Stay Alive escrita por Giullia Lepiane


Capítulo 40
Primeiro Dia


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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Lyre Crosswell – Distrito 8

 

Correr tanto não tinha sido uma boa ideia.

Por ser rápida e não se cansar com facilidade, ela achara que conseguiria chegar muito longe se não parasse de correr, e assim, se afastar o máximo possível dos outros tributos e talvez até achar água potável – o que era uma grande questão, já que ela havia saído da Cornucópia de mãos abanando.

Mas ela estivera errada. A adrenalina do momento não conseguiu enganar a sua condição de asmática, e, depois dela já ter alcançado uma distância razoável, ela caiu de joelhos no chão, pálida e engasgando, enquanto tentava sugar o ar para dentro de seus pulmões.

Durante os Jogos, ser traído por aliados era terrível, mas não chegava aos pés de ser traído por sua própria respiração.

Lyre achou que iria morrer. Estando logo no começo dos Jogos, era improvável que alguém na Capital já estivesse suficientemente interessado nela para mandar-lhe uma bombinha de oxigênio, que certamente custava caro.

E ela não tinha chegado tão longe quanto gostaria.

Ela conhecia técnicas para regular sua respiração, mas não achava que elas iriam funcionar naquele caso. Mesmo assim, tentou.

Não houve um alívio imediato – nenhum glorioso momento em que ela sentiu uma deliciosa lufada de ar entrando em seus pulmões. Mas ela conseguiu. Pouco a pouco, foi puxando o ar, e, entre os acessos de tosse frenéticos, conseguiu e inspirar e expirar, mais e mais vezes, até superar a crise.

Teve medo de que o barulho que tinha feito tivesse chamado a atenção de algum tributo que pudesse estar próximo. Esperou alguns minutos, em que garantiu que estava totalmente recuperada, para levantar do chão e seguir caminho.

Desta vez, iria andar.

*********

Matthew Quingley – Distrito 7

           

Ele não sabia como, mas tinha conseguido despistar Rebekah VonRison. Correu muito, por horas, e, quando enfim parou, já passava do meio-dia.

O sol estava ainda mais forte naquele horário, elevando o calor a mais de 40ºC. Matthew sentia sua boca seca e sua garganta queimando, implorando por um pouco de água.

Infelizmente, ele não tinha nem uma gota sequer. O que conseguira arranjar na Cornucópia se resumia a um pedaço de corda e uma caixa de fósforos, que ele não tinha ideia de como poderia usar. Não tinha pensado muito, na hora – apenas agarrara o que estava ao seu alcance e fugira.

O suor escorria pelo seu rosto e ensopava suas roupas e, em sua sede desesperadora, ele tentou lamber. Não funcionou. Decidiu que devia, ao menos, descansar um pouco, já que só transpiraria mais se continuasse. E de qualquer forma, ele estava com uma cãibra terrível.

Escalou uma árvore, onde se sentiria mais seguro, e parou em um galho grosso. Esperaria até o sol estar mais suportável.

*********

Cornelio Harvester – Distrito 9

Soyalia Harvester – Distrito 9

           

Cornelio e Soyalia correram apenas por alguns minutos depois do Banho de Sangue, e então assumiram uma caminhada despreocupada. Já tinham matado uma Carreirista e empatado em uma luta contra outro. O que deveriam temer?

Eles andaram, conversaram, dividiram um pacote de cereais que estava na mochila de um deles. Cada um tinha pegado uma, além das duas espadas e alguns utensílios extras.

Pararam, por fim, no meio da tarde, quando chegaram a uma clareira repleta de frutas coloridas e Cornelio disse:

— Vamos ficar aqui um pouco.

Soyalia concordou, parando de andar. Fincou a ponta da espada no chão e apoiou o peso do corpo nela, olhando em volta.

— O cheiro desse lugar me dá náuseas.

Cornelio, por sua vez, se ocupou em cutucar algumas frutas altas nas árvores com a própria espada, derrubando várias no chão. Algumas eram tão ácidas que dissolviam ligeiramente a terra em volta quando batiam no chão e se desfaziam. O suco se espalhava poças como se estivesse contido em um balão de água.

— Eu amei isso – declarou, pegando um frasco vazio de dentro de sua mochila e misturando as polpas de várias frutas dentro dele, tomando cuidado para não encostar.

— Está pretendendo usar como veneno? – Soyalia sorriu ao considerar a ideia.

— Como veneno, como ácido... Pense nas possibilidades. Subtraímos a inteligência dos outros tributos, somamos um pouco disso... O que conseguimos?

— Se não a vitória, pelo menos diversão.

— Já controlamos pessoas com muito menos que isso. Essas frutas, por si só, já são muito poderosas, mas imagine se eu também conseguir fazer a mistura certa?

