Epílogo: Não Há Um Recomeço Sem Um Encerramento

Eu parei diante da porta do apartamento das minhas amigas, ouvindo a música alta que vinha de dentro e me perguntando se eu realmente queria fazer aquilo. Santana e Brittany estavam dando uma festa para comemorar um prêmio que a loira tinha ganhado e mesmo sabendo que Brittany ficaria chateada se eu não fosse, eu realmente não estava no clima para festas. Ainda assim, coloquei meu melhor sorriso no rosto e apertei a campainha, dizendo a mim mesma que eu ficaria só um pouquinho e depois iria embora.

“Quinnnnnnnn!” Brittany jogou seus braços em meu pescoço assim que abriu a porta e a taça em sua mão denunciava o motivo de tanta animação. “Que bom que você veio! Seja bem vinda!”

“Muito obrigada Britt.” Respondi quando ela me puxou para dentro do apartamento. “Se divertindo muito?”

“Sem dúvidas!” Piscou em minha direção.

“E onde está Santana?” Perguntei olhando ao redor do apartamento. Havia cerca de cinquenta pessoas ali, a maioria colegas de Brittany que trabalhavam com ela no estúdio, a luz estava baixa, o centro da sala de estar havia se transformado numa pista de dança e havia garçons circulando por todo o local.

“Ela deve estar na varanda.”

“Certo, acho que vou até lá cumprimentá-la.” Disse já começando a andar.

“Não!” Brittany gritou e segurou meu pulso pra me manter ali. Eu a encarei com uma das sobrancelhas arqueadas, tentando entender o que tinha acabado de acontecer. “Digo, não sem pegar uma bebida antes!” Sorriu e começou a me puxar ao outro canto da sala, onde um bar havia sido improvisado.

“Britt eu não posso beber, estou dirigindo.”

“E daí? Você pode dormir aqui ou pode chamar um táxi. É minha festa e eu quero que minha melhor amiga comemore comigo. Por favooooooor!” Girei meus olhos pro bico infantil em seus lábios quando paramos diante do balcão e balancei a cabeça. “Ei querido, prepare um martíni pra minha amiga!” Pediu para o barman que olhou pra minha bunda descaradamente e depois piscou em minha direção fazendo com que eu desviasse o olhar desconfortável.

“Belo vestido Britt.” Comentei enquanto ela digitava algo no celular.

“Comprado especialmente pra hoje.” Se sentou em um dos bancos e colocou o celular no ouvido. “Oi amor, ela está aqui. Sim. Nós estamos no bar.” Ela desligou o celular e sorriu pra mim. “Santana está vindo nos encontrar.”

Eu encarei Brittany sem entender o porquê daquilo. Tinha sido tão estranho quanto ela me impedindo de ir até a varanda, mas ela estava bêbada e Santana provavelmente também estaria, então decidi desconsiderar. “Eu poderia ter ido procurá-la.”

“Sim, mas não é necessário agora.” Brittany tomou um gole de sua bebida enquanto corria os olhos pelo meu corpo. “Você também está muito bonita Quinn.”

Eu sorri. “Obrigada Britt!” Observei o vestido de verão que eu havia escolhido aleatoriamente para usar. Ele era curto, com alças finas e com uma estampa florida em tons de rosa e azul bebê. Comparado com o vestido vermelho e justo no corpo de Brittany o meu poderia ser considerado bem básico. Mas aquela era uma festa casual, o que se confirmou quando Santana parou ao nosso lado usando um short jeans curto e uma blusa preta que deixava grande parte da sua barriga de fora. E ainda assim ela estava linda.

“Olá melhor amiga!” Exclamou ao passar um dos braços em meu pescoço e beijar minha bochecha.

“Ok, isso foi estranho.” Respondi tomando um gole da bebida que o barman me entregou. “O quão bêbada você está?” Me sentei num banco diante de Britt.

“Não o suficiente pra te pegar, sinto muito.” Eu ri enquanto ela se colocava atrás da namorada, passava seus braços pelo pescoço e apoiava o queixo na cabeça dela. “Ei você” Apontou para o barman e depois para mim e eu encarei os dois confusa. “Tá vendo esses lindos olhos verdes aqui? Se eu te pegar olhando pra qualquer outro lugar abaixo deles eu ajudo a namorada dela a cortar seu corpo em pedacinhos e servir na vodka. Você já apreciou o bastante das pernas dela nesses últimos dois minutos.”

O rapaz se afastou envergonhado e eu apenas ri da atitude de Santana. “Você anda tão possessiva gata!”

