Radiação Arcana: Totem De Arquivo escrita por Lucas SS


Capítulo 42
Capítulo 41: Perdas


Notas iniciais do capítulo

Sinto muito por demorar tanto para postar, mas tinha muito barulho aqui em casa e eu fiquei ocupado durante a semana. Se acharem algum erro ortográfico ou gramatical, por favor, avisem-me. Estou tentando fazer o melhor de mim para vocês. Boa leitura, criançada!



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— Vocês perceberam como a assombração ficou com medo quando a Life usou aquela chama que cura? — lembrei do fato estranho.

— É mesmo, não tinha pensado nisso. Acho que é porque eles são do submundo, como você — Jujuba esclareceu.

— Pode ser… Isso já nos dá uma dica do que eles são, ou pelo menos uma hipótese. Além disso, sabemos uma potente forma de colocar medo neles e de espantá-los, já que eles fogem igual diabo foge da cruz. Sem querer ofender, Balazar — meu irmão falou.

— Tudo bem — dei uma leve risada. — Eu não ligo para essas coisas, escolhi essa aparência porque quis, achei que poucos jogadores fariam isso. Os demmarcs, em termos de jogo, não são muito bons por causa dos bônus e tudo mais, mas o poder especial deles é útil.

— Pena que você não pode usar — Limcon lembrou. — Ambos não conseguimos usar nossos poderes de fúria. Antes era só apertar o botão, agora não sei o que temos de fazer.

— Talvez a resposta seja óbvia, meu amor — Skarlatte colocou o dedo no queixo, pensativa. — Se o poder é de fúria, vocês devem ficar enfurecidos.

— Mas eu não tenho motivos grandes o bastante para ficar furioso. Não perdi meus pais na guerra, pois eles só vivem longe daqui, não faço o trabalho escravo que a Lua obriga, porque não tenho idade pra isso ainda, eu tenho uma namorada muito fofa que me alegra todos os dias — ele falou e deu um longo beijo nela.

Chequei a retaguarda pra não ficar olhando a cena. Nenhum monstro nos perseguia, pelo menos nenhum visível. Nós havíamos passado cerca de uma hora caminhando depois da última pausa para descansar. Como usamos magia, não queríamos andar pelo labirinto sem a energia mística no máximo. Aproveitamos para comer dentro e fora do jogo, beber água e arrumar os equipamentos.

Chamando-me para o presente, Supreme gritou.

— Olhem a porta! Finalmente vamos sair desse maldito tubo de esgoto.

— Espere, seu maldito bárbaro animador de torcida. Quantos monstros já não pediram para você não gritar? Por que arriscar a vida de todos nós agora tão no finalzinho? E se um deles resolve encher o corredor de fogo sem nem sair da porcaria da jaula de vidro? — o ladino brigou.

Infelizmente, ele estava certo. Supreme não conseguia manter o tom de voz baixo, algo que irritou os inimigos durante nosso descanso. Alguns xingavam, outros tentavam atacar, mas todos faziam ameaças de morte para o caso dele gritar mais.

— Desculpe — o grandalhão baixou a cabeça.

— Só lembre-se de não gritar, mais nada. Agora deixa eu checar esse final do corredor. Por mais que lá atrás podia ter armadilhas, mas não teve, faz muito sentido ter alguma coisa aqui. Heróis ficam animados quando vêem saídas de túneis e isso cria uma oportunidade de pegar os aventureiros distraídos.

Com os olhos atentos, Fear observou o fim do túnel calmamente. Ele fungou o ar atrás de alguma pista, assim como molhou a ponta do dedo e levantou, tentando sentir a direção do vento. Enfim juntou todas as pistas, concluindo:

— Não há nenhuma armadilha que eu consiga perceber, mas vamos ser cautelosos. Preparem seus reflexos para qualquer possível sinal de que seremos atingidos, queimados, esmagados, jogados, envenenados, cortados, teleportados ou mortos.

Engolindo em seco, sorri nervoso e fiz que sim com a cabeça. Na ponta dos pés, caminhávamos lentamente em direção a porta. Fear ia na frente, indicando onde deveríamos pisar.

