A Ultima Fuga 2 escrita por DM


Capítulo 19
Conhecendo o Inimigo 2


Notas iniciais do capítulo

Amei os comentarios.



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nquanto falava, Emily viu os cadáveres enrugados, como o Encarregado de Negócios os descrevera, jazendo sobre a areia do deserto.

– Então... foi Sua Alteza que matou... os ingleses que morreram no deserto?... -disse ela- e os beduínos e ladrões foram acusados do crime!...

–Sim, fui eu! E é por esse motivo que sua esposa também vai morrer! Porque ela me desprezou em uma festa- diz Natan- ela se sente muito importante

Emily sentiu as palavras secarem o sangue de seu coração, para que ela desmaiasse.

– Não acha... que será denunciado... como assassino?- interrogou com voz fraca.

– Quem poderá saber que sou responsável? Uma facada nas costas, quando ela estiver caminhando pelo jardim. Ou talvez, comida envenenada! É fácil matar. Muito mais difícil é encontrar o culpado.- diz Natan

A sensação de desmaio passou. De repente, Emily sentiu uma nova força íntima. Uma força que a fez gritar. A voz parecendo ecoar na sala sombria - Não deve fazer isso...

– E quem vai me calar? Como poderá me impedir?- diz Natan debochado

Um sorriso cruel surgiu em seus lábios. Ao mesmo tempo, ela teve consciência, porque ele aceitara seus poderes clarividentes, que a expressão dos olhos do Sultão era diferente do que fora, no início da conversa.

Naquele momento, ela soube que não temia mais por si mesma, mas por Spencer. Sentiu um terror imenso, como se tivesse recebido uma facada no coração. Spencer não podia morrer daquela maneira!

– Ainda não compreendeu?- perguntou o Sultão- que depois de ter vindo aqui uma vez, não haverá volta? Eu pretendera, e já providenciei, para que caísse do alto do terraço. Estaria apreciando a vista e, por uma estranha fatalidade, escorregaria!... Sua morte e a de sua esposa, depois que ela tivesse chorado bastante a perda da esposa, seriam uma pequena parte da minha vingança contra quem zombou de mim por causa da minha cor! E que me tratou como se eu fosse um varredor de ruas, não o soberano supremo do meu povo!

Emily permaneceu de pé, olhos fixos nele, arregalados. De alguma forma, aquela estranha sensação clarividente que se apossara dela desde que entrara na sala, parecia envolvê-la com uma força protetora especial. Não estava mais apavorada, embora pudesse sentir as vibrações do mal, vindas do Sultão. Não sentia mais medo por si mesma. E, de certa maneira, o fundo de sua mente lhe dizia o que devia fazer. Um poder mais forte que ela, a estava controlando e guiando. Com uma corajosa dignidade, tornou a voltar para o sofá.

– Gostaria de... falar com Sua Alteza- diz Emily

– Por que não? Como lhe disse antes, há tempo para tudo em Marrocos- diz Natan

Ele tornou a se sentar na cadeira oposta à Emily. Ao olhar para o homem, já não viu o brilho do triunfo em seus olhos ou a crispação cruel dos lábios. Mas o seu corpo enrugado, com manchas de sangue no peito, jazendo na areia do deserto.

– Em que esta pensando?- perguntou ele como se o silêncio dela o deixasse curioso.

– Quero lhe propor... um negócio... -replicou Emily em voz baixa.

– Um negócio?- diz Natan

Ela balançou a cabeça, concordando- Quero que poupe minha esposa... quero que ela continue viva.

– Que me oferece em troca?- pergunta Natan curioso

– Eu mesma- diz Emily

O Sultão ergueu as sobrancelhas. Ela prosseguiu- Eu sou o que seu Profeta prometeu aos fiéis no Sétimo Céu. Eu sou... pura e... imaculada.

O Sultão encarou-a, surpreendido.

– Pura e imaculada? –perguntou ele sem entender

– Vou contar a verdade à Sua Alteza. A verdade que ninguém mais conhece. Lady Hastings e eu não somos casadas. Estamos juntos por motivos particulares, que é desnecessário explicar. Mas, na verdade, não somos casadas. Ele nunca me tocou. Ela viu o súbito fulgor nos olhos do Sultão.

– Está sugerindo -disse ele- que se eu poupar sua esposa, você será uma das minhas esposas? Mas, como já está em meu poder, por que razão eu iria fazer um pacto com você?

– Se me tocar, a menos que tenha concordado em poupar Lady Hastings, eu me matarei- declarou Emily, com voz firme. Fez uma pausa momentânea. E obedecendo a uma voz interior, acrescentou- Como Shauna Daventry fez.

Por um momento, o Sultão ficou imóvel; em seguida, falou com aspereza- Você tem a visão. Por Alá, você tem!

– O que estou sugerindo -falou Emily devagar, como se as palavras lhe estivessem sendo ditas- é que jure sobre o Alcorão, pela barba do Profeta, que Lady Hastings deixará o país... viva e em paz. Em troca... eu me casarei com Sua Alteza.