“Apenas fiz o que Rachel teria feito.” Respondeu dando de ombros. Ao ouvir o nome da morena eu apenas bebi o resto do Martini de uma vez, sentindo minha garganta queimar e meu peito arder em saudade. “Ei, vá com calma.” Santana alertou quando eu tossi algumas vezes e apertei os olhos com força.

“Vamos tomar um ar.” Deixei a taça sobre o balcão e me levantei observando Santana e Brittany trocarem um longo olhar antes de concordarem. Eu cumprimentei alguns conhecidos na sala antes de chegar à grande varanda e suspirar satisfeita.

“A noite está linda, não?” Brittany perguntou.

“Linda.” Assenti com um sorriso, me apoiando ao parapeito e sentindo o vento bater em meu rosto. Olhando para o céu surpreendentemente estrelado eu me perguntei onde minha Rachel deveria estar naquele momento.

“Você me parece cansada Quinn.” Santana analisou enquanto abraçava Brittany.

“É porque estou. Todo o trabalho dos dias que passei longe do escritório se acumulou sobre minha mesa, a semana foi uma loucura.” Respondi vendo a doze andares abaixo os carros passando na rua movimentada. “Na verdade eu só parei mesmo pra dar um beijo em vocês, mas acho que já vou embora se vocês não se importarem.” Observei Britt procurar os olhos da namorada antes de assentir.

“Tudo bem Quinn, nós entendemos.” Se inclinou passando um dos braços pelos meus ombros e descansou a cabeça ali.

Santana sorriu antes de olhar pra dentro da sala. “Acho tem alguém me chamando lá dentro. Por que você não fica aqui com Britt enquanto eu vejo o que querem e quando eu voltar te acompanho até o elevador?”

“Claro S.” Concordei e ela sorriu novamente antes de entrar no apartamento.

Brittany passou a mão pela extensão do meu braço de forma carinhosa. “Acho que você está com frio.” Comentou ao sentir os pelos arrepiados.

Eu soltei uma risada baixa antes de concordar. “Um pouco. Está gelado aqui fora.”

Imediatamente um par de olhos azuis se arregalou em minha direção. “Você quer entrar? Eu não quero que fique resfriada de novo.”

“Não B, está tudo bem.” Eu ri.

Ela deu de ombros antes de piscar pra mim. “Como a Sant disse, é apenas o que Rachel teria feito!”

Eu não pude evitar sorrir diante da inocência daquelas palavras e das dezenas de memórias que elas me trouxeram. “Deus, eu sinto falta dela e da sua superproteção!”

“Falta pouco, Q.” Brittany sussurrou. “Falta muito pouco.”

Santana voltou à varanda cerca de cinco minutos depois com uma expressão preocupada no rosto. “Britt houve um problema com o buffet e eu preciso que você me ajude.”

“Algo sério?” A loira perguntou.

“Não, creio que não. Mas nós precisamos resolver agora.” Explicou.

“Nesse caso, eu já vou indo. Espero que dê tudo certo.” Disse arrumando a bolsa em meu ombro.

“Ah Quinn, você pode me fazer um favor antes?” Santana pediu e eu balancei a cabeça. “O contrato do buffet está no meu quarto, você pode buscar e levar na cozinha para mim? Eu e Brittany vamos falar com a chef.”

“Claro Sant.”

Ela sorriu agradecida. “Aqui.” Disse tirando uma pequena chave do bolso de trás do short e me entregando. “Ele está naquela gaveta de documentos, você sabe qual é.” Concordei.

Ela e Brittany então entraram no apartamento e foram na direção da cozinha enquanto eu seguia para o quarto em meio às pessoas dançando Britney Spears na sala e casais se pegando no corredor. Ao entrar no quarto enorme eu me certifiquei de trancar a porta pra não correr o risco de nenhum bêbado invadi-lo enquanto eu estivesse ali. Deixei a bolsa sobre a penteadeira e reparei que a luz do closet estava acesa – provavelmente Brittany havia outra vez esquecido de apagar ao sair. Olhei ao redor do quarto vendo que tudo estava impecavelmente organizado.

Enquanto eu me aproximava do closet um barulho de algo caindo se juntou ao que os meus saltos estavam fazendo contra o assoalho de madeira e logo em seguida a voz conhecida chamou:

“Sant? É você?”

Meu coração disparou em antecipação e eu tornei meus passos mais rápidos apenas para encontrar Rachel sentada no chão do closet. “Rach?”

Seus olhos se encontraram com os meus com intensidade e ela se levantou num pulo. “Quinn, eu não sabia que você estava aqui.”

“Bem, eu também não sabia que você estava aqui. Achei que estivesse em Lima.” Disse confusa.