Com um pouco de sorte e a habilidade do ladrão, conseguimos atravessar o final do corredor. Todos me encararam, esperando minha ação. Com a esfera de fogo na mão, derreti a porta devagar.

— Eu só sirvo pra isso… — reclamei.

— Claro que não — Skarlatte começou. — Você também serve para congelar coisas, como o nosso caminho na floresta.

Todos riram, o que teria me feito corar, se minha pele não fosse vermelha. Aumentei a intensidade do fogo, fazendo faíscas saltarem nos meus amigos, que reclamaram.

— Cuidado com isso daí, cara! Isso queima — Limcon falou.

— Ah, me desculpe, a senhorita é delicada demais, a brasa queima sua pele de pêssego — zombei.

Irritado, Limcon se calou. Os outros se deram conta que eu estava ajudando o grupo, mas em troca não recebia nenhum agradecimento.

— Desculpe-nos, Balazar, você está contribuindo para nossa missão e nós não estamos dando o real valor. Se não tivesse seu poder de fogo, talvez eu demorasse muito para abrir essa fechadura ou Supreme derretendo a porta com eletricidade. Na pior das hipóteses, o casal de atiradores teria de fuzilar a porta, ou Jujuba iria tentar fatiar essa chapa de aço com a espada.

Dessa vez fui eu que senti uma pontada culpa. Os outros poderiam resolver o problema, mas eu estava tentando parecer o único que iria nos salvar. Talvez eu estivesse sendo infantil ou talvez estivesse tentando me mostrar útil.

Limcon havia derrotado as aranhas, Skarlatte nos salvou da primeira assombração com as granadas, Supreme destruiu a garota da boneca, Fear matou o monstro do corredor, mas o que eu havia feito?

Usando a chama gelada, esfriei a poça de ferro líquido. Saímos do corredor de cimento cheio de assombrações aprisionadas e voltamos aos típicos trajetos feito de pedra com névoa negra dificultando nossa visão.

— Assim eu me sinto eu um daqueles RPG’s antigos, onde era tudo medieval e os jogadores se aventuravam por masmorras de pedra, labirinto cheios de armadilhas, monstros e tesouros. Espere… Nós vimos algum tesouro? — Fear perguntou.

— Acho que nada — respondi. — Isso é estranho, porque as missões sempre tem recompensas. Talvez tenha um grande tesouro no lugar que o totem está nos esperando.

— Tomara que sim, porque eu não quero enfrentar tudo isso só por aquilo. No início era uma boa ideia, mas agora, após enfrentar tudo isso, quero mais do que só uma passagem pra Lua — Supreme contou.

— É, quero ouro, amuletos, itens especiais, fama! — Limcon disse.

— Mas você disse que queria só a mim… — Skarlatte falou dengosa.

Todos rimos da situação. O atirador tentou se desculpar, mas os namorados não conseguiam ficar brigados, então logo deram as mãos e começaram a falar palavras doces um para o outro.

Voltei a pensar em como eu era inútil no grupo, pois era o único que não tinha salvado ninguém ali. O mais perto que cheguei disso foi congelar o alçapão para o monstro parar de nos perseguir, mas ele continuou atrás de nós.

Olhei para minha esquerda e prestei atenção na Jujuba. Ela tinha salvado Skarlatte curando o ferimento e espantando a assombração com a chama de cura. O único fogo que me queima, porque eu sou… do inferno, e ela era do céu. Eu não conseguia fazer o fogo divino, que era muito parecido com o fogo angelical, porém mais rápido. Como Water me disse, ele teria a velocidade da luz. Contudo eu não conseguia criar ele, não tinha felicidade o bastante.

“O fogo é movido pelo sentimento”, meu mestre falava em todos os treinos, “mas não seja engolido pelo sentimento”, ele continuava quando eu usava toda a tristeza para criar a chama gelada. Eu tinha de lembrar de algo que me deixava triste para acender o fogo, mas não ficar somente nesse pensamento, não ser tomado pelo sentimento, senão vou me perder e as chamas serão fortes demais. Sempre que o fogo é poderoso demais, há o perigo de ser queimado. Porém eu era um demmarc, então queimaduras não passavam de medos bobos.

