Mama Dean escrita por Lady Padackles


Capítulo 7
Doris, a criança fantasma




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Sim, agora eu tenho certeza... Meu irmão foi possuído pelo espírito de uma criança. Uma menina!

Ao ouvir tais palavras, o primeiro impulso de Dean foi de se levantar e ir reclamar com o irmão. Como ele se atrevia a falar assim dele para algum qualquer ao telefone?

Depois pensou melhor. Sua filha estava prestes a nascer e talvez ele pudesse se aproveitar daquela situação para facilitar sua vida. Queria estar tranquilo durante o “parto” da criança, sem Sam para atrapalhar. Ao invés de ir confrontar seu irmão, Dean permanecer bem quietinho tentando ouvir mais da conversa.

– Eu devia ter desconfiado antes... – disse Sam. – Ele está muito estranho há alguns dias.

O louro ouviu uma pausa, como se a outra pessoa estivesse falando algo do outro lado da linha.

– Ahhh, deixa eu ver... Ele ficou doente logo depois que matou um Bicudin. Ele estava mal, nem conseguindo levantar da cama... Eu saí para comprar alguma coisa para comer, e então quando eu voltei, ele estava bem melhor, e completamente mudado. Já era ela...

Mais uma pausa, e Sam prosseguiu o relato.

– Dean, quer dizer, a menina tinha roubado um ursinho de pelúcia. Depois disso ficou esquisito o tempo todo, chorando por tudo. Depois disse que tinha virado vegan... E agora está com o quarto todo cor-de-rosa e cheio de bonequinhas...

Silêncio mais uma vez.

– Não... Não acho que seja perigosa... Vou tentar isso então. Valeu Garth.

Dean ouviu os passos de seu irmão se aproximando. Colocou o polegar na boca e fingiu estar dormindo.

– Dean... – Sam chamou baixinho.

O louro abriu os olhos e se remexeu na cama. Sam encarou-o apreensivo e em seguida trancou a porta do quarto do louro atrás de si.

– O que está fazendo, Sammy? – o mais velho perguntou.

– Eu sei que você não é meu irmão... – Sam então falou em um tom sério e grave.

Dean engoliu em seco. Precisava concentrar-se para ser um bom ator.

– Demorou para perceber, hein? – ele disse debochado, irritando ainda mais o irmão.

– Quem é você? Por que se apossou do corpo do meu irmão?

– Eu estava sem corpo, vagando por aí... Gostei desse, ele é super lindo.

Dean riu por dentro. Era legal poder se auto elogiar impunemente.

– Você se aproveitou que o meu irmão estava fraco, doente... Mas se deu mal porque eu vou te exorcizar.

Sam começou a proferir palavras de exorcismo. A maioria dos espíritos era fraco e não teria a menor chance contra aquele ritual. Dean, entretanto, sabia que o trabalho de Sam não seria assim tão fácil. Sentou-se na cama e ficou com os pés balançando de maneira infantil enquanto cantarolava uma musiquinha qualquer. Aquela garotinha não estava com medo, pois não seria exorcizada assim tão facilmente.

Sam franziu o senho ao terminar a leitura e verificar que seu irmão não estava de volta.

– Você nunca mais vai ter seu irmão de volta – disse a “garotinha” de forma desafiadora.

Sam fez cara de derrota, porém sorriu por dentro. O que aquela desgraçada não sabia é que ele era um exímio caçador. Se não conseguira exorcizá-la com palavras, haveria de encontrar seus ossos e queimá-los. Só precisava de um pouco de informação. Nada que não pudesse arrancar de uma criança.

– Certo. – disse Sam. – Você venceu então... Não consigo te exorcizar...

Dean sorriu.

– Posso saber qual é o seu nome? Já que vamos conviver de agora em diante... Não gostaria de te chamar de Dean...

– Meu nome é Doris.

– Quantos anos você tem, Doris?

– seis...

– Você morreu há muito tempo?

Dean não queria mais responder. Inventar informações demais poderia complicar seus planos.

– Eu quero torta! – anunciou.

Sam franziu o senho.

– Ué... Você não era vegan?

– Meus pais eram vegan, e eu era também. Mas gosto de torta... Eu comia escondido...

É verdade, Sam se lembrou do irmão dentro do carro com o ursinho no colo e devorando uma torta.

– Certo. – ele disse. – Vou comprar torta para você, mas você vai ter que ser minha amiga e conversar comigo, combinado? Dean sempre conversava comigo...

“Doris” balançou a cabeça afirmativamente e Sam se foi.

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Assim que Sam saiu de casa para comprar a torta, Dean correu para o laptop. Procurou por crianças de seis anos com o nome de Doris que morreram e foram enterradas há uns três dias de viagem dali.

Encontrou uma tal de Doris McMuller, nascida em 23/09/1940 e falecida em 13/08/1947. “Desculpa, Doris...” – pediu Dean em pensamento – “Meu irmãozinho vai violar seu túmulo, porém será por uma boa causa...”

Quando Sam voltou encontrou “Doris” abraçada ao ursinho, cantando para ele dormir.

– Doris, sua torta... – ele disse, estendendo um prato com um delicioso pedaço de torta de morango.

Dean enfiou tudo na boca, se sujando todo. Até que era bom se portar como uma criança às vezes, e impunemente.