“Eu deveria estar, mas cancelei a viagem.” Deu de ombros e me deixou imaginando o porquê dela ter cancelado.

“Ah.” Nós ficamos em silêncio e meus olhos a analisaram melhor. Ela estava maravilhosa como sempre, uma maquiagem leve no rosto, os cabelos caindo em ondas sobre os ombros, uma saia preta curta e colada e uma blusa de seda azul turquesa que tinha ganhado de minha mãe e que, só então percebi, estava com uma mancha roxa na frente. “O que aconteceu com sua blusa?”

Ela pareceu lembrar de algo e rapidamente abaixou os olhos para o tecido e o segurou entre os dedos. “Santana e eu estávamos conversando e ela sem querer derrubou metade da sua taça de vinho em mim. É por isso que estou aqui, ela me disse que eu poderia pegar qualquer blusa emprestada.”

Eu franzi a testa. “Eu realmente achei que ela não estava tão bêbada.”

“Sim, eu também.” Sorriu levemente. “E você? Veio fugir um pouco do barulho?”

“Na verdade eu já estava indo embora, mas Santana teve um problema com o buffet e pediu pra eu vir procurar um contrato pra ela.” Expliquei e vi quando sua expressão se tornou um pouco decepcionada.

“Ela...” Limpou a garganta enquanto encarava os próprios dedos nervosa. “Ela disse que você não viria. Eu-eu perguntei à Santana... e ela disse que você não estaria aqui.”

Eu a encarei confusa. “Você teria vindo se soubesse que eu também viria?”

Ela concordou. “Eu teria vindo sem hesitar e a primeira coisa que eu faria seria te procurar.” Eu engoli em seco diante daquela revelação. “Mas Santana disse que você não vinha, mas Brittany insistiu pra que eu viesse. Elas têm agido de forma estranha desde a hora que cheguei. Você acha que elas estão bravas comigo?” Perguntou preocupada.

Eu ia dizer que elas estavam estranhas comigo também aquela noite, mas foi então que eu liguei os pontos e uma luz pareceu se acender sobre mim. “Como eu pude não perceber antes?” Resmunguei e a morena me encarou sem entender. “Rachel eu acho que o acidente com sua blusa não foi um mero acidente e que na verdade não há nada de errado com o buffet.”

A expressão dela mudou rapidamente de confusão para entendimento. “Oh, você acha que ela faria isso?”

“Completamente.” Respondi e Rachel abaixou os olhos com um pequeno sorriso surgindo em seu rosto. Eu me aproximei hesitante e seus olhos rapidamente subiram para encontrar os meus. “Você acha que isso pode esperar um pouco?” Perguntei apontando para a blusa que ela vestia.

Ela analisou a mancha que parecia mais seca e concordou.

“Certo.” Suspirei antes de estender minha mão pra ela que a segurou imediatamente. Eu sorri diante daquele gesto e ela corou, abaixando o rosto e deixando o cabelo cair sobre ele. Usei todas as minhas forças para não esticar a mão, colocar a franja de volta ao lugar e tomar os lábios dela junto aos meus. Ainda não era a hora certa para aquilo.

Assim que entramos no quarto meu celular apitou com uma nova mensagem e eu parei ao lado da cômoda ainda segurando a mão de Rachel. Quando li o que estava escrito não pude evitar sorrir.

Eu sei que vocês vão fazer a coisa certa e vão se resolver. Vocês foram feitas uma para a outra, lembrem-se disso. Eu amo vocês. ­– Santana

“Eu acho que nós ganhamos um cupido.” Mostrei a mensagem pra Rachel que soltou uma risadinha baixa.

“Sim, parece que sim. Eu realmente acho que a gente deve imprimir isso e colocar num quadro! Você sabe como Santana raramente demonstra seu amor por nós...” Ela fez uma breve pausa. "Ou por qualquer outra pessoa que não seja a Brittany!"

Nós rimos juntas e eu desliguei o celular para que nada atrapalhasse o momento que voltou a se tornar um pouco tenso. Com calma guiei Rachel até a cama, onde nos sentamos uma de frente para a outra. Ela cruzou os dedos sobre o colo e eu fechei os olhos por alguns instantes.

“Quinn...”