Distraído, não percebi quando uma nova textura do chão apareceu no meu campo de visão. Quando meus pés a tocaram, me assustei e olhei em volta. Como se fosse um tapete, mantos de pele das costas cobriam o chão, costurados com uma linha negra e grossa. Quando meus pés apertavam o tecido, sangue fluía para fora, criando uma pequena poça vermelha. Nas paredes estavam empaladas cabeças de heróis. Os olhos eram furados e o maxilar fora arrancado.

— Isso é macabro — Skarlatte sussurrou.

— Bota macabro nisso. O decorador desse lugar deve ser louco — Supreme brincou.

Não me abalei com o local, já estava começando a acostumar com todos os artifícios que o labirinto usava para tentar dar um ataque cardíaco nos heróis. Sangue, pele, monstros, escuridão. Confesso que no início eu senti minha espinha gelar, mas logo acostumei. Se os donos dessas cabeças e desse tapete de pele tinham morrido aqui, eu não devia sentir pena. A ambiciosidade que levou esses heróis para cá, mesmo sabendo do risco de morrer. Assim como nós.

O corredor, em seu fim, se dividia em outros dois que seguiam para lados opostos. Olhamos para nossos possíveis caminhamos e, depois de ter uma longa discussão, decidimos seguir pela direita. A cobertura de pele continuava, mas já não saía mais sangue de onde nós pisávamos. Possivelmente eram peles antigas e o sangue havia secado há muito tempo. As cabeças eram crânios velhos.

— Há quanto tempo as pessoas morrem aqui? — Limcon perguntou.

— Bem, se Savra conhece isso mesmo estando trancado, acho que heróis vem se matar aqui há muito, muito tempo — falei

— Bem, não quero me juntar a essa coleção. Já sabemos que algo aqui matou muito, talvez seja a mesma coisa que matou a assombração, então vamos tomar o dobro de cuidado — Fear falou sombriamente.

— Eu estou com um mau pressentimento sobre isso — Jujuba falou.

Novamente preparados, marchamos pela masmorra. Longe de nós alguém gritou, mas era somente o eco do som inicial, marcado com a dor da tortura. Nós não deveríamos interferir, talvez acabaríamos morrendo se tentássemos salvar os outros. Além disso, o barulho vinha de muito longe. Sem dizer nada, seguimos pelo corredor, envergonhados com nossa atitude.

Em certa parte do corredor, as cabeças começaram a sumir, sendo substituídas por corvos pregados nas paredes. Eu não entendia porque corvos estariam ali, mas eles significavam algo. Significavam morte.

Caminhamos por uma hora sem descanso. Ninguém queria se arriscar a parar naquele lugar. Avistei a modificação no corredor antes dos meus colegas. O reto corredor se abria, formando um círculo que se fechava na continuação do corredor. O diâmetro da área devia ser aproximado a quinze metros. No meio dele um círculo fora desenhado com tinta roxa e negra. Um pequeno crânio de bode pousava, nos observando sem olhos.

— Fear… você já viu algo parecido? — Supreme perguntou.

— Acho que já, mas estava inerte. Algo me diz que aqui não será igual… Aqui nunca nada é igual — ele respondeu.

— Vamos destruir esse crânio antes que algo aconteça — falei.

— Boa ideia — Limcon botou a mira no olho e se preparou para atirar, mas esperou o consenso do grupo.

— Não mexam no meu crânio — algo falou.

A voz vinha do teto, mas retumbava por todo o local, parecendo um deus onipresente.

— Quem é você?— perguntei. — Se mostre.

— Como o senhor deseja.

O crânio levitou, subindo até a altura dos meus olhos. Dos desenhos no chão, fumaça foi expelida. A névoa púrpura e negra começou a tomar a forma de um corpo, engolindo o esqueleto. O gás virou físico, moldando o homem que havia falado conosco.

