A Terapeuta escrita por Bellice


Capítulo 17
Capítulo XVII


Notas iniciais do capítulo

Desculpem-me a demora!
Boa leitura.



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Capítulo XVII

‎”Eu poderia te dizer aquelas doces mentiras sinceras - "você-é-minha-vida", "não-sei-o-que-seria-da-minha-vida-sem-você" ou todo esse tipo de porcaria que a gente diz no calor da hora. As pessoas são assim, dizem que não sabem viver sem você. Depois aprendem e esquecem de comemorar contigo. E deixam vazio o lugar que sempre será delas. Eu não, simplesmente estou aqui. De vez em quando sujo, entediado, agressivo, mal-humorado, triste, calado e chato. Mas aqui.”

Gabito Nunes

–Você contou à Tanya sobre seus sentimentos por mim? –Bella perguntou casualmente, enquanto comíamos nossa sobremesa.

–Não. Não é da conta dela, afinal. E também, não adiantaria ter sentimentos por você caso você não pudesse retribuí-los. Então, não contei. –Tanya era minha ex esposa, mas eu fiz da vida dela um inferno nos últimos anos, então eu realmente não queria trocar figurinhas com ela.

–Edward, Tanya se preocupa muito com você. Você mesmo disse que ela chorou ao te ver bem! Ela te ama! Não como eu amo você, mas como uma mulher ama um querido amigo. Não seja cruel com ela, nem evasivo. Eu acho que ela merece saber. Ela gostará de saber por você.

–Por que ela ficaria contente por mim? Não faz sentido.

–Porque é o que os amigos fazem: ficam felizes quando algo bom acontece na vida da gente. Eu não sou algo bom o bastante na sua vida, é isso? –Isabella mordeu os lábios, e eu quis beijá-la. Eu já disse o quanto essa mulher é absurda?

–Você não é apenas algo bom. É o algo melhor. O algo excepcional. Você sabe disso, Bella. Sua presença mudou a minha vida. Só que, você sabe... Não estou acostumado a ter amigos. Então...

–Você não sabe muito bem como agir. –Ela concluiu. –Eu entendo, Edward. Porém, você tem que se acostumar. Amigos são importantes nas nossas vidas. Não quero que você crie apenas uma relação comigo e se esqueça do resto do mundo, não. Eu quero que você viva, tenha amigos, tenha uma vida independente de mim nela. Você entende isso? Eu não quero uma relação de dependência. Eu estou com você porque me sinto ótima com você. Porque amo você, não porque eu preciso de você o tempo todo, 24 horas por dia. Isso está claro para você também?

Pensei um pouco antes de responder. Olhei para Bella. Eu sabia o que ela estava dizendo, e compreendia. Não seria saudável sair de um relacionamento infeliz e entrar em um outro apenas por não querer ficar sozinho. Não seria saudável viver apenas em volta da vida de Isabella. Eu precisava arrumar toda a minha vida, traçar um novo caminho, alcançar novas metas, tomar decisões que só cabiam a mim. Eu precisava ser independente de meus pais, de Tanya, de Bella e de qualquer outra pessoa. Eu precisava viver tendo consciência de que tinha uma vida completa, não a extensão da vida das pessoas que eu amava.

E porra, eu queria ter uma vida finalmente. Uma vida completa, com Isabella ao meu lado. Não me guiando, não sendo guiada por mim. Mas ao meu lado, traçando um caminho juntos.

–Eu sei. Entendo também, Bella. Eu amo você, mas também quero realizar outras metas na minha vida. Não se preocupe com isso. Eu realmente não estou confundindo as coisas. –E eu realmente não estava. Isabella sorriu.

–Que bom. Então, o que você acha de contarmos a novidade à Tanya e a James de uma vez só? –Ela parecia apreensiva, de certa forma, com minha opinião sobre o que estava me propondo. Não era que eu não quisesse contar para todos que eu estava com Isabella, que eu estava feliz, mas... James? Eu não tinha muita certeza disso. –Ele é nosso amigo e independente do que aconteceu no passado, ele merece saber por nós. –Minha terapeuta barra namorada concluiu, enquanto parecia ler meus pensamentos. Essa mulher fazia muito isso. Era assustador, para ser sincero. –Podemos fazer um jantar lá em casa? Eu sirvo refrigerantes e você cozinha, sabe. –Eu ri. Era o melhor a se fazer. Manter Bella longe do fogão era quase uma prioridade, principalmente depois de eu ter visto de perto o meu bolo de cenoura indo para o lixo de tão preto que estava.

–Tudo bem. Podemos convidar Dérek também? Ele é o... Namorado de Tanya e tenho certeza que devo uma espécie de desculpas para o cara. –Isabella olhou-me parecendo surpresa, surpresa demais. Para ser honesto, eu também não esperava aquilo da minha parte. Simplesmente... Saiu. Eu queria que Tanya também fosse feliz, e já que ela gostava desse tal homem, que fosse.

–É claro que podemos, Edward. –Isabella esticou seu braço sobre a mesa do restaurante até sua mão achar a minha e apertá-la com segurança e delicadeza. Eu sabia o aquele gesto queria dizer: ela estava orgulhosa de mim. E eu também estava orgulhoso das minhas atitudes, sinceramente.

