Meu Acampamento de Verão escrita por Diva Fatal


Capítulo 29
Capítulo 29: Deslumbre da morte


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem. Estudei bastante O Ladrão de Raios e O Último Olimpiano para postar nos mínimos detalhes.



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–Que luz foi aquela? –Gritei interrogando Rachel e Gabbe.

–É complicado. –Gabbe respondeu e fixou seu olhar em Rachel como se dissesse: “Me ajude”.

–Não é hora para isso. –Rachel olhou em volta aterrorizada como se algo pior ainda estivesse por vir. –Ainda virão mais. Você não devia ter feito ligação alguma.

Ligação? Que ligação eu havia feito? Ah, sim, a ligação para a policia e para o pai.

–Aqueles monstros sentiram o seu cheiro direto do oceano. –Gabbe explicou. –Eles chegaram primeiro por que foram os mais rápidos.

–Então... –Drew apareceu de dentro do monte de roupas. Ela segurava meu tamanco Anabela Piccadilly branco.

–Olha só quem resolveu aparecer. –Gabbe usou uma certa ironia no tom de voz. –Vamos sair daqui. Mais virão, a Califórnia esta cheia dessas criaturas nojentas.

Resolvi não discutir e deixar Drew levar minha Anabela Paccadilly. Seguimos escancarando a porta da sala e vendo o estrago a volta. Além de tudo estar completamente quebrado, ainda havia o fato da casa estar quase entrando em combustão de tão queimada que esta.

Na porta da frente estava um garoto de cabelos escuros, jaqueta preta que quando fechado o zíper dá para ver uma caveira no meio do peito. Olhos pretos carvão. Nico di Angelo.

Ao lado dele estava a maior criatura que já tinha visto na vida. Um cachorro preto do tamanho de um tanque de guerra. Bochechas caídas junto ao pelo negro com algumas fatias estranhas de pizza de pepperoni.

–Esta é a Sra. O’leary. –Anunciou Nico apresentando-me ao primeiro cão infernal que eu conhecera. –É a mascote de Percy, tomei a liberdade de toma-la emprestada um pouco. –Nico rio acariciando uma das patas do cão infernal.

Ela abaixou a cabeça e começou a balançar o grande rabo negro. Em segundos o jardim foi destruído em um pequeno abalo sísmico. Logo uma fenda se abriu no local dos impactos seguindo pela pista até a casa dos vizinhos de frente (Os McDermott), creio que não ficarão contentes depois de saberem que rachaduras abriram no seu jardim.

–Vamos, a viagem é longa e eu não gosto desse lugar. –Nico olhou para cima vendo as estrelas subindo no horizonte.

–Então vamos. –Rachel decidiu por fim.

Nico me deu apoio para montar nas costas da Sra. O’leary. Rachel e Gabbe foram em seguida. Com um leve olhar de raiva, Nico ajudou Drew a subir. Por fim falou:

–Apertem os cintos, a viagem será turbulenta.

–Que cintos? –Perguntei desesperada procurando por algo que servisse como cinto.

–Nada de cintos? Acho bom não soltar da Sra O’leary. –Gabbe cantarolou se agarrando a cadela infernal.

–Não, minhas unhas vão quebrar. –Drew berrou.

–As minhas também. –Gritei sem pensar.

No final das contas percebi o quanto isso soou ridículo. Com tanta coisa acontecendo e eu preocupada com unhas quebradas, pelos deuses. Quando foi que me tornei tão fútil assim? –Perguntei-me. Logo eu que no verão passado criticava Drew, agora estou tão superficialmente parecida com ela.

–Ah, fala sério, unhas? Filhas de Afrodite. –Gabbe suspirou e revirou os olhos. –Vamos bem rápido Sra. O’leary! –Gabbe gritou dando gargalhadas. –Dessa vez faça-me revirar o estômago.

Gabbe ria e eu não entendia se ela ia da Califórnia para Long Island, mas pelo menos, eu não queria vomitar.

A cadela gigante saltou indo em direção a casa dos McDermott. Um jardim destruído e agora seria a casa destruída também. Apertei os olhos me preparando para o impacto.