— Olá, senhoras e senhores.

Vestido de terno, o senhor pálido coçava a barbicha. Com a bengala negra, arrumou a cartola e nos olhou. Seu rosto era magro, a íris vermelha, o nariz longo e fino, as orelhas pontudas e a pequena costeleta negra. Seus dedos magros da mão esquerda seguravam a bengala, enquanto os da mão direita gesticulavam enquanto ele falava.

— Não vão me responder?

— O-Olá — gaguejei.

— Vejo que tem boas maneiras, senhor… — ele coçou a cabeça, como se tentasse se lembrar do meu nome. — Senhor Balazar. Não falarei seu outro nome, sei que você não gosta.

— Como você…? — comecei.

— Como eu sei? — ele deduziu. — Você está com um chip na cabeça, isso dá acesso a todas as suas lembranças. Esse jogo não é somente algo para divertir crianças e levar os vencedores para a Lua. Aqueles lunáticos, como você os chama, lêem sua mente, abrem ela e procuram vestígios de rebeldia. Ninguém consegue chegar até o satélite natural sem passar por esse jogo, e qualquer rebelde que tente ir fazer revoltas na Lua irá ser descoberto aqui, além de entregar os planos.

Comecei a entender o que ele dizia, mas logo as ideias conspiratórias continuaram.

— Tem mais! Vocês são os soldadinhos daqueles burgueses. Existem coisas aqui dentro, informações, softwares, entre outros, que nem os melhores hackers conseguiram pegar. Mas eles descobriram que tem um jeito de conseguir… Conseguem adivinhar como é?

Abri um fraco sorriso, com a resposta na ponta da língua.

— Cumprindo as missões.

— Correto, senhor Balazar. Eles mandaram vocês para pegar o Totem de Arquivo e depois os mandar para a Lua. Garanto que, quando chegarem lá, eles farão uma cópia do personagem de vocês, alegando que é um escaneamento padrão e blá-blá-blá. É aí que eles pegam o totem de vocês.

— Entendo. Mas nós precisamos ir morar lá, me desculpe. Além disso, não podemos virar revoltados, eles lerão nossas mentes.

— Aí que você se engana. Esse labirinto é o que derrota os hackers. Toda memória que vocês têm aqui é impossível de ser lida. Quando saírem do labirinto,se saírem, eles nunca saberão o que aconteceu aqui, mas não vão se importar, porque vocês terão o totem.

— E por que conta tudo isso pra gente? — Fear perguntou.

— Porque eu preciso que vocês quebrem o sistema da Lua. Vocês serão revoltados, vão trabalhar contra os lunáticos.

— Mas se pensarmos em qualquer coisa fora daqui, eles irão descobrir — Limcon disse.

— Eu sei, por isso assim que vocês saírem do labirinto, essas memórias ficarão trancadas até vocês acharem outra coisa sobre a revolução. Nem vocês se lembraram disso, logo não poderão ficar pensando. Aceitam?

O grupo se entreolhou, conversando pelo olhar. Todos odiávamos a soberania dos que viviam lá em cima e estávamos de acordo em derrotá-los.

— Sim, faremos isso — disse firmemente.

— Ótimo, ótimo! — o homem magro sorriu.

— Então nos leve até o totem — Fear pediu.

— Bem… temos um problema. Eu não posso deixar vocês passarem, pois também sou um desafio desse lugar. Se passarem por mim, logo encontrarão o final dessa fase.

— Já derrotamos monstros mais feios que você — bati um punho contra a palma da outra mão.

Preparamo-nos para a luta, decididos a ganhar. Como se fossem mensagens subliminares, a cabeça do monstro mudava de vez em quando, assim como as paredes. Por frações de segundo, o rosto era de um bode com algum desenho na testa. Como a imagem trocava muito rapidamente, eu não conseguia entender o que era, mas sabia que estava lá. Assim como eu, ele tinha chifres, mas enquanto era o homem cara de bode, os chifres furavam a cartola.

Durantes os rápidos flashes de alucinação, as paredes eram feitas de pessoas que gritavam, como se estivessem sofrendo. Entre os corpos amontoados, lava escorria.

