Only Time escrita por TC Nagahama


Capítulo 12
Cap. 12 - P.1 - Quando o passado te atormenta


Notas iniciais do capítulo

Esse foi um capítulo complicado...ele ficou gigante! Daí dividi em três partes de modo que façam sentido separadamente e também em conjunto.



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Era uma manhã estorricante de verão. As paredes de madeira da Toca transformavam-na numa grande sauna, o que não ajudava nem um pouco nos ânimos de seus ocupantes.

Desde a confusão no Beco Diagonal, o entra-e-sai na casa era constante. Expressões preocupadas, aflitas. Quando os membros que estiveram no meio da confusão eram questionados, Rony só recebia respostas evasivas. E o pior de tudo, com a correria na casa, ninguém se lembrava de preparar o desjejum. Realmente, Rony estava de péssimo humor.

–Bom dia - cumprimentou Gina ao sentar-se na mesa, recebendo um rosnado de Rony como resposta.

–Bom dia, Gina - respondeu Hermione com um sorriso, levando os ovos mexidos que preparara para a mesa.

–O que deu nele? - murmurou Gina, ao levantar para pegar alguns copos e leite, enquanto Mione sacudia os ombros.

–For-rêiu! - disse Rony, com a boca cheia, apontando para Píchi, que chegara com as cartas para a Toca.

Hermione estava aflita para pegar sua correspondência. Faziam dois dias que não eram entregues sua edição doProfeta Diário, e algo dizia que o clima estranho na Toca tinha e muito a ver com esse detalhe.

Sem esperar, ela soltou as duas únicas correspondências que Píchi trouxera: sua edição do Profeta Diário e a edição semanal de O Pasquim que Gina assinava. A pequena coruja voou desajeitada janela afora, enquanto Hermione entregava a revista para Gina e abria a primeira página do jornal.

Rony e Gina olhavam Hermione apreensivos, que lia o jornal com uma expressão de choque. Rony a observava abrir e fechar a boca inúmeras vezes, como um peixe. Se ele não estivesse preocupado, certamente riria até chorar.

–Mione, o que tem de tão horrível escrito aí? - perguntou Rony, um tanto quanto hesitante, quando viu uma lágrima rolar pelo rosto da amiga.

–Shhh! - disse Mione, colocando o dedo trêmulo na frente da boca, sinalizando para que Rony se calasse, enquanto virava as páginas do jornal freneticamente, a procura de outra manchete.

Gina, vendo a reação de Hermione, abriu sua revista, na esperança de que tivesse algo que explicasse tal comportamento. Não demorou muito para encontrar. Logo na capa, uma foto enorme do Beco Diagonal depois do "incidente" de dois atrás, juntamente com uma manchete em letras garrafais: "Seguidores de Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado destroem Beco Diagonal".

–Esse aqui não é o Malfoy? - pensou Gina em voz alta ao ver Draco estirada em meio a uma poça de sangue, uma das poucas figuras imóveis na foto.

–Onde? - inquiriu Rony ao arrancar a revista das mão de Gina bruscamente e olhar.

Sim, aquela era ela. Caída, ferida, suja de lama e ensopada pela chuva torrencial. A foto não estava muito nítida, mas com certeza era ela. Os cabelos eram inconfundíveis.

Rony largou a revista secamente na mesa, e colocou as mãos na cabeça, em puro desespero.

Ao ver o desespero do amigo, Hermione se esqueceu do estava procurando e voltou sua atenção para Rony, que estava com as orelhas e olhos vermelhos e segurava os cabelos como se querendo arrancá-los.

–Harry vai me matar - murmurou Rony, escondendo sua cabeça entre os braços. Os ovos mexidos jaziam ao seu lado, totalmente esquecidos.

Gina, vendo que os dois abandonaram as notícias, pegou de volta sua revista e começou finalmente a folheá-la.