Puf!

Não senti a colisão, parecíamos estar flutuando em algo úmido, pegajoso, gosmento e com cheiro de mofo dos livros da biblioteca pública de New York.

Abri os olhos lentamente. Escuro, tudo escuro, breu completo, só sentia o vazio e sabia que meu corpo estava ali porque mexia os dedos o tempo todo para garantir que minhas mãos e meus pés ainda estavam no meu corpo. Arrepios de frio subiam me arrepiando sem cessar, parecia um vai e vem, do pé ao último fio da cabeça, do último fio até a ponta dos dedos do pé. Ruídos estranhos espreitavam e sussurravam em meus ouvidos. Era uma deslocação tão rápida que fazia minha pele ondular e esticar, era como se minha pele estivesse desgrudando da carne de tanta velocidade.

Em um instante as sombras que nos cercavam se dissolveram, as coisas a nossa volta iam se formando a partir do nada. Era uma cena pouco agradável. Em outras palavras: Enjoava, causava náuseas, calafrio, tonturas passageiras e uma forte revirada no estomago.

Meus olhos se acostumaram ao fogo que crepitava muito a frente de nós. Olhei em volta procurando identificar onde estávamos e então percebi, não estávamos em nenhum lugar no mundo, estávamos no reino dos mortos, o submundo.

Havíamos emergido a beirada de um rio estranho. Era negro e borbulhava. Pequenos redemoinhos feitos pela própria correnteza. Alguns objetos boiavam e afundavam ao decorrer dele. Eram brinquedos de pelúcia mutilados, relógios de bolso, sapatos, fotos antigas e atuais, eram muitos os objetos das mais variedades ali.

–Os tolos sonhos humanos passados da vida para a morte. –Disse Nico se aproximando da beirada.

Olhei ao redor observando a terra árida e escassa. O ar cheirava a corpos apodrecendo, enxofre puro no ar. Podia ouvir também os gritos das almas sendo torturadas a distancia.

–O que fazemos no mundo dos mortos? –Perguntei-o com certa raiva e pavor por estar ali.

–Vim trazer você para a minha casa, é o melhor por enquanto. Além domais... –A voz dele subiu dois quartos e ele limpou a garganta. –Você e Gabbe ainda não podem voltar para o acampamento.

Estudei-o de cima a baixo como se ele fosse um novo alvo. Cerrei os punhos com força me preparando para uma futura briga.

–Não se preocupe. É o melhor para nós, por enquanto. –Gabbe pousou a mão em meu ombro e caminhou subindo em uma rocha negra carbonizada e com fumaça exalando de baixo.

–Vamos, daqui já estamos perto do palácio. –Nico sorriu par Rachel como se a convidasse para seguir ao seu lado.

Ela retribuiu o sorriso e cruzou os braços com ele, seguiram ao estilo “dama e cavalheiro” conversando tão baixo que não conseguia ouvir nem mesmo um sussurro.

Eu e Gabriela estávamos em completo silencio. Chegava a incomodar. Drew logo atrás sem dizer uma única palavra.

–Gabbe.

–Sim? –Ela olhou-me em quanto virava a cabeça fitando-a.

–Como você chegou na minha casa? –Perguntei.

–Voando. –Respondeu-me.

–E que luz era aquela?

–Minha luz natural.

Nossa, ela estava se achando uma diva.

–E como me curou?

–Com minha essência harmônica. –Ela sorriu fitando o teto do mundo inferior, que por sinal, estava a muitos e muitos metros a cima de nós. –Mais alguma pergunta? –Os olhos dela estavam diferentes, agora eram azul céu bem claro.

–Não... nenhuma. –Fitei o chão tentando não encara-la.

Por alguns curtos minutos pensei no que ela tinha me falado. “Voando”, claro, aquilo não era literal, ela veio de Pégaso, mas o que me intriga é o fato deu não ter visto nem ouvido nenhum Pégaso perto da minha casa (Que agora era um pedaço gigante de carvão na praia de Malibu).