— Vocês viram isso? — Supreme questionou.

— Sim, eu vi — Skarlatte respondeu.

— Isso é o meu mundo paralelo, o reino do meu mestre. Para vocês ele tem o nome de… como é mesmo? Ah, lembrei. Submundo. Eu sou o diplomata dele, por mais que também seja um arquivo de revolta feito pelo criador do jogo, o doutor Arias.

Atirei uma esfera de fogo selvagem no homem de cartola, que se defendeu com um rápido movimento da bengala. Ele limpou os ombros e sorriu.

— Vejo que não gosta desse nome. Bem, meu mestre disse que somente os mais fortes poderão chegar na sala final desse labirinto, onde se encontra o tão querido totem. Só precisam derrotar o meu desafio. E como o senhor me mostrou, Balazar, vocês estão com vontade de lutar.

Eu respirava fundo e meus dedos quase quebravam de tanta força que eu fazia para comprimí-los. Minha vontade era de afundar o rosto do inimigo, mas a mão de Jujuba no meu ombro me impedia de ir para frente.

O adversário, usando a mão livre, tampou um dos olhos. Sem soltar nem um grito, os dedos cravaram no crânio, arrancando a esfera branca. Sangue escorreu pela bochecha, pingando no chão. Na palma da mão do homem de cartola, o olho virava, observando o ambiente.

— Vá, meu filho, mate-os.

O temporário homem bode jogou a esfera no chão. Eu imaginei que a bola macia iria ser esmagada contra as pedras, mas ela somente quicou e girou. Quando parou, começou a brilhar levemente. Seu tamanho começou a aumentar, como se alguém estivesse colocando ar com uma bomba de bicicleta.

O olho cresceu até ter um metro e meio de diâmetro. Para se mover, começou a flutuar. Sob comando do pai, ele nos olhou. Pensei que essa era a única coisa que ele poderia fazer, mas me surpreendi quando um raio laser atravessou os poucos metros que nos separavam, fazendo um barulho de explosão quando atingiu a parede cinza.

Supreme estava na mira, porém usou os reflexos poderosos para desviar. Começamos a correr em volta do círculo, desviando de tiros que passavam realmente próximos a nós. Entramos no outro corredor, não o de onde viemos, e continuamos a fugir. O olho nos perseguia com uma velocidade considerável, mas não conseguia nos atingir, pois o caminho serpenteava.

— Acho que não precisa de mais de um tiro para nos matar — Limcon gritou.

Ele tentava ajudar a namorada, que corria desengonçada com a minigun. Eu, por estar no fim da fila com Jujuba, tinha de andar na velocidade deles.

— Se só precisa de um tiro, acho melhor eu usar isso — a paladina falou pegando algo do bolso.

A pulseira prateada brilhou palidamente no braço da guerreira.

— O que é isso? — perguntei ainda correndo.

— É um escudo de lua. O poder da lua é defender qualquer golpe, então o laser não deve atravessar isso aqui. Contudo é horrível correr com ele acionado, então pedi para um engenheiro e um mago fazerem isso. Quando eu quero, a pulseira vira o escudo.

O corredor virou uma longa curva pela esquerda para direita, na qual corremos desesperados. O olho se movia sem fazer som nenhum, então não sabíamos se ele já havia desistido. Quando consideramos a distância segundo a velocidade dele e a nossa, decidimos parar.

— Ele deve estar longe demais para seguir tentando nos matar — Skarlatte deduziu.

— Concordo — Fear retrucou. — Odeio fugir do inimigo, mas dessa vez foi útil. Não queria me arriscar a morrer por um olho atirador de laser.

— Cada vez os monstros desse jogo estão mais malucos — Supreme reclamou.

— É. Mas vamos aproveitar a parada e descansar. Precisamos recuperar o fôlego — falei arfando.

Meu coração começou a desacelerar e eu logo me acalmei. Pude pensar no que deveríamos fazer.

— Supreme, use sua velocidade e cheque se o olho ainda está nos perseguindo. Mas não se arrisque! — mandei.