Ao que parecia, todo o conteúdo de O Pasquim era dedicado ao incidente no beco. Matérias e mais matérias com inúmeras fotos e entrevistas com vítimas. Gina corria os olhos por todas, até que uma manchete em especial lhe chamou atenção.

–Segredo dos Malfoy vem à tona - leu Gina, em voz alta, fazendo Rony encolher-se ainda mais na cadeira - Oohhh! - exclamou surpresa, ao ler o conteúdo.

–O que foi, Gina? - perguntou a garota de cabelos revoltos e cheios, que tentava animar o garoto que praticamente derretera na cadeira.

–Só estava pensando. Aqui no artigo diz que o Malfoy é na verdade uma garota - começou Gina, recebendo um aceno da amiga para que continuasse - Como o Lino pôde fazer aquele comentário no final do daquele jogo?! Que coisa mais rude! - comentou, fazendo Rony fechar a cara - Fora que rola um papo de que o pai do...digo, da Malfoy é 100% veela, então no mínimo ela é 50%. Correto? - Rony fechou os olhos com força, definitivamente não estava gostando de onde aquele papo estava indo.

–Correto - respondeu Hermione, curiosa.

–Nossa, agora imagina só: você é uma veela, escolhe seu parceiro, e no dia seguinte...toda a escola fica sabendo! Ela deve ter se sentido horrível. Deve não, com certeza se sentiu...a cara dela estava horrível no final do ano - completou, fazendo Rony bater a cabeça na mesa repetidas vezes.

–Está se sentido bem? - inquiriu Hermione, preocupada ao ver a grande marca vermelha que começava a apontar na testa do amigo.

–E agora pra completar a tragédia, a família dela foi o principal alvo do ataque! Isso é o que eu chamo de onda de azar - concluiu Gina, balançando a cabeça, tentando espantar as energias negativas.

–Principal alvo? - perguntou Rony, num tom baixíssimo, como se cada palavra que saísse de seus lábios exigisse um grande esforço.

–É, de acordo com O Pasquim, eles são os únicos ainda internados no St. Mungos. Parece que nenhum deles acordou ainda - comentou Gina, bebericando um pouco de leite, enquanto Rony fazia uma careta de dor, chamando atenção de Hermione - Também, depois de tantas punhaladas...só mesmo tendo muita vontade de viver pra acordar. E acho que isso ela não tem mais. Não depois do incidente no final do jogo -ponderou, ao montar um pão com ovo mexido, enquanto Rony escondia o rosto entre as mãos.

–Consta algum detalhe sobre isso, na revista? - perguntou Hermione temerosa.

–Nove punhaladas no tórax - respondeu Gina, fechando seu pão e levando-o à boca.

A cabeça de Rony estava dando voltas e mais voltas. Ele ouviu a irmã contando sobre o ataque, e o sentimento que tentou esconder durante o último mês e meio parecia aumentar, aumentar. Ele já não agüentava mais.

–EU CONFESSO! Por Merlim, eu confesso - explodiu Rony, a plenos pulmões, levantando os braços para o céu, e assustando Hermione e Gina, que jogara o sanduíche longe no susto - Fui eu - ele respirou aliviado - Agora me sinto melhor. Você vai comer isso? - perguntou para Gina ao apontar para o sanduíche caído na mesa.

–Alto lá, Ronald Weasley! Não pense que vai se safar com isso - ralhou Hermione, fazendo Rony e Gina se encolherem na cadeira.

–Não precisa ficar assim, Mione. Tó o seu pão de volta, Gina - disse em tom de desculpas ao entregar o pão de volta pra irmã, que olhava com cara de surpresa.

–Não com relação a isso, sua anta! - brigou Hermione ao dar um cascudo no amigo - O que foi esse "Eu confesso! Eu confesso"?

–Eu já admiti, ponto final. Já passou! Então não há porque remexer em coisas do passado - retrucou, tentando desconversar.

