–Sabe por quanto tempo sumiu? –Fitei Cam e Gabbe e só reparei que estavam de mãos dadas depois de 1 minuto inteiro. Quando a anja/semideusa percebeu o meu olhar, soltou a mão de Cambriel e ficou vermelha como pimenta.

–Eu fui buscar o Santo Graal. –Seu tom subiu alguns tons a mais, ela nunca havia se exaltado antes; quando percebeu seu tom de voz, recuou como se estivesse constrangida.

–Não culpa a Gabbe. As vezes fazemos coisas as quais são necessárias mesmo nos arrependendo depois. –Cambriel mantinha o olhar entretido entre mim e Gabriela Alencastro.

Os dois rapidamente trocaram olhares significativos e uma leve neblina fina como camada quase intangível e volúvel surgiu numa cor rosada e avermelhada. Como não percebi antes, os dois devem estar tendo um caso...

Tentei não demonstrar o entendimento, mas minhas mãos se moveram até a frente da boca tentando disfarçar o meu queixo que havia caído.

–É... o que quer conversar comigo, Gabbe?

Ela espiou dentro do banheiro e deu um aceno para todas lá dentro.

–Podemos conversar em um lugar mais particular? –Perguntou-me.

–Bem, a casa não é minha, até agora só conheço o banheiro e o quarto dos drogados.

Cam me pegou pelo braço e seguiu pelo corredor, Gabbe logo atrás. Descemos as escadas manchadas por bebidas e com um cheiro leve de vômito. No andar de baixo dava para uma enorme sala com as janelas cobertas com tinta preta. Na cozinha se encontrava um garoto por volta dos 17 ou 18 anos.

Olhos verdes intensos. Cabelo escuro bem desarrumado. Como estava sem camisa dava para ver seus músculos bem trabalhados. Sua única peça de roupa era uma calça jeans azul folgada exibindo a borda de uma cueca box preta Oceano. Era Percy Jackson.

–Percy? –Meus olhos se arregalaram.

Ele virou olhando em minha direção com um pedaço de omelete na boca. Engoliu-o e me cumprimentou com um aceno de cabeça.

–Oi, Phoebe. –Seu olhar congelou ao ver Cam. Sua mão deslizou até o bolso direito e de lá sacou uma caneta esferográfica. Destampou a caneta tão rápido que a movimentação do seu braço pareceu invisível.

Um leve e sutil salto na direção do anjo caído, o outro também desapareceu. Cam surgiu atrás de Percy, segurando seus braços e pressionado o cabo da espada fazendo-a cair e imobilizar o filho de Poseidon.

–Calma, semideus. –Cambriel mantinha o seu sorriso sarcástico em quanto subestimava o garoto a qual dominara. –Não tenho a intenção e nem disposição de lutar contra você.

O olhar de Percy se voltou furioso para Gabbe que mantinha-se incrédula e sem movimento até então.

–Percy, ele nunca esteve contra nós. –A anja fez um gesto para Cam solta-se Percy.

O demônio soltou o filho de Poseidon, o mesmo mantinha-se firme e com raiva, fuzilava Cam todo o tempo, até que se abaixou para pegar a Contracorrente e tampa-la deixando-a em seu estado natural de caneta esferográfica.

–Expliquem-se. –Percy cruzou os braços e se apoiou na bancada da pia.

–Os anjos que surgiram no acampamento não vieram atacar e sim proteger. –A loira parecia indecisa. –Estavam atrás da minha antiga encarnação, o arcanjo Gabriel que tomava o nome de Gabbe. Minha primeira encarnação é esta semideusa, filha de Hebe.

–Então... o que isso quer dizer? –Percy estava com uma cara incrédula que normalmente alunos fazem ao ver uma equação super difícil e nova na aula de física quântica.

–Quer dizer que eu voltei por um motivo. –Gabriela voltou sua atenção para mim. –Ela, Phoebe. Ela precisa chegar aos portões do paraíso e eu sou quem a levará.

–Para quê eu preciso chegar lá? –Me intrometi, não conseguia ficar calada em quanto o assunto era eu.

–Luce. Eu morri dando a minha vida por ela, não sei o destino que precisa cumprir, Phi, mas sei o caminho que precisa percorrer.

–Isso ta muito lindo, muito dramático, mas temos hora, lembra? –Cam cruzou a sala e parou em pé no primeiro degrau das escadas.

–Phoebe, temos que ir, o Trono precisa de você. Eu preciso de você. E você mesma precisa cumprir seu futuro.

–Como posso ir numa encruzilhada a qual não sei nem o objetivo? Eu posso mudar o futuro. –Mantive-me firme.

–Você pode mudar os meios para se construir um castelo de areia, mas no fim, sempre será um castelo de areia. Você pode mudar os meios para seguir sua encruzilhada, mas no fim, chegará aonde deveria estar. Não se pode escapar do que lhe espera, Phoebe. –Cambriel cruzou os braços nos esperando. Gabbe assentiu em aprovação com sua “lição de moral”.

–Agora estamos falando sobre castelos de areia? –Percy continuava perdido, mas tinha uma carinha fofa como um filhote de foca marinha.

–É perda de tempo ficar aqui sendo que ainda temos de achar o feiticeiro. –Cam subiu as escadas debilmente meio atordoado e cantarolando. –Garotas, vocês vem?

Eu e Gabbe trocamos olhares “significativos” e se pudesse teria falado: Mas que cara mais mandão você foi achar.