“Rachel...” Nós falamos no mesmo instante e trocamos um pequeno sorriso. “Tudo bem se eu começar?” Ela concordou me observando com tranquilidade. Eu desviei os olhos para a janela antes de olhar de novo pra ela e começar a falar tudo o que eu pensei durante aqueles dias. “Primeiro eu quero dizer que eu confio sim em você. Confio em você mais do que em mim mesma Rachel. Desde o dia em que nos declaramos, desde o nosso primeiro beijo, naquele momento eu confiei meu amor, minha vida, meu tudo a você e eu não quero que você duvide disso nunca. Eu sei que às vezes pode parecer que meu ciúmes é exagerado, mas meu maior medo é te perder. Eu tenho medo que você desista de mim, que você encontre alguém melhor porque, ainda que pareça ridículo, os fantasmas de nosso passado ainda me assombram Rach.” Ela sabia o que eu queria dizer pois conhecia nossa história e tudo o que havíamos passado para ficarmos juntas tão bem quanto eu mesma conhecia. Ainda que eu tentasse controlar, já podia sentir as lágrimas se formarem em meus olhos e Rachel também pareceu perceber, pois segurou uma de minhas mãos e começou a fazer círculos em suas costas com o polegar, me deixando mais calma. “Santana me disse que o meu maior erro aquele dia foi ter te assistido sair sem sequer tentar evitar e eu sei que é verdade. Eu fui fraca porque eu estava louca, cega de ciúmes, eu deveria ter te impedido de ir e mesmo que você me odiasse naquele instante eu sei que depois você me entenderia, eu te entenderia e nós ficaríamos bem. Mas eu não fiz isso, eu te deixei partir e então o sofrimento chegou e nós estávamos separadas, o que foi um milhão de vezes pior. Lembra quando eu disse que um relacionamento é como dois passageiros em um barco remando sempre na mesma direção?” Ela rapidamente concordou, os grandes olhos chocolate brilhando. “Naquele momento que você saiu foi como se você deixasse os remos e pulasse do barco, e eu te deixei fazer isso sem tentar sequer te agarrar. Esse é o meu maior arrependimento. Eu quero que você me perdoe. Você consegue me perdoar por isso?”

Rachel concordou lentamente antes de dizer com a voz suave: “Eu consigo te perdoar por isso.”.

“Obrigada.” Eu sussurrei e então deixei que minha língua deslizasse entre meus lábios extremamente secos. “Eu sei que esses últimos dias foram difíceis tanto pra mim quanto pra você, mas por mais amargo que eles tenham sido, eles me fizeram pensar e perceber coisas que eu não fui capaz de perceber antes. Eu não poderia chegar aqui sem nada a te oferecer depois de tanto tempo e embora eu quisesse mais que tudo dizer que eu mudei, eu não posso fazer isso. Tudo o que posso te oferecer agora é a promessa de que algo dentro de mim mudou e eu pretendo mais que tudo melhorar, controlar meu ciúme, saber lidar com minha insegurança. Eu quero melhorar e eu vou mudar, mas pra isso eu preciso de seu ajuda. Eu preciso de você ao meu lado, me mostrando sempre que eu estiver errada, sendo paciente e firme, mas mais do que tudo Rachel eu preciso que mesmo quando eu enfraquecer você nunca, nunca mesmo, abandone o barco. Porque quando minha força se for e eu decidir jogar tudo para o alto eu preciso que você seja forte por nós duas. E eu vou fazer o mesmo por você. Por você e pelo nosso compromisso. Essa é a promessa que eu faço pra você.”

“Eu acho que posso te prometer isso também.” Ela sorriu. “Talvez eu também tenha exagerado aquele dia, mas eu não vou deixar que isso aconteça novamente. Eu estava falando sério quando disse que não vou mais deixar que nada nem ninguém fique entre nós duas. De hoje em diante Quinn, o que é passado fica no passado. Tanto pra mim quanto pra você.” Disse entrelaçando nossos dedos e mordendo o lábio inferior hesitante. “Você sabe que eu acho que nenhum erro deve ser desperdiçado e esse deve servir para nos lembrar das consequências do orgulho. Nós não devemos apagá-lo de nossas mentes, mas devemos usá-lo para nos ajudar a nunca cometer o mesmo erro duas vezes. Eu também fui fraca aquele dia, mas eu não quero que você pense que eu não me importei com o nosso amor, a verdade é que eu não estava pensando corretamente. Eu simplesmente fugi então acho que se vamos esclarecer tudo eu preciso que você me perdoe por ter abandonado o barco.” Sorriu ao repetir as palavras que eu tinha dito anteriormente.

“Eu te perdoo.” Sorri também e a vi ficar em silêncio durante algum tempo.