–Se isso te faz dormir à noite, então sinta-se à vontade para inventar qualquer desculpa. Só não venha com ataques de remorso, quando você encarar o Harry, ok? - rebateu Hermione no mesmo tom - Ah, pobrezinho do Harry - comentou com os olhos cheios de lágrimas.

–Não vá me dizer que ele é o escolhido da Malfoy?!- disse Gina, chocada, o que fez Rony ficar com uma expressão doente.

–Eles são namorados - respondeu Hermione - Ou pelo menos eram. Na realidade, não sei se ainda estão juntos. O Harry não conseguiu falar com ela desde o incidente - concluiu a garota de cabelos cheios, fazendo os olhos de Gina encherem de lágrimas.

–Mas o Harry não teve nada a ver com o escândalo, né? - perguntou Gina esperançosa. Afinal, ela podia ter desencanado do Garoto-Que-Sobreviveu, mas ainda tinha uma impressão idealizada dele. E uma atitude desse tipo, sem escrúpulos, iria totalmente contra a imagem de bom garoto dele.

–Não, claro que não! Harry nunca faria isso com ela. Ele até tentou explicar na última vez que a viu. Mas ela parecia tão...- Hermione parecia sem palavras.

–Morta - completou Rony pensativo, chamando atenção das duas - Ele ficou lá, falando, falando. E ela ficou lá, com o olhar vazio, rígida como...

–Uma estátua de mármore? - sugeriu Gina, Hermione a olhava curiosa - As meninas costumavam comentar como ele...ela lembrava uma estátua. O rosto sempre rígido, sério.

–E então quando o Harry se irritou, e tentou sacudi-la, o rosto dela se contorceu todo. Como se o toque dele a estivesse queimando, ou algo assim - continuou Rony, descrevendo a cena, alheio às duas - Talvez eu devesse ter falado alguma coisa - murmurou para si - Quem sabe assim ela acreditasse nele - concluiu, com um sorriso triste.

–Eu sei que vou me arrepender de perguntar, mas o que necessariamente você omitiu, Rony? - inquiriu Hermione, numa voz doce - Por favor, não me diga que você foi bisbilhotar os dois no lual - implorou desapontada.

–Caiu da vassoura de cabeça, Mione?! - ralhou Rony, fazendo Hermione fechar a cara (ela odiava ser lembrada de suas habilidades de vôo) - É claro que não! Mas eu vi o Lino voltando tarde da noite, um pouco antes do Harry, com uma cara de quem tinha ganho o dia. E como todos sabemos que ele nunca teria faturado ninguém, só é preciso juntar dois mais dois pra adivinhar o porquê ele estava com aquela cara de vitorioso.

–Deixa eu ver se eu entendi direito: Harry e a Malfoy estavam namorando - começou Gina, porém, foi cortada por Hermione.

–O nome dela é Isabele, e não Malfoy - esclareceu Hermione, ganhando um olhar atravessado dos dois irmãos de cabelos cor de fogo - O quê?! Ela é a namorada do nosso amigo, o mínimo que vocês podem fazer é chamá-la pelo nome.

–Ela é uma Malfoy - retrucou Rony, enquanto Gina balançava a cabeça, solenemente, concordando.

–Ela mudou, ok? No último ano, ela não arrumou nenhuma confusão conosco. Ela nem nos xinga mais! - ralhou Hermione, Gina balançava a cabeça concordando - Com exceção de você, Rony. Mas você também a ofendia, então não tem do que reclamar.

–E quanto às atrocidades que ela disse ao Nev?! - rebateu Rony, indignado.

–E quanto à maldição Cruciatus que ela tomou no lugar do Harry?! - falou Hermione, furiosa.

–CHEGA! - gritou Gina - Não vamos chegar a nenhum consenso assim. Além do que, o caráter duvidoso dela não está em questão - ponderou, enquanto Rony e Hermione trocavam olhares furiosos - Mas continuando o que eu estava falando. Eles estavam namorando escondido e por um motivo que desconheço, estavam num lual.