Me despedi de Percy apenas com um tchau rápido acenando para ele. Cerrei os punhos tentando não tocar em nada. Meu estômago estava se comendo por dentro e não tinha nada para se digerir nele. O cheiro do omelete e panquecas quentinhas estava torturando meu nariz.

Gabbe estendeu o braço me oferecendo uma lata de uma marca estrangeira que eu nunca havia ouvido falar. Não relutei, peguei-a e abri, de lá senti o doce aroma de ambrosia. Levei o liquido aos lábios e na mesma hora me senti revigorada e fortalecida. Pelos deuses, obrigada por existir ambrósia!

–Obrigada. –Limpei a garganta em quanto terminava de tomar uma última golada da lata prateada.

–Em muitos lugares vende-se ambrosia. Basta manter os olhos abertos para se ver o real mundo que nos rodeia. –A anja como sempre, aparentava estar de bom humor.

Ainda via Gabbe como aquela garota a qual conheci no acampamento. Doce. Gentil. A bela e jovem filha de Hebe. De qualquer forma, ela era uma semideusa e um anjo... meio complexo isso.

Quando passamos pelo corredor a porta do banheiro se abriu. Iryena apareceu com um olhar de empatia para Cam e um de desgosto para Gabbe, seu rosto endureceu e petrificou como um cubo de gelo. Seus cabelos estavam molhados e usava apenas uma calcinha vermelha por baixo de uma gigantesca camisa preta que parecia ser do tal Frank.

–Phoebe. Poderia me dar um instante do seu tempo se não for incomodo demais? –Ela virou-se para dar uma última olhada nos dois anjos que na mesma hora saíram pela porta negra onde se encontravam “os drogados”.

Ali mesmo paramos, ficamos nos encarando por um tempo até que ela quebrou o silencio.

–Qual é a de Gabriela e do Cam?

–Acho que estão se pegando.. –Desviei o olhar encarando o chão por um tempo, começando a ruborizar pensando no assunto.

–E qual é a nossa?

–A nossa? –Meus olhos se arregalaram, eu sabia do que ela estava falando, mas não queria admitir ou confirmar o que estava acontecendo.

–Não finja para mim. –Ela deu um chute na parede, se doeu, não sei dizer, ela parecia aguentar a dor. –Não para mim, não diga que não sabe, ou que nunca sentiu nada; eu esperei tanto, tanto, tanto para que enxergasse mas mesmo sendo filha de Afrodite não consegue perceber o que sinto por você.

Minha garganta ficou seca de repente. Minha mente girava pouco a pouco se perdendo nas palavras que jorravam da sua boca. Ela era lésbica...

–Tá me ouvindo? –Ela levantou meu queixo com o dedo para que olhasse em seus olhos. –Por favor, diga que sente algo por mim, alguma coisa... qualquer coisa. –Uma lágrima desceu do seu olho. –Eu preciso saber...

Engoli em seco temendo as palavras que sairiam dos meus lábios.

–Eu te amo, mas não da maneira que você quer. –Minha mão desceu instintivamente até o meu ventre. –Eu amo o Hermes, terei um filho dele em breve..

–Por que? –Lagrimas quentes desceram pelo seu rosto gelado. –Minha mãe me contava estórias para dormir, todas as noites.. porque só a minha não pode ter um final feliz? Se não me quer então pare de fod@#* com a minha mente.

Recuei alguns centímetros com medo dela. A temperatura parecia cair drasticamente.

–Mas eu...

–Não, dês da primeira vez em que me viu sentiu algo e mesmo assim fingiu não saber porque assim seria melhor, mais fácil de conviver, não é? –Ela gritou se aproximando com raiva. –Eu não vou mais lhe esperar, não vou mais correr atrás de você, não irei mais pensar na hipótese de você algum dia dar valor ao que tem, e que agora perdeu.

Ela deu as costas quase batendo o rosto no peitoral de Cam, o anjo caído surgiu tão silenciosamente e misteriosamente que não havia percebido-o. Seu sorriso era como veneno, tão ácido e nocivo que chegava a doer só de olhar.

–Seu tempo acabou, hora de ir, Phoebe.

Passei por Iryena de cabeça baixa, não podia encara-la, não conseguia nem mesmo olhar para seus pés. Sai do corredor estreito sem dizer uma única palavra. Chegando a outra sala via Leo bebendo com Roxane, Karen e Nico conversando aos sussurros com olhares preocupados, Hazel estava sentada no colo de Frank em cima de uma poltrona preta. O tal irmão de Karen, o Daren Petterson, continuava desmaiado, mas haviam desenhado um pênis com hidrocor na sua bochecha indo em direção a sua boca, fizeram um bigodinho de Hitler nele e na sua testa tinha: Entupidor de banheiro.

Todos os olhares rapidamente foram direcionados a mim. Gabbe surgiu de algum canto escuro do quarto, com graça e leveza como uma bailarina juntou-se a mim e Cam. Eu estavas segurando o choro, não podia chorar na frente daquelas pessoas as quais mau conhecia. Minha boca tremia e eu lutava contra meus olhos, rezava aos deuses e pedia para que me dessem pelo menos mais cinco segundos para sair por aquela porta e nunca mais voltar. Pena que isso não se realizou, lágrimas quentes brotaram dos meus olhos, com suspiros e soluços abafados corri em direção a outra porta com as mãos tapando o rosto; aquilo só fez chamar mais atenção ainda, todos seguiram-me com o olhar até a porta fechar atrás de mim. Cam e Gabbe me seguiram até o lado de fora, onde vomitei no primeiro canteiro de plantas que achei.