Meu Acampamento de Verão escrita por Diva Fatal


Capítulo 30
Capítulo 30: Pensando rápido




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As muralhas externas da fortaleza brilhavam em negro e os portões de bronze com dois andares de altura estavam fechados. Cenas horríveis das mais dolorosas mortes estavam gravadas no portão, as imagens se moviam repetindo e repetindo a matança sem cessar.

As fúrias nos jogaram dentro dos portões. Por sorte, ou azar, fantasmas negros surgiram do ar e nos carregaram com segurança até o chão. Karen surgiu flutuando de pernas cruzadas nos ombros de dois desses fantasmas negros com mantos desgastados.

Dentro do pátio havia um jardim medonho e estranhamente belo. Cogumelos multicoloridos, arbustos venenosos e plantas luminosas fantasmagóricas cresciam sem a luz do sol. Pedras preciosas brotavam da terra, eram gigantes. Rubis brutos, esmeraldas reluzentes que pareciam florescer em abundancia liberando a luz de sua tonalidade como lâmpadas. Diamantes brutos reluzindo a uma estranha chama interna que brilhavam como lampiões antigos. Estatuas de crianças, sátiros, centauros e até mesmo alguns animais estavam petrificados ao decorrer do local. Todos eles sorriam bizarramente.

Aquele lugar de perto não me parecia nada bonito, me assustava, parecia a mansão do mal da família Addams.

-O jardim de Perséfone. –Nico anunciou sorrindo levemente.

Alguns ramos de romã cresciam como serpentes se contorcendo a medida do tempo. Elas subiam e desciam nos cantos de dentro da muralha, eram completamente brancas pálidas como se estivessem com os galhos secos e mortos a muitos milênios. Porém, frutos de romãs ainda cresciam em abundancia pelos secos e pálidos galhos mortos.

Quando passávamos as frutas e galhos seguiam nosso caminhar como se estivessem nos observando.

Subimos os degraus do palácio, entre colunas negras, passando por um pórtico de mármore negro, para dentro da casa de Hades. Aquele lugar não era nem um pouco como imaginei. O vestíbulo tinha um piso de bronze polido que parecia ferver à luz refletida das tochas. Não havia teto, apenas o teto da caverna muito acima. Todas as portas laterais eram guardadas por um esqueleto com trajes militares. Alguns usavam armaduras gregas, outros, uniformes ingleses de casacas vermelhas, e havia ainda os que vestiam roupas camufladas. Todos eles estavam armados com lanças, tridentes, rifles e coisas da época a qual morreram.

Nico ergueu a mão e os dois guardas esqueleto deram um passo para o lado, desviando-se do caminho das portas. Na mesma hora um vento quente abriu-as fazendo um leve ranger do velho bronze.

Da porta já avistava Hades. Também, um cara com três metros de altura, acho que qualquer um consegue ver de longe. Ele trajava os mais negros e finos mantos de seda que eu já havia visto. Pele branca albina igual ao leite. O cabelo era comprido caindo até o pescoço, preto-azeviche. Em sua cabeça uma coroa de ouro puro, encrustada com as mais puras e brilhantes joias que qualquer deus poderia ter posse. Não tinha muitos músculos, mas mesmo assim fazia-me teme-lo só de olhar para o local onde estava.

Ele se reclinava em seu trono de ossos humanos fundidos flexível. O senhor dos mortos parecia vagar em pensamentos longínquos e misteriosos. Ele mesmo parecia não ter nos percebido dentro de seu reino. Percebi rostos sombrios vagueando pelo seu manto, estavam atormentados e tinham medo, muito, muito medo. Pareciam tentar fugir, mas sem saída alguma.

A direita da sala do trono estava uma porta gigante de bronze aberta. Imaginei ser a cozinha, pois ouvi o tinir de talheres nos pratos e alguém cantarolava. Seguido por passos leves como se fosse um tamanco batendo contra o chão de bronze.

-Preciso de alguma distra –Perséfone se interrompeu quando nos viu. –Deixe, acabei de achar uma distração. –Ela sorriu nos avaliando.

Perséfone realmente tinha pose de rainha. Vestia o mais leve vestido negro com babas feitas de fibras do mais puro ouro. Bordada com pétalas de rosas azuis que reluziam junto as mais belas safiras de todo o mundo. Sua pele clara e singela realçava o azul das pétalas e safiras do vestido. Lábios vermelhos e perfeitamente bem feitos como se fossem pétalas de lótus. Seu longo cabelo castanho caindo em cascatas e a cima da sua orelha uma rosa negra sem espinhos. Seus olhos castanhos mel me lembravam do meu pai. Ela era linda, entendo por que Hades a sequestrou.

-Temos visitas. –Perséfone anunciou olhando para o marido.

-Sim, eu os acompanhei dês de que entraram na passagem pelas sombras. –Hades recostou-se na cadeira e com um certo desconforto levantou-se.

Notei o outro trono ao lado do de Hades. Era igual, porém, menor.

