Radiação Arcana: Totem De Arquivo escrita por Lucas SS


Capítulo 31
Capítulo 30: A Mais Forte


Notas iniciais do capítulo

Estou tão feliz :3 muitas coisas boas acontecendo na minha vida, mas o que mais me alegrou hoje foi um review. Vocês não sabem como review me deixam feliz, hihi. Muito obrigado, Soy Juh.



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Acordar sendo atacado não era o que eu esperava, mas é o cotidiano da vida de um garoto demônio. Pelo menos eu estava sendo defendido pelos meus amigos do lagarto cuspidor de ácido.

− Que merda é essa?! − perguntei.

− Esse bicho saiu da água junto com outros quando Savra foi comer uma baleia − Supreme disse quando tentava enforcar o monstro com suas correntes.

O lagarto girou e jogou o bárbaro alguns metros longe. Em seguida jogou ácido contra Limcon e Skarlatte para impedí-los de atirar. Por último pulou contra mim, mas fui defendido pelo meu irmão, que invocou os zumbis (não me pergunte como zumbis podem ser invocados nas costas de um dragão). Fear abriu dois cortes nas costas do monstro, mas somente superficiais, pois a couraça era resistente.

− Como derrotaram os outros? − perguntei.

− Empurramos eles de volta pra água. Mas esse é maior e está se prendendo − Limcon explicou.

− Tive uma ideia − falei.

Me levantei e corri contra o monstro, que virou e se preparou para jogar ácido em mim. Acendi uma chama, mas tive de rolar para o lado, evitando ser desfeito por baba de réptil.

− Muito rápido… Droga! Já sei, é só deixar ele lento…

Acendi a chama fria e corri em volta do monstro, que não conseguia virar tão rapidamente. Enquanto corria, atirava no monstro, que ficou lento em pouco tempo, mas não totalmente paralisado.

− Pare ele, Balazar! − meu irmão gritou.

− Não, não tem como matar ele assim.

Corri para frente do monstro, que abriu a boca preparando o ácido.

− Alvo fácil, seu monstro maldito − disse atirando uma chama selvagem para dentro do monstro, que brilhou em tom verde como se fosse um vaga-lume. Aos poucos um guincho baixo saiu da estátua brilhante. Deu-se por fim a vida do sangue frio.

Supreme enrolou as correntes no monstro e, lentamente, puxou ele para a beirada do dragão. Minutos depois ele voltou, sinalizando que o trabalho estava feito.

− Monstrinho pesado esse, vocês podiam ter me ajudado, não é? − ele reclamou.

−Desculpe, mas estou cuidando do ferimento dela − Limcon disse apontando para a sua garota.

Skarlatte tinha uma queimadura na perna, mas não era algo mortal. O atirador enrolou pano e passou água no ferimento, junto com alguns remédios que tinha comprado antes da viagem.

Nos sentamos cansados, arfando e xingando o inimigo.

− Parem de dizer que os “répteis” são ruins. Eu sou um lembra? E o seu amigo eletrizante também − Savra disse − Ah, Balazar, vi suas chamas e achei elas impressionantes. Para um iniciante, você sabe controlá-las muito bem. Mas mostre-me sua chama normal, com a maior intensidade que conseguir.

Acanhado, acendi uma esfera flamejante na palma da minha manopla. Aos pouco fiz ela ficar mais quente, mas sem aumentar o tamanho. O brilho era intenso e eu senti o ar aquecer rapidamente, a ponto de fazer alguns equipamentos de ferro na minha roupa também aquecerem.

− Só isso? Sério mesmo? − o dragão falou − Você precisa melhorar isso.

− Mas como posso melhorar? Treinando? Comendo fogo como você? − perguntei rindo.

− De um jeito mais fácil. Temos algo em comum e eu sei seu futuro, sei que vai precisar disso. Estenda as mãos e não pare de fazer isso até eu mandar.

Estiquei as duas mãos com um pouco de medo. O monstro gigantesco cuspiu fogo e, como se fosse um míssil teleguiado, ele veio até minhas luvas. Gritei surpreso e esperei a dor da queimadura.

− Hey, menininha, pare de gritar, essa chama não vai o machucar.

