Radiação Arcana: Totem De Arquivo escrita por Lucas SS


Capítulo 20
Capítulo 19: O Barão da Montanha


Notas iniciais do capítulo

Desculpa a demora para postar, mas ganhei um livro novo e tive que ficar lendo (muahaha). Mas agora tô de boa e vou escrever um capítulo por semana. Espero que gostem desse.



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Definitivamente, eu odeio lutar contra o Tartaruga, não importa se for o verdadeiro ou o falso. Jogar de espadas duplas é apelar, então só novatos deviam jogar assim. Mas não, né? Aquela maldita cria de réptil marinho tinha que lutar assim e tinha que perder para alguém que copiava suas técnicas. Parece até que lutar contra um lobisomem já não era o bastante.

O inimigo, possivelmente, era um transformante, aquela raça que pode copiar a aparência de qualquer humanoide que já viu. Infelizmente, ele tinha que ter copiado do meu amigo ninja. Por sorte, meu inimigo não sabia usar katanas, as espadas que os samurais usam.

Quando correu para mim, eu quase tive um ataque de riso, pois a forma que ele segurava as espadas enquanto corria era muito humilhante. Seus braços e suas espadas ficavam esticados do lado do corpo na horizontal, parecendo asas de avião. Realmente acho que não seria um inimigo muito difícil.

Ao entrar em minha área de ataque, eu acertei um gancho de direita com uma velocidade alarmante até para mim. Minha mão deixou um rastro de brasa quente por onde passou. Acho que minhas manoplas são estimuladas pelas minhas emoções e, como eu estava com muita vontade de rir, acabei ficando um pouco mais forte.

Temporariamente, a cópia do ninja voltou a ser o transformante. Seus cabelos brancos ficaram marrons depois de tocarem na lama que encharcava o chão. Suas vestes de seda eram tão roxas quanto uvas frescas e seus olhos eram verdes como águas dos mares mais lindos. As espadas voltaram a ser as armas originais do meu inimigo. Uma faca e um pequeno porrete. Seria uma luta fácil e rápida. Ou melhor, foi uma luta fácil e rápida, pois quando ele se levantou para tentar um segundo golpe eu balancei o corpo para a direita, girei sobre um pé e segurei meu inimigo pelo cabelo que caia até os ombros. Ele estava com a faca no exato lugar onde eu estivera a meio segundo atrás, antes de girar parecendo uma bailarina e aparecer atrás do inimigo pálido, por medo ou por ser a cor de pele de sua espécie, não sei. Só sei que ver o corpo em chamas por uma fração de segundos não me deu a menor pena, pois esse cara já tinha me irritado me fazendo lutar, mesmo que por um breve instante, contra aquele réptil.

Lembrei que meu amigo devia estar muito fraco, já que estava inconsciente. Geralmente isso acontecia quando se chegava a menos de 5% da vida original. Por exemplo, alguém que tenha 100 pontos de vida quando chegasse a cinco iria desmaiar.

Corri até onde o réptil ninja estava deitado e obriguei-o a beber um pouco de poção de cura. Imediatamente ele abriu os olhos, confuso. Eu não entreguei toda a poção, pois sabia que iríamos precisar daqui a pouco, mas, pelo menos, fiz meu aliado ficar com metade da energia vital total da vida, 22 pontos de vida. Nas últimas atualizações que o jogo proporcionou foi corrigida a baixa energia vital que os iniciantes teriam. Agora eu tinha no máximo 105 pontos de vida. Em compensação, os golpes causavam um pouco mais de dano.

Ninja Turtle se levantou e me agradeceu com um aceno de cabeça.

— Como, exatamente, que eu desmaiei? — perguntou.

— Não sei, só te encontrei perto de um clone seu. Não exatamente seu, estava mais para um cara te imitando. Acho que aqui no mundo das sombras, onde ninguém consegue se enxergar muito bem, você tem chance de encontrar alguém que goste de você.

— Cale a boca!

