O Conto da Holy Serenity escrita por Marjyh


Capítulo 5
Uma Dança na Escuridão - Parte 2


Notas iniciais do capítulo

Fico muito feliz com os reviews que recebi x3

Eu estou me divertindo um monte escrevendo e mandando para cá, e espero que vocês também estejam gostando. ^^

Sem mais demoras, desejo uma boa leitura a todos!



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Parte 2: A Vingadora


O dia seguinte veio rapidamente. Ou é o que eu quero pensar, uma vez que a escuridão não me permite discernir entre dia e noite...

Na “noite” passada, Grandark respondeu a maior parte das minhas perguntas... Enquanto atravessávamos as Ruínas de Serdin, comecei a me lembrar das palavras dele.

–x-

O choque de escutar que ele não conhecia Lass me acertou em cheio. Fiquei boquiaberta, encarando os olhos verdes do Grandark, sem saber o que falar. Minha cabeça pulsava de tentar pensar em como aquilo era possível ou como sequer aquilo tudo fazia sentido para ele... Me aproximei do fogo e me sentei, olhando as chamas enquanto me perguntava como aquilo tudo era possível.

Bem... Honestamente, devo dizer que eu não consigo entender como tudo aquilo era possível. Eu sou muito... Criança demais para entender. Senti uma tristeza se apossando de mim novamente ao me lembrar do quão infantil eu era comparado a todos os outros... Voltei a olhar para Grandark, que havia deitado naquele resto de parede enquanto não estava na minha vista.

– E o que foi? – Os olhos verdes me olharam de canto, como se ele tivesse sentido meu olhar.

Dei um pulo de susto, engolindo seco para me recompor. Me ajeitei aonde estava, olhando para baixo momentaneamente e voltei a olha-lo. Ainda tinha muitas perguntas... Eu sabia que ele cedo ou tarde se cansaria de respondê-las, mas...

– Mas... Você conhece a Mari, não é? E... – Era difícil fazer perguntas quando nem mesmo eu sabia o que perguntar.

Grandark deu um riso de canto, fechando os olhos. De alguma forma, agora ele realmente parecia muito mais velho do que eu.

– Mari, a sobrevivente de Calnat? É claro que conheço, encontrei-a algumas vezes com a Resistência--.

– Resistência? – Perguntei mesmo antes de ele terminar de falar.

Grandark me olhou feio e acabei olhando para o lado. Era difícil manter o contato visual, parecia que ele sempre queria entrar na minha alma e era algo realmente... Incomodo. O suspiro do homem com quem eu conversava chamou minha atenção novamente e o olhei.

– Sim, a Resistência do Ryan Woodguard.

–O Ryan está vivo?! Mas, você não disse que a Cazeaj—.

– Não, eu disse que as garotas foram dizimadas, não seus acompanhantes.

O sorriso convencido e superior dele me deu nos nervos, mas, acho que ele queria mais era retribuir na mesma moeda a interrupção que eu fiz. Cruzei os braços. Quem raios ele pensava que era para fica me tratando que nem uma criança? Ainda mais naquele tom de voz.

– A criança ficou birrenta? – Grandark disse num tom de deboche, quase rindo.

Olhei-o de volta, colocando as mãos no joelho e me inclinei para frente de leve.

– Eu não sou criança!

Ele riu logo em seguida, colocando as mãos na cabeça enquanto voltava naquela pose relaxada. Definitivamente, eu queria bater nele com toda a minha força! Se ele não estivesse no corpo do Zero... Ahhhh... Ele iria ver o que era bom. Pensando nisso agora, percebi que não encontrava meu martelo comigo desde que acordei, olhei ao redor, procurando-o. Acho que o Grandark deve ter notado minha busca pelo o que ele disse:

– Eu escondi aquela sua “coisinha”, para caso você tentasse me atacar. – Ele me olhou de canto novamente, no mesmo tom superior e convencido. – Acho que vai querer ela né? Bem, sugiro que não me ataque.

Ele... Ele estava realmente pegando meu martelo como refém?! Apertei meus pulsos e senti o meu rosto ficar ainda mais quente. Como eu queria pular em cima daquele metido! Argh! O riso daquele demônio me fez sentir ainda mais irritada, era como se ele tivesse acabado de ouvir a melhor piada da vida dele!

– Que as Deusas tenham piedade da sua alma... – Murmurei.

– Certo, certo... “Deusas”, HAHAHAHAHAHA! – Poucos segundos depois ele parecia ter se recomposto, apesar de ainda manter o sorriso sarcástico nos lábios dele. – A Resistência foi fundada pelo Ryan Woodguard logo depois que o “Maligno” inundou Ernas com suas trevas, ela tem como principio básico tentar manter os sobreviventes vivos e visam restaurar a ordem do mundo novamente.

Pisquei os olhos, meio surpresa de ouvir aquilo. Ryan era um comandante? Era meio difícil ver aquilo... Mas... Talvez Dio e a Rey pudessem ajuda-lo naquilo, não é? Por que ele não pediu ajuda dos Asmodianos? Mesmo que os portais estivessem fechados, eu lembro que o Dio atravessou as dimensões por pura vontade e a Rey veio atrás deles.