O deus da morte seguiu andando de encontro a nós, a cada passo ele encolhia até ficar de tamanho humano. Perséfone fez o mesmo e logo vagava pelo local com um jarro de água nas mãos. De pouco em pouco ela regava as rosas negras e vermelhas da sala do trono.

-Oi pai. –Nico não fitou o deus nos olhos. –Trouxe amigos.

-É, eu percebi. –Hades não parecia nada contente com isso.

Perséfone sorriu levemente regando um último vaso de rosas que se encontrava perto das portas.

Fiz uma leve reverencia, curvando minhas pernas e mantendo as costas o mais eretas possível. Hades abriu um sorriso macabro e frio, senti um calafrio, mas continuei a reverencia.

-Pelo menos alguém aqui tem modos. –Hades estudou o local.

Só percebi agora que Karen tinha sumido. Drew se encolheu atrás de mim, dês de que chegamos ela não tinha dado nem mesmo uma palavra.

-Pelo santa rosa. Suas roupas estão aos trapos. –Perséfone se aproximou ponto a mão sobre a boca e olhando para mim e Drew.

-Briga feia com pássaros da Estinfália. –Fitei o chão de bronze olhando para o meu reflexo.

Eu conseguia perceber o sorriso maldoso nos olhos de Perséfone. Afrodite e ela nunca foram boas amigas e tinham uma a outra como rivais. Pelos deuses, Ártemis e agora Perséfone. Tenho de me preocupar com duas?

-Entendo. –Ela pôs o dedo indicador sobre o lábio inferior e o mordeu pensativa. –Vou buscar alguma coisa para vocês vestirem.

Sabe aquelas gargalhadas malévolas que alguns dos desenhos de tevê usam no personagem mau? Essa foi a risada de Perséfone quando sumiu pelos muitos corredores do castelo negro.

Drew e eu sabíamos que estávamos encrencadas, além de sermos filhas de Afrodite e estarmos cara a cara com Perséfone, para completar a desgraça, nós duas estávamos no reino da deusa. Aquilo era uma catástrofe.

Mantenha a calma, ganhe simpatia com Hades e você vai ficar segura.

A vos repetia docemente em minha cabeça. Era isso, se eu conseguisse simpatia pelo deus, com certeza Perséfone não tocaria em mim e nem em Drew. O charme! Posso usar charme, mas isso funcionaria com um dos três grandes? –Perguntei-me. –Melhor arriscar do que acabar caindo em alguma brincadeira de Perséfone.

-Então, Sr. Hades. Deveríamos comemorar. –Sugeri.

Ele virou-se para mim e ergueu uma sobrancelha.

-Comemorar o que?

-A vinda de Perséfone. –Olhei ao redor em busca de apoio, mas ninguém conseguiu entender o que eu estava fazendo.

-A vinda? –Ele parecia abismado com a ideia. –Mas logo ela sairá daqui, estamos no meio do inverno. –O deus da morte encarou o teto muitos metros a cima.

-Exatamente, se deixa-la feliz antes de sua partida, acho que ela estaria menos infeliz quando retornar. –As coisas se montavam na minha mente, não precisava de charme para convence-lo de que seu casamento forçado não ia bem.

-Esta querendo me ajudar na minha vida amorosa? –Ele ficou pasmo com suas próprias palavras, realmente, para um deus isso seria algo estranho.

-Ajudar não, facilitar. –Fitei Drew e como se tivéssemos algum tipo de ligação ela na mesma hora entendeu o meu plano. –Vamos comemorar com algo marcante para que Perséfone se sinta mais alegre e contente.

-Que tal um baile de inverno? –Drew realmente sabia escolher as palavras e essa foi a melhor ideia que eu poderia pensar.

-Um baile... –Hades pareceu interessado pondo a mão no queixo. –N-não sei ao certo.

-Ah, vamos, parece ser divertido. –Nico deu uma leve cotovelada no pai. –Bem, vou para o meu quarto, logo voltarei, só vou guardar umas coisinhas. –O filho de Hades despediu-se e sumiu por entre os corredores do castelo.

-Um baile de inverno para Perséfone. –Fui até Hades. –Marcar o tempo de sua ida não como algo triste para você e feliz para ela, mas algo feliz para ambos. Um baile de inverno aqui, neste castelo. –O cenário montava-se em minha mente.

-Pode ser uma boa ideia... –O Sr. Da morte parecia inquieto. –Sim, um baile. –Ele realmente tinha gostado da ideia.

-Ótimo. Vamos manter o baile em segredo, tem de ser uma surpresa. –Todos se entusiasmaram com a ideia.

E por fim, encerramos a conversa com um baile em mente. Hades pôs a mim e Drew como tesoureiras do baile de inverno e sugeriu que se tudo desse certo ele nos deixaria como tesoureiras para as ocasiões especiais do mundo inferior. De bom grado aceitei a proposta.

Sim, teremos um baile.


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Notas finais do capítulo

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