–E Mandy? Ela não vai... Sair do hospital nunca? –A sobrinha de Isabella era um assunto delicado para nós. Por Deus, eu a visitei duas vezes e já estava apaixonado pela menina. Ela não poderia... Simplesmente morrer. Não, não seria justo.

–Eu não sei, Edward. Ela precisa da medula, você sabe. Os tratamentos não estão funcionando, a imunidade está baixa... Ela não pode sair do hospital.

–Vamos visitá-la, então. Antes desse jantar. Ela tem que ser a primeira a saber. –Afirmei.

–Ah, meu Deus, você gosta mesmo da Mandy. –Isabella me encarava como se eu fosse um bicho de sete cabeças. Eu soltei uma risada.

–Eu gosto. Ela é encantadora. Eu adoro crianças. Por que você está tão surpresa, Srta. Swan? –Arqueei minha sobrancelha.

–Por nada. Eu só não esperava. –Isabella corou e meu sorriso aumentou. Será que um dia poderíamos ter uma menina parecida com ela? Parecida com ela até na hora que corasse? Eu com certeza amaria tudo aquilo. –Vou convidar os pais de Mandy para o jantar também. Você não os conhece, mas já está caído de amores pela filha deles.

Eu concordei. Seria bom conhecer alguém da família de Isabella.

–Ligarei para a Tanya agora mesmo. –Saquei meu celular do bolso e disquei o número tão conhecido da minha casa antiga. Minha antiga esposa também não demorou a atender. Tanya e toda a sua afobação, como sempre. Eu até que sentiria falta disso.

–Alô.

–Hey, Tanya! É o Edward.

–Olá, Edward! Tudo bem com você? Há algo errado?

–Não, não. Tudo está ótimo na verdade. –Olhei para Isabella e vi que ela me fitava com interesse. Sorri para ela. Realmente, tudo estava ótimo. Ótimo demais. –Escute, eu quero lhe contar algo, então... O que você acha de um jantar na casa de Isabella? Pode levar o seu namorado se quiser e tudo o mais. Convidarei James, uns familiares da Bella vão também.

Tanya demorou a responder e, por um minuto, eu pensei que ela já tivesse entendido tudo. Porém, não. Ela só estava processando a informação. Deveria ser estranho mesmo ouvir-me convidá-la para alguma coisa depois de tudo, afinal.

–Ah, Edward! Faça o jantar aqui! Aqui é bem maior, caberá todo mundo! Você sabe, apartamentos não são muito espaçosos. E eu prometo lavar a louça, juro!

–Óbvio, cozinhar é que você não ia. É uma negação. –Parece que minha ex mulher tinha algo em comum com a minha atual, uh? –Porém, fazer o jantar aí? Não sei... –Procurei por uma reação de Bella, mas ela só deu de ombros e sorriu. Ela não se importava com o lugar. E pensando bem, que mal faria atender a um dos pedidos de Tanya? Eu neguei a ela pequenas coisas por tempo demais. –Certo. Pode ser aí. Amanhã? A louça é sua.

–Amanhã. E a louça é minha. Tchau, Edward. Mande um beijo para a terapeuta milagrosa que você nos arrumou. –E sem esperar por uma resposta, Tanya desligou.

–Tanya mandou um beijo para a terapeuta milagrosa que eu arrumei para nós dois. –Fiz uma careta, transmitindo o recado à Isabella. Ela riu. Aquele som era um dos meus novos sons favoritos no mundo. Porra, era adorável.

–Ela tem muito que me agradecer mesmo. Deixei você menos ranzinza e ainda peguei a mala que você é só para mim. Como eu sofro! –Minha namorada sorria, e eu sabia que era uma brincadeira. E, impressionantemente, as palavras dela não me afetaram negativamente como eu pensei que afetariam. Ela estava brincando, e eu já era um homem crescido para ser capaz de discernir quando algo era de verdade ou quando era de brincadeira.

–Cala a boca, mulher! Eu é que me dei mal! Você nem sabe fazer um bolo de cenoura para o seu homem. –Resmunguei, enquanto me fingia de bravo.

–Não, não sei. Porém, eu posso pagar por qualquer bolo de cenoura que você queira. Independência, meu bem. É mais sexy do que cozinhar. –Isabella piscou o olho para mim, pegou a comanda do nosso almoço e saiu em disparada para o caixa. Eu ainda tentava processar a piscada de olho sensual e o quanto seu bumbum ficava adorável enquanto ela caminhava apressada. Merda! Eu falei a ela que pagaria o nosso almoço.

–Bella, volta aqui! –Infelizmente, quando cheguei ao caixa, ela já havia inserido o cartão de crédito na máquina. Revirei os olhos. Ô mulher dos infernos! –Eu disse que iria pagar. É nosso primeiro almoço juntos, juntos de verdade. É meu dever...