– Onde está o Dio? E a Rey? Por que eles não estão ajudando o Ryan? E o que a Mari tem haver com tudo isso? E por que você está aqui e não com o Ryan? E--...

– Aaaaaaergh, chega de perguntas! Vai dormir!

– Mas..!

Grandark simplesmente virou-se de costas para mim, ignorando completamente meus chamados. Bufei e me levantei, indo até ele e comecei a balança-lo pelos ombros, sem obter resposta. Me inclinei para frente e puxei de leve seu cabelo, vendo os olhos fechados e parecer ressonar de sono.

– ... Fala sério, ninguém dorme rápido assim. – Suspirei.

Tentei acorda-lo mais algumas vezes, mas parecia ser inútil. Suspirei em desistência, recuando e me sentei apoiando naquele escombro que ele dormia, abraçando minhas pernas em seguida. Adormeci olhando as chamas.

–x-

– Hey, criança, o que esta fazendo ai?!

Escutei a voz do Grandark me chamando mais a frente. Eu tinha parado na frente da fonte da entrada de Serdin, há muito já seca – para minha decepção. Aparentemente, o clima de outono não estava perdoando, dando a terra o direito de poucas chuvas ocasionais. Corri para alcança-lo na saída e olhei para aquela visão um tanto quanto desanimadora: a estrada estava descuidada e cheia de elevações, capins surgindo entre as rachaduras. O campo agora se tornou em um enorme pântano com altos capins surgindo em diversas partes e mais ao longe pude notar algumas árvores, possivelmente uma floresta que surgiu com a ausência do ser humano. Olhei para Grandark, que parecia estar analisando a região.

– Para onde vamos?

– Canaban, ou o que restou dela. É a sede atual da Resistência.

Fiquei surpresa de ouvir aquilo, piscando os olhos duas vezes.

– Por que vamos para lá?

O olhar que me foi direcionado parecia se perguntar se eu era burra ou alguma coisa assim, e o suspiro cansado que ele soltou logo em seguida parecia confirmar meu pensamento. Senti meu rosto esquentar.

– É o lugar mais seguro para você. – Acho que Grandark notou minha surpresa, pois imediatamente emendou. – Afinal de contas, uma garotinha burra e obviamente incapaz de lutar seria só um peso para mim.

Ok, aquilo já era maldade.

– Eeeei, eu não sou incapaz e nem burra! Talvez posso ser um pouco inocente... – Senti meu rosto esquentar com o olhar irônico que me foi lançado. – Mas, eu sei lutar e muito bem!

– Com esse martelo gigante?! AHAHA! Pelo amor de Deus, você mal consegue andar sem cair. – Era evidente a ironia dele quanto ao Deus Criador.

– Não é verdade! Eu posso muito bem lutar e caminhar e não fale assim do Deu... Ai!

Sem que eu percebesse, quando eu fui andar, Grandark tinha colocado o pé na frente. Cai de cara no chão, levantei o rosto para cuspir alguns capins e me levantei irritada, encarando o sujeito... Que as Deusas me perdoem, mas ele estava se portando que nem um tremendo babaca!!

– Pare com isso!

– Parar com o que? Eu disse que você era incapaz de andar sem cair.

– Oooraaa, seu..!

– Seu o que? Não me lembro de você nunca ter sido minha portadora. – Havia um tom estranho na fala dele, que eu não consegui identificar o que queria dizer.

– É claro que nunca fui sua portadora!

Grandark soltou um suspiro decepcionado e passou a mão no rosto, tirando do bolso um visor amarelo. Eu iria perguntar o que tinha de errado para ele ter suspirado, mas ver aquele item me chamou a atenção.

– Ei, o que é isso? – Perguntei.

– Um pônei mágico que vomita arco-íris. – Ele respondeu sarcasticamente enquanto colocava o visor. – Meus olhos são sensíveis à luz, então eu protejo-os com isso.

– Sabe, poderia ter simplesmente dito o que era... – Suspirei, limpando meu rosto da lama. - ...Ou para que servia. E-ei, me espere!

Apesar de ter sido completamente ignorada e ele ter indo andando na minha frente, logo o alcancei e seguimos nosso caminho para Canaban.

–x-

Horas se passaram desde que partimos de viagem, fizemos breves paradas apenas para desviar a atenção de alguns seguidores do Maligno e para fazer um breve lanche. Atualmente, estamos no Vale do Juramento, que honestamente parece bem vazio...

Os ventos ecoavam pelos abismos, arrastando a areia e ameaçando nossa fogueira, mas as paredes de pedra protegiam nosso abrigo improvisado. Eu olhei as chamas de modo distante, sem saber o que dizer. Tudo parecia vazio e sem motivo. O que eu apenas queria agora era poder conversar com o Zero novamente, ver a Elesis, Lire e a Arme... Mas... Abracei minhas pernas, sentindo uma melancolia me inundar.