Decidi não argumentar mais nada. Seguimos subindo um pequeno morro de areia negra cheia de ossos humanos já brancos e bizarros um pouco a baixo dos nossos pés.

Fitava as trilhas de fumaça que se estendiam dos rios de lava que circulavam o grande castelo negro que agora estava mais perto de nossas vistas.

Seres humanoides nos cercaram, não pareciam querer fazer mal algum, apenas se juntaram a nós na caminhada até o grande castelo. Eram fantasmas de pessoas que haviam acabado de morrer. Cinzentos transparentes que pulsavam em meio a um nevoeiro de puro pó, a cada pulsar ficavam invisíveis, mas logo podia-se vê-los antes de pulsar novamente. Eu sentia calafrios. A maioria dos seres estava confuso. Outros melancólicos e choravam. Alguns tentavam se comunicar, mexiam a boca, mas tudo que saia eram ruídos estranhos iguais aos sonares que os morcegos liberam para se deslocar. Quando percebiam que nós não os entendíamos, se afastavam e seguiam seu rumo.

Os fantasmas se dividiam em três filas gigantes de outros fantasmas enevoados e cinzas. Sra O’leary disparou morro a baixo indo em direção a um rottweiler gigantesco. Ele possuía três cabeças gigantes como o seu corpo. Corpulento e chegava a pelo menos a um prédio de 11 andares se ficar em duas patas. Aquele era o cão que protegia os portões do inferno, Cérbero. Ele não era diferente dos fantasmas mortos, seu corpo era transparente e enevoado, pulsava levemente, praticamente invisível de modo que você só o veria quando já seria tarde demais para correr e chorar por misericórdia. Sra. O’leary parecia um yorkishire comparada ao tamanho da criatura. Passamos por uma pilastra que dizia: Você está entrando em Érebo.

Observei também as três longas filas pelas quais os fantasmas seguiam, todas as três levavam a detectores de metais. Duas das entradas diziam ATENDIMENTO DE CERVIÇO. A terceira dizia: Morte Expressa. Esta estava avançando sem cessar uma alma atrás da outra.

Nico não pareceu preocupado com as câmeras estranhas por todo o lado e nem com os guardas: Esqueletos em uniformes da primeira e segunda guerra mundial segurando armas e espadas negras de ferro estígio.

–A fila rápida vai diretamente para os Campos Asfódelos. –Explicou Gabbe pondo a mão no queixo e examinando o local.

Ela emanava um leve brilho prateado em seu cabelo. De certo modo ela não era a garota que chorou em meus braços no banheiro do chalé de Hebe no verão passado. Estava diferente, parecia mais madura e séria, como se já tivesse a sabedoria que só os idosos construíam ao decorrer de suas vidas.

Algumas almas estavam sendo arrastadas da fila para os Campos Asfódelos. Espiritos em mantos negros desgastados acorrentavam as almas retiradas das filas, puxavam com raiva e intolerância.

–O que eles estão fazendo? –Perguntei.

–Retirando os espíritos maus que cometeram pecados horríveis em vida. –Nico suspirou e continuou a andar abrindo caminho para nós pela multidão de espíritos. –As fúrias preparam castigos para essas almas. –Ele sorriu dramaticamente e isso me deu medo, era como se uma faca tivesse perfurado minha espinha dorsal.

–Não quero nem imaginar o que eles sofrem... –Rachel resmungou fazendo um bico e acompanhando Nico.

–Não acho que esteja errado. Almas sujas como essas devem ser punidas de alguma maneira. Ai é que entra a justiça sega. –Gabriela Alencastro não se intimidara com o ato que via, nem mesmo lhe causava remorso, estava com o rosto bruto e sério como se já tivesse visto coisa pior. –Aqueles pecaminosos envenenaram a obra divina, devem ser punidos em morte, por todo o sempre, pelo menos até o fim dos tempos.

O sorriso de Nico vacilou por um momento e seu rosto endureceu, depois alargou-se em um brilhante sorriso branco.

–Ai esta você. –Nico abriu os braços olhando para pouco a cima de nós.