– Casar comigo?- diz Natan

– Poderia oferecer menos... a uma pessoa da minha posição?- perguntou Emily com rispidez.

– Eu já tenho quatro esposas -explicou ele- Não posso me casar mais uma vez.

– Eu sei -respondeu Emily- que pode se divorciar de uma delas, quando quiser. Precisa dizer apenas está divorciada. E ela não será mais sua esposa...

Viu o Sultão hesitar. E acrescentou- Este é o pacto que proponho a Sua Alteza. Se não concorda, então atire-me do terraço, ou eu mesma me jogarei. Não é importante para mim.

– Dizem que aqueles que têm a visão não sentem dor- falou o Sultão.

– Sentindo ou não dor, serei sua esposa. Não sofrerei a degradação de ser uma das concubinas em seu harém- diz Emily

– Por Alá! -exclamou ele- É uma mulher com quem vale a pena um casamento. Será como diz!

– Muito bem. Nesse caso, a menos que queira ser envolvido em uma grande encrenca... porque afirmo que Lady Hastings provocará uma revolução, se for necessário... temos que executar nossos planos com cuidado!

– Que me sugere? -perguntou o Sultão com curiosidade.

– Que eu escreva a Lady Hastings, Sua Alteza. E lhe diga que sua mãe me convidou a permanecer aqui, como sua hóspede. Sei muito bem que... Sua Alteza não poderá se casar comigo antes de quarta-feira, por causa das quarenta e oito horas de abstinências obrigatórias, antes do casamento.- diz Emily

– Conhece nossos costumes!- diz Natan

– Se devo me casar, então, nos casaremos de acordo com os rituais da crença muçulmana- respondeu Emily-. A crença exige um jejum. E depois, o casamento à noite, acompanhado por uma grande festa. Quem iria me respeitar se Sua Alteza não me tratar de maneira generosa e nobre?

– Tem razão -concordou o Sultão- Será como diz. E minha vingança será bem maior quando souberem que uma inglesa tão importante está em meu poder, vivendo na minha casa.

De repente, atirou a cabeça para trás e riu.

– Minha esposa! –exclamou ele- Uma inglesa... minha esposa! A mulher da Marquesa Spencer Hastings será minha. É uma pilhéria que, infelizmente, seu empertigada Esposa ainda desconhece! Mas, ela, que me tratou com desprezo, e seu pessoal, que me olha como se eu fosse um cachorro, saberão algum dia! Será uma boa lição para eles!

Havia um ódio tão grande em sua voz que Emily compreendeu como a ferida fora profunda, e como suas emoções eram criminosas.

– Está combinado, então disse ela. Por favor, mande buscar o Alcorão- diz Emily

O Sultão olhou para ela. Emily soube que ele a enganaria, se pudesse. Mas, ela estava certa de que a religião tinha um poder muito forte sobre ele. O Sultão não ousaria mentir sobre o livro sagrado de todos os muçulmanos, no qual a palavra de Alá é transmitida através do Profeta Maomé.

Ele bateu palmas. Um criado entrou no recinto. E quando o Sultão lhe pediu um Alcorão, o criado trouxe um, quase no mesmo instante. Entregou o livro ao amo. E fazendo profunda reverência, deixou a sala.

O Sultão segurou o livro com dedos compridos e finos. Olhando para eles, Emily não pôde evitar um estremecimento ao pensar que estavam manchados com o sangue das pessoas que o Sultão assassinara.

– Coloque sua mão sobre o Alcorão -disse ela- Jure que não tentará, agora ou nunca, matar Lady Hastings. Jure por tudo que lhe é sagrado. Por sua esperança de alcançar o Paraíso!

Houve uma pausa. Depois, de modo brusco, o Sultão obedeceu, fazendo como ela pedira.

Em seguida, afastando o livro, ele avançou para Emily. Ela viu, soube pelo brilho dos olhos

e a expressão dos lábios grossos, o que ele pretendia. Por um momento entrou em pânico. Mas depois resolveu lutar- Esqueceu-se perguntou que nenhum homem deve... me tocar... ou me ver... até que Sua Alteza erga os sete véus do meu rosto... depois que estivermos casados?

As palavras o imobilizaram. Encarou-a, vacilante.

– E agora... - falou ela em tom que não admitia resposta - se não deseja ter Lady Hastings, o Encarregado de Negócios e todos os europeus de Tânger batendo nos portões do Kasbah, sugiro que eu escreva a Milady, informando-o de que vou ficar aqui. Se pretende lhe dizer mais tarde que morri, então, seria mais sábio fazer isso no dia em que eu deveria voltar. Vamos dizer, quinta-feira?

O Sultão riu.

– Estou vendo, Milady, que é perita em tramas. Escreva sua carta. Mas lembre-se de que falo sua língua. Se está pensando em pedir ajuda, o meu juramento não terá valor- diz Natan

– Poderá ler o que eu escrever -disse ela. O Sultão tornou a bater palmas. Um tinteiro, papel de escrever e pena foram trazidos por um criado. Emily sentou-se na escrivaninha.