— Hey, olha como fala comigo, eu acabei de salvar você e dividir metade da minha poção de cura. Devia estar agradecido.

— Agradecido uma ova!

Não tive tempo de responder. A uns trinta metros de distância, meu irmão gritou, tentando chamar minha atenção. Olhei para ele, que estava junto com o resto da equipe. Como era um espião, possivelmente aprimorou suas técnicas de rastreamento, podendo assim reagrupar nosso pelotão de ataque à montanha.

— Balazar! Estamos aqui! Rápido! — gritou meu irmão.
Caminhando rapidamente pelo terreno infértil, me aproximei do grupo. Olhei rapidamente para todos e, com exceção do Reaper que ficou vigiando nossa carroça, todos estavam ali. Murrada estava com a espada desembainhada, pronta para cortar mais cabeças de lobisomens. Ynad estava acabando de afinar seu violão. Troiana estava com o escudo cheio de sangue de lobisomem. Therin me observava cautelosamente enquanto me aproximava da equipe. Mas entre todos eles, o que mais parecia pronto para a batalha, ou possivelmente uma carnificina, era Fear. Suas machadinhas estavam tão afiadas que pareciam cortar a névoa escura que coloria o ar. Sua capa esvoaçava com a leve brisa que constantemente viajava pela região, trazendo consigo gritos de monstros, folhas mortas e um aroma depressivo, como se todas as lágrimas do mundo tivessem virado um perfume.

Olhando profundamente nos olhos de meu irmão, vi um resquício do garoto que eu encontrei, chorando sozinho depois da guerra, com medo de tudo. Mas era só um resquício, pois o resto da expressão parecia a de um assassino, uma face determinada, que colocaria medo em qualquer inimigo. Eu não gostaria de confrontar meu irmão, pois pela forma que encarava o nada, se ele precisasse não teria misericórdia. Acho que aquele jogo estava mudando a forma que ele via o mundo.

Eu também me sentia diferente, mais cansado e irritado. O jogo deixara de ser divertido e passara a ser uma esperança, uma esperança de sair do Polo Norte, de poder viver na riquíssima cidade da Lua, de dar uma boa vida ao meu irmão e meus amigos. Mas tudo que precisávamos era cumprir aquelas malditas missões para resgatar aquele maldito totem para quem sabe ser uma das equipes que serão chamadas para a Lua. Poderia ficar melhor?

Farei uma nota mental de nunca achar que não da pra piorar. Vocês verão o porquê.

Junto com a equipe, subi a inclinada montanha de obsidiana. A rocha era muito lisa em alguns pontos, mas em outros era extremamente afiada. Ela era negra, mas refletia a luz provocada pelas minhas chamas, que eu criei para tentar iluminar nosso caminho pela subida enevoada. Refletindo o brilho do fogo, as rochas tinham uma aura negra, que parecia sugar toda a coragem do grupo. Nós não sabíamos o que encontraríamos no topo, não sabíamos o que teríamos de fazer, se teríamos de lutar contra um mostro poderoso ou cuidar de flores (por mais que eu realmente não acreditasse que pudesse existir uma missão tão chata).

Minhas pernas já estavam gritando de dor, em resposta a longa subida, quando finalmente chegamos ao topo. Como eu estava na frente, fui o primeiro a receber a mensagem da missão, que dizia:

Você chegou até o topo da montanha. Agora sua missão é derrotar o Barão. Derrotando o Barão, você receberá a próxima missão e a Montanha de Obsidiana se abrirá.

Realmente eu não entendia quase nada sobre a missão. Como a montanha iria se abrir? O que isso significava? Abriria uma fenda para entrarmos ou uma caverna? Bem, não importa, pois agora eu já tinha um objetivo: derrotar esse Barão.

Olhei em volta a procura do inimigo. Todos os meus amigos já tinha acabado de escalar e alguns já fechavam a mensagem da missão, que aparecia no correio eletrônico do jogo, onde podíamos falar com outros jogadores a distância ou, até mesmo, falar com pessoas de fora do jogo.