–É... Nico? –Fitei-o como se o enxofre tivesse afetado sua mente. –O que esta fazendo? –Perguntei.

Para minha resposta, uma neblina irrompeu o ar a um metro a cima de Nico, foi descendo e bruxuleando até tocar o chão. A neblina se condensou e começou a tornar-se mais concreta e física. Karen Dumoncel surgiu a nossa frente, bem, pelo menos somente metade do seu corpo surgiu. Da cintura para cima assumia aquela postura arrogante de sempre, da cintura para baixo era neblina e fumaça cinza igual a dos fantasmas. Ela flutuava a nossa frente com um sorriso perverso no rosto.

–Até quem fim. –Ela rosnou cruzando os braços. Revirou os olhos e suspirou, sua metade de baixo surgiu em meio a ectoplasma de fantasma.

Ela vestia um vestido vermelho negro num tom escarlate. A calda do vestido se arrastava no chão em tema floral, realmente rosas caiam em desenhos por cada fio da mais pura seda. As imagens se moviam, eram pétalas caindo pelo vestido, da gola até a ponta da calda que se arrastava no chão. As pétalas eram acompanhadas de rosas negras, vermelhas e cinzas que desciam em câmera lenta. Usava uma bota preta até os joelhos. Graças ao modelo do vestido aberto nas coxas, via-se as botas pretas que esbanjavam sexualidade exibindo as finas pernas da filha de Melinoe.

–Realmente, a princesa das sombras acaba de ganhar um vestido novo de Perséfone. –Nico riu brincando com os dedos.

–É pra quando essa viagem, não tenho a vida toda para esperar.

–Com certeza, não tem mesmo. –Nico riu e assoviou.

As três fúrias irromperam da direção do grande palácio negro vindo direto na nossa direção. Eram humanoides sem braços, no lugar deles estavam três asas de couro, uma menor que a outra. Sua pele era cinza e úmida como se fosse muco, além de ser enrugada e caída como uma senhora com mais de 200 anos. Garras grandes e amareladas como punhais sujos e oxidados pelo tempo. Olhos grandes e pretos reluzentes como carvão queimando. Dentes afiados e grandes como navalhas podres.

Duas eram menores comparadas a do meio, que parecia estar surpresa ao ver Nico com “amigos”.

–O que fazem vivos nas terras da perdição? –Perguntou a fúria maior em quanto as outras duas concordavam com as cabeças murchas.

–Leve-nos até o meu pai. –Nico gritou para que sua ordem fosse ouvida pelas feras.

As três investiram como meteoros caindo sobre a terra. Agarrando Gabbe, Nico, Rachel e Drew.

Sra. O’leary correu até nós pulando e chorando tristemente com leves gemidos.

–Nos encontre depois que brincar com Cérbero, Sra. O’leary, estaremos na casa do meu pai. –Nico acenou com a mão em quanto a cadela gigante corria de volta para Cérbero brincando de pegar o rabo um do outro.

Ao decorrer do voo observei a paisagem medonha. A grama preta tinha sido pisoteada por eras de pés mortos. Um vento morno e úmido soprava como o hálito de um pântano. Árvores negras e deformadas cresciam em grupos por todo o canto.

O teto da caverna estava repleto de estalactites, que brilhavam em um cinza pálido e mortal caso caíssem em cima de nós. Tentei não pensar nessa possibilidade infeliz.

Haviam soldados esqueleto por todo o lado patrulhando os espíritos pelos campos.

Mas ao longe, observei um pequeno canto de paraíso. Além do portão de segurança havia belas casas de todos os períodos da história, vilas romanas, castelos medievais e mansões. Flores de prata e ouro floresciam nos campos. A grama ondulava nas cores do arco-íris. Elísio. No meio daquele vale havia um brilhante lago azul, com três pequenas ilhas como um hotel de lazer nas Bahamas. As Ilhas dos Abençoados, para pessoas que escolheram renascer três vezes, e três vezes conquistaram o Elísio. Quando eu morresse, eu queria ir parar ali. Sem mais nem menos, ali era o meu lugar.

Sim, o paraíso, é para lá que quero repousar a minha morte.


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