–Era aniversário dela - ofereceu Hermione.

–Um lual de aniversário, perto do lago - atestou Gina, Hermione concordou com a cabeça, o que Gina tomou como um incentivo para continuar - E os dois achando que estavam sozinhos, decidiram ..hummm...esquentar as coisas - continuou Gina, parecendo um pouco sem graça - Porém, não contavam que o Lino estivesse lá, espiando - falou Gina, enquanto levantava-se e andava lentamente pela cozinha, contando os fatos nos dedos - Mas o Lino não ficou até os dois terminarem, ele voltou antes pra Torre, e encontrou o Rony - ela virou pro irmão, que concordou com a cabeça - Mas ele não falou nada, por mais que a situação fosse estranha. A noite passou e no dia seguinte teve a final do campeonato. Lino faz o escândalo. Todo mundo ficou sabendo de algo extremamente particular sobre os dois. E isso me leva a uma pergunta: Você a odeia tanto assim, Rony? - perguntou Gina, com um ar extremamente confuso.

–Eu não a odeio! - negou caloroso - Eu só não gosto muito dela - respondeu, e quando percebeu que soara como uma desculpa deslavada até mesmo em seus próprios ouvidos, decidiu admitir - Ok, talvez eu a odeie... um pouco - admitiu, ganhando um olhar incrédulo das duas - Mas quem não odiaria?! Desde o primeiro dia da escola ela joga na minha cara a situação financeira precária da nossa família, tira sarro das minhas roupas e dos meus livros de 5ª mão! Ela até fez aquela porcaria de musiquinha "Weasley é nosso rei!". Vocês não queriam que eu caísse de amores por ela só porque o Harry está cego e não consegue ver os defeitos que ela tem, não é? Isso seria hipocrisia da minha parte. Além do que, eu até admito que ela tivesse um corpinho legal e até dou meus parabéns pro Harry ter conseguido algo no dia do tal lual. Mas, sinceramente, não acho que isso seja motivo pra ele perder a cabeça com a família dela. Porque é isso que vai acontecer quando o psicopata do pai dela souber que quem é o namoradinho secreto da filhinha dele. E quando eu digo perder a cabeça, eu me refiro às duas - concluiu Rony, com os rosto tão vermelho quanto às suas orelhas, sem fôlego.

Hermione parecia ultrajada com os últimos comentários de Rony, enquanto Gina parecia ponderar os pós e contras do discurso. Finalmente, após alguns instantes de um silêncio constrangedor, Gina continuou seu raciocínio.

–Humm... então você, crendo que seria em benefício do Harry, preferiu omitir seu conhecimento desse fato importante. Os dias passaram, ela ficou aquele tempo na enfermaria e na viagem de volta, no trem, Harry foi falar com ela - constatou Gina.

–Nós fomos com o Harry. Rendemos a cabine e seus ocupantes: Vin, Greg e a Isabele - esclareceu Hermione.

–Desde quando são Vin e Greg? O que aconteceu com o Crabbe e Goyle?! - indignou-se Rony, Hermione limitou-se a lançar um olhar fulminante. Se olhares matassem, Rony com certeza estaria a sete palmos do chão.

–Vocês foram. Renderam. Harry tentou falar com ela. Ela não escutou. Ele se irritou e sacudiu-a. Ela chorou. Vocês foram embora - constatou Gina, olhando para os dois, esperando uma confirmação. Ambos concordaram - E agora ela foi ferida, e está entre a vida e a morte - concluiu tristemente - Depois de rever todos esses fatos, eu só consigo concluir uma coisa.

–É claro! Ainda podemos resolver isso. Basta irmos até o St. Mungos, e lá você pode se desculpar, Rony - disse Hermione - Como não pensei nisso antes? - perguntou para si mesma.