O topo da montanha era uma grande área achatada. Devia ter uns quinze metros de raio, formando um grande círculo limpo de objetos, uma área de batalha perfeita. No centro uma pequena caixa de madeira repousava. Como eu imaginava, era dali que o inimigo iria sair, mas só quando nos aproximarmos. Não querendo ter de esperar mais, avancei contra a caixa e o efeito esperado aconteceu.

Um espírito de quase cinco metros de altura surgiu a partir da caixa. Ele vestia um pano branco, que o cobria até os calcanhares. Estava um pouco rasgado tanto na borda de baixo quanto nas do pescoço e das mangas, que cobriam o corpo magro e esquelético, que aparecia nos furos espalhados pela veste surrada. A pele do fantasma era azulada, mas era impossível prestar muita atenção nela, já que era transparente, assim como a roupa e o resto do ser fantasmagórico. Seus cabelos negros caíam até metade das costas. Duas esferas negras serviam como olhos, mas eram mais para tampar o buraco do par de órgãos ausentes do que para realmente olhar. Mesmo assim, eu sentia que estava sendo vigiado pelo inimigo.

— Então finalmente encontrei vocês. Não sabem quantos anos eu estava esperando a aparição dos bravos heróis que tentariam me derrotar.

— Renda-se para que possamos lhe dar uma morte misericordiosa e rápida — eu gritei, tomando a liderança do grupo.

Por algum motivo, não gostei disso. Eu não gostava de ser o líder, muito menos de ser quem discutia com o inimigo. Isso era trabalho do Salocin ou da Zoey, não meu.

— O que é isso? Sem apresentações? Sem o discurso do vilão? Está com tanta pressa assim, Balazar Terror.

Eu sabia que jogadores poderiam descobrir nossos nomes, mas monstros... Algo estava errado.

— Como sabe meu nome?

— Então vocês não sabiam o que iriam encontrar aqui? Que interessante. Acho que agora está na hora do discurso malvado — disse o fantasma com uma voz rouca, como quando eu comia muita pimenta enquanto estava gripado.

— Não consegue responder uma questão tão direta? Então vamos, faça logo seu discurso chato.

No mesmo momento eu me arrependi de ter dito isso.

O fantasma tinha a mesma magia que o meu amigo Tartaruga, só que aumentada em dez vezes. A escuridão tomou conta da minha visão, me permitindo ver somente o Barão, que estava flutuando imóvel no ar a uns dez metros de distância. Eu não sabia dizer se o feitiço também tinha afetado meus amigos, pois não conseguia vê-los nem ouvi-los. Uma pontada de medo atingiu meu coração, preocupado com Fear e Troiana.

— Eu não sou um simples fantasma, senhor Balazar. Eu sou o Barão da Montanha. Há muitos séculos fui amaldiçoado com o poder de ver o futuro. Meu castigo se deve a toda minha avareza que tive em vida. Com o poder da visão do futuro descontrolado, eu enxergava cenas horríveis da história da humanidade. Via guerras, sofrimento, sangue, miséria, medo, dor... Às vezes eu via felicidade e esperança, mas eram em poucas pessoas. Pessoas como você. Vejo um futuro em que você defende seus amigos por muitos desafios. Nem sempre vai conseguir, mas vai tentar.

— Seu discurso acabou? — perguntei irritado com a demora. Eu só queria lutar, não precisava ouvir o que ele tinha para falar.

— Não. Antes de lutarmos te darei um presente. Usarei meu dom para te dizer o futuro.

— Diga — respondi rispidamente.

— Eu sei que isso tudo, todo esse mundo onde eu habito, é somente um jogo para você e seus amigos — começou o Barão. — E sei que esse jogoatualizade vez em quando. Isso muda as regras do mundo tanto para vocês quanto para nós, seres que não são jogadores. Mas da próxima vez que o jogoatualizar,não será mais assim. Algumas coisas vão mudar para o mal e algumas para o bem. Para o bem, é que cada jogador conseguirá uma habilidade única para si, que no momento certo será...despertada.Mas tem muitas, muitas coisas ruins. A primeira será a morte. O universo do submundo será adicionado ao jogo, então quando vocês morrerem irão direto para lá. O pior de tudo é que, enquanto estiver no submundo, você não pode sair do jogo.

