Algumas Histórias De Terror escrita por Lena


Capítulo 18
Capítulo 18- Contos de terror- A Cabeça Cortada


Notas iniciais do capítulo

Mais outro e eu vou postar mais 5... E o último me deixou assustada.



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Era a primeira vez que Dr. Valares pisava na mansão de Herculano Pedra, um velho milionário que já estava nas últimas. Após examinar o paciente, Valares chamou Ligia, filha de Herculano, e disse que não havia muito a se fazer, a não ser esperar pela morte. 

— Sinto dizer isso, mas acho que você já pode chamar os familiares para se despedir de seu pai.

— Ele só tem a mim – respondeu Ligia.

Valares notou que ela se tratava de uma moça nova, por volta dos seus vinte anos, enquanto que Herculano já passava dos noventa. “Ela deve ser adotada” refletiu o doutor e decidiu não entrar em pormenores.

Como estava tarde da noite, não havia nenhum empregado para levar o doutor até a porta. Ligia quis acompanhá-lo, mas Valares não quis criar incomodo e disse que já sabia o caminho de volta; contudo, ele acabou se perdendo em um dos corredores e, por acidente, entrou na biblioteca. Ali, ele deparou-se com um quadro apavorante, onde a pintura retratava a cabeça decepada de uma mulher sendo suspendida pelos cabelos por uma mão cavernosa. O que intrigou Valares foram os olhos verdes da mulher – pareciam vivos.

— É uma pintura linda, não acha? – perguntou Ligia, entrando na biblioteca.

— Desculpe ter entrado aqui, eu me perdi e...

— Tudo bem, sem problema. Percebo que o senhor gostou do quadro.

— A cabeça cortada de uma linda moça não é algo que me anima o espírito. Ainda mais com esses olhos, que parecem me encarar como se fossem reais, como se estivessem vivos. É um quadro perturbador!

— Perturbador é a história por trás desse quadro – respondeu Ligia, pegando um caderno da prateleira. Entregou-o para Valares, dizendo: — Leia quando puder. 

— O que é isso?

— As anotações do pintor que fez esse quadro.

Ao chegar em casa, Valares foi direto para o escritório ler aquele caderno. As páginas estavam amareladas, quase destruídas pela ação do tempo. As letras eram escritas à mão, em uma caligrafia clássica e elegante.

Valares se recostou em sua poltrona e começou a leitura:



“...Pelo o que me contaram, Augusto Santos estava desanimado, pois sua jovem esposa Madalena, mulher faceira, de cabelos loiros e olhos verdes, estava com uma doença grave, que ceifaria sua vida em poucos meses. Amedrontado em perder o brilho da presença da esposa, Augusto Santos me procurou. Assim ele me pediu: — Eu quero que os olhos dela permaneçam vivos para sempre! 

Respondi que para fazer isso eu precisaria decepar a cabeça de Madalena. 

— Por que é preciso decapitá-la? – perguntou-me Augusto Santos. No que eu respondi: — Porque irei ficar com o corpo dela como forma de pagamento.

Obviamente, Augusto Santos me ofereceu toda a sua fortuna para pagar pelos meus serviços; mas, eu permaneci irredutível – queria o bonito corpo de sua esposa como pagamento.

— Como irás conseguir capturar a vida dos olhos verdes de Madalena, quando na verdade ela estará morta por ter a cabeça cortada? – argumentou o homem rico. Mas eu lhe expliquei que a cabeça humana permanece viva por treze segundos após ser decapitada... E treze segundos seria o suficiente para eu pintar o quadro.

Seguindo as minhas instruções, Augusto Santos colocou sonífero na comida de Madalena e ela entrou em um profundo estado de sono. À meia noite, ele a trouxe no colo até o porão de sua casa, onde eu o aguardava com meu cavalete e minha aquarela de alquimia. Augusto Santos colocou sua esposa no chão, depois pegou o machado de lâmina afiada – ergueu-o no ar e, no instante em que desceu o machado, sua esposa abriu os olhos – a cabeça foi cortada e os olhos de Madalena continuaram abertos. 

— Rápido, erga a cabeça! – pedi. Augusto Santos ergueu a cabeça pelos cabelos. Usando da minha técnica, pintei a tela em treze segundos. 

Deixei o quadro com Augusto Santos e levei o corpo de sua esposa, como fora combinado. 

Há tempos eu procurava um corpo que pudesse servir de recipiente para a alma de minha filha, que falecera na graciosidade de sua juventude; contudo, agora que eu tinha um corpo, faltava uma cabeça. Por sorte, eu já tinha construído um boneco autômato à imagem e semelhança de minha filha, tudo o que eu precisava fazer era tirar a cabeça do boneco e colocar no corpo de Madalena. Realizei o implante com sucesso. Com o recipiente pronto, prossegui com o ritual de transmutação, e passei o espírito de minha filha, que estava preso em um espelho, para seu novo corpo. 

Passados alguns anos, recebi a visita de Augusto Santos. Ele veio me trazer o quadro de sua esposa. 

— Não suporto mais ser condenado pelos olhos de Madalena, eles me perseguem até em meus sonhos – desabafou Augusto Santos, em seu despropósito. Ele me implorou para ficar com o quadro e eu aceitei. Realmente, os olhos daquele quadro estavam vivos, era o olhar de Madalena; apesar disso, coloquei-o em minha biblioteca para que eu pudesse ter companhia em minhas leituras solitárias...”

Dr. Valares deu risadas ao terminar a leitura do caderno.

— Boa história de terror!

Porém, o sorriso apagou-se de seus lábios quando ele leu o nome assinado ao fim da folha. No mesmo instante, Valares lembrou-se de Ligia – ela usava um vestido comprido, de mangas longas, que a encobria dos pés ao pescoço; ela também usava luvas e tinha um lenço preso em seu pescoço.

— Não é possível – comentou Valares, perturbado.

Em seu quarto, Ligia despiu-se de seu vestido. Olhou-se no espelho e o reflexo mostrou-lhe um corpo velho, enrugado e flácido; porém, seu rosto continuava jovem, intacto e de cerâmica.


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Notas finais do capítulo

e.e