“Nós fomos duas idiotas, não?” Perguntou e eu apenas concordei. “Eu estava enlouquecendo sem você ao meu lado e estava enlouquecendo todos ao meu redor. Eu sequer conseguia dormir e quando conseguia acordava chorando e minha única vontade era te ligar e gritar com você por estar me fazendo passar por aquilo. Eu não confiava em mim mesma para sair sozinha porque sabia que um leve descuido me levaria até o apartamento ou, pior ainda, até seu escritório. E no dia que Kurt foi buscar minhas coisas meu coração doeu tanto, minha mente me fazia lembrar cada momento que havíamos passado juntas e eu passei a madrugada inteira encolhida no canto do quarto chorando sozinha, soluçando...” Ela fechou os olhos, o rosto contorcido em tristeza. “Foi horrível Quinn. Eu não queria ver ninguém e quando Santana e Brittany iam até lá eu passava o tempo inteiro olhando pra elas sem conseguir fazer uma palavra sequer sair dos meus lábios. Eu cancelei a viagem de Lima porque sabia que eu não tinha condições psicológicas para ir até a cidade onde descobrimos nosso amor no meio dessa confusão em que estávamos. Meus pais achariam que eu fiquei louca e o que eu diria à eles e aos seus pais? Eu não conseguiria chegar lá e contar o que aconteceu e também não saberia fingir que estava tudo bem.” A voz dela estava embargada e seu lábio inferior tremeu levemente. Eu não aguentei mais, a tomei em meus braços e apertei com força enquanto suas próprias mãos se agarravam aos meus ombros. “Prometa que nunca mais vamos nos separar.” Ela pediu enquanto nós duas chorávamos.

“Eu prometo, Rach. Eu nunca mais vou sair do seu lado e nunca mais vou deixar que você saia do meu.” Depositei um beijo em seu ombro antes de me afastar um pouco, só o suficiente para ver seus olhos, escovar seu nariz com o meu e sussurrar sobre seus lábios: “Acabou amor. Eu estou aqui agora.”

Nós ainda chorávamos quando ela tomou meus lábios, beijando como se pudesse encontrar o sentido da vida naquele beijo. Suas mãos seguravam meu rosto com firmeza e as minhas se perderam em meio à cascata castanha de cabelos. Nossas línguas se encontraram com saudade, arrancando suspiros de nós duas. Minha cabeça parecia girar com a intensidade daquele momento. Sua boca se mantinha firme sobre a minha quando eu senti o oxigênio se tornar escasso e a afastei com delicadeza.

“Nós estamos virando essa página...” Começou ofegante, as mãos em minhas bochechas, os polegares secando as lágrimas com a delicadeza que não estava presente enquanto ela me beijava. “Estamos encerrando essa fase horrível e nós nunca vamos voltar pra ela novamente.”

“Nunca.” Confirmei com o dedo indicador passando sobre seus lábios inchados apenas pra logo em seguida beijá-la novamente. Segurei firme sua cintura e a trouxe mais pra perto de mim e antes que eu fosse capaz de raciocinar Rachel já estava sentada em meu colo. Suas mãos dessa vez vagaram pelo meu corpo, acariciando ombros, braços e apertando minhas próprias mãos antes de voltarem para meu pescoço e puxar meus cabelos.

“Eu te amo.” Sussurrou quando meus lábios encontraram seu colo, deposita beijos que a faziam suspirar. “Deus, eu senti tanta saudade sua.”

Arrastei os dentes em sua clavícula e minha língua deslizou daquele ponto até seu maxilar. Rachel tremeu levemente. “Eu te amo também. Eu te amo muito. Te amo mais que tudo.”

Ela me beijou novamente, mordendo meu lábio inferior dolorosamente e depois correndo a língua por ele apenas para me provocar. O primeiro gemido veio no momento em que minhas mãos encontraram a pele quente e macia de suas coxas e a apertaram com força e o som que escapou dos lábios de Rachel me fez revirar os olhos. Eu corri minhas mãos ali, depositei um beijo leve em seus lábios e então delicadamente tirei Rachel de meu colo e me levantei. Ela resmungou pela separação repentina e me encarou confusa.

Eu apenas sorri enquanto retirava minhas sandálias e as chutava pra um canto qualquer antes de me aproximar da cama novamente e retirar os sapatos pretos que a morena usava. “Vem aqui.” Chamei estendendo uma de minhas mãos pra que ela segurasse. Ela levantou também, a falta do salto me deixando em vantagem. “Sua blusa está arruinada.” Analisei com um sorriso enquanto segurava suas mãos.

“Sim, eu sei.” Respondeu frustrada. “Era uma de minhas preferidas.”

“Minha mãe pode te dar outra.”

“Eu espero que sim.” Beijei sua testa e me coloquei atrás dela. “Quinn, o que você está fazendo? Vamos voltar pra cama...” Disse me fazendo rir.