Depois do aviso, me dei conta de que minhas luvas me protegiam contra o fogo. E mesmo assim, onde minhas luvas não protegiam e o fogo atingia, eu não me queimava. A chama não era minha inimiga, ela estava…

− Estou te dando o poder para usar a chama de um dragão, Balazar. Aproveite, essa chama é muito mais forte que a chama normal e se iguala a chama do deus do fogo. Claro que você não terá como utilizá-la com tanta intensidade porque não tem tanta energia, mas já terá muito mais poder usando ela.

− Por que está fazendo isso? Você já está nos ajudando muito, não tem porque fazer isso agora.

− Tem sim. Você é um dominador de fogo e eu vi que precisa desse poder. Vai entrar em uma missão muito difícil agora e, no futuro, essa chama não será o bastante.

− O-Obrigado, então… − disse envergonhado.

− Tem uma coisa. Essa chama é muito forte e destrutiva, gasta a mesma quantidade de mana para ser usada, mas não precisa das suas manoplas. Porém eu sei que você luta usando os punhos, então sempre siga com elas. E mais uma coisa. Se você morrer, perderá a chama até voltar para o mundo dos vivos, pois a sua alma é o que guarda o meu presente. Enquanto tu estiver no mundo dos mortos, será somente um corpo vazio, feito de carne, osso e mana amaldiçoada. Sua alma ficará vagando aqui fora, te esperando eternamente, pois sei que se um de vocês morrer, nunca mais voltarão.

Savra disse isso com um ar de superioridade, duvidando da nossa capacidade.

− Como você é controverso, dragão. Me dá o poder porque sou merecedor disso, mas ainda me menospreza dizendo que eu não sairia do submundo. Para você nós somos o que? Fortes ou fracos? Poderosos ou meros iniciantes?

− Você não entendeu, Balazar. Vocês podem ser muito fortes aqui, os maiores heróis que já existiram, mas isso não quer dizer que terão chance no submundo. Aquele lugar foi feito para castigar, amedrontar, enfraquecer e enlouquecer qualquer um. Não pense que você pode superar o reino do sofrimento, o campo de chamas eternas que fazem os pecadores pagar pelo que fizeram aqui em cima.

− E o que é considerado pecado, Savra? − meu irmão disse seriamente.

− Você deveria saber mais do que qualquer um, Anjo da Morte. Os pecados nunca foram revelados, mas todos sabem que o paraíso e o inferno existem. Todos são julgados no final e devem viver a vida como acham que é certo. Será que derrotar monstros e aprender magia é certo ou será que isso é um pecado? Não sabemos, mas todos vamos seguir fazendo. Dizer o que é certo ou errado não torna os homens melhores, só os torna hipócritas.

Fear se virou e caminhou para longe em silêncio. Savra riu baixo, e disse zombando:

− Não importa o quão pequeno você seja, não pode se esconder do seu destino, ele o pegará, já é sua maldição… A morte sempre será sua maldição. Acostume-se a perder as pessoas.

− Cale-se. Se não tem nada decente para dizer, o silêncio são suas melhores palavras − o helmen encapuzado disse calmamente.

Diferente de mim, ele não se irritava facilmente, pois sempre mantinha a calma e a sanidade para fazer o que era necessário. Depois da guerra, ele foi quem me manteve alegre o bastante para não desistir. Mas toda a felicidade que ele tinha estava indo embora e eu via isso pelo olhar frio e duro que seus escuros olhos negros guardavam. Alguma coisa estava o fazendo ficar assim.

Corri até ele para acompanhá-lo na caminhada. Timidamente, perguntei:

− O que está te entristecendo, meu irmão? Você não era assim, era como uma luz em meio a toda tragédia. Tu sabesque pode confiar em mim, então me fale logo.

− Não posso te contar, não quero te contar. Por favor, me deixe guardar esse segredo sozinho.

− Mas talvez eu possa te ajudar. Vamos lá, confie no seu irmão.

− Eu confio em ti, mas… mas não posso contar, especialmente para você.

− Por quê?

− Também não posso contar. Vamos mudar de assunto ou eu irei me afastar.

− Está bem, maninho. Deixa eu pensar… O que era aquele seu golpe que você fez contra o golem? Aquilo foi muito legal e poderoso, pena que te deixou exausto.