– Ei, criança. – Grandark chamou minha atenção, me estendendo o que parecia ser um espeto de escorpião. – Toma.

Fiz uma cara de nojo ao ver aquilo, mas peguei o espeto, virando-o enquanto tentava decifrar como se comia aquela... Coisa. O meu guia suspirou e se aproximou.

– Come ou você passa fome, não tem mistério nenhum.

– Mas... – Olhei para o espeto e depois olhei para Grandark, sentado ao meu lado. – Isso é nojento.

– Nojento ou não, é comida. Temos que sobreviver e estamos sem ração de viagem, quando chegarmos em Canaban, vai ter comida o suficiente para uma ceia.

Suspirei e apesar de hesitante, mordi o escorpião no espeto, para minha surpresa, não era tão ruim quanto pensei. Ou talvez a minha fome tivesse feito parecer ainda mais saboroso do que realmente era. Continuei comendo e escutei um risinho do Grandark.

– Isso, coma tudo, vamos ter algumas horas de descanso e depois partimos novamente.

Depois de terminar meu espeto, voltei a ficar quieta encarando as chamas. Aquilo tudo estava me incomodando muito e eu sentia saudades dos meus amigos. Queria-os de volta, queria escutar o riso da Arme, o tom irritado da Elesis, o jeito metido do Sieghart e também queria muito escutar a voz verdadeira do Zero, não aquela que Grandark usava para falar.

– Ei, Grandark...

– O que?

– Posso conversar com o Zero?

Olhei para o homem e ele retribuiu o olhar, impassível. Acho que foi a primeira vez que o vi tão sério e sem resposta como agora. Suspirou e fechou os olhos, colocando as mãos na cabeça.

– Zero está morto.

Senti um gelo tomar conta do meu corpo inteiro apesar do calor do fogo ainda estar ali. O tempo pareceu parar por um segundo de modo oposto como os ventos pareciam soar extremamente alto. Apertei meu vestido.

– Não, você está mentindo. – Senti meus olhos arderem e minha garganta apertar.

– Eu não estou mentindo, baixinha. Zero morreu pouco depois da Guerra e eu tive que tomar conta do corpo para sobreviver e cumprir meu objetivo.

– Não, não é verdade...

Aquilo era impossível. Eu podia não ter senso mais de tempo, mas eu me lembro muito bem de ter escutado Zero me chamar pouco antes de acordar naquele mundo distópico, de ter sentido a energia dele. Ele não podia estar morto. Aquilo... Aquilo não era certo!

– Seu..! – Me levantei imediatamente, apertando os pulsos.

Eu podia aturar ele me enchendo todos os dias e toda a viagem, mas... Aquilo já era demais!

– Eu quero falar com o Zero!

Grandark suspirou, abrindo os olhos verdes dele e me olhou friamente, pela primeira vez me esforcei para manter o contato visual.

– Só se você quiser morrer também, dai você pode falar com ele.

Senti algo escorrer pelas minhas bochechas. Tudo parecia escurecer e ficar embaçado. Quando fui estender as mãos para o martelo, o rapaz repentinamente se levantou, me abraçando. Arregalei os olhos, sentindo minha percepção sensorial voltando imediatamente e olhei para Grandark de canto, surpresa. Podia sentir perfeitamente os braços me envolvendo, até mesmo o calor do corpo dele e sua força. Fui empurrada para trás forçada a inclinar-me e apesar de ter perdido o equilíbrio, ele me segurou. Por cima do ombro do Grandark pude ver o que parecia ser uma energia roxa na minha altura impactando contra a pedra que estávamos sentados até agora pouco.

A rocha foi cortada ao meio.

Engoli seco e olhei para o homem que me salvou, ­podendo notar o que parecia ser um brilho amarelo por um instante naqueles olhos verdes. Talvez..?

– Finalmente... Te encontrei... – Uma voz feminina furiosa soou.

Ao olhar para onde vinha aquela voz, notei que veio da mesma direção que o ataque, arregalei meus olhos. Era uma asmodiana, mas aquilo não foi tudo: ela era muito parecida com a Rey, mas seus cabelos rosados eram presos em duas longas tranças, seus olhos estavam brilhando de puro ódio enquanto apertava as espadas duplas em suas mãos.

– Grandark... Seu assassino... Eu te encontrei...

Finalmente sentia os braços que me envolviam cederem e me soltarem lentamente, vendo nos lábios daquele que me salvou um sorriso empolgado e... Assustador. Engoli seco, recuando um passo enquanto o via se afastar de mim.

– Edna... Há quanto tempo! – Ele disse num tom quase rindo, sacando a espada das suas costas. – Quanto mesmo? Ah... Acho que desde que eu matei o Duel, não é mesmo?


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Notas finais do capítulo

Então, espero que tenham gostado!

Favoritem para continuarem acompanhando os novos capítulos que saírem e deem suas opiniões. o/

Eu vou amar ler elas. :3

Muito obrigada por estarem acompanhando!