Era difícil escrever, sabendo que o Sultão a estava vigiando, sentindo que ele tentava ler seus pensamentos, suspeitoso, porque ela se submetera sem fazer uma cena.

Ela compreendeu, contudo, que o Sultão estava se sentindo vitorioso com o pensamento de que aquilo seria uma vingança sutil contra os ingleses. Ele era presunçoso demais para suspeitar que pudesse ser enganado por uma mulher.

Emily escreveu depressa. Mais uma vez, sentiu como se as palavras fossem ditadas por uma força estranha a ela mesma. Finalmente, quando secara a carta, estendeu-a ao Sultão. Ele leu em voz alta:

Milady,

Fui muito bem recebida pela Sultana que, amavelmente, me convidou para ser sua hóspede. Ficarei três noites, afim de que eu possa assistir a um casamento na noite de quarta feira. Estou certa de que Milady, permitirá que eu aceite, já que será de considerável interesse para mim. Poderei, assim, colher material para o meu livro. O noivo é de alta nobreza e tem uma bela presença. Ele escolheu uma noiva tão atraente quanto à moça por quem Sir Noel estava apaixonado!

Sua obediente esposa,

Emily

– Quem é Sir Noel?- perguntou o Sultão.

– Um cavalheiro de minhas relações e de Milady, que desejava se casar com uma jovem muito atraente, antes de nós deixarmos a Inglaterra- replicou Emily com indiferença. Achei que meu pedido pareceria mais razoável. Mas se quiser, posso cortar essas linhas.

– O noivo é de alta nobreza e tem uma bela presença! -releu ele- Isso é verdade. Em nenhum lugar de Marrocos encontraria um noivo mais nobre ou poderoso. Você vê as coisas. Se olhar para o futuro, verá que eu vou conquistar todo Marrocos. O país inteiro será meu. Aquele imbecil que senta no trono morrerá. E eu reinarei em seu lugar. Eu, Natan Moulay el Zazat. Você vê isso?

As últimas palavras foram quase gritadas.

– Já vi muitas coisas esta tarde -replicou ela- Minha cabeça está doendo, porque está muito quente nesta sala. Depois do nosso casamento, quando nos encontrarmos de novo, eu lerei o seu futuro.

– Todos os grandes conquistadores tiveram o auxílio de astrólogos e daqueles que previam seus triunfos –disse o Sultão- Você me contará sobre os meus.

– Farei,isso! -concordou Emily, enquanto fechava a carta-0 Mas, como Sua Alteza sabe muito bem, devo ficar agora aos cuidados de sua mãe. Sua Alteza deve vir comigo, porque terá que me apresentar à Sultana e também às outras esposas.

O Sultão sorriu, como se compreendesse que Emily estava decidida a não deixar dúvidas, sobre a posição que ela ocuparia na casa.

– Primeiro, diga-me uma coisa: pode me ver no trono de Marrocos?- diz Natan

Emily fechou os olhos por um momento. Sentiu como se sua cabeça estivesse girando sob os efeitos do cheiro forte de incenso, e ficou quase sufocada. De novo, ela viu com clareza um homem jazendo na areia, coberto de sangue. Abriu os olhos.

– Então?- perguntou o Sultão.

– Há um trono –retrucou Ela- Sei que está se aproximando dele. Mas, como lhe disse, meus poderes são poucos, e estou cansada. Gostaria de descansar.

– Tem coragem -disse ele- coragem de dizer a verdade. Não há astrólogo neste palácio, ou qualquer vidente em todo o meu domínio, que não tivesse respondido que me via sentado no trono, vitorioso, depois de derrotar meus inimigos.

– Se alguém faz mal uso de seus poderes, então, eles deixam de existir- diz Emily

– É verdade -concordou o Sultão- e porque é honesta e não abusa da dádiva que Alá lhe concedeu, acredito em você. Amanhã, embora não a veja, deverá me enviar uma mensagem

contando-me os seus sonhos. Ou olhar para uma tigela de água e ver que figuras se apresentam.

Falava com firmeza, como se a obrigasse a ser clarividente por causa dele.

– Não se trata do que os olhos vêem, mas do que o coração sente -replicou Emily- citando um provérbio árabe.

O Sultão resmungou, exasperado. Mas em vez de falar mais, bateu palmas. Os criados chegaram. Ele lhes falou em árabe, muito depressa.Entregou a um deles a carta de Emily, e lhe disse para levá-la à carruagem que estava esperando no exterior. Devia mandar que o cocheiro voltasse com a carta para a Embaixada.

Outro criado recebeu ordem de levá-los, até o harém. O Sultão caminhou à frente da jovem, porque o oriental deve sempre preceder a mulher. Ela o seguiu carregando a cesta dos presentes.

Emily caminha ao lado do sultão pensando que Spencer pensaria em um plano para livrar ela.


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