— O que?! — perguntei surpreendido.

— Foi isso mesmo que você ouviu. Se morrerem não poderão sair do jogo até escaparem do submundo.

— Mas como poderemos escapar do submundo?

— Existem duas maneiras. Ou alguém faz um poderoso feitiço de ressurreição ou você encontra a saída do submundo. Mas sinto em lhe dizer que os feitiços de ressurreição são raros e custam muito caro, enquanto a saída do submundo... Dizem que é difícil de encontrar, pois somente poucos seres conseguiram sair de lá. Além disso, a saída está constantemente mudando de lugar.

— Não preciso me preocupar com o preço da ressurreição, meu grupo possui muito ouro.

— Eu não disse que o preço era ouro. O preço pode ser a sanidade de quem fizer o feitiço, ou das pessoas que o fizerem. Mas claro, isso é pensando nos casos mais...sortudos. Às vezes, pode ser que o preço seja a vida de várias pessoas. Você estaria disposto a dar sua vida para salvar alguém que se importa?

Fiquei com medo de pensar nisso, mas a resposta era óbvia.

— Claro que eu daria minha vida. Meus amigos são mais importantes do que eu. Isso é só um jogo — respondi gritando.

— Mas o submundo faz você sentir dores inimagináveis. Aguentaria saber que seus amigos deram a vida para te salvar, tendo que sofrer pela eternidade no submundo.

A ideia de fazer os outros se sacrificarem por mim quase me fez cair no chão e chorar de medo. Eu não gosto de fazer os outros se arriscarem por minha causa, muito menos fazer meus amigos irem para o submundo.

— Acalme-se Balazar, pois essa não é a pior das notícias — disse o fantasma com toda a calma do mundo. — Quando o jogomelhorar,os monstros se tornarão mais inteligentes. Eles saberão conversar com suas vítimas, descobrir seus pontos fracos, descobrir quem amam, para poder atacar o lado emocional dos jogadores. Se você ama alguém, os monstros focarão os golpes nessa pessoa amada para te desestabilizar. Só irão parar quando a vítima morrer.

Só irão parar quando a vítima morrer.Essa frase ecoou em minha mente, aterrorizando-me. Os monstros poderiam começar a atacar Troiana. Ou quem sabe pior, o meu irmão. Eu sei que eles poderiam se defender, mas mesmo assim eu não queria correr o risco.

— Claro que nem todos os monstros irão querer conversar. Muitos continuarão burros, pois já é da natureza deles querer bater ao invés de falar — falou o ser fantasmagórico.

— Mesmo assim os monstros mais fortes, que são os mais inteligentes, irão focar nos meus amigos.

— Sinto muitíssimo em te dizer que isso é verdade. Mas para tentar te animar, darei mais uma notícia. Se ela é boa ou ruim, você decide.

— Fale — respondi.

— O controle da magia, das técnicas de armas e de toda forma de combate, diplomacia ou habilidade começará a sermanual.

— O que quer dizer com manual? — perguntei intrigado.

— Quer dizer que vocês terão de aprender a controlar sua mana, a manejar uma espada e persuadir monstros. Antes vocês tinham os bônus de jogador, agora eles só darão uma leve ajuda, pois o resto será com vocês.

— Mas isso faz o jogo perder a graça, muitos jogadores irão parar de jogar.

— Isso não é um simples jogo. Quem criou tudo isso aqui fez isso para se divertir e testar os ditos “jogadores”. Na verdade ele está vendo todo esse teatro que vocês chamam de jogo. O criador do jogo, junto com seus ajudantes, são os deuses desse mundo. Eles controlam as regras, eles que mandam e ninguém pode contestar, pois estão vivendo no mundo criado por eles.