− Ah, aquilo… aquilo se chama Máscara de Ossos. Porém eu não consigo usar aquilo no nível máximo. Percebeu que eu só usava metade de uma máscara?

Assenticom a cabeça.

− Pois então… Normalmente essa magia faz uma máscara inteira, mas eu só consigo metade, pois não estou muito treinado naquilo. Dizem que esse é o primeiro nível, o segundo nível é com a máscara inteira e o terceiro é a máscara rei, mas essa é só uma lenda, pois só em contos antigos alguém conseguiu fazer.

− E se você conseguir? − disse esperançoso.

− Não iria. End não consegue ela, então eu não consigo. Você sabe como ele é muito forte e poderoso. Eu não chego aos pés dele.

Olhei para baixo, desapontado. End realmente era um cara forte, mas parece que todo o poder que ele tinha foi pago com sentimentos. Não sei como era a relação dele com meu irmão, mas não queria que esse helmen se tornasse amargo.

Uma voz surgiu na minha cabeça, como se fosse meus próprios pensamentos, mas tinha a voz de Savra.

− Ele tem um futuro tão difícil quanto o seu, mas terá um preço muito caro para pagar. Mas não vou lhe contar o futuro, quero que faça algo, Balazar.

− O que? − disse em voz alta.

O assassino me olhou confuso.

− Com quem está falando?

− Com Savra, acho que ele sabe fazer telepatia ou algo assim.

− Hum… Agora está explicado.

− Acenda sua chama de dragão − o lagarto gigante falou.

Fiz o que ele ordenou, acendo uma chama vermelha que tremia levemente.

− A forma que sua chama treme diz sobre você psicologicamente. Como ela treme levemente, você tem algum problema. Agora acenda sua chama fria.

Acendia o fogo gelado que brilhava azul como o céu. Ela não tremia nem um pouco, no máximo balançava por causa do vento.

− A tristeza não é seu problema, você tem certeza de que seu sentimento de tristeza é verdadeiro.

− Falou o psicólogo voador − disse rindo.

Meu irmão deu uma risadinha, mesmo sem saber do que eu estava falando.

− Acenda sua chama selvagem.

Novamente, obedeci a ordem do monstro alado. Uma chama verde queimou sobre minha mão. Ela tremia muito e as sombras balançavam sob sua luz.

− Aí está seu problema. Não tem certeza pelo que lutar, pelo que persistir e nunca desistir. Precisa encontrar seu caminho, assim o fogo de dragão ficará mais forte. Cada chama que você domina perfeitamente fará a chama do dragão tornar-se mais perfeita. Não sabe dominar mais nada? Divina... sombria…?

− Não, ainda não consegui. Pode me ajudar com elas?

− Não sou muito bom nisso, mas vou tentar. Sei o básico para fazê-las, mas eu não consigo, só posso usar o meu fogo.

− Entendo, mas já será algo. Espero que até chegar no totem eu já tenha descoberto como usá-las. Falando no totem, como ele é? − questionei.

− Não me lembro mais, faz muito tempo desde que aquele totem viu a luz do sol pela última vez. Mas, se vierem aqui para frente, posso lhes dizer como são os desafios para conquistá-lo. Claro, só boatos, nunca fui tentar pegar esse item.

− Vamos voltar para a cabeça do dragão, Fear. Savra vai nos contar umas coisinhas importantes.

− Vamos lá. Quem chegar primeiro ganha uma moeda de ouro.

Fear saiu correndo e pela primeira vez em muito tempo, o vi sorrir e rir.

− Ah seu moleque desgraçado − disse correndo atrás dele.

Infelizmente, por causa da habilidade dele de correr e por ter saído na minha frente, ele chegou primeiro. Joguei uma moeda para ele e me sentei com o grupo. Limcon e Skarlatte estavam namorando perto dos cobertores enquanto Supreme estava comendo. Por algum motivo os risinhos e estalos de beijos me irritavam.

− Por favor, galera, vamos prestar atenção − disse de forma levemente grossa.

Limcon me olhou sério e não disse nada. Ficou abraçado com sua garota enquanto todos esperávamos o dragão contar o que sabia.

