Stay Alive escrita por Giullia Lepiane


Capítulo 36
Entrevistas - II


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!



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A plateia era composta por um público não muito diversificado.

            Residentes ricaços da Capital haviam pagado caro – e com meses de antecedência – para ter um lugar nas numerosas fileiras do evento. E além deles, havia ainda os Idealizadores dos Jogos sentados em camarotes, assim como o Presidente Snow e seus agentes.

            Mas todos estavam, invariavelmente, muito interessados nas entrevistas.

            Comentavam o que os tributos falavam, gritavam opiniões e elogios, aplaudiam, davam risada. Como em todos os anos, as entrevistas estavam sendo um grande sucesso. Pelas reações apaixonadas do público, era de se imaginar que nenhum tributo ficaria sem patrocinadores naquela edição – embora sempre fosse assim e todos soubessem muito bem que a realidade era outra.

            Contudo, para quem não estava no lugar dos tributos, tendo de se preocupar com cada palavra que diziam, tudo que importava era a diversão do momento – que, por acaso, estava tendo de sobra.

            - Mas como estamos tendo tributos interessantes neste ano! – Exclamou Caesar – Com eles, certamente não ficaremos entediados nem por um segundo durante os Jogos. Bem, Vexy Kruz, agora é sua vez!

            Ao ouvir o chamado, Vexy foi para frente do palco. Enfeites em formato de flores seguravam a única manga de seu vestido vermelho, assim como adornavam seu cabelo curto.

            - O que você gosta de fazer no Distrito 5? – Caesar perguntou a ela logo no começo, após eles se cumprimentarem.

            - Lá não tem muitas coisas para fazer, na verdade. Em geral, eu apenas vou para a escola, trabalho e fico em casa com a minha família.

            - Você trabalha? Com energia, suponho?

            - Não, não. – Ela deu uma risadinha nostálgica – Em uma doceria. A única do meu distrito. Um dos poucos luxos que temos por lá.

            - Isso parece ser um emprego e tanto! Afinal, quem não gosta de doces?

            - Pois é – Vexy compartilhava o tom animado de Caesar, mas seus olhos se encheram de lágrimas, algumas das quais escaparam. – Eu sinto tanta falta...

            Ela conseguiu controlar o choro antes que ele se tornasse incontrolável, mas terminou sua entrevista ainda emocionada. Voltou ao seu lugar, e veio Tobias Lapworth.

            - A sua atitude ao ser sorteado foi muito comentada nos últimos dias, sabia? – Caesar contou para ele. – Mas, nos diga o que todos estivemos nos perguntando: se você queria tanto ir para os Jogos, por que simplesmente não se voluntariou?

            - Acho que eu não queria ir o suficiente para me voluntariar... Eu queria o suficiente para pedir quarenta e seis tésseras mesmo sem precisar delas, todavia.

            A plateia riu, mas Tobias estava muito sério.

            - Entendi. Mas agora que você está aqui e os Jogos Vorazes começam amanhã, como você se sente?

            - Tão bem que agora eu vejo que realmente deveria ter me voluntariado. Não devia ter arriscado perder essa chance.

            - É bom ver um tributo tão determinado. E por falar em chances, como você acha que estão as suas?

            - Boas. Estou certo de que estão.

            E ele realmente não tinha mostrado nenhum vestígio de temor em nenhuma parte da entrevista ou ao caminhar de volta para o arco, dando lugar a Hazel Davis. A menina, por sua vez, parecia tímida e um tanto assustada. Sentada na cadeira, ficou retorcendo a barra de sua saia laranja e olhando de canto de olho para o público.

            - Você se importaria em nos contar um pouco do que você está esperando para amanhã? Se já tem alguma estratégia em mente, ou se pretende ou não lutar no Banho de Sangue... – Caesar falava do assunto com a maior naturalidade possível.

            - Hm... Na verdade, já tenho tudo isso planejado, mas acho que se eu contasse agora, minha mentora ficaria furiosa comigo – Ela deu um sorriso acanhado. Sua voz era doce.