–Eu tinha pensado algo do tipo "Mamãe vai matar você quando souber, Rony!". Mas a sua conclusão parece melhor que a minha, Mione - concordou Gina, indo até em direção a lareira.

–Não acho que isso vá mudar alguma coisa - falou Rony, cruzando os braços enquanto afundava na cadeira.

–Estranharia se você achasse - resmungou Hermione.

–O que estão esperando? - perguntou Gina, ao chamar os dois, já com um pouco de pó de Flu na mão, antes de virar-se novamente para a lareira.

–Não temos o dia todo - ralhou Hermione ao torcer a orelha de Rony e arrastá-lo para a sala, a tempo de ver o fogo verde consumindo Gina - ! - disse ao jogar um pouco de pó de Flu na lareira, que em instantes consumiu seu corpo e o do garoto desajeitadamente encolhido ao seu lado.

Harry virava lerdamente os bacons que fritava. Cozinhar, limpar, essa era sua rotina de verão, e ele estava cheio dela. Sempre as mesmas coisas, dia após dias. E como os dias demoravam a passar! Era uma angústia interminável. Ele ficava esperando, e esperando, o que aumentava consideravelmente o seu mau humor. O que não era de todo ruim. Afinal, quanto mais seu humor piorava, mais distância os Dursley tomavam. Pois Harry, estando com seu temperamento instável, não conseguia controlar sua magia, então não era raro volta e meia um prato ou copo estourar. O que resultou numa verdadeira baixa no jogo de jantar dos tios. Mas o garoto de cabelos escuros e revoltos não ligava, tinha outras coisas em mente. Uma pessoa em especial dominava os seus pensamentos.

Durante dias e dias ele pensou em escrever, tentar entrar em contato. Ele chegou até a esboçar algo num papel. Mas desistia sempre. Não sabia se seu interesse seria bem quisto ou não. E se a fizesse sofrer mais ainda? Ela tinha reagido tão mal quando ele tentou abraçá-la. Talvez fizesse mais mal do que bem ao fazer-se presente através de uma carta. Sendo assim, decidiu esperar. Quem sabe ela melhorasse durante o verão, ao ter contato com a família. Parecia ser bem ligada à irmã Julie, de quem tanto falava. Talvez se aconselhasse, e percebesse que ele, Harry, na verdade não teve culpa alguma no cartório. Quem sabe até poderiam se reaproximar quando retornassem às aulas.

–É, tenho tantas chances disso acontecer quanto do Snape pedir a mão do Sirius em casamento! - resmungou Harry com um sorrisinho sarcástico no rosto ao colocar os bacons no prato do primo, deixando um cair fora do alvo.

–Ei, seu cego! - reclamou Duda, colocando o pedaço de bacon foragido na boca.

–Devo ser mesmo. Estou vendo um toucinho comendo outro toucinho - começou Harry, fazendo o face do tio esquentar de raiva.

–Mais respeito quando falar com seu primo, seu ANORMAL! - ralhou Válter, espumando.

–Ele é antropófago e eu que sou anormal?! - retrucou Harry para o tio, a tia limitou-se a tampar a boca escandalizada - Você deveria se envergonhar de comer seus semelhantes, Dudinha - censurou o primo, não contendo uma vontade enorme de provocar o tio - Podia ser a tia Guida aí no seu prato, sabia? - falou antes que conseguisse parar. Sim, agora ele definitivamente tinha passado do limite. Seu tio levantou-se num pulo, e avançava ameaçadoramente com o punho erguido em sua direção. Ele sabia que a qualquer minuto seria atingido, e por um minuto pensou que devesse estar preocupado. Mas ele não estava. Pelo contrário, até sorriu. O que irritou mais ainda o tio. Mas ele não conseguia evitar. Estava feliz, sairia da rotina finalmente.