— Você tem o tempo que precisar – Soyalia tirou a espada do chão e andou até as árvores. – Vou te dar cobertura.

*********

Hunter Wayne – Distrito 3

Savannah Rayworth – Distrito 10

 

O braço de Savannah estava em péssimo estado.

O desejo de Hunter era ter cuidado do ferimento dela logo após ela tê-lo feito, quando Reyna Mackenzie atirara uma flecha que pegou seu braço de raspão. Mas ele não pôde – o machucado dela seria o menor problema deles se parassem sem estar suficientemente longe e fossem encontrados por outros tributos.

Embora o ferimento tenha se revelado, com o passar das horas, um problema muito grande.

Hunter tivera de ajudá-la a andar até a mata, mas, depois disso, ela também conseguiu começar a correr. E ainda assim, visivelmente, não estava bem. Seu rosto estava branco como papel, ela tremia e o machucado parecia ficar cada vez mais feio. Tinha sido mais grave do que parecera na hora, e sangue escorria sem parar, deixando um rasto perigoso no solo.

Até que ele não aguentou mais essa situação e parou de correr, tocando gentilmente o ombro bom de Savannah para indicar que ela fizesse o mesmo. As pernas dela sacudiam como se estivessem prestes a ceder.

— Não podemos continuar assim, Savannah. Precisamos cuidar do seu braço.

Ela sacudiu a cabeça, mesmo que a dor que estava sentindo estivesse explícita em seu olhar.

— Estou... bem. Temos... continuar correndo... – Tentou falar, respirando fundo entre todas as sentenças.

— Não vamos chegar a lugar algum se você desmaiar agora – ele relembrou. – Vamos lá, Vannah. Quero retribuir aquele dia em que você cuidou de mim no Centro de Treinamento.

Sem esperar a resposta dela, ele a ajudou a se sentar no chão, e ela desmoronou assim que se sentiu segura nos braços dele, sem ter mais forças. Hunter a colocou encostada ao tronco de uma árvore, e tirou o agasalho ensanguentado dela para poder ver melhor a área atingida.

Estava tão feio que o estômago dele se embrulhou. Era como se o braço dela estivesse aberto no meio, com um pedaço do osso exposto. Não tinha sido um mero corte. Era um caso que faria um médico sugerir que fossem dados vários pontos – se não tivesse de apelar para a amputação.

— Não está tão ruim – ele mentiu, para não assustá-la mais. – Só precisávamos de antibióticos.

Hunter disse a última palavra mais alto, na vã esperança de que algum patrocinador lhe enviaria o remédio de que tanto precisava. Não funcionou.

— Está tudo bem... – Disse Savannah, para consolá-lo. – Só... estanque o sangramento, e eu vou ficar bem.

Era tudo que ele podia fazer. Assim, arrancou fora a manga já rasgada do agasalho de Savannah, e a amarrou em torno do braço dela, tentando ignorar suas caretas e exclamações de dor. Então, rasgou uma parte do próprio agasalho, para poder fazer uma tala.

Tinha sido um bom improviso, mas não era o bastante: sem antibióticos, era apenas uma questão de tempo para aquilo infeccionar.       

*********

Bonnie Field – Distrito 7

 

Por não ter pegado suprimentos na Cornucópia, Bonnie estava sendo triplamente mais cuidadosa do que normalmente seria.

Intercalava o tempo de andar e de parar para recuperar as forças. Cuidava para que estivesse pelo menos a maior parte do tempo na sombra, de forma que não ficasse tão exposta ao sol forte. E, acima de tudo, procurava água enquanto fazia seu caminho pela floresta.

Geralmente, os Idealizadores colocavam uma fonte de água doce na arena. Geralmente. Um riacho, um lago... Qualquer coisa servia. Bonnie desejou que não tivessem considerado a água desimportante daquela vez.

Mas, ao final do dia, o pânico começou a invadi-la por ainda não ter conseguido achar nenhum vestígio dela.

Tons suaves de laranja dominaram o céu durante o pôr do sol, e o calor se tornou mais ameno. Conforme escurecia, uma brisa suave começou a soprar, aliviando não apenas Bonnie, mas, certamente, todos os tributos.

Ela continuou a andar até estar escuro demais para ver direito, e então se sentou no lugar onde já pretendia passar a noite. O dia tinha sido frustrante. Não tinha conseguido nenhuma água, nenhum animal ou fruta comestível. Ela sentia muita fome e, principalmente, sede. E agora só poderia continuar procurando no dia seguinte.

O hino de Panem começou a tocar logo depois dela ter sentado. Pelo menos, agora a curiosidade dela seria saciada – ela saberia quantas e quais pessoas tinham morrido durante o Banho de Sangue.