— Quando você diz “os criadores”, está querendo dizer os caras da Lua, não é?

— Não — respondeu o fantasma. — O criador do jogo não vive na Lua.

— Onde ele vive? — perguntei em tom sério.

— Não posso lhe contar. Isso nem os jogadores da Lua sabem. Na verdade, todas essas super missões que os jogadores da Lua estão mandando vocês fazer são para testar quem são os melhores jogadores da Terra, para fazê-los competir entre si, junto com os jogadores da Lua, para que finalmente descubram quem são os melhores jogadores. Quando descobrirem isso... Bem, você vai descobrir, eu sei que vai conseguir ser um dos melhores e levar seus amigos para a Lua.

— Espero que esteja certo — respondi um pouco mais esperançoso, pois agora sabia que até o fantasma que prevê o futuro já imaginava que eu conseguiria ir para a Lua.

Como se lesse meus pensamentos, o Barão disse:

— Mas não se anime muito, pois terá de se esforçar e aprender muita coisa, principalmente depois que o jogo começar a ficar manual. Será muito mais difícil combater os monstros, mas sei que vai conseguir, pois alguém que consegue fazer o que você fez durante a guerra, claro que vai conseguir matar alguns monstros.

— Espere um segundo, o que quer dizer com o que eu fiz durante a guerra?

— Você sabe o que eu estou dizendo. Eu sei do seu passado, da sua vida antes de ir para o Polo Norte, das coisas que fez para sobreviver.

— Como ousa ver meu passado?! Você entrou em uma área proibida. O preço será a morte, mesmo sendo um fantasma — disse gritando.

— Vai me matar, assim como fez com eles? As pessoas inocentes que você atacou, somente para poder comer e “garantir” sua segurança. Ou vai me matar como fez aquela vez, com seus...

— Cala boca! — gritei, impedindo que o fantasma completasse a frase. — Eu não quero me lembrar daquele dia. Eu não queria ter feito aquilo. Você não tem o direito de falar DELES! Não tem!

A raiva tomou conta do meu corpo. Sem perceber eu tinha acionado a Fúria Flamejante, fazendo meu corpo quase entrar em combustão. O ar a minha volta chiava, qualquer ponto úmido que estivesse no topo daquela montanha teria evaporado, a obsidiana sob meus pés começou a esquentar, até derreter e se transformar em rocha líquida. Meus olhos deveriam ter ficado vermelhos, pois minha visão tinha ficado. Sem pensar no que iria fazer, corri para o fantasma. O feitiço de escuridão foi quebrado, mas meus amigos pareciam estar em transe, talvez escutando o que o fantasma previa para seus futuros. Enquanto estavam daquele modo, o Barão drenava lentamente a força vital deles, que já estava quase na metade.

O Barão não ficou com medo quando eu corri em sua direção. Na verdade ele nem se moveu. Mas quando eu o atingi com uma sequência de socos flamejantes, sua expressão mudou, de surpresa até pavor.

— Como conseguiu me atingir? Somente itens de prata, magia ou efeitos infernais conseguem me tocar.

— Não sei se você sabe, mas eu sou um demmarc, a raça que comanda o submundo, o Inferno. Talvez essas chamas que te tocaram sejam as próprias chamas da punição, que torturam os mortos. Chegou a hora da sua punição, Barão. Você será torturado pelos crimes que cometeu em vida, pelos erros que nunca pediu perdão, por ter falado do meu passado!

Furioso, comecei a espancar o fantasma, que tentava escapar inutilmente dos meus golpes. Minha velocidade era arrepiante. Eu sentia o vento passar pelo meu rosto, as chamas queimarem o chão a minha volta. Minhas mãos iam e vinham, atingindo o peito e o rosto do fantasma. Em certo ponto da luta, o fantasma decidiu parar de tentar fugir e começar a atacar. Ele me atingiu com um corte de suas mãos, que pareciam ter facas no lugar de dedos. O corte não me causou nenhuma dor, claro que isso era por causa da Fúria Flamejante, que me fazia pensar somente na dor que o inimigo sentiria, sem me importar com o que acontecesse comigo.