Mas antes que fosse atingido pela provável forte pancada, um barulho de asas chamou atenção de seus familiares, fazendo o tio recuar. Harry, reconhecendo o barulho de Edwiges, foi o mais rápido possível abrir a janela. Mais dois minutos. Só precisava de mais dois minutos pra sair da rotina. Mas não, sua bela coruja branca tinha que chegar justo agora com a correspondência. Harry tinha certeza, os Deuses estavam contra ele. Por que ela não retornara dois dias atrás, com o correio? Ou ontem? Harry não negava, quando viu que seu jornal não foi entregue dois dias seguidos, a primeira coisa que passou pela sua cabeça foi: "Talvez os Deuses tenham cancelado minha assinatura".

Hummm, mas talvez ele estivesse enganado, talvez os Deus tenham somente atrasado sua correspondência. Ainda não tinha aberto, mas sabia que a correspondência era, sem dúvida alguma, o Profeta Diário.

Porém, ao abrir o jornal, e ver a primeira página não pôde deixar de exclamar:

–POR QUE VOCÊS ME ODEIAM TANTO ASSIM? - gritou Harry a plenos pulmões, os olhos queimando com lágrimas que ele se recusava derramar.

–Se você fosse normal talvez até...gostássemos de você - ralhou Petúnia, praticamente cuspindo as últimas palavras.

–Não estava falando com vocês! - retrucou Harry, ultrajado, fazendo sua magia correr solta. Ao fundo, podia-se ouvir o som de vidro quebrando - Fico grato que não gostem de mim. Caso contrário, eu correria o grande risco de ser igual ao garoto baleia ali - resmungou, voltando sua atenção para a manchete: "Seguidores de Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado destroem Beco Diagonal" - Bele - balbuciou a ver a figura estirada na foto da capa.

Aquilo foi demais para ele. Primeiro a mancada no final das aulas, e agora isso. Sua amada sendo atacada em pleno Beco. E pensar que ele, há poucos minutos, estava preocupado com coisas triviais, como sair da rotina. Sua cabeça girava, e os seus ouvidos zuniam enquanto uma sensação horrível lhe apertava o peito e tomava-lhe o ar. Ele sentou-se, de costas para os tios, quando sentiu que a cozinha começava a girar ao seu redor. E pôs-se a ler a matéria, ou as partes que lhe chamavam atenção.

–Ele não parece bem, Válter - comentou Petúnia, temerosa.

–Bobagem! É só mais alguma esquisitice dele. O que poderia ter de tão importante nesse jornalzinho patético, de gente anormal que nem ele?!

Assim que as palavras saíram de sua boca, Válter desejou nunca tê-las pronunciado. A reação foi imediata. O ar ficou mais denso. Harry se levantou, e caminhava com passos ameaçadores na direção do tio. Seus olhos, antes verdes, pareciam negros de tão escuros que estavam, e transmitiam nada mais que puro desgosto.

–Um centro comercial inteiro foi atacado. Pessoas morreram. Outras estão internadas - disse numa voz enganosamente calma.

–Um bando de A-NOR-MAIS! É isso que eles são e..- ralhou Válter, mas parou quando percebeu a estranha energia que circundava o sobrinho aumentar consideravelmente. Até mesmo um trouxa como ele poderia sentir.

Uma grande energia circundava Harry. Faíscas de luz brilhavam a sua volta. Seu corpo tremia, aparentemente não agüentando a concentração de energia. E quando finalmente encarou o tio, a cena pareceu congelar.

Ele encarou sua família. E eles puderam ver seus olhos escurecem drasticamente enquanto seu rosto se contorcia numa expressão de pura ira.

E a próxima coisa que ouviram foi um barulho agudo e ensurdecedor que lembrava um grito agonizante, estilhaçando as janelas da cozinha e ambientes próximos.

Válter Dursley decididamente estava furioso. Sua cozinha estava quase que totalmente destruída. Mas o que realmente lhe tirava do sério era que agora eles seriam o alvo de fofocas da vizinhança inteira, pois com certeza o barulho da "explosão" foi ouvida a uma boa distância. O que diria aos vizinhos? Ninguém acreditaria se ele dissesse que foi o gás da cozinha que explodiu. Ficariam tachados de esquisitos para sempre.