A música pareceu durar mais tempo do que realmente tinha, e quando terminou, a noite pareceu ainda mais silenciosa do que antes. Até os canhões começarem.

Bonnie decidiu contá-los. Um. Dois. Três. Quatro. Cinco...

*********

Sanderson Cutner – Distrito 10

 

—... Seis. Sete. Oito. Nove – murmurou Sanderson em voz bem baixa, enquanto os canhões estouravam.

Nove mortos no primeiro dia na arena. Era um bom número.

O fogo que ele tinha conseguido fazer com alguns pedaços de madeira seca estalava à sua frente, e Sanderson estava orgulhoso com o seu feito. Paciência não era um de seus pontos fortes, mas a necessidade de assar o esquilo que tinha encontrado e matado enquanto caminhava pela floresta o tinha ajudado.

Claro que, para um garoto grande como ele, um mero esquilo não era muito – mas era alguma coisa, sendo que ele não comia desde antes de entrar na arena e não tinha pegado suprimentos na Cornucópia. E o animal parecia bem apetitoso, não fosse pelo seu terceiro olho entre os dois normais, o que o tornava um provável bestante. Agora, ele assava no fogo, e o cheiro era delicioso.

Sanderson estava, no entanto, concentrado no céu. Com o final dos canhões, as imagens prateadas dos tributos mortos começaram a aparecer.

Reyna Mackenzie, do Distrito 1. Daryl Dixon, do Distrito 2. Os dois tributos do Distrito 5 – Vexy Kruz e Tobias Lapworth. Logan Morgan, do Distrito 8. Os dois do Distrito 11, Desdemona Black e Bryan Taylor, e os dois do Distrito 12 – Anna Borgin e Kriger Scherbitsky.

Ele não se lembrava muito de quase ninguém, então as mortes não lhe sofreram o coração. Ficou feliz, apenas, por Savannah Rayworth, de seu distrito, não estar morta. Ela era uma boa pessoa, e se Sanderson não ganhasse os Jogos, ele queria que a vitoriosa fosse Savannah.

A carne já devia estar boa, àquela altura. Tão ansioso para comer, ele não deixou que ela esfriasse por muito tempo antes de mordê-la.

Apesar de ter queimado a boca, o esquilo bestante estava muito bom.

*********

Benjamin Carter – Distrito 6

Hazel Davis – Distrito 6

           

— Então, eu fico com o primeiro turno – disse Benjamin, assim que ele e sua aliada, Hazel, terminaram de dividir parte do pacote de comida desidratada e do cantil de água que tinha vindo na mochila deles. – Daqui a duas horas, vou te acordar e nós trocamos.

— E como você vai saber que se passaram duas horas? – Perguntou Hazel, sem conseguir evitar um sorrisinho, enquanto guardava as sobras de comida e de água na mochila.

Era uma excelente pergunta.

— Bem, eu vou ter de adivinhar – ele admitiu.

Eles não tinham encontrado um saco de dormir e nem nada parecido dentro da mochila, então Hazel tirou seu casaco e o embolou, deitando aos pés de uma árvore com a cabeça apoiada nele.

Benjamin pegou o canivete que tinha vindo na mochila e se sentou ao lado dela, atento às árvores e aos sons em volta deles. Não teria dificuldades em fazer a primeira vigília, porque seria muito difícil conseguir pegar no sono estando sob perigo constante, como estava naquela arena.

E pelo visto, também era difícil para Hazel, porque ela ainda estava com os olhos abertos após aproximadamente quinze minutos.

— Você devia descansar, sabe – comentou Benjamin, que estivera fingindo não observá-la.

— Seria fácil, se eu tivesse a certeza de que vou acordar – ela argumentou, mudando de posição. – Ou pelo menos tivesse um colchão.

Algo na maneira que ela disse aquilo fez Benjamin, mais uma vez, lembrar de suas irmãs mais novas, e ele sorriu vagamente. Quando percebeu o que estava fazendo, tentou disfarçar, mas Hazel já tinha visto.

— No que você está pensando? – Perguntou.

— Minhas irmãs – ele girava o canivete distraidamente. – Quando elas eram mais novas, eu contava uma história para elas dormirem, e meio que me lembrei disso agora.

Hazel pensou um pouco.

— Você poderia me contar.

Foi uma ideia reconfortante para ambas as partes.


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Notas finais do capítulo

Hey!
Um capítulo calminho para vocês, para descansarem depois das altas emoções do Banho de Sangue (e também para mostrar que eu não sou nenhuma psicopata).
Apesar de serem os Jogos Vorazes, ainda acho bom que tenha capítulos sem morte, para a história se desenrolar melhor. Nesse capítulo, meu foco foi mostrar como todos os personagens ficaram depois das primeiras lutas.
Espero que tenham gostado, e até o próximo capítulo ;)



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