— Sim, senhor! — ele fez continência e disparou para longe em um brilho branco.

— Boa ideia, assim podemos ficar calmos — Life Taster sorriu.

— Você está sorrindo? — falei impressionado. — Achei que não soubesse o que é isso.

Ela me fez um gesto com os dedos, desfazendo o sorriso.

— O corredor está demorando para voltar, não é? — Limcon disse.

— É mesmo — olhei para o fim do corredor.

Esperei alguns tensos segundos, observando a curva sem névoa, até que vi algo surgir no último lugar que eu conseguia ver. Era algo branco. Em uma fração de segundos, essa coisa branca estava há cinco metros de mim, sorrindo.

— Não tem nada, senhor — Supreme disse.

— Que medo, cara, achei que tivesse morrido pelo olho.

O bárbaro riu com minha preocupação.

— Você sabe que ele não tem como me pegar, chifrudo. Garanto que aquele olho esbugalhado deve ter voltado para aquela cabeça oca de bo…

Pela parede, uma grande esfera branca com uma íris vermelha surgiu, atirando um laser vermelho e explosivo. A energia acertou a cabeça de Supreme, fazendo ela explodir em vários pedaços escamosos. O corpo caiu de joelhos, sem vida, sem força, com um baque surdo no chão.

— Não! — gritei com todas as minhas forças.

O olho virou para nós, apreciando por um segundo seu ataque surpresa bem sucedido. Acendi uma esfera de fogo frio e arremessei, mas a chama foi destruída por um tiro do olho. Eu teria morrido se não fosse o escudo da Life Taster me protegendo.

Voltamos a correr, mas agora com o medo no coração. A paladina protegeu mais alguns tiros, que eram refletidos para as paredes. Limcon e Skarlatte se preparam em posição de guerra, com as armas prontas para fuzilar o monstro.

— Isso é por matar o meu amigo! — o sniper disse, apertando o gatilho repetidas vezes.

As balas de piche viajaram pelo ar, zunindo. Porém elas passaram pelo monstro como se ele fosse uma nuvem, sem causar nenhum dano. Skarlatte segurou o gatilho da super metralhadora, mas seus tiros também não tiveram efeito.

— Será que ele é uma miragem? — ela perguntou enraivecida.

Mas o monstro pareceu responder com mais um tiro, que atravessou o meio da garota, fazendo um furo e matando a jovem.

— Filho da puta! — Limcon gritou, correndo em direção ao monstro e trocando a sniper pela lança granadas.

As bombas explodiam próximas ao inimigo, pois Limcon não conseguia mirar correndo. Alguns lasers quase acertavam o garoto, porém ele desviava com rápidos movimentos. Seus cabelos eram chamas e sua pele estava ilustrada por riscos flamejantes. Ele estava em fúria.

Contudo, quanto mais perto chegava, menos tempo tinha para desviar dos golpes. Quando estava a três metros do olho assassino, o laser acertou sua perna, amputando-a. Limcon continuou atirando no monstro, que não parecia sentir nada. Passando por cima do atirador para poder queimá-lo sem ser atingido pelos golpes.

Não escutei som nenhum quando o jovem morreu, assim como a namorada. Pelo menos os dois estariam juntos no submundo.

Fear me puxou para continuarmos fugindo.

— Ele não vai parar de nos perseguir, precisamos tomar distância e planejar um contra ataque.

Fugi com meu irmão e Jujuba, que havia feito o escudo sumir. Nós corremos por alguns minutos. O suor frio escorria pelo meu rosto, meu coração estava apertado dentro do meu peito, cheio de tristeza.

— Eles… se foram — falei com lágrimas nos olhos.

Meus amigos, que enfrentaram tantos desafios comigo para poder ir para Lua, morreram. E se isso acontecesse com meu irmão? E se isso acontecesse com Jujuba?

— É a vida — Fear falou calmamente.

Agarrei a gola da camisa dele e o parei bruscamente, botando na parede.

