Stay Alive escrita por Giullia Lepiane


Capítulo 4
Colheita - Distrito 3


Notas iniciais do capítulo

Eu ia postar só amanhã, mas insistiram para eu postar hoje, então aí está. :)
E se eu escrever todos os capítulos de colheita nesse ritmo, creio que acabe em poucos dias. Eu poderia até tentar, realmente, escrever um por dia, mas não tenho certeza de que conseguiria. Bem, vou ver ;)
Boa leitura!



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Elizzy Viscovt

            - Gil, por favor!

            - Não.

            - Mas...

            - Não!

            Gil, o primo sete anos mais velho de Elizzy Viscovt, já estava começando a irritá-la. Desde que ele vencera os Jogos Vorazes, alguns anos antes, ele treinava a prima para o caso de um dia ela vir a ser sorteada também. Mas, naquela manhã da quinta colheita de Elizzy, ele estava se recusando categoricamente a treiná-la, com o argumento de que ela tinha de ir se arrumar.

            Mal ele sabia, na verdade, que ela queria tanto passar por este treinamento porque pretendia se voluntariar aos Jogos naquele dia. Porque, é claro, se soubesse, nunca teria oferecido a ela nem um pingo de treino.

            Ninguém, a não ser a própria Elizzy, entenderia o quanto os motivos dela eram nobres.

            O irmão mais velho dela, Liam, havia morrido nos Jogos três anos antes, o que destruiu de vez a sua família Viscovt que já estava com uma estrutura frágil, tendo a mãe dela morrido um ano antes disso, quando ela tinha doze. O pai dela tinha começado a beber depois da morte da esposa, até não aguentar cuidar das filhas que lhe restavam: Elizzy e Lucia. E para coroar, quem passou a cuidar delas era a avó, que apesar de tratar Lucia muito bem, detestava Elizzy, por mais que esta nunca lhe tenha feito algo de mal.

            E ela queria se voluntariar, para vingar a morte de seu irmão e conseguir a guarda da irmã de dez anos – algo que poderia ser concedido a um vitorioso. Mas como, se Gil não colaborava?

            Se bem que ele pareceu amolecer um pouco ao ver a expressão aborrecida dela.

            - Ok. Veja, Izzy, se você quer tanto treinar, porque não treina corrida? Vá correndo daqui até a sua casa.

            Isso não tinha muita cara de treinamento, mas como ela gostava de correr, aceitou. Com um “até mais”, saiu correndo da casa de Gil, na Aldeia dos Vitoriosos, e foi correndo até a sua casa, sentindo seus longos cabelos negros lhe baterem nas costas e seu colar com pingente de faca – presente de Liam, que ela nunca tirava – pular conforme ela corria.

            Pensando bem, não tinha problema que ela não pudesse treinar naquele dia. Já levava uma bagagem de vários anos de treinamento, mesmo.

*********

Hunter Wayne

           

            Os cabelos lisos e loiros do pai de Hunter Wayne, assim como seus olhos castanhos e seu semblante calmo, eram idênticos ao do filho, e Hunter se entristecia pelo fato de só saber disso através de fotos.

            Quando ele nascera, sua mãe tinha apenas dezessete anos – idade que ele tinha agora –, e seu pai, dezoito. E, logo naquele ano, ele foi chamado para os Jogos Vorazes, onde pereceu. E mesmo com Hunter gostando muito do padrasto e do meio-irmão mais novo, Benjamin, ele não podia deixar de imaginar como seriam as coisas se o pai dele ainda estivesse vivo.

            Hunter alisou a fotografia de seu pai, que em geral ficava em um porta-retratos na cabeceira da cama dele, mas que ele havia pegado para olhar mais atentamente. Pensar no pai lhe dava forças para suportar a colheita que viria mais tarde.

            E naquele ano, especialmente, Hunter não podia demonstrar um pingo de medo que fosse, porque seria a primeira colheita de Benjamin, e ele andava fazendo de tudo para mostrar para o menino que tudo ficaria bem e não havia porque ele se preocupar. Sem muito sucesso, aliás, porque Benjamin, mesmo assim, estava encolhido na outra cama do quarto que eles dividiam, com a cabeça enfiada no travesseiro como se ele quisesse desaparecer dali.

            Não era do feitio de Benjamin ficar daquele jeito, tão deprimido, e isso além de preocupar, também deixava Hunter infeliz. Ele recolocou a foto de seu pai no porta-retratos, se levantou e foi até a cama do irmão. Sentou-se na beirada dela, e deu um tapinha nas costas do menino.

            - Vamos lá, amigão, deixe disso. Seu nome só estará aparecendo uma vez, você não vai ser sorteado.

            A resposta de Benjamin veio na forma de um som abafado pelo travesseiro.

            - O quê?

            Ele não repetiu. Hunter decidiu que teria de apelar: começou a fazer cócegas nele, que se contorceu, rindo, embora não tão compulsivamente como o habitual.

            - Para, Hunter, para!

            - Só se você me disser quem não vai ser sorteado.

            - Eu não vou! – Benjamin tentava se livrar das mãos do irmão mais velho.

            - Isso mesmo. – Hunter parou com as cócegas, e piscou para ele. – Você entendeu.

*********

            Perguntar para alguém como ela está no dia em que a sua sentença de morte – ou a sentença de morte de algum amigo ou familiar dela – pode ser decretada é algo tão inconveniente que chega a soar como ironia. No entanto, quando a representando Neery disse “Bom dia, meus queridinhos, como é que vocês estão?”, com a voz que uma menina utilizaria para conversar com suas bonecas, soou como se ela tivesse boas intenções, apesar de todos saberem que não era verdade.

            A não ser que decretar sentenças de morte fosse ter boas intenções.

            - Eu vou, agora, sortear o nominho de vocês para...

            - Eu me ofereço como tributo!

            Silêncio sepulcral no Distrito 3. Todos começaram a procurar o lugar de onde a voz tinha vinda, e os olhares, um a um, pousaram sobre a garota que começou a caminhar para o palco sem esperar o consentimento de Neery, que perplexa que estava, não conseguiu emitir uma palavra.

            Ela subiu no palco e foi até a representante.

            - Elizzy Viscovt. – Falou, em voz baixa, e foi para o seu lugar. Neery continuou calada por um instante, mas por fim seu rosto se iluminou outra vez e ela repetiu o nome no microfone para que todos ouvissem.

            - Uma voluntária no Três! Não é algo muito especial? E quanto aos garotos, algum voluntário?

            Não.

            Neery esperou um pouco, mas ao ver que o distrito estava, mais uma vez, em silêncio, foi até a bola com o nome dos meninos. Selecionou um papelzinho e o leu.

            - Quem é Benjamin Wayne?

            Era um menino muito amedrontado que começou a chorar no momento em que foi chamado. Mas o mais importante era quem era o irmão dele: um garoto que, de tão chocado, não disse algo até ver que pacificadores estavam indo buscar Benjamin, porque este não estava indo para o palco sozinho. E quando conseguiu dizer, esqueceu-se de que as palavras de voluntariado costumavam ser “Eu me ofereço como tributo!”, ou até “Eu me voluntario!”, e o que disse foi “Eu vou no lugar dele!”.

            O sorriso de Neery foi gigantesco.

            - Então passamos a ter não só um, mas dois tributos muito especiais!


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Notas finais do capítulo

Até o próximo capítulo!