“Não seja impaciente.” Respondi correndo meus dedos entre seu cabelo e o jogando todo sobre seu ombro direito, deixando o esquerdo exposto pra mim. Com o dedo indicador afastei a alça fina da blusa e deslizei meu nariz pela pele sentindo o cheiro de seu hidratante de pêssego invadir meus sentidos. Deixei meu nariz subir por seu pescoço e mordisquei o lóbulo de sua orelha antes de sussurrar: “Sua pele é maravilhosa.”. Rachel instantaneamente relaxou e sua mão procurou a minha mão livre e deu um pequeno aperto enquanto suspirava. “Você é maravilhosa.” Refiz meu caminho para o ombro, beijando e lambendo tanto quanto eu podia. Voltei para a sua clavícula pra deixar uma última mordida, sugando a pele com força e depois passando minha língua ao redor enquanto sentia Rachel apertar minha mão com mais força e gemer baixinho. Rapidamente sua cabeça se inclinou para o lado e ela procurou meus lábios, me beijando com calma. “Deixa eu te ajudar com sua blusa.” Sussurrei quando nos separamos e levei uma das mãos até a parte de baixo da peça enquanto Rachel guiava a outra mão junto com a sua. Quando me afastei um pouco ela ergueu os braços permitindo que o tecido deslizasse pra fora de seu corpo com facilidade. Beijei sua nuca com os lábios entreabertos enquanto deslizava a mão pela pele quente de seu abdômen, mas antes que eu pudesse alcançar o tecido de seu sutiã ela estava de frente pra mim.

“Não seja egoísta.” Sua voz soou rouca e ela agarrou minha cintura com firmeza enquanto seus olhos brilhavam como dois faróis, refletindo a intensidade do desejo. Rachel encostou a testa em meu ombro e beijou ali enquanto seus dedos agilmente foram parar em minhas costas, descendo o zíper de meu vestido e deixando a peça escorregar direto para o chão. Ela me beijou lentamente e as mãos que inicialmente estavam na base de minhas costas subiram pela pele nua. Rachel passou as mãos pelo lugar onde deveria estar o fecho de meu sutiã uma, duas, três vezes até que eu ri enquanto mordia seu lábio. “Onde está seu sutiã?” Perguntou olhando para meu rosto.

“Eu não estou usando.”

“Oh Deus!” Ela suspirou antes de arriscar uma rápida olhada para os meus seios, mas quando tentou tocá-los eu rapidamente segurei suas mãos com as minhas e as beijei.

“Você também não deveria estar usando.” Meus olhos pousaram sobre a peça rendada num tom de vinho e minha boca se encheu de água. Sem me conter eu me inclinei e beijei a parte do seio que a lingerie não cobria. Quando levantei os olhos Rachel mordia o lábio inferior. Ela me empurrou até que eu estivesse sentada no meio da cama e então lentamente deslizou a saia preta pelas pernas, aos poucos revelando a calcinha vinho, depois caminhou e se deitou sobre mim. Suas mãos rapidamente encontraram meus seios numa massagem gostosa e eu arqueei as costas com o primeiro contato.

“Eu preciso te sentir Quinn.” Rachel sussurrou quando separou nossas bocas. Seu rosto pairou sobre o meu, as pupilas dilatadas, bochechas vermelhas, respiração entrecortada e tudo o que eu fiz foi concordar, me entregando inteiramente àquela mulher. À minha mulher.

“Sinta. Eu sou toda sua.” Respondi no mesmo estado em que ela se encontrava.

E Rachel me sentiu e eu a senti. Tudo. Ela fez questão de beijar cada parte de meu corpo, sugar meus seios de forma possessiva e sensual, deslizar a língua por minha barriga, morder o osso em meu quadril e enganchar os dedos em minha lingerie preta para revelar meu sexo pulsando de desejo por ela. E ele era dela. E era tudo para ela. Ela me fez ansiar por mais e implorar por mais. Ela esfregou minhas dobras, chupou e depositou beijos ali com devoção, amando cada vez que seu nome saia de meus lábios de forma erótica. Era erótico e ao mesmo tempo passional, pingava desejo e ao mesmo tempo exalava amor. E quando eu não aguentei mais sua boca me fez chegar ao ápice, me empurrando naquele abismo e naquela loucura que era ter sua língua em meu sexo, entrando em mim e me fazendo sua outra e outra vez.

Ela ainda me segurou em seus braços enquanto meu corpo tremia e eu ainda gemia baixo. Ela beijou meu rosto com paixão e se deitou comigo, mas antes que ela pudesse dizer qualquer outra coisa eu já havia invertido as posições e agora era eu quem estava sobre ela. Porque eu também precisava senti-la. Meu corpo implorava por senti-la.