— É a vida? É só isso que você tem a dizer? Seu verme maldito — dei um soco no rosto do ladino, quase quebrando o nariz dele.

Em um movimento tão rápido que eu não consigo descrever, Fear se soltou e me derrubou.

— Agora não é hora de brigarmos entre nós — ele disse.

Eu vi as lágrimas nos olhos dele. Dizer que era somente a vida era a forma dele tentar evitar a tristeza, fugir desse sentimento de derrota. Eu havia sido fraco me deixando ser derrotado pelo medo. Precisava vingar meus amigos, não podia deixar mais gente morrer.

Levantei com os punhos em chama. Minha determinação se transformara em combustível para o meu fogo. Eu tinha de matar aquele olho, era minha vez de ser útil.

— Você viu como ele destruiu meu fogo quando eu atirei nele? Acho que ele morre para ataques flamejantes.

— Você está certo, eu acho. Bem, eu espero — Fear falou. — Por enquanto é nossa única chance. Quando o olho aparecer, vou tentar distraí-lo para que você possa vir pelas costas.

— Mas isso é muito perigoso — Jujuba reclamou.

— Nós sabemos, mas talvez seja o único jeito — me virei para onde o monstro viria.

Como se soubesse do nosso plano e quisesse mostrar que daria errado, o olho não veio pelas laterais, mas sim pelo corredor. A pupila se abriu e o feixe vermelho rugiu pelos ares mais uma vez, porém a paladina estava pronta mais uma vez para nos defender.

— Vou te levar o mais longe que puder, Fear — ela informou.

— Obrigado — ele retrucou.

Escondido atrás da garota, eles andaram contra o monstro. Eu fui um pouco mais atrás, desviando dos reflexos de tiro que se espalhavam por causa da defesa do escudo. O monstro estava interessado em destruir o círculo cinza que pousava no braço de Life Taster, pois o material era um desafio para o poderoso tiro.

A cada impacto, a jovem era levemente empurrada para trás, mas mantinha um ritmo forte de marcha, para continuar avançado mais do que recuava. Quando estávamos a cinco metros do monstro, eu já tinha de ficar abaixado atrás do escuto também, pois os tiros poderiam me acertar. Fear respirou fundo e pulou para o lado, aproveitando a surpresa que o olho tomou e correndo rapidamente para flanquear o inimigo.

Como esperado, o adversário começou a virar. Sua velocidade para girar não era tão grande como a para andar, então meu irmão conseguiu fugir facilmente dos golpes. Eu passei por Jujuba, que me acompanhou para atacar a lateral da esfera branca. A vitória estava a um soco de distância.

Mas dois acontecimentos arruinaram minha felicidade. O primeiro foi quando Fear passou pelo lado do olho. Como a distância era curta, o laser atravessou os pequenos braços com facilidade, sem chance para que o ladino desviasse. O corpo de meu irmão se dividiu em duas partes, ambas resto do cadáver de um assassino.

A segunda infelicidade foi o meu soco. O punho envolto em chamas alcançou o monstro com facilidade, mas assim como a parede e os tiros dos meus falecidos amigos, minha manoplas passou o corpo redondo como se ele não existisse. Nem mesmo as chamas tiveram efeito.

Se voltando contra mim, o monstro expandiu a pupila, sinal de que iria me matar. Instintivamente pulei para a direita, onde a paladina não estava. Mesmo com minha técnica de defesa, senti meus joelhos queimarem e gritei de dor. Olhei para minhas pernas.

Onde eu fui acertado, fumaça saia. O cheiro de carne queimada era tão grande quando a minha dor. O inimigo virou para mim, pronto para tirar minha dor. Eu aceitei que iria morrer. Mas eu tinha um anjo.

Jujuba pulou sobre mim com o escudo virado para o adversário. O laser brilhou e acertou o escudo, refletindo exatamente no meio. Parte do tiro voltou contra a pupila aberta, atingindo o ponto fraco do olho. Sem fazer som nenhum, a esfera explodiu em um brilho pálido que me cegou.