− Pois então… − a voz rouca e temível do réptil se propagou firmemente − Para conseguir pegar o Totem de Arquivo, vocês terão que passar por um “labirinto”. Suas paredes se desmancham em lava e surgem outras, modificando o caminho e torturando a mente dos heróis, que se perdem lá dentro. Mas esse não é o maior problema. Dentro do labirinto, monstros vivem, mas não qualquer tipo de monstros, somente os piores monstros, prontos para matar sem piedade. Desde fadas que parecem inofensivas até terríveis gigantes canibais. Contudo, de vez em quando você encontra algumas salas, que possuem desafios feitos para testar os homens e mulheres que querem ganhar o prêmio. As salas os darão caminhos direcionados ao fim do labirinto, então, se vocês passarem por elas, já estarão no rumo certo.

A pausa dramática do dragão se prolongou mais que o necessário, pois estávamos tendo uma conversa silenciosa. Todos nós que estávamos nessa missão sabíamos o que os outros pensavam. Conhecíamos as habilidades um do outro, principalmente depois dessa última luta. Talvez por ser o mais rápido, foi Supreme que deu a resposta por todos nós.

− Então é só isso? Só um labirinto com monstros, desafios e terrores? Você sabe que nós somos mais do que isso. Trabalhamos juntos tão bem quanto a chuva e os raios trabalham em uma tempestade!

Como sempre, Supreme gritou após sua frase e todos nós rimos da forma primitiva dele de expressar sua alegria. Não entendemos muito bem a relação da chuva e dos raios, mas entendemos o que ele quis dizer. Uma equipe com um assassino, dois lutadores corpo a corpo e dois atiradores é muito forte. Claro que há muitos pontos fracos nessa formação. Mas, com o tempo e a força de vontade, vamos melhorar e ficar imbatíveis.

− Vocês são tolos, pequenos heróis. Leiam as histórias dos que vieram antes de vocês, dos que tentaram passar esse labirinto e morreram ou ficaram presos para sempre. Alguns achavam a entrada e conseguiam fugir com vida, e estes foram os que contaram como era lá dentro. Entendam de uma vez, aquele lugar é horrível e vocês terão de parar de se achar tão fortes. Esqueçam os golens, esqueçam fantasmas, aquilo será muito pior. Qual foi a pior coisa que vocês enfrentaram? − Savra perguntou.

− A comida da minha irmã! − o bárbaro gritou.

Todos rimos, inclusive o dragão.

− Estou falando de monstros. Qual foi o pior monstro que vocês já enfrentaram.

− Uma aberração − respondemos em coro.

Simplesmente esse era o pior monstro de todos. O medo que sentimos foi a pior coisa de todas. Lutar com medo é muito diferente de lutar sabendo que vai perder. Se eu perdesse, morreria por causa daquele ser aterrorizante.

− Então vocês já conheceram o tipo de ser que mais habita esse labirinto − o lagarto nos disse.

Essas palavras me atingiram como um enorme iceberg, resfriando meu coração e me fazendo sentir esmagado pelo preso dos meus ombros. Minha opinião sobre a futura batalha mudou instantaneamente.

− Mas… Mas… Como isso? Existem mais daquele monstros malditos?

− Sim. Mas eles não existem há muito tempo. Na verdade é um mistério a forma que eles surgem, ninguém nunca descobriu. Mas eu acho que só podem ser coisas do submundo ou do deus da maldade − Savra falou.

− Seja lá quem for que os criou, ou como foram criados, não importa. Só temos que achar um jeito de derrotá-los − Fear sussurrou malignamente.

− Ele está certo. Até para os dragões esses seres são perigosos. Nós não sabemos o que eles podem fazer − o monstro voador contou.

Se até os temíveis donos do céu podiam morrer enfrentando aberrações, como poderíamos nós, simples heróis, passar por um labirinto cheio desses seres. Meu coração batia rápido, pois sabia que além do horizonte, meu maior medo no jogo estava esperando.


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Notas finais do capítulo

Pois então, alguns mistérios que me pediram eu não posso contar agora, mas já planejei como e quando contá-los. Mandem mais perguntas, vou tentar responder todas nesse livro ainda, talvez algumas não sejam agora, desculpe.