–EI, AONDE PENSA QUE VAI? ARRUME JÁ ISSO TUDO, SEU ANORMAL! - gritou Válter, ao ver Harry andando com passos apressados em direção ao armário de vassouras.

Harry estava furioso. Não conseguia pensar claramente, tampouco escutar as palavras sem nexo que o tio dizia. Ele só pensava em sair dali o mais rápido possível. Tanto que nem estranhou quando abriu o cadeado do armário sem as mãos e sem a varinha.

Assim que viu o garoto pegar o malão e a vassoura de dentro do armário, Válter tentou pará-lo. Mas não conseguiu sequer aproximar-se de Harry. Era como se uma parede invisível o protegesse.

O garoto de cabelos revoltos, após juntar seus pertences, dirigiu-se com passos decididos à porta. Não tinha dúvidas, iria ao encontro de Bele.

Mas como iria chegar até o St. Mungos?! Harry não tinha idéia de onde ficava o hospital. Então, ele teve um súbito momento de iluminação. O Nôitibus Andante o levaria aonde ele quisesse.

Ignorando os olhares curiosos dos vizinhos, e os berros dos tios, que o seguiram até o quintal, Harry, segurando firmemente seus pertences, empunhou a varinha acima da cabeça.

Nada aconteceu.

Ele tentou de novo. Nada.

Injuriado, ele largou suas coisas na calçada, e foi até o meio da rua. Olhou para um lado, e para outro. A única coisa que notou foi que a Sra. Figg atravessava a rua, enquanto outros vizinhos apontavam, cochichando e alguns até rindo, porém, nem sinal do Nôitibus.

–O Nôitibus não se chama Nôitibus à toa, garoto burro! - alertou a Sra. Figg, ao bater na cabeça de Harry com um saquinho - Se não quer esperar até anoitecer, sugiro que use um meio de transporte mais rápido - falou, entregando ao garoto o saquinho que usara de arma.

Harry sentia-se extremamente idiota. Como não cogitou esse pequeno detalhe antes? Com certeza, lhe economizaria essa situação embaraçosa na qual se encontrava. Ele podia sentir seu rosto quente de vergonha. E então ele se deu conta de que nem agradecera a Sra. Figg. Ele virou-se na direção em que ela tinha seguido, porém desistiu quando viu ela gesticulando e falando com o vizinho algo como "Ele é um bom garoto. Pena que é pinel. Você acredita que ele acha que é Napoleão? Oh, pobre Petúnia".

Evitando os olhares alheios, ele pegou suas coisas, e andou o mais rápido que conseguiu para dentro da residência dos Dursley, porém não pôde deixar de escutar seu tio dizendo ao vizinho da porta ao lado "Eu sempre disse a minha esposa que esse garoto tinha que ser internado, mas sabe como é Petúnia, ela tinha fé que o garoto iria um dia se endireitar, e ser...normal...como o nosso pequeno Duda."

Quando estava na frente da lareira, Harry deteve-se. Não sabia o nome correto que ligava o hospital à rede de Flu. E se falasse o nome errado e parasse do outro lado do mundo? Ele era grato ao Sr. Weasley por ter deixado sua...a casa dos Dursley ligada à rede. Mas seria muito arriscado usar a conexão erroneamente. E lembrando mais uma vez de Artur, Harry decidiu-se. Ele adentrou a lareira, segurou seus pertences junto ao corpo, e com a mão livre, jogou um pouco de pó de Flu no chão e gritou:

–A Toca! - e as chamas verdes o consumiram.

Fim do cap. 12-1



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Notas finais do capítulo

Rony é muito divertido de escrever...o ódio dele pelos Malfoys nunca acaba, e não tem motivo...está simplesmente ali.



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