–Nem termine isso. –Isabella me calou, enquanto ficava na ponta dos pés para um selinho, me calando totalmente. Após isso, me arrastou para fora do restaurante. –Você pode pagar o próximo, Edward. Não é seu dever pagar as coisas para mim, certo? Eu paguei hoje, você paga outro dia. –Ela deu de ombros. –Não me importo com isso. Também nunca levei a sério a regra dos três encontros antes do sexo, se quer saber. –Ela retornou a dar de ombros e eu arregalei meus olhos para ela. Não por aquela informação, mas sim por ela ter me dito tão abertamente. Quer dizer, nós nunca falamos de sexo, realmente. Quase transamos, mas não houve diálogo.

–Se contasse eu sairia mais no lucro, certo? Já estou há seis dias com você. –Ao contrário do que imaginei, Isabella não ficou corada com meu comentário. Apenas mordeu o lábio e lançou um sorriso lindo para mim segundos depois. Porra.

–Como eu disse: eu não conto por encontros. Aceita que dói menos, namorado. –Ela riu, e pegou minha mão. –Vamos aproveitar que já estamos na rua para comprar as coisas para o jantar de amanhã.

(...)

–Edward, se você quer fazer lasanha, vamos levar a massa pronta! É mais prático. –Eu revirei os olhos. Já havia perdido a conta de quantas vezes Bella tinha me falado aquilo.

–Pode até ser mais prático, mas não é mais gostoso. E qual é, você está insistindo como se fosse você que vai cozinhar, mulher.

–Então só por que eu não vou cozinhar eu não posso opinar? Isso é um absurdo!

–Qual o problema em preparar a massa, afinal?

–Vai demorar mais. Eu não gosto de gastar tempo na cozinha, você sabe. –Isabella estava emburrada e eu achei aquilo adorável, mesmo não entendendo muito sua aversão à cozinha.

–Você não precisa ficar o tempo todo comigo na cozinha. Pode ficar conversando com sua irmã. –Sugeri. –Certo?

–Sim! Conversando com James também! Temos muitos assuntos para colocar em dia. –Isabella sorriu e aquilo fez com que meu bom humor quase se esvaísse. De quem foi a maldita ideia de convidar James? Sério. Eu não queria que ele ficasse muito perto de Isabella. E eu sei, isso é controlador demais.

–Tudo bem, você venceu. Nós vamos levar a massa pronta. –Quando eu estava virando o carrinho em direção ao corredor das massas refrigeradas, Isabella me parou.

–Não. Eu gostei dessa sua sugestão. Você cozinha, eu fico conversando. Demore quanto tempo quiser.

Eu tinha que aprender a atender aos pedidos da minha namorada prontamente. Tinha certeza que iria me arrepender de ter insistido em preparar a massa.

(...)

Quando chegamos em casa, Bella disse que precisava ligar para sua secretária e resolver umas pendências do trabalho. Nossa semana estava acabando e ela voltaria para o consultório em breve. E eu, o que faria? Precisava decidir logo, pois já havia ficado tempo demais parado, sendo apenas um expectador da minha própria vida.

Eu estava tentado a mandar um e-mail para o reitor de Harvard e explicar minha situação a ele. Afinal, eu sempre tirei boas notas na escola sempre. Meu sonho sempre foi estudar Direito em Harvard, e eu não esperava ter que casar tão cedo e ter que fazer uma faculdade qualquer de administração em Nova Iorque. Contudo, por mais remotas que fossem minhas chances de entrar em Harvard, o que eu faria? A faculdade ficava há mais de noventa horas de distância daqui. Como eu ficaria com Bella desse jeito? Quer dizer, eu nunca pediria a ela, e eu sei que minha namorada nunca sairia daqui, deixando de lado sua irmã, seu cunhado, seu consultório... E Mandy, ainda mais na situação que a menina se encontrava.

Resolvi ir para o meu quarto e tentar dormir um pouco. Quem sabe assim meus pensamentos entravam em ordem um pouco para que eu conseguisse pensar com mais clareza no dia seguinte. Ainda era cedo, mas não importava. Isabella iria entender, até ficaria feliz por eu estar indo dormir antes da janta, assim ela não teria que preparar nada.

Eu estava quase dormindo quando a porta do meu quarto foi aberta delicadamente. Esperei que Bella me chamasse para jantar, ou falasse qualquer coisa perguntando se eu estava bem por ter ido deitar aquela hora, mas ela nada disse. Apenas entrou, fechou a porta novamente e, com muito cuidado, deitou-se no espaço minúsculo que sobrava na cama de solteiro onde eu estava. Eu me apertei um pouco mais para que ela não ficasse tão desconfortável e a abracei rapidamente, colocando-me atrás dela e envolvendo meu braço sobre a sua cintura. Eu gostava daquilo. Daquela proximidade. Daquele carinho que nós dois tínhamos sem que precisássemos estar falando, transando, ou beijando para isso. Era... Natural. Uma sensação que eu não conhecia até ela aparecer.

–Posso dormir aqui com você? –Minha namorada perguntou baixinho, já aconchegada em mim. Eu ri baixinho.

–Sempre, Bella.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? O próximo é o jantarzinho! O que vocês acham que vai acontecer nele? Hahaha ♥
Beijo!