“Eu te amo.” Disse enquanto a puxava para se sentar em meu colo novamente e rapidamente tirava o seu sutiã revelando os seios pequenos e redondos que eu venerava. Nós nos beijamos enquanto eu brincava com seus mamilos adorando a forma como eles se tornavam rígidos com meu toque. Rachel puxou meu cabelo com força enquanto chupava minha língua, mas assim que nossas bocas se separaram a minha foi parar num de seus seios, primeiro passando a ponta da língua ao redor da aréola rosada para em seguida mordiscar o mamilo e chupar com paixão, amando a forma como Rachel gemia bem ao lado do meu ouvido. E ainda que quisesse ir devagar eu sabia que nós não tínhamos tanto tempo então rapidamente deslizei uma das mãos pra sua bunda enquanto a outra afastava a calcinha pequena e encontrava seu sexo pulsando. “Tão molhada...”

“Pra você.” Foi tudo o que ela foi capaz de dizer e o suficiente pra fazer meus dedos deslizarem entre suas dobras e acariciar seu clitóris em movimentos circulares que depois se tornaram mais rápidos, intercalando leves batidinhas que faziam a morena arfar. “Dentro...” Ela disse ofegante. “Agora.” E eu obedeci com um dedo facilmente deslizando por sua entrada e encontrando suas paredes apertadas e quentes. Rachel deixou a testa cair contra meu ombro e eu gemi com a sensação de estar mais uma vez dentro dela. Eu a invadia de forma lenta, num vai e vem que eu sabia que iria fazê-la pedir por mais. Não demorou muito pra isso acontecer. “Pare de me provocar. Eu quero mais.”

“Mais o quê amor?” Parei meus movimentos apenas para sentir sua mão segurar a minha e empurrar meu dedo de volta.

“Mais forte, mais rápido, tudo.” Ela sussurrou e eu atendi prontamente, juntando mais um dedo ao outro e inserindo de forma rápida enquanto a palma de minha mão estimulava seu clitóris. Os gemidos de Rachel se tornaram mais altos e suas mãos apertaram meus ombros com força. Eu passei a beijar seu pescoço e ela empurrou seu quadril contra minha mão quando sua respiração se tornou ainda mais ofegante. “Oh Quinn!” Ela gritou e eu decidi que não havia imagem mais sexy do que Rachel rebolando sobre meus dedos. Mais algumas estocadas fortes, minha mão livre em seu quadril tornando seu movimento mais fácil e meus dedos se curvando para bater no lugar certo e ela chegou ao limite com um grito que fora abafado quando ela cravou seus dentes em meus ombros. Minha mão ainda estava em seu sexo quando eu acariciei a base de suas costas em movimentos circulares sentindo seus seios firmemente apertados contra os meus e seus pés cruzados atrás de minhas próprias costas. Sua cabeça estava afundada em meu pescoço enquanto aos poucos a respiração ia se estabilizando.

“Eu te amo.” Sussurrei novamente e ela levantou o rosto para me olhar. Havia um sorriso preguiçoso em seus lábios carnudos, os olhos não poderiam estar mais brilhantes, alguns fios de cabelo estavam grudados na testa suada, seu colo estava vermelho e seu pescoço exibia um chupão azulado que eu contornei com o dedo indicador. “Você é linda. A mulher mais gostosa desse mundo.” Passei a mão por seus cabelos e lentamente tirei meus dedos de dentro dela e os levei até a boca chupando um por vez sob o olhar atento da morena. “E deliciosa.”

Ela se inclinou pra me beijar com calma, explorando cada canto de minha boca, escovando sua língua contra a minha e tocando o céu de minha boca com a ponta dela. “Você me enlouquece.” Ela disse e beijou minha testa antes de dobrar suas pernas ao lado de meu corpo. Eu me recostei aos travesseiros macios trazendo o corpo de Rachel junto ao meu e fechei meus olhos quando ela se ajeitou para se deitar sobre meu peito. Nós ficamos em silêncio por longos minutos, mas eu poderia dizer que ela não estava dormindo por sua respiração e pela forma como seu polegar acariciava minha costela logo abaixo do seio. Um de meus braços estava sobre sua cintura segurando com firmeza e com a outra mão eu acariciava seu cabelo e o mundo parecia finalmente ter voltado a girar na direção correta. Tudo estava no lugar, Rachel estava em meus braços e eu não poderia estar mais feliz.

“Quinn?” Ela chamou com um sopro de voz.

“Sim?”

“Me leve para casa.” A frase me deixou estática e o movimento de minha mão em seu cabelo parou na metade. Será que ela estava arrependida? Foi então que outra coisa me ocorreu.

