cair no sono, derrubando os adversários que tropeçavam nos que apareciam em seus caminhos.

Os feitiços dos filhos de Hecate rebatiam entre as árvores, fazendo sempre corrermos o risco de sermos atingidos. Começamos a nos concentrar mais quando os sons de laminas e gritos foram se distanciando.

Bom, agora vinha a parte sem graça do jogo. Não sabíamos nada sobre o lugar onde a bandeira estava.

–Fiquem atentos, caso apareça alguém do outro time atirem antes que nos alcance. – disse Lena para mim e para Alice.

Vou atirar em uma pessoa hoje e amanha de manhã vou revê-la e dizer simplesmente “bom-dia, desculpa por quase te matar ontem”. O acampamento realmente era preocupante, mas sinto que estou começando a gostar disso.

Além dos sons de batalha, haviam ruídos de animais, e vultos que eram bem sugestivos.

–O que são essas coisas? – disse, procurando de onde vinha um rosnado que havia escutado.

–Existem monstros nessa floresta, esperando que a segurança do acampamento dê uma brecha para conseguirem invadir. – disse Robin seriamente. Ele não parecia ser um cara de sorrir muito. Mas o mais engraçado é que além dele usar magia por conta de sua mãe, se pusesse uns óculos ficaria muito parecido com o Harry Potter.

–E se alguém for pego por um monstro durante a atividade? – perguntou Matheus apontando a espada para os lugares que vinham os barulhos estranhos.

–Não sei... – disse Lena – Falando nisso, sempre percebo que depois de alguns caça a bandeira eu sinto falta de alguns semideuses, você não Alice?

Alice prendeu a risada quando percebeu que Lena conseguiu assustar Matheus que ficara um pouco tenso.

–Psiu – alertou Robin-Potter quando ouvimos passos se aproximando – Vem vindo alguém... Ali!

As crinas azuis foram as primeiras coisas que vi. Peguei a flecha e disparei no primeiro que subiu o morro em que estávamos. Alice lançará três lápis de vez na perna direita do que vinha logo atrás, fazendo-o cair aos gemidos.

“Bom-dia, desculpa por quase te matar ontem". É... Já podia dizer isso amanhã. Quatro arvores que ali pareciam estáticas como o normal, se transformaram em dríades que carregaram os semideuses incapacitados de continuar, provavelmente levando-os para a enfermaria.

–Cara, que eficiente... – disse Matheus olhando as dríades levando-os. Duas em um e as outras duas com outro.

–Se havia gente do Azul por aqui é porque a bandeira está por perto... – concluiu Lena adiantando os passos sem nem nos esperar.

Chegamos a uma parte bastante fechada da floresta, onde a sensação de estarmos sendo espiados aumentara. Os assobios dos pássaros deixava o clima tenso mais tenso ainda.

Nossos olhos rondavam por toda a parte da floresta, a procura da cor azul da bandeira e também de ameaças. Até que algo me chamou atenção. De dentro de um arbusto, dois olhos nos fitavam e um rosnado ameaçador simplificava os sentimentos dos olhos brilhantes de fúria.

–Tem alguma coisa ali... – disse recuando quando percebi que o que se escondia começou a avançar.

Um enorme cão negro mostrava os dentes dando passos pesados com suas patas providas de grandes garras. O pelo ouriçado era denso e muito escuro, não só preto, mas negro, como o céu da noite sem estrelas. A cada avanço do animal, eu esperava que ele saltasse em nossa direção, porem nada fazia. Parecia analisar nossos comportamentos detalhadamente.

–É um cão de caça. Não é um monstro... – sussurrou Alice – Mas de quem seria esse cão? Nenhum caçador entra na área do acampamento.

Robin se precipitou e de suas mãos disparou um tiro de luz laranja-avermelhada que atingiu o focinho do bicho, que nada sofreu. O olhar de surpreso do Harry Potter me assustou. Significa que aquilo não era para acontecer. Ninguém sabia, mas no momento minha vontade era de abandonar a caça e sair correndo. Mas duvido que ninguém ali havia pensado nessa possibilidade.

Algo de estranho dera em Matheus. Depois do feitiço não ter funcionado ele avançou em direção ao bicho, com a espada em mãos. Para não deixa-lo sozinho, Lena o acompanhou em um avanço que logo falhou, quando foram lançados para longe por uma poeira espacial que saíra do pelo do cachorro. Aquilo com certeza não deveria acontecer, vindo de um cão de caça “normal”.

Ele começava a andar. Rosnando cada vez mais alto e fazendo meu coração bater cada vez mais rápido, me deixando sem ação alguma. Ele caminhava, não em direção a Robin, nem a Matheus que era um alvo fácil caído no chão, assim como Lena. Não era nenhum deles que ele queria, era a mim e Alice. Já estávamos sem espaço para fugir quando o cão enfim saltou para o ataque.

Como reflexo fechei os olhos e me abaixei um pouco, esperando apenas o que o destino tinha a me oferecer. E posso dizer, o destino é um lindo. Nada acontecera, até eu reabrir os olhos e ver o cão caído encostado numa arvore que provavelmente ele havia se batido. Uma garota estava de costas a nossa frente. Sua trança era enorme. Vestia-se em branco e prata e usava uma bota de combate. Na mão possuía um arco prateado, nas costas uma aljava cheia de flechas da mesma cor do arco. Na perna e na cintura, possuía cintos com adagas de caça.

Ela havia chutado o animal, que começava a se levantar. Quando o cachorro se pós de pé, mais garotas, vestidas do mesmo jeito que aquela que se encontrava em minha frente, saltaram das árvores, inesperadamente.

O cão olhou diretamente para mim e para Alice e sumiu por entre as arvores.

–Mia! Selina! – gritou a garota na minha frente que estranhamente eu reconheci a voz.

As donas dos dois nomes chamados seguiram o rastro do cão floresta adentro.

E ai então que veio a minha surpresa. A garota que estava defendendo a mim e a Alice virou o rosto, desvendando as feições mais inacreditáveis que eu podia estar vendo naquele lugar.

–Luana? – perguntei ainda sem acreditar. Era ela. A minha irmã.


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