— Você é um monstro! — gritou o fantasma, desesperado.

— Só se deu conta disso agora? Tarde demais.

Invoquei uma esfera de fogo frio. Por causa da minha fúria, meus golpes ficavam mais fortes, então minha magia estava extremamente mais poderosa. A esfera tinha o mesmo tamanho, mas eu sabia que muitas esferas estavam compactadas ali. O brilho azul claro deveria estar se espalhando por metade do país da escuridão. O frio tentava combater o calor da minha fúria, criando ventos poderosos, rajadas de ar quente e frio. Sem piedade, atirei a esfera contra o fantasma, que tentou se proteger levantando as mãos. Meio segundo depois, uma estátua de gelo guardava o fantasma dentro de si, que queimaria eternamente, sofrendo pelos seus crimes. Talvez eu não tivesse o direito de fazê-lo pagar por seus crimes, mas tinha o direito de me vingar. Ninguém pode falar sobre meu passado, ninguém esteve no mesmo lugar que eu, tentando sobreviver a tudo que eu sobrevivi.

Meus amigos saíram do transe, o que sinalizava que o inimigo havia sido derrotado. Seus olhos estavam vagos, mas ainda assim conseguiram focar em mim. Gritando vivas e comemorações de vitória, meus aliados se aproximaram de mim. Mesmo com a felicidade de termos derrotado o inimigo, eu conseguia ver nos olhos de cada um deles uma aura de depressão. O que será que o fantasma mostrara para eles?

Olhei para meu irmão e Therin, esperando vê-los tristes também, mas me surpreendi. Therin parecia calmo, nem feliz, nem triste. Meu irmão também estava com um aspecto imparcial. Só assim eu me dei conta de como meu irmão tinha se tornado frio e solitário enquanto jogava esse jogo. Fiquei triste ao perceber isso, mas um pouco feliz, pois sabia que, pelo menos sentimentalmente, meu irmão não seria ferido tão facilmente.

— Parabéns Balazar. — finalmente disse Therin.

— Não me agradeça, eu só fiz o que devia. Estava protegendo vocês. Somos uma equipe, não?

— É. Talvez esteja certo — respondeu o mago, sem ter certeza se realmente fazia parte daquela equipe.

Talvez ele fosse como meu irmão, sozinho.

Quando pensei isso, me lembrei:Só irão parar quando a vítima morrer.O fantasma tinha dito que os inimigos focariam nas pessoas que fossem mais próximas a mim, alvos do meu amor. Será que Therin e Fear sabiam disso há algum tempo? Será que eles se tornaram solitários para não prejudicar as pessoas que eles se importavam? Bem, não sabia ao certo, mas pelo menos era isso que eu iria fazer, tentar me distanciar do grupo, não criar laços, para não machucar meus amigos. Por isso quando Troiana se aproximou para me dar um beijo de parabéns, eu a afastei.

— O que foi, Balazar?

— Troiana, enquanto estivermos voltando para o quartel, tenho que falar contigo.

— Balazar...

— Vamos, equipe — eu disse para não deixar Troiana questionar meu pedido.

Caminhei em direção à carroça, mas mesmo com o grupo me seguindo, fui sozinho, na frente, somente com meus pensamentos. Agora eu me tornara solitário. Não podia me arriscar a trazer perigos para meus amigos. Tinha que deixar de ter relacionamentos desde agora, para que, quando a atualização chegasse, eu não tivesse criado laços fortes demais para serem rompidos. Isso me partia o coração, mas tinha de ser feito, eu tinha que trilhar o caminho para a vitória sozinho. Talvez isso fosse a maldição de demmarc me afetando. O garoto demônio não poderia ter amigos.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Preciso melhorar no que? O que mais gostaram. Se estão gostando compartilhem no face, twitter, todo lugar que puderem. Seu reconhecimento me inspira. Obrigado =D