Sam sorriu para ele.

– E então, Doris, você morreu há muito tempo?

– É, muito tempo... – ele respondeu.

– Quando?

– Há muito tempo, sei lá... – Dean precisava ganhar tempo. Não podia dar todas as informações de uma vez pois queria que Sam fosse a procura do cadáver apenas no final do dia seguinte. Assim teria mais ou menos três dias livres cuidando do nascimento do bebê e de seus primeiros momentos de vida.

– E porque você não entrou no corpo de uma moça? porque aí você ia poder usar vestido... – Sam argumentou, torcendo para que a pequena se convencesse a largar seu irmão e facilitasse sua vida.

Dean não esperava por aquela pergunta. Pensou em dizer que era do tipo moleque, que não gostava de vestidinhos e de cor-de-rosa. Depois olhou ao redor, e vendo o quarto todo afrescalhado ficou com medo de soar incoerente.

– Eu posso usar vestidos se eu quiser... – suspirou.

– E você quer um vestidinho cor-de-rosa, Doris? – Sam perguntou em um tom amigável.

Dean suou frio e balançou a cabeça afirmativamente. Sim, Doris queria...

– Então amanhã te compro um, se você prometer que vai ser boazinha e responder as minhas perguntas porque eu sou um homem muito curioso. Pode ser?

Dean concordou e Sam finalmente se retirou do quarto.

O louro suspirou. Sam pagaria caro se ele fosse obrigado a enfiar um vestido. Possuído ou não, aquele corpo ainda era dele...

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Eram oito horas da manhã quando Sam bateu na porta:

– Doris! – ele chamou.

Dean ainda estava dormindo, e levantou mal humorado.

– Olha o que eu te trouxe! – o moreno falou entusiasmado, entregando-lhe um pacote.

Dean hesitou e pegou o embrulho. “Que não seja um vestido... Que não seja um vestido...” pensou desesperado.

Abriu: um lindo vestido cor de rosa, cheio de babados, gozou da cara dele. Com um sorriso ultra forçado no rosto, o louro agradeceu.

– Que lindo! - Mentiu... - Vou guardar para usar no meu aniversário...

Sam aproveitou a deixa...

– E quando é o seu aniversário?

– 23 de setembro... – ele respondeu – Dar um pouco de informação agora não faria mal. Ao fim do dia Sam saberia tudo o que precisava para ir ao encontro da ossada da garotinha.

– 23 de Setembro? É sério?

Dean assentiu. O que tinha aquela data de tão especial?

– Parabéns, Doris! Você faz aniversário hoje! – anunciou Sam.

Dean não pôde acreditar no que ouviu. Não tinha ideia de que dia era... Era azar demais...

– Vou comprar um bolo pra você. Quando eu voltar quero te ver bem linda hein? De vestidinho...

Quando Sam saiu, Dean, muito a contra gosto, enfiou o vestido cor-de-rosa. Onde Sam conseguira encontrar aquele vestido extremamente infantil do tamanho dele? Talvez fosse melhor nem saber... Não podia estar mais ridículo. Só Sam mesmo para ter uma ideia gay daquelas. Dean nunca o perdoaria por isso...

Sentou-se na cama com o ursinho no colo, evitando o espelho, e esperou seu irmão chegar.

Sam estava demorando... De repente Dean começou a sentir a barriguinha do urso fazer barulhos e se mexer. O nascimento estava próximo. O louro começou a ficar nervoso.

Quando Sam chegou com o bolo, Dean nem mais se lembrava que estava de vestido cor-de-rosa. Só pensava em seu filho. Queria Sam longe dali e depressa.

– Você está uma gracinha – comentou Sam – Vamos cantar parabéns?

– Ah sim... - Disse Dean. Depois soltou toda a informação que seu irmão precisava. - Sabe, eu nasci no dia 23 de setembro de 1940, e morri em 13 de agosto de 1946. Meu nome é Doris McMuller.

Sam arqueou as sobrancelhas. Dean pôde jurar que seus lábios quase sorriram, mas ele se controlou. Dean esperou que ele fosse correndo pesquisar em seu laptop. Em vez disso, Sam colocou sete velinhas no bolo, sorriu para ele, e começou a cantar.

“Desgraçado” – pensou Dean. “Em vez de exorcizar essa praga do meu corpo ele se compadece dela e canta parabéns para comemorar seu aniversário. Patético...”

Dean mal conseguiu engolir o bolo, de tão nervoso que estava. Não largou o ursinho nem um segundo, ele estava irrequieto.

Mais tarde, Sam finalmente foi olhar o laptop. Depois disse que precisava resolver alguns negócios e que se ausentaria por uns dois dias. Dean comemorou aliviado.

Sam deixou para Doris comida na geladeira e se despediu. Assim que ele finalmente partiu, Dean tirou o ovo de dentro do urso com cuidado.

– Filhinha, você está nascendo? – ele perguntou emocionado.

Esqueceu-se por completo de tirar o vestido. Colocou o ovo em cima de sua cama e assistiu emocionado a casquinha se rachando lentamente.


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Notas finais do capítulo

Esse lindo desenho da Mama Dean de vestidinho rosa foi feito pela minha amiga Isabel Lins! Muito obrigada, ficou lindo!!!! :)



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