Fechei os olhos com força e meu único sentido que funcionava era o do tato. Eu sentia o chão frio, sentia a dor agoniante nas pernas, mas, acima de tudo, sentia o corpo da minha amiga sobrevivente no meu.

— Balazar! Acorda.

Aquela voz era conhecida, porém não era da paladina. Abri os olhos devagar, piscando várias vezes para limpar a visão nublada. A dor na minhas pernas havia parado. Eu já não estava mais no corredor frio, mas agora no círculo onde o homem bode tinha surgido.

— Acorda, chifrudo! — Supreme gritou.

Abri um sorriso e depois fiz uma expressão de confusão.

— Como…? — tentei pensar na pergunta que eu realmente queria fazer.

— Vocês terminaram o teste, heróis — a voz onipresente falou.

Eu me levantei e olhei em volta. Todos os meus amigos estavam vivos, inteiros e sorrindo. Os namorados estavam abraçados, aliviados por não ter perdido um ao outro, Supreme parecia levemente envergonhado, imaginei que isso era devido a ter sido o primeiro a morrer, meu irmão parecia menos sombrio que o normal, curtindo a pós experiência de morte.

— Vocês estão todos vivos! — gritei.

Jujuba segurou minha mão e me puxou para um abraço. Depois me deu um soco na barriga que me tirou o fôlego.

— Achei que iria morrer, seu chifrudo maldito! Agora está me devendo uma, pois salvei sua vida naquela ilusão maldita.

— Era tudo uma ilusão?— perguntei.

A voz onipresente começou o discurso, respondendo.

— Vocês deviam passar pelo meu teste. Ele consistia em experimentar a morte dos amigos e o medo real de morrer. O inimigo que os espera na sala final é muito mais perigoso que esse e a morte não será uma ilusão. Vocês deverão enfrentar o guardião do tesouro e derrotá-lo. Estão dispostos a arriscar suas vidas e as vidas dos seus companheiros?

Todos nos olhamos. Era arriscado e errado levar todos os meus maiores amigos para algo tão perigoso, algo que poderia matá-los. Mas eu sabia que todos queriam ir. Agora que tínhamos vindo até ali, não queríamos sair sem o prêmio.

— Eu estou — falei.

— Eu também — Fear confirmou.

— Eu vou proteger minha amada — Limcon disse.

— E eu o meu amor — Skarlatte abraçou o namorado.

— Dessa vez não vou morrer! — Supreme gritou.

Todos olhamos para Life Taster, que ainda estava quieta.

— E então…? — perguntei.

Ela me olhou nos olhos. Eu via o medo em sua alma, a indecisão, a vontade de fugir. Sorri calorosamente para a morena e segurei a mão dela.

— Estou te devendo uma, vou ter que te proteger, infelizmente — dei uma risada.

— Se eu não for você vai acabar morrendo, chifrudo — ela disse. — Acho que serei eu que vou te proteger. Estou dentro.

— Então preparem-se, pois vou dar passagem para vocês até o portão final — a voz de deus falou.

O chão se mexeu embaixo dos meus pés, tremendo e fazendo barulho. A área circular era uma plataforma, que girou como um parafuso, descendo. Antes que eu começasse a ficar tonto, o elevador giratório parou com um baque suavizado. Do corredor que tínhamos vindo não havia nada além de escuridão. Mas do corredor que nós deveríamos ir havia um grande portal de ferro com adornos em espirais. A passagem deveria ter a altura de uns três ou quatro de mim, enquanto tinha de largura cinco ou seis metros.

— Chegamos, galera, é a fase final, o chefão do jogo — falei com a voz firme.


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Notas finais do capítulo

E aí, choraram? Admita, você ficou com mais medo nesse capítulo do que nos de terror. Me digam o que acharam, por favor!!! Acho que de todos os capítulos que eu já pedi a opinião, esse é o que eu peço com mais vontade, porque realmente quero saber o que passou pela cabeça de vocês quando eles começaram a morrer. Sério, to implorando comentários agora, porque estou muito curioso para descobrir o que vocês sentiram. Até semana que vem, onde eles enfrentarão o chefão da fase!



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