“Rach” Disse também baixo. “Eu sequer sei onde você está morando.”

Ela levantou seu rosto e seus olhos se prenderam aos meus. “Não Quinn, você não entendeu. Eu quero que você me leve para casa. Para nossa casa, nosso apartamento.”

Sim, minha vida estava definitivamente de volta aos trilhos.

Quando nós caminhamos pra fora do quarto com as mãos entrelaçadas todos os convidados já tinham ido embora restando apenas o pessoal do buffet terminando de organizar as coisas. Um dos garçons nos informou que Santana e Brittany estavam na varanda e quando chegamos lá encontramos as duas deitadas no sofá de vime, a loira agarrada ao corpo de Santana enquanto dormia com a cabeça sobre seu peito e a latina com os olhos presos a um livro.

“Ei vocês.” Santana saudou e seu sorriso cresceu ao nos ver de mãos dadas. “Vejo que se acertaram.” Comentou arrumando o óculos de leitura sobre o nariz.

Rachel passou seus braços em minha cintura e beijou minha bochecha. “Sim Sant, nos acertamos. Muito obrigada por ter nos ajudado, foi muito bonito de sua parte e nós estamos muito felizes.”

“Vocês fizeram não foi?” Ela perguntou ao ver o sorriso enorme de Rachel e então seus olhos se arregalaram como se algo acabasse de ocorrer a ela. “Oh merda, vocês fizeram na minha cama? Eu te mato Fabray!”

Rachel corou violentamente e escondeu o rosto em meu pescoço. Santana estava pronta para falar novamente quando Brittany começou a acordar. “Sant, com que você está falando?” Perguntou esfregando os olhos e quando eles pousaram em mim e Rachel ela sorriu e se levantou. “O plano de Sant funcionou?" Perguntou animada e eu concordei. "Eu estou tão feliz por vocês! Vocês nunca mais vão brigar novamente, certo?”

“Nunca mais Britt.” Concordei e a loira nos abraçou.

“Vocês são o casal mais bonito do mundo depois de minha e Santana!” Depositou um beijo nos lábios da esposa e então se virou pra Rachel. “Venha comigo Rach, eu guardei alguns bolinhos de canela pra você.”

Quando as duas deixaram a varanda eu me sentei ao lado de Santana. “Eu realmente estou agradecida por você ter nos concedido esse momento, S. Eu não sei se teria suportado ficar longe dela se não tivesse você ao meu lado pra me impedir de enlouquecer completamente.” Ela apenas revirou os olhos me fazendo sorrir. “Você quer que eu esqueça que você me ajudou, certo?”

“Sim, isso pode prejudicar minha imagem.” Deu de ombros me fazendo rir.

“Eu amo você sua vadia.” Lhe beijei a bochecha e me levantei para ir procurar Rachel sem querer ficar mais nenhum minuto longe dela.

“Vamos lá, você pega sua anã demoníaca e tarada e leva pra casa e eu e Brittany vamos dormir no quarto de hóspedes até amanhã, quando eu jogar aqueles lençóis fora e comprar um novo colchão.” Ela se levantou e começou a caminhar e foi minha vez de revirar os olhos. Na metade do caminho até a cozinha ela olhou sobre o ombro e piscou pra mim. “Ah Fabray, eu meio que te amo de volta. E você está me devendo uma agora.”

“Eu não acredito que nos reconciliamos e transamos no quarto de Santana e Brittany, é surreal!” Rachel comentou quando entramos no elevador. “Acho que nunca mais vou conseguir encarar Santana, ela vai jogar isso na minha cara em cada oportunidade que tiver.”

“E eu vou te proteger todas as vezes que isso acontecer.” Sorri pra ela e beijei seus lábios com paixão.

"Eu sei que vai. Essa foi uma das melhores noites de minha vida.” Ela sussurrou quando nos separamos e me abraçou.

“Da minha também.” Depositei um beijo no topo de sua cabeça e a apertei mais contra mim, sentindo a necessidade de tê-la tão perto quanto possível fosse. “Agora vamos pra casa amor. Pra nossa casa da onde eu nunca mais vou te deixar sair.”

“Sim” Rachel concordou sorrindo contra meu pescoço. “Nossa casa.”

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“Talvez, céus nublados e pancadas esparsas nos esperem mais adiante. Silêncios onde deveria haver palavras, palavras onde poderia haver carinho, batidas de frente, gritos até. Depois faremos as pazes. udo que sabemos agora é que eu te quero, você me quer e temos todo o tempo e o espaço diante de nossos narizes para fazer disso o melhor que pudermos.”– Antônio Prata