            - E nós odiaríamos que isso acontecesse. No entanto, tenho certeza de que ela não se importaria que você desse para nós uma pista. Uma única informaçãozinha imprecisa sobre o que você pretende fazer.

            Hazel pensou por alguns segundos.

            - Eu vou ter uma aliança. – Ela contou, por fim.

            - É mesmo? Isso é sempre muito bom. Eu perguntaria sobre a pessoa com quem você vai formar essa aliança, mas... Melhor não estragarmos a grande surpresa, não acha? – Ele deu uma piscadela cúmplice para a menina.

            Mas todos já imaginavam com quem seria essa aliança, e o olhar que Hazel e Benjamin Carter trocaram quando passaram um pelo outro quando o sinal tocou deixou isso ainda mais em evidência. Mas Caesar resolveu conversar sobre outra coisa com o garoto vestido em preto e lilás:

            - Se você ganhar os Jogos, o que pretende fazer?

            - Eu estive tão ocupado pensando em como ganhar os Jogos que não pensei muito no que fazer se acontecer, mas... Se há algo certo, é que vou poder dar do melhor para minhas irmãs mais novas, Emma e Donna. É o que mais quero.

            - Isso é muito bonito, mas elas certamente já têm uma boa vida, não? Afinal, vocês são filhos de um vitorioso.

            - É, meu pai venceu os Jogos Vorazes há alguns anos, mas não acho que ele possa ser considerado um vitorioso. Se fosse, não teria perdido tudo. – Tinha um leve tom de desgosto na voz de Benjamin.

            - Compreendo... Mas pelo menos, é um grande exemplo para você fazer melhor.

            - Isso eu não posso negar.

            A plateia aplaudiu quando Caesar desejou sorte a ele, que agradeceu e voltou para o arco. Então, chegou à vez de Bonnie Field.

            - Sabemos que sua família foi devastada... Você já perdeu dois irmãos nos Jogos Vorazes, não foi isso? – Dessa vez, Caesar estava bem sério.

            - Sim. Dois irmãos, um mais velho e um mais novo – Bonnie parecia relutante em falar sobre o assunto, mas concordou.

            - E você foi a única que restou? Ou tem mais irmãos?

            - Não... Sou apenas eu agora. – Bonnie respirou fundo. – Sabe, eu ouvi alguns tributos antes de mim falando sobre seus irmãos na entrevista, sobre dar uma vida melhor a eles, mas infelizmente, eu não posso dizer o mesmo. Mas eu ainda tenho pais, e se eu morrer também... – Ela deixou a frase no ar e encarou o público, seus olhos tão brilhantes quanto seu vestido roxo-azulado e sua maquiagem.

            - Eles terão perdido tudo – Completou Caesar, baixo, sem tirar os olhos dela.

            Bonnie apenas assentiu.

            Embora ela tenha recebido aplausos ao sair como todos os outros, a plateia estava mais silenciosa e saudosa daquela vez, como se compartilhasse da dor dela. Esse humor, no entanto, durou pouco – todos voltaram a se animar quando chegou a hora de Matthew Quingley ser entrevistado.

            - É muito bom ter você aqui, Matt... – Caesar começou, mas logo se interrompeu. – Quero dizer, as pessoas te chamam de Matt? Ou você é conhecido apenas por Matthew, mesmo?

            - Matthew, Matt, Matty... Chamam-me de muitas formas, acho. E qualquer uma está boa para mim – Ele abriu um sorriso reluzente e contagiante.

            - Eu estudei com um garoto chamado Matthew, quando tinha a sua idade. E o apelido dele era “Matt Espinafre”, mas acho que esse não é o momento certo para essa história

            Tanto o menino quanto o público riram.

            - Bom, felizmente, nunca me chamaram de Matt Espinafre.

            - Sim, você tem sorte. Na verdade, você recebeu alguns apelidos aqui na Capital, mas eles são certamente bem mais legais que esse. Como “Matthew Cantor”... “Matt Passarinho”.

            Matthew pareceu um tanto embaraçado ao ouvir o último, mas continuou sorrindo.

            - Eu não sabia disso.

            - Foi por causa da canção que você cantou ao ser sorteado. Ficou muito popular, ainda mais por ter sido uma atitude inusitada.

            - Eu gosto muito daquela canção. Ela me lembra minha casa. – Admitiu ele. – Tudo o que eu quero agora é voltar para lá, Caesar.

            Sua entrevista comoveu a todos. Algumas pessoas já tinham lágrimas nos olhos quando ele saiu, e quando Lyre Crosswell, do Distrito 8, o substituiu, com seu delicado vestido branco e cabelos trabalhosamente trançados, viu que poderia se aproveitar do efeito.

            - Sou a mais velha de cinco irmãos – Ela contou para Caesar com serenidade, quando ele perguntou sobre sua vida – Quatro, depois que meu irmão Theron morreu. E acho que uma parte de mim ainda não aceitou completamente que ele se foi, entende? Nós éramos muito próximos... Aliás, todos meus irmãos são. Meus pais trabalham demais e são muito ocupados, então eu sempre cuidei deles, como se fossem meus próprios filhos.

            - Você nunca deve ter passado tanto tempo longe deles, não é?

            - Não... De fato, não. Já faz uma semana agora, e embora os Jogos comecem amanhã, tudo o que consigo pensar é no que vai acontecer com eles se eu morrer. Em quem vai contar histórias para Ember na hora de dormir. Quem vai ajudar Seth a se arrumar para ir para escola, e com quem Tyler vai conversar quando tiver algum problema... – A voz dela morreu quando as lágrimas começaram a surgir.

            - Lyre – Caesar tocou a mão dela com delicadeza – Seus irmãos precisam de você. E você tem de vencer esses Jogos por eles.

            - Eu sei, eu sei, mas não é tão fácil – Lyre fungou e tentou limpar as lágrimas – Vou dar tudo de mim, mas também vou precisar de ajuda. E é um alívio tão grande saber que os moradores da Capital são tão amáveis e certamente farão o possível por mim...

            As coisas ditas por ela terminaram de deixar a plateia em lágrimas. Ao que o tempo de entrevista acabou, Lyre ainda agradeceu a Caesar e ao público pelas palavras de apoio gritadas a ela, para então se retirar.

            O próximo a ir foi Logan Morgan. Ele tinha, mais do que ninguém, de se esforçar para ir bem naquela entrevista e tentar compensar sua nota um no treinamento, e por isso sua equipe o deixou impecável: cabelos encharcados de gel, pele levemente colorida com um tom avermelhado, roupas e sapatos de veludo vinho-escuro. E Logan estava com um sorriso fixo no rosto.

            - Nos fale um pouco de suas habilidades – Caesar pediu a ele, evidentemente também tentando ajudar.

            - Eu tiro notas altas na escola – Ele respondeu rapidamente, mas quando as lágrimas do público começaram a se transformar em risadas não muito amigáveis, Logan tentou se corrigir: - Quero dizer, eu sei que isso especificamente não vai me ajudar na arena, mas o que isso significa é que eu sei pensar logicamente. Sei arranjar uma solução para os meus problemas.

            - Esse é um talento muito bom. Eu vou ser sincero com você, sua nota do treinamento foi muito comentada esses dias, mas é como eu sempre digo: todos têm um dia ruim. E às vezes, é um dia inapropriado.

            - Bem, o que houve no treinamento é que eu tentei fazer algo que não sabia muito bem nas sessões... Foi uma escolha errada. Mas eu poderia ter mostrado o que sei de melhor.

            - E estamos imensamente ansiosos para ver o que é, amanhã.

            A plateia aprovou o que ele disse, porque, independente da opinião de cada pessoa, essa era a opinião geral – e não se aplicava apenas a Logan, mas a todos os tributos. Era um grande motivo de ansiedade pensar no que cada um mostraria no dia seguinte.


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Notas finais do capítulo

Comentários são sempre bem-vindos! Gosto de ouvir a opinião de vocês